9 de Março, 2009 Luís Grave Rodrigues
Uma questão de opção ética
A menina tem 9 anos de idade.
Vive perto de Recife, no Brasil.
Descobriu-se agora que o padrasto, de 23 anos, há cerca de 3 anos que a violava regularmente.
O padrasto está agora em prisão preventiva.
Também violava uma irmã da menina, de 14 anos de idade, deficiente física e mental.
Antes de ser preso quase foi linchado pelos vizinhos, enfurecidos com esta tenebrosa revelação.
Acontece que a menina de 9 anos estava grávida.
De gémeos.
O médicos foram peremptórios; ou a menina abortava ou morria.
E com ela, como é óbvio, morreriam também os bébés de que estava grávida.
Aos 9 anos de idade o seu corpo franzino e subnutrido não tinha estrutura física para suportar uma gravidez.
Ainda por cima de gémeos.
Foi feito o aborto.
Seria até demasiado estúpido não o fazer.
Na sua inocência roubada desde os 6 anos, a menina nunca soube nem se apercebeu que estava grávida.
Disseram-lhe que tinha sido operada a outra coisa qualquer.
Primeiro através das autoridades brasileiras e depois pelo próprio Vaticano, a posição da Igreja Católica sobre este assunto não se fez esperar: não sem antes ter sido tentado impedir o aborto junto das autoridades judiciárias brasileiras, de imediato a mãe da menina e os médicos que realizaram o aborto foram excomungados.
Aliás, “latae sententiae”, que é como quem diz automaticamente e pela prática do próprio acto.
Gianfranco Grieco, o presidente do Conselho Pontifício para a Família, afirmou que a «Igreja não pode “trair” sua postura tradicional de defesa da vida até seu fim natural, mesmo que trate de um drama humano como a violência sobre uma menina».
Como é óbvio, o que está aqui menos em causa é excomunhão.
Tal como o exorcismo, o baptismo ou as unções várias, todas essas crendices tão primitivas como pacóvias fazem parte do profundo ridículo que constitui a imbecilidade dos rituais católicos.
O que está aqui em causa é a posição ética de quem pensa que tem autoridade para impor aos outros os seus princípios e os seus dogmas religiosos.
O que está aqui em causa é a posição ética de quem defende que a VIDA de uma criança de 9 anos, uma menina franzina e subnutrida, cuja infância lhe foi roubada por uma facínora qualquer, deve ainda ser sacrificada em nome de um dogma imbecil.
Mas o que está aqui também em causa é a posição ética de quem se conforma e até se identifica plenamente com tudo isto e, no final, tem a coragem e o autêntico desplante de continuar a intitular-se… católico!