5 de Setembro, 2004 Mariana de Oliveira
ENA2 na imprensa III
Criação da União Ateísta Portuguesa Decidida Ontem em Lisboa
A criação de uma União Ateísta Portuguesa (UAP) foi decidida ontem em Lisboa, no final do segundo encontro nacional de ateus, que reuniu cerca de 30 participantes. Para já, foi criado um grupo de trabalho que irá preparar um projecto de estatutos para a futura organização, cuja constituição será formalizada após uma primeira assembleia geral.
Luís Mateus, da Associação República e Laicidade (ARL), uma das organizações participantes, disse ao PÚBLICO, no final do encontro, que o objectivo principal da futura UAP será “pugnar pela afirmação do pensamento e da atitude ateísta” na sociedade portuguesa. Ao mesmo tempo, a organização deverá estudar a aplicação concreta dessa atitude em campos como as escolas ou a aplicação da lei da liberdade religiosa – da qual “os não-crentes estão excluídos”.
Também a Concordata entre Portugal e a Santa Sé, assinada em Maio último no Vaticano, merece a oposição firme deste grupo. “É uma aberração e estaremos sempre contra a Concordata, pois estamos convencidos de que este povo há-de crescer até perceber” que esse documento deve desaparecer, diz Luís Mateus.
Este responsável da ARL recorda os números do último censo realizado em Portugal, em 2001, segundo os quais 250 mil pessoas se declararam sem religião. “Podemos ser um dos veículos dessa corrente”, mesmo se muitos desses serão mais agnósticos que ateus. “Eu próprio sou ateísta, não ateu”, diz este arquitecto de profissão, sublinhando que a futura organização será também “não uma associação de ateus, mas uma associação ateísta”.
Na própria ARL, acrescenta Luís Mateus, há crentes, agnósticos e ateus. Esta associação esteve presente e apoia a constituição da nova União Ateísta porque, afirma este responsável, em Portugal “os ateus ou ateístas são discriminados, são cidadãos de terceira” – pois não são católicos nem crentes de outras religiões.
O encontro ontem realizado em Lisboa sucede a um outro que decorreu em Coimbra, em Dezembro último, e contou com a participação de membros de três organizações: a ARL, a Associação Cépticos de Portugal e a União Ateísta Portuguesa (nome que acabou por ser adoptado para a futura organização).
in Público, 05 de Setembro de 2004