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4 de Janeiro, 2006 lrodrigues

Os Pequenos e Médios Aldrabões

O princípio do ano é sempre a melhor ocasião para nos rirmos um bocado com as previsões feitas para o ano anterior pelos astrólogos, tarólogos, “psíquicos”, bruxos e tantos outros aldrabões do género.

Mas o que é facto é que estes autênticos facínoras continuam a pulular impunemente por todo o lado e a extorquir dinheiro à credulidade e, tantas vezes, à fragilidade emocional das pessoas.
Anthony Carr será talvez o “psíquico” mais famoso em todo o mundo e alardeia mesmo no seu site uma panóplia de celebridades que o terão procurado pelos seus serviços.
O que é facto é que as previsões de Anthony Carr falam por si!
E também pela imbecil credulidade de quem nele acredita e o transformou em milionário.
Depois de em 1999 ter previsto, por exemplo, que Muhammad Ali recuperaria milagrosamente da sua doença de Parkinson, em Janeiro de 2000 Anthony Carr previu que o célebre actor Christopher Reeve se levantaria da sua cadeira de rodas e voltava a andar, e em 2004 que o actor Richard Harris ficaria curado do cancro de que padecia.
Já em 2002 previra que O. J. Simpson admitiria a sua culpa nos homicídios de que foi acusado e que novas provas surgiriam a confirmar essa culpa, que a ponte Golden Gate, em São Francisco ruiria, causando milhares de mortos, e que um dos filhos do príncipe Carlos de Inglaterra morreria num acidente.
Para 2004, Carr previu que na Coreia do Norte seriam detonadas acidentalmente armas nucleares, matando milhares de pessoas; que Saddam Hussein seria morto a tiro num atentado em que uma mulher estaria envolvida; que os cientistas levariam a bom termo a primeira gravidez masculina, que resultaria no nascimento de uma criança do sexo masculino; que Osama Bin Laden seria levado para Nova York; que ocorreria um grande terramoto na área de Hollywood e que Colin Powell seria eleito presidente dos Estados Unidos depois de se mudar para o Partido Democrata.
Para o ano de 2005 este brilhante psíquico fez previsões verdadeiramente assombrosas:
Previu que o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger seria confrontado com rumores publicados num jornal daquele estado de que seria homossexual;
Que a apresentadora de televisão Martha Stewart seria internada numa instituição mental por sofrer de esquizofrenia paranóica aguda;
Que o actor Ben Affleck passaria a pesar mais de 150 quilos;
Que o actor Matt LeBlanc da série televisiva “Friends” morreria num trágico acidente de moto;
Que o criador da série “Simpsons”, Matt Groening seria assassinado pelo seu amante gay, nada menos que o actor Kevin Spacey, que seria condenado pelo crime.
Depois, anunciou que o prémio Nobel da paz de 2005 seria entregue à famosa apresentadora de televisão Oprah Winfrey.

Mas não ficou por aqui:

Finalmente, previu que seria lançada uma nave espacial tripulada para o planeta Marte e que um homicídio ocorreria a bordo;
Que Osama Bin Laden seria esmagado por um cometa que lhe iria cair em cima;
Que um novo tsunami devastaria a cidade de Tóquio;
Que seriam descobertos novos escritos originais do apóstolo São Paulo que revelariam que… comer com um garfo é pecado.
De facto, absolutamente brilhante!
E uma lição para as previsões comezinhas e medíocres dos mais famosos aldrabões portugueses, de Paulo Cardoso a Miguel de Sousa, passando pela Maya e pela Cristina Candeias, e por Maria Flávia de Monsaraz, José Luís Santos, Paula Chambel, Nuno Michaels, pelos professores Mambos e Karambas e por tantos outros, timidamente remetidos à classe dos «pequenos e médios aldrabões», e que nem sequer são capazes de pensar em grande e fazer previsões como deve ser e verdadeiramente fantásticas, como este seu colega de sucesso.
Anthony Carr chegou mesmo a prever para o ano de 2002 a inversão das polaridades do planeta Terra e que a partir de então «o que estaria em cima passaria a estar em baixo e vice-versa».
Isto sim! Isto é que são previsões!
Aldrabão por aldrabão, ao menos pensem em grande!

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

27 de Dezembro, 2005 lrodrigues

Uma vida «chata»

Segundo o «Washington Post» o Papa Bento XVI declarou no seu discurso de Natal que os homens e as mulheres correm o risco de se tornarem vítimas das suas próprias… realizações intelectuais.

Mesmo ainda antes de ocorrer a sua transmutação em Papa, já o «Rottweiler de Deus» havia anunciado solenemente que «os fiéis são pessoas simples que é preciso proteger dos intelectuais».

É muito curioso como é o próprio Papa quem persiste em tratar o seu rebanho de fiéis e devotos católicos como autênticos atrasados mentais.

E como parece temer aqueles a que chama pejorativamente «intelectuais», e a que estranhamente contrapõe os fiéis da Igreja Católica, como se de figuras opostas e inconciliáveis se tratasse.

Como se ele próprio reconhecesse que um fiel, um crente, não pudesse ser um intelectual.
Como se receasse que os intelectuais, esses horríveis seres pensantes, «contaminem» os crentes e os obriguem a deixar de ser pessoas simples e naturalmente afastadas de realizações intelectuais.

Já aqui há uns dias, durante a cerimónia comemorativa do 40º aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II o Papa Bento XVI tinha denunciado aquilo a que chamou a ideia completamente errada de que levar uma vida virtuosa é uma coisa «chata».

Tem razão o Papa!
Do alto da sua infalibilidade papal, estas elucubrações do chefe máximo da Igreja Católica são, de facto, brilhantes.

Tanto ele próprio como muitos milhares de outros ilustres religiosos que consagraram a sua vida a Deus e que levam uma vida piedosa e de oração, inteiramente virtuosa e completamente isenta de ?pecado?, têm decerto uma vida muito longe de ser considerada ?chata?.

Pode ser uma vida completamente inútil, isso sim.
Pode ser uma vida inteira desperdiçada, pateticamente dedicada a bajular e a louvaminhar alguém que não existe.
Pode mesmo ser uma vida «simples».
Pode até ser uma vida totalmente isenta de «realizações intelectuais».

Mas «chata», não!
Isso ela não é com certeza!

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

24 de Dezembro, 2005 lrodrigues

O Natal dos Deuses Cristãos

As primeiras manifestações de religiosidade do Homem relacionavam-se com o culto das forças da natureza e, mais ainda do que de uma explicação divina para uma «vida depois da morte», elas nasceram do temor e da falta de compreensão para os fenómenos naturais, desde o vento à chuva ou aos relâmpagos, até à própria periodicidade dos ciclos solar ou lunar.

É por isso absolutamente normal que o Homem, animista nas suas origens religiosas, fosse também natural – e quase geneticamente – politeísta.
O desenvolvimento e a evolução do Homem vieram ao longo de milhares de anos trazer uma maior complexidade aos seus cultos religiosos, sempre com uma natureza politeísta.
No entanto, nalgumas civilizações da antiguidade ainda assistimos a tentativas mais ou menos sucedidas de unificação de divindades, embora normalmente protagonizadas por sacerdotes ou por governantes mais interessados na unificação e no poder temporal que daí poderia resultar.

O crescente desenvolvimento do cristianismo encontrou no Império Romano uma população de uma profunda religiosidade e, também por isso, uma riquíssima mitologia, com deuses para todos os gostos, feitios e ocasiões.
De tal modo, que em determinada altura o próprio Imperador Constantino (também influenciado pela sua própria mulher, Santa Helena, entretanto convertida) acabou por achar melhor adoptar o sábio princípio: «se não os podes vencer, junta-te a eles».

Sem nunca se ter convertido, Constantino acabou por tolerar o cristianismo e, juntamente com Licínio, o tetrarca Oriental (a quem escassos onze anos mais tarde mandou matar, assim tomando o controle de todo o Império Romano) assinou em 313 o Édito de Milão, que proclamava a independência do Império em relação a quaisquer credos religiosos, fazendo devolver aos cristãos as propriedades e os lugares de culto confiscados.

A partir de então, em todo o Império Romano o cristianismo convive pacificamente com a religião tradicional pagã (no sentido de religião politeísta ou não cristã, embora a designação se aplique também às religiões distintas da judaica, que também beneficiou desta tolerância e convivência pacífica inter-religiosa).

Mas muito havia para esclarecer, explicar e estabelecer nessa nova religião que era o cristianismo.
Até que no ano 325 Constantino convoca o Concílio de Niceia.
Com a presença de mais de 300 bispos (nomeados por líderes religiosos locais e pelo próprio Constantino), o primeiro concílio ecuménico ? que marca o início da Igreja Católica ? visava antes de mais condenar o «Arianismo», uma heresia que nega a divindade de Jesus Cristo.

O «mistério» da Santíssima Trindade encontra nesta concílio as bases da sua fundamentação, com a aprovação pela maioria dos bispos presentes (e não pela sua unanimidade, tendo ficado célebres as perseguições de Constantino aos bispos discordantes) da ideia de que Jesus é da mesma ?substância? e da mesma ?essência?, isto é, a mesma entidade existente do Pai.
Ou seja, haveria somente um Deus e não dois: a distinção entre o Pai e o Filho está dentro da «unidade divina». O Filho é Deus no mesmo sentido em que o Pai o é.
O próprio «Credo» de Constantino, saído do Concílio de Niceia, reconhece a divindade de Jesus Cristo, dizendo que o Filho e o Pai são ?de uma única substância? e que o Filho é «gerado», (único gerado, ou unigénito), mas não no sentido de «feito».

Desesperado para encontrar uma nova religião de massas através da qual pudesse controlar o povo, é no concílio de Niceia que Constantino molda o cristianismo a seu bel-prazer e ora faz inscrever ora faz abolir da Bíblia os textos e os evangelhos que acha mais apropriados, re-escrevendo-os e adaptando-os às suas políticas e aos seus interesses e depurando-os de contradições entre si.

Foi no Concílio de Niceia que foi decidido quais os evangelhos que tinham sido inspirados pelo Espírito Santo e que, por isso, eram os únicos dignos de figurar na Bíblia, os «evangelhos canónicos», por oposição aos evangelhos indignos dessa honra, conhecidos por «evangelhos apócrifos» ou «gnósticos».
Várias são as versões que contam como se deu a separação entre os evangelhos canónicos e apócrifos:
Há quem diga que, durante o Concílio, estando os bispos em oração, os evangelhos inspirados foram depositar-se no altar por si só.
Uma outra versão relata que todos os evangelhos foram colocados por sobre o altar, e os apócrifos caíram ao chão…
Outra ainda afirma que o Espírito Santo entrou no recinto do Concílio em forma de pomba e foi pousando no ombro direito de cada bispo, segredando aos seus ouvidos os evangelhos inspirados.

Depois, e na melhor tradição do costume babilónico da deificação do rei ou do imperador, foi com uma habilidade notável que Constantino aproveitou as festas, os costumes e os princípios pagãos e judaicos, já conhecidos e tradicionais no Império, para os adaptar e criar a doutrina desta nova religião, em progressivo crescimento e implantação popular.
Exemplo paradigmático disso é a festa pagã do Solstício de Inverno, adaptada ao Natal e às comemorações do nascimento de Jesus Cristo.

Esta nova Igreja, a Igreja Católica fundada no Concílio de Niceia («Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica…») está, pois, bem longe de ser a «Igreja Primitiva dos Apóstolos» e, obviamente, não foi fundada por Pedro.
Poderá até dizer-se que o seu primeiro Papa foi Constantino.

Quando morreu, em 337, Constantino foi baptizado e enterrado como um verdadeiro décimo terceiro Apóstolo, e na iconografia eclesiástica, veio a ser representado recebendo a coroa das mão de Deus.

Mais tarde, já com Teodósio, o cristianismo haveria de tornar-se a religião oficial do Império, institucionalizando-se profundamente na sociedade romana e constituindo um polo de união comum a todos os territórios conquistados, surgindo o profissionalismo religioso e toda uma estrutura teológica e uma casta sacerdotal dominante, que se impunha aos fiéis proclamando de forma rígida e autoritária que «fora da Igreja não há salvação».

Quase dezassete séculos depois do Concílio de Niceia comemora-se uma vez mais o Solstício de Inverno, transformado habilmente por Constantino nas comemorações do nascimento do Deus dos cristãos.

O Concílio de Niceia foi de tal modo primordial para o cristianismo ? e para a religião católica em particular ? que ainda hoje os seus fundamentos e princípios doutrinais e filosóficos são precisamente os mesmos que foram inventados por Constantino.

Até é precisamente o mesmo o raciocínio e o hábil jogo de palavras que faz passar o cristianismo por… uma religião monoteísta.

De facto, é através de um mero jogo de palavras a que chama um «Mistério», isto é, um dogma que não tem explicação possível, que esta religião persiste em fazer-se passar como «uma das três grandes religiões monoteístas do mundo».

Mas que de monoteísta nada tem!

Só deuses tem três: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Podem os mais fiéis defensores do «Mistério da Santíssima Trindade» dizer que estes três deuses são, afinal, um só.
Mas o que é facto é que eu conto três: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Quanto ao Deus «Espírito Santo», que à boa maneira cristã é de formulação masculina, sempre se diga ainda que, com a sua atitude típica e persistentemente misógina, os católicos perderam a oportunidade de tornar a sua origem e a sua explicação bem mais interessante.
Poderiam, por exemplo, ter dado mais atenção ao apóstolo Filipe que nos transmitiu no seu evangelho gnóstico, excluído por Constantino da honra de figurar na Bíblia entre os evangelhos canónicos:

«Alguns dizem que Maria concebeu do Espírito Santo.
«Erram, não sabem o que dizem.
«Quando é que uma mulher concebeu de uma mulher?»

A explicação para este aparente contra-senso é bem simples:

É que em grego, língua original em que foram escritos os evangelhos e até em copta, o idioma para que foram em primeiro lugar traduzidos antes de transpostos para os idiomas actuais, «Espírito Santo»… é do género feminino!
E assim, com uma simples mudança do género de uma palavra numa tradução, a Igreja Católica perdeu a oportunidade de respeitar a «Santíssima Trindade» na formulação original de «Sagrada Família», isto é, de Pai, Mãe e Filho.

Depois, a estes três deuses acresce a mãe do Deus Filho.
De tal modo deificada que, tal como Jesus Cristo, e apesar falta de sustentação bíblica para tal, foi feita subir ao Céu em corpo e alma após a sua morte terrena.
E já vão quatro!

De tal forma que, assumindo várias personalidades consoante as regiões geográficas, e multiplicando-se como que para afirmar o politeísmo cristão, a Nossa Senhora de Fátima, ou de Lourdes, ou a Virgem Negra polaca, ou a Virgem de Guadalupe sul-americana, concorrem mesmo com os três principais deuses na devoção dos cristãos.
Diz-se mesmo que o Papa João Paulo II, conhecido como «devoto mariano», mais que aos seus próprios patrões rezava à mãe do Deus Filho.

Depois, aparecem os santos. Que se contam aos milhares!
E que são tão deuses como os outros deuses, pois com eles concorrem na adoração dos fiéis cristãos e como eles são omnipotentes e omnipresentes.

E não é essa a definição de «Deus»?

De tal modo, que em todos os cristãos existe um «santo de devoção», frequentemente corporizado numa imagem ou num ícone, a quem se pede um favor, uma graça, ou «uma cunha» para um emprego, para a cura de uma doença ou para um prémio no Euromilhões.

Foi também com um hábil jogo de palavras que o Segundo Concílio de Niceia (o sétimo Concílio Ecuménico), realizado no ano de 787, distinguiu o que é «adoração» do que é «veneração».
E estipulou que pedinchar uma coisa a um Deus, se chama «adorar»; e que pedinchar a mesma coisa a um santo se chama «venerar».
Embora os resultados previsíveis da pedinchice sejam basicamente os mesmos.

Não admira, pois, que os cristãos, com um folclore, uma mitologia e uma iconoclastia tão rica, sejam tão preocupados e cuidadosos a celebrar o Natal.

E se é assim, então, a todos um bom Natal!

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

22 de Dezembro, 2005 lrodrigues

Uma Escolha Consciente

Segundo a «Agência Ecclesia» o Papa Bento XVI decidiu nesta quadra de Natal inspirar-se em Santo Agostinho.

De facto, o Papa elegeu uma exortação de Santo Agostinho para os votos do primeiro Natal do seu pontificado.
Pelo seu próprio punho, o Papa escreveu em latim:
«Expergiscere, homo: quia pro te Deus factus est homo»
Que é como quem diz: «Desperta, homem: porque, por ti, Deus se fez homem».
Mas quem foi este tal de Santo Agostinho?
Aurelius Augustinus, que viveu entre os anos 354 e 430 foi considerado um «Doutor da Igreja» e deixou uma obra vastíssima entre livros, cartas e sermões.
Sem sermos exaustivos, respiguemos (principalmente da Wikipedia) apenas alguns aspectos da biografia deste brilhante cristão, até para tentarmos compreender de onde vem a admiração que, pelos vistos, por ele sente o Santo Padre, o Papa Bento XVI.
Para já, Santo Agostinho é considerado pelos protestantes evangélicos a fonte teológica inspiradora da Reforma.
Não obstante, este santo homem começou por ser um fervoroso adepto do Maniqueísmo, uma espécie de mistura explosiva de Zoroastro com Jesus Cristo. Só aos 33 anos, sob a nefasta influência de Santo Ambrósio, bispo de Milão, se converteu ao cristianismo.
Depois era um confesso tarado sexual e, como se não bastasse um irredutível pedófilo.
Enquanto proclamava a sua máxima preferida «dêem-me a castidade, mas por enquanto ainda não», Santo Agostinho manteve por mais de uma década uma concubina de tenra idade, e que lhe deu um filho.
Mas que não hesitou em abandonar à sua sorte para fazer um casamento de sociedade.
Uma vez mais teve de esperar dois anos para que a sua noiva tivesse idade legal para casar.
Foi ordenado padre em 391. É nomeado bispo assistente de Hipona cinco anos depois, abandona mais uma mulher e converte-se então ao celibato.
Coincidência ou não, juntou-se com um grupo de amigos, criou uma fundação monástica em Tagaste e fechou-se com eles lá dentro.
Deve-se a Santo Agostinho a adopção oficial pelo cristianismo ocidental da ideia de «pecado original» e também do conceito da «predestinação divina», tão do agrado de tantos teólogos ainda hoje.
Foi também a sua hábil distinção teórica entre «magia» e «milagres» que durante séculos sustentou ideologicamente a luta da Igreja contra o paganismo e a bruxaria.
Santo Agostinho foi também um feroz anti-semita, defendendo a dispersão dos judeus pelo mundo.
Separou habilmente a origem judaica de Jesus Cristo do judaísmo de um modo geral porque, dizia, os judeus não acreditavam que Cristo fosse o Messias.
As suas teorias serviram de base ideológica para inúmeras perseguições a judeus, que considerava irrecuperáveis inimigos da Igreja Cristã.
Mas foi principalmente a sua luta sem quartel contra os Donatistas que mais fama granjeou a Santo Agostinho.
O Donatismo foi uma doutrina religiosa cristã que defendia que os sacramentos só eram válidos se quem os ministrava era digno de o fazer.
Pelo contrário a religião católica defende que os sacramentos valem por si, seja o ministrante (geralmente um sacerdote) um indivíduo corrupto ou não.
É então que este santo homem defende pura e simplesmente o uso da força contra os donatistas e a sua completa aniquilação, dizendo:
«Porque não deveria a Igreja usar da força para compelir seus filhos perdidos a retornar, se os filhos perdidos compelem outros à sua própria destruição?»
Em suma:
É neste homem que o Papa Bento XVI resolveu inspirar-se neste aniversário do nascimento do Deus dos cristãos.
Um homem que além de tarado sexual, pedófilo e anti-semita, defendia o assassinato e a aniquilação física de quem não perfilhava as suas ideias religiosas.
Uma escolha certamente muito consciente.
E que, por isso mesmo, é bem capaz de dizer muito de Bento XVI…

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)