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Mariana de Oliveira

25 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

Os 100 do fórum

O fórum web do Ateísmo.net atingiu os 100 inscritos.

Para os que ainda não conhecem, o espaço pode (e deve) ser frequentado por crentes e não-crentes. É um local onde se pode debater sobre tudo um pouco: existência de deus(es), a relação da ciência com a religião, o papel da religião nas ciências humanas, a laicidade, a existência de preconceitos ou mesmo a arte.

Vocês, os amantes de uma boa discussão, apareçam, conversem, desconversem e espicacem. Todos são bem-vindos.

11 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

O custo de uma peregrinação

O papa vai a Lourdes, dia 14 e 15 deste mês, por alturas da festa da Assunção e da comemoração dos 150 anos da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, por Pio IX.

Quanto custa esta peregrinação? Uns meros 1,5 milhões de euros! De acordo com informações do santuário, os gastos serão divididos entre os participantes da visita do papa, sendo pedida uma taxa aos jornalistas que viagem no avião papal. Uma vez que não serão pedidas ofertas durante os ritos presididos por JP2, os peregrinos receberão uma proposta (e apenas uma proposta, notem bem) para contribuirem ao chegarem ao recinto. Na verdade, a organização sugere uma soma mínima de 10?, uma vez que não se trata de uma entrada.

Se se questionarem sobre o destino do dinheiro, os peregrinos, jornalistas e outros contribuintes poderão consultar o orçamento previsto para aqueles dois dias. Por exemplo, sanitários: 114 218?; segurança (inclui t-shirts e crachás): 181 005?.

Pergunto: a ICAR não ajudaria mais desfavorecidos se investisse aqueles 1,5 milhões de euros, sei lá, em educação? Ou na implementação de estruturas criadoras de emprego? Ou em programas de reflorestação?

10 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

A sucessora da Santa da Ladeira

Foi há um ano que a Santa da Ladeira, Maria da Conceição, morreu de uma paragem respiratória. No entanto, o tempo ainda não apagou a presença da «Mãe Maria», como lhe chamam os peregrinos, e a sua obra continua. Teresinha é a sucessora da Santa da Ladeira.

Descendente de Maria da Conceição e Humberto Horta, tem 33 anos, como Jesus Cristo (pura coincidência), e, apesar de não ser filha única, afirma ter sido escolhida para suceder à Santa da Ladeira enquanto criança. «Foi Deus que me escolheu, através da Mãe Maria», diz, fundamentando a escolha com uma «intervenção divina» a que foi sujeita para curar uma doença… a sua doença. «Em criança eu era epiléptica, quase não me segurava de pé e foi a Mãe Maria que me curou, oferecendo o meu corpo e alma a Deus. E eu, com a fé que tenho, aceitei livremente a missão de continuar a sua obra».

Teresinha é a intermediária dos pedidos dos crentes. «Eu ouço as suas preces e digo-lhes que vou pedir ajuda a Deus e à Mãe Maria. Ela prometeu-me que nunca me iria deixar e com essa ajuda consigo cumprir o meu papel», afirma a sucessora. Quanto ao sucesso na cura efectiva de alguém, este é inexistente. A irmã Teresinha apenas ajuda a resolver problemas, graças à «ajuda espiritual» da Santa da Ladeira.

O culto à Santa da Ladeira começou há 35 anos, numa capela junto à estrada nacional que liga Torres Novas ao Entroncamento. Com o decorrer do tempo e com o aumento do número de contribuintes, perdão, fiéis, foi construído um santuário de dimensões modestas, inaugurado em Fevereiro de 2000, numa cerimónia que contou com representantes internacionais da Igreja Ortodoxa.

A ICAR nunca reconheceu a veracidade das visões de Maria da Conceição, o que não impediu o apadrinhamento da Santa da Ladeira pelos Ortodoxos.

Apesar da bênção de Deus, a Fundação Maria da Conceição e Humberto Horta atravessa um momento difícil. Três freiras denunciaram a existência de maus tratos e abusos sexuais em crianças do lar, o que deu lugar a uma investigação da Polícia Judiciária e a uma inspecção da Segurança Social, que entregou os menores às famílias.

Como todos os fenómenos num país onde o obscurantismo da crendice ainda impera, este perdurará ainda por alguns anos e algumas dezenas de pessoas continuarão a explorar e a beneficiar da pobreza de espírito de outras.

10 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

As chagas de J(ota) Cristo

Antes de mais, agradeço ao Arcabuz pela chamada de atenção a esta interessante história.

Popularmente associado à santidade, o estima (stigmata) refere-se às feridas de Cristo aquando da crucificação que se reproduzem, de forma espontânea, no corpo humano de um cristão. Incrivelmente, e juntamente com algumas outras manifestações divinas, o fenómeno não apareceu logo a seguir à morte de Cristo – demorou doze séculos a ver a luz do dia com Francisco de Assis, o primeiro a exibir as feridas… depois de um homem ter sido preso por ter falsificado feridas do género. Para além de Assis, apenas umas poucas centenas de pessoas foram estigmatizadas, santos incluídos. O último destes, foi o padre Pio (1887-1968), canonizado em 2002, mas não pelas marcas, que nunca foram declaradas miraculosas pela ICAR. De resto, há um grande número de falsos estigmatizados: Magdalena de la Cruz, Maria da Visitação ou Palma Maria Matarelli.

Mas as curiosidades não acabam aqui. É de estranhar que tal fenómeno tenha apenas aparecido em países predominantemente ICARianos, nomeadamente em Itália, até ao século XX. Há também que dar conta da evolução da forma e da localização das feridas: por exemplo, as de Francisco de Assis eram apenas impressões dos pregos, mas as restantes não apresentam qualquer consistência ou similitude que sugira a réplica de um único padrão original.

Lilian Bernas, canadiana, começou exibir feridas em 1992, dez anos após a sua conversão ao catolicismo e depois de ter tido visões de Jesus (Cristo). De acordo com um dos seus livros, J. C. aparece-lhe frequentemente chamando-a de «minha alma sofredora», «minha doce pétala» e «minha filha».

A arquidiocese de Ottawa, onde vivia na altura, abriu um inquérito para averiguar as afirmações da pretensa estigmatizada. De acordo com uma porta-voz da arquidiocese, o inquérito foi inconclusivo.

No que diz respeito às feridas, Lilian apresenta apenas cicatrizes avermelhadas nas costas das mãos e nos pés, dizendo que aquelas marcas foram as únicas que pôde manter. Quanto a uma marca aparentemente cruciforme que tem no maxilar, ela afirma que tal estigma é do diabo, que a possuía antes de lhe aparecerem as verdadeiras chagas.

Há também suspeitas relativamente à forma como as feridas sangravam e sua inexistência nas solas dos pés, um local que provocaria um certo grau de sofrimento.

Mas o sobrenatural não fica por aqui: as toalhas usadas nas sessões (sim, porque a sangria foi convertida num espectáculo) alegadamente desaparecem nas 48 horas subsequentes.

Concluindo, neste caso, as provas recolhidas estão longe de apontar para uma intervenção divina estando a mão do Homem, uma vez mais, na origem de tal fenómeno aclamado de sobrenatural e miraculoso.

9 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

Jogos Olímpicos livres de perigo

O Papa João Paulo II, de férias em Castelgandolfo, colocou nas mãos da dita virgem Maria a segurança dos Jogos Olímpicos. A organização do evento pode ficar descansada: nenhum ataque terrorista será bem sucedido!

O problema será se os deuses dos possíveis terroristas são mais fortes e as suas orações mais eficazes.

8 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

Abençoado cartão de crédito

Nos Estados Unidos, as Family Christian Stores, oferecem um novo cartão de crédito enfeitado com uma imagem de três cruzes vazias no Calvário.

As reacções dos consumidores dividem-se. Os clientes habituais da loja de Cedars Rapids, de acordo com a gerente Patty Stone, estão encantados porque podem ganhar pontos e cheques-prenda. Por outro lado há quem entenda que não está certo que as Family Christian Stores emitam cartões de crédito e fomentem o endividamento. Patty Stone responde a estas críticas dizendo que não há nenhum encorajamento à contracção de dívidas uma vez que vendem muitos livros que encorajam as pessoas, se quiserem usar o cartão de crédito, a pagar as despesas do cartão mensalmente.

Uma senhora, cliente da loja, entende que, para começar, todo o dinheiro veio de Deus e esta decoração é mais uma forma de testemunho.

De facto, se os americanos têm escrito nas suas notas In God We Trust e muitas pessoas têm símbolos cristãos nos seus cheques, porque não um cartão de crédito com uma alusão ao Calvário, deveras apropriada se se estiver enterrado em dívidas?

2 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

Meia década a servir ateus

Em comemoração de meia década de funcionamento, o Ateísmo.net, aderiu às tendências e fez uma plástica. Para além do novo visual, os leitores poderão contibuir com as suas notícias e críticas literárias.

Espero que gostem!

1 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

JP2, o anti-feminista e anti-homossexual

O papa criticou, ontem, numa carta enviada aos bispos da ICAR, intitulada Carta aos bispos da Igreja Católica sobre a colaboração de homens e mulheres na Igreja e no mundo, o feminismo radical, a luta entre os sexos e a defesa da homossexualidade.

João Paulo II (JP2)começa por criticar «a tendência para sublinhar fortemente a condição de subordinação da mulher, com vista a suscitar uma atitude de contestação», manifestada por alguns grupos norte-americanos que pretendem justificar novas formas de sexualidade. A consequência disto é a seguinte: «a mulher, para ser ela própria, porta-se como rival do homem. Aos abusos do poder, responde com uma estratégia de busca do poder e esse processo conduz a uma rivalidade entre os sexos».

O papa também censura uma outra consequência do feminismo exacerbado: «a ideia de que a libertação da mulher implica uma crítica às Sagradas Escrituras, que veiculariam uma concepção patriarcal de Deus, vista como uma cultura essencialmente machista».

Mantendo a tendência da ICAR dos últimos tempos, JP2 afirma que «isso tem inspirado ideologias que promovem o questionamento da família, por natureza biparental e composta de uma mãe e um pai, colocando num mesmo plano a homossexualidade e heterossexualidade».

No entanto, este documento centra o seu ataque no movimento feminista radical americano liderado por Judith Butler. A carta foi elaborada pela Congregação para a Doutrina da Fé, sucessora do Tribunal do Santo Ofício e chefiada pelo cardeal Joseph Ratzinger, cuja actividade principal é condenar e bloquear qualquer ideia ou teoria que contradiga o Vaticano.

Para lutar contra os movimentos que promovem a luta dos sexos, o papa reitera a necessidade da «presença das mulheres no mundo do trabalho e nas instância da sociedade».

«É necessário que as mulheres tenham acesso a postos de responsabilidade que lhes dêem a possibilidade de inspirarem os políticos e de promoverem soluções novas para os problemas económicos e sociais», refere ainda JP2 no texto.

29 de Julho, 2004 Mariana de Oliveira

Umbigos creacionistas

Antes de ir de férias, uma pergunta:

Adão e Eva tinham umbigos?

Pergunta pouco original enviada por SMS.

28 de Julho, 2004 Mariana de Oliveira

Familiaridade egípcia

Este texto, encontrado nos meus arquivos e publicado na Despertar, foi traduzido de um livro que trouxe do Egipto.

Reparem nas semelhanças existentes entre a religião do Antigo Egipto e o cristianismo. O blog Sem Senso Comum, do Luís Pereira, aborda este assunto.

«As quase infinitas variedades de representação das numerosas divindades

que foram encontradas nos monumentos egípcios conduziram a um

mau-entendimento da religião dos antigos egípcios. A religião do antigo

Egipto, ao contrário do que somos levados a pensar como sendo politeísta,

era, de facto, como todas as grandes religiões, monoteísta. Hoje, estudiosos

concordam que as muitas divindades encontradas nos templos devem ser

consideradas como atributos ou intermediários do Ser Supremo, o Deus Único,

o único reconhecido e adorado pelos sacerdotes, iniciados ou sábios dos

santuários. No topo do panteão egípcio encontra-se um Deus, que é apenas um,

imortal, que não foi criado, que é invisível e escondido nas profundezas

inacessíveis do seu Ser. Produzido dele próprio de toda a eternidade,

concentra em si todas as características divinas. Não eram deuses que eram

adorados no Egipto mas, sob o nome de qualquer divindade, o Deus escondido,

sem nome ou forma. Uma ideia apenas dominava tudo, a um Deus uno e

primordial.

Os sacerdotes egípcios definiram-no nestes termos:
Aquele que nasce

dele próprio, o princípio de toda a vida, o pai dos pais, a mãe das mães
e

também afirmaram que dele vem a substância de todos os deuses e
é pela

Sua vontade que o sol brilha, que a terra está separada do firmamento e que

a harmonia reina em toda a criação
. No entanto, para tornar a crença no

Deus Único mais compreensível ao povo egípcio, os sacerdotes expressaram os

seus atributos e os seus vários papéis por meio de subtis representações. A

imagem mais perfeita do Deus era o sol com os seus três atributos: forma,

luz e calor. A alma do sol chamava-se Amon ou Amon-Ra, que significa
sol

escondido
. Ele é o pai da vida e as outras divindades são apenas as

diferentes partes do seu corpo.

Podemos, agora, introduzir as famosas tríades egípcias. Os conhecedores

desta antiga teogonia dizem-nos que o Ser Supremo, o criador do universo, é

único no seu ser mas não na sua pessoa. Ele não sai fora de si para gerar

mas gera dentro dele. É, simultaneamente, Pai, Mãe e o Filho de Deus sem

deixar Deus. Estas três personagens são Deus em Deus e, longe de

destruírem a unidade da natureza divina, eles engendram a sua infinita

perfeição. O Pai representa o poder criativo enquanto que o Filho, imagem do

Pai, fortalece e manifesta os seus atributos eternos.

Todas as províncias egípcias tinham a sua própria tríade (…). A

principal ou maior tríade era a de Abydos, constituída por Osiris, Isis e

Horus. Era a mais popular e a mais adorada por todo o Egipto porque Osiris

era a personificação de Deus e era vulgarmente conhecido por deus bom. A

tríade em Memphis consistia em Ptah, Sakhmet e Nefer-tum, e, em Tebas, em

Amon, Mut e Khonsu. A trindade não era o único dogma retido pela revelação

primitiva. Nos livros sagrados também se pode encontrar a ideia de pecado

original, a promessa de um Deus redentor, restaurações futuras da

humanidade, e a ressurreição da carne no fim dos tempos. Em todas as

mudanças de dinastia havia uma revolução monoteísta e o Ser Supremo

prevalecia sobre o fetichismo das outras divindades. A revolução religiosa

de Akhnaton foi precedida por aquela de Menes, já para não falar na de

Osiris (5º milénio a.C.). De acordo com alguns historiadores, ocorreu,

durante o reinado de Osiris – rei de Tebas (4200 a.C.) – uma completa

mudança religiosa.

Este rei, o mais devoto de todos, foi bem sucedido na adopção do

monoteísmo numa larga escala. Era o mesmo Osiris que presidia o supremo

tribunal do julgamento das almas dos mortos.

De acordo com o rito da psicostasia (psychostatis, que que dizer
peso

da alma
, i.e., a cerimónia do julgamento final do falecido), a alma do

morto era transportada numa barcaça sagrada sobre as águas dos Campos

Elísios. Ao passar, a embarcação trazia luz às regiões habitadas pelas almas

dos condenados que tremiam de alegria ao avistarem um pouco daquela luz que

lhes foi negada. A barcaça continuava a sua jornada e, depois de atravessar

uma zona mais leve, correspondendo mais ou menos ao nosso Purgatório,

chegava finalmente ao tribunal presidido por Osiris e pelos seus 42

acessores. O coração do morto era colocado num dos pratos da balança

enquanto que, no outro, era colocada uma pena, símbolo da deusa Ma’at (deusa

da Justiça). Se o falecido tinha feito mais bem do que mal então,

tornava-se uma das verdades da voz e, assim, parte do corpo místico do

deus Osiris. Se sucedesse o contrário, o coração era comido por um animal

com cabeça de crocodilo e corpo de hipopotamo e a sua existência findava no

Outro Mundo. Uma alma que tinha sido, desta forma, justificada era

admitida no Ialou, os campos elísios.

Aqui chegados podemos perguntar porque é que foram encontrados tantos

objectos quotidianos nas piramides e nos tumulos. Não nos devemos esquecer

que a ideia religiosa fundamental do antigo Egipcio era que a vida humana

continuava depois da morte física. Mas só aqueles que continuavam a

disfrutar do que tinham disfrutado em vida podiam alcançar o Outro Mundo.Daí

as mobílias, a comida, a bebida, os servos e outros objectos necessários

para a vida quotidiana.
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