7 de Setembro, 2005 Mariana de Oliveira
Boas intenções
Na Intenção Geral do Santo Padre para o Apostolado da Oração de Setembro, pede-se «que o direito à liberdade religiosa seja reconhecido pelos governantes de todos os povos». No entanto, este direito não poderá ser garantido através do laicismo.
O texto que a Agência Ecclesia disponibiliza é deveras interessante. O primeiro ponto começa com esta frase: «o laicismo, inimigo da liberdade». Para o autor, o laicismo «pretende mudar a sociedade e os valores que a regem a partir das opções de uma “vanguarda” pretensamente ilustrada e única capaz de libertar a sociedade das amarras que a prendem a um passado dito de ignorância e opressão. Fá-lo ao arrepio de qualquer consenso socialmente estabelecido, em nome de uma auto-atribuída superioridade “progressista”». Se algumas das mudanças que se fizeram na história da humanidade fossem feitas apenas quando existe um consenso social, ainda estaríamos algures na Idade Média uma vez que o cidadão médio, infelizmente, só fica descontente com o que tem quando acaba «o pão e o circo».
A laicidade é «visceralmente anti-religiosa, empenha-se em expulsar a religião da praça pública, pretendendo que aquela se limite ao âmbito estritamente privado dos cidadãos, tratados como indivíduos e não como pessoas. Deste modo, acaba por negar na prática a liberdade religiosa que formalmente diz respeitar – pois a liberdade religiosa inclui o direito a manifestar e viver em público a fé. E como o respeito pela liberdade religiosa é a pedra de toque de toda a verdadeira liberdade, a ideologia laicista revela-se inimiga da liberdade e, portanto, da verdadeira democracia». Só que «a minha liberdade acaba quando começa a liberdade do outro». A minha liberdade concede-me o direito de, na praça pública, não ser obrigada a aturar evangelizações.
O segundo ponto intitula-se «Laicismo anticristão». A perseguição dos cristão não se consubstancia apenas na «rejeição do candidato a Comissário Europeu Rocco Buttiglione, no Parlamento Europeu» e em «certas leis que, no campo da educação, põem em causa o “estilo de vida” dos cristãos». Não senhor. Existe uma «difusão consciente e continuada de preconceitos e imagens distorcidas dos cristãos – ao ponto de a Santa Sé denunciar, numa conferência da Organização para a Cooperação e a Segurança na Europa, o anticristianismo cada vez mais activo em muitos países; e ter solicitado, na mesma conferência, que este anticristianismo seja colocado ao mesmo nível do anti-semitismo ou do anti-islamismo». Mais uma vez, temos a ICAR a vitimizar-se de forma ridícula.
No último ponto, apela-se à defesa da liberdade religiosa. «Reconhecer o direito à liberdade religiosa não é apenas uma questão de exarar na lei esse direito – isso até as ditaduras fazem. Implica também uma atitude de vigilância, por parte das sociedades, para que os crentes não sejam vítimas de preconceitos, sobretudo se promovidos pelo Estado, através de políticas enfermas de laicismo ignorante e intolerante». A ICAR tem uma estranha visão da liberdade religiosa que se esquece que esta tem duas dimensões: uma positiva e uma negativa. A positiva garante que qualquer cidadão possa, de acordo com a sua consciência e convicções, seguir a religião que bem entender; a negativa permite que o mesmo cidadão, se lhe aprouver, não seguir nenhuma confissão e não ser obrigado a suportar no espaço público – que também é dele – proselitismos.