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João Vasco Gama

2 de Novembro, 2010 João Vasco Gama

Elevada correlação entre religiosidade e desigualdade

Este artigo confirma aquilo que já tenho vindo a escrever – existe uma elevada correlação entre a religiosidade e a desigualdade social.

É importante começar a investigar a razão de ser desta correlação. Parece-me razoável assumir que existe causualidade em ambos os sentidos (mais desigualdade provoca maior religiosidade; maior religiosidade provoca maior desigualdade) e mesmo causas comuns a ambos os fenómenos (menor instrução, por exemplo), pelo que a correlação não é nada surpreendente.

Seria interessante investigar qual destas correntes causais é preponderante, se é que cada uma delas se verifica. O artigo apresenta justificações plausíveis para a forma como uma maior religiosidade pode levar a uma maior desigualdade.

2 de Novembro, 2010 João Vasco Gama

Mudanças sociais em Espanha

O perfil da sociedade espanhola está a sofrer alterações rápidas, nomeadamente no que diz respeito ao papel do catolicismo entre a juventude. Metade dos jovens entre 15 e 29 anos já não se considera católica, e especula-se que essa situação pode estender-se à sociedade no seu todo dentro de cerca de 20 anos. Note-se que, de acordo com os dados de 1990, cerca de 90% da população espanhola se declarava católica.

28 de Setembro, 2010 João Vasco Gama

Paul Dirac e a religião

Não subscrevo inteiramente, mas é interessante conhecer a opinião de Paul Dirac sobre a religião:

«Eu não consigo entender porque perdemos tempo a discutir religião. Se formos honestos – e os cientistas têm de o ser – temos de admitir que a religião é uma confusão de falsas asserções, sem qualquer base na realidade. A própria ideia de Deus é um produto da imaginação humana. É bastante compreensível o porquê das pessoas primitivas, que estavam muito mais expostas às forças dominantes da natureza do que nós, terem resolvido personificar estas forças por medo e tremor. Mas hoje em dia, quando entendemos tantos processos naturais, não temos qualquer necessidade desse tipo de soluções. Eu não consigo entender como postular um Deus Todo-o-Poderoso nos pode de alguma forma ajudar. O que consigo ver é que esta suposição leva a questões improdutivas tais como o porquê de Deus permitir tanta miséria e injustiça, a exploração dos pobres pelos ricos e todos os outros horrores que Ele podia prevenir.

Se a religião continua a ser ensinada, não é pelas suas ideias ainda nos convencerem, é porque alguns de nós desejam manter as classes inferiores silenciadas. Pessoas caladas são muito mais fáceis de governar do que as clamorosas e descontentes. São também muito mais fáceis de explorar. A religião é uma espécie de ópio que permite a uma nação tranquilizar-se com sonhos cobiçados e esquecer-se das injustiças que são perpetuadas contra as pessoas. Daí a aliança próxima entre essas duas grandes forças políticas, o Estado e a Igreja. Ambas necessitam da ilusão de que um Deus benevolente recompensa – no Céu se não na Terra – todos aqueles que não se elevaram contra a injustiça, que cumpriram com o seu dever sossegadamente e sem reclamar. É precisamente por isso que a asserção honesta de que Deus é um mero produto da imaginação humana é condenada como o pior de todos os pecados mortais.»

27 de Agosto, 2010 João Vasco Gama

Deus e as Sereias

Imaginemos o seguinte diálogo:

crente – Uma evidência de que Deus existe são os testemunhos que relatam a ressurreição de Jesus.

ateu – Essa evidência é risível. Também existem vários testemunhos que relatam o avistamento de Sereias, e nem por isso elas existem.

Até aqui nada de mais. Vejemos diferentes possibilidades de respostas típicas que tenho visto muitos crentes darem perante este tipo de argumento:

1- Um argumento por analogia é um argumento fraco e pouco rigoroso.

2- A analogia não se aplica pois Deus é X e as sereias são Y [substituir X e Y por qualquer diferença entre Deus e as sereias que pareça relevante ao crente em questão]

3- Isso é ridículo pois todos sabemos que não existem sereias

4- Comparar Deus com sereias, que absurdo. Esse argumento é pouco sério, nem lhe vou responder.

Estas possibilidades de resposta demonstram que esse crente em particular tem algumas dificuldades em lidar com a abstracção da lógica formal. Vejemos os erros lógicos envolvidos em cada uma das respostas.

No primeiro caso alega-se que a resposta do ateu se trata de um argumento por analogia. Isso é falso.

Na verdade, o ateu percebeu rapidamente o raciocínio implícito presente na proposta inicial do crente:

Premissas:

a) Relatos de testemunhos de algo são uma boa razão para acreditar nesse algo

b) Existem relatos de testemunhos da Ressurreição

Conclusão:

c) Existe uma boa razão para acreditar na ressurreição

d) Existe uma boa razão para acreditar em Deus

Se o ateu discorda da premissa a), que é uma regra universal, ele pode demonstrar formalmente que esta premissa é errada utilizando apenas um contra-exemplo. Este contra-exemplo terá, neste caso, de ter as seguintes características:

i- tem de ser algo em relação ao qual ambas as partes concordem que não existem boas razões para acreditar

ii- tem de ser algo em relação ao qual ambas as partes concordem que existem relatos de testemunhos

Se um exemplo cumpre estes dois requisitos, a falsidade da premissa a) fica formalmente demonstrada, e daí se conclui que a conclusão inicial não se justifica com base no argumento apresentado. Neste caso em particular o ateu tem, formalmente, razão. Não existe qualquer argumento por analogia.

Percebe-se assim também o erro dos crentes que alegam que a analogia não colhe por causa de alguma diferença fundamental entre Deus e as Sereias. Tais diferenças são irrelevantes, pois o conceito de Deus não faz parte da premissa a) que se pretende demonstrar falsa. O que é necessário, no que diz respeito ao contra-exemplo, é que ele cumpra os requisitos expressos, e não a categoria a que pertence.

A resposta 3 é nesse sentido, particularmente irónica. É precisamente o facto de ambos os lados concordarem que não existem sereias que faz deste um contra-exemplo adequado para mostrar formalmente o erro da premissa implícita. Se ambas as partes concordam que não existem boas razões para acreditar em sereias, mas existem relatos do seu avistamento, ambas as partes terão de concordar que relatos do avistamento de algo extraordinário não correspondem a boas razões para acreditar na ocorrência desse algo (ou então haveria boas razões para acreditar em sereias, o que ambas as partes concordam ser falso).

A resposta 4 é uma simples fuga ao debate. Por mera falta de argumentos.

Note-se que quando escrevi este texto  meu interesse não era este argumento em particular, mas sim a falta de domínio da lógica formal com a qual muitos crentes reagem a contra-exemplos adequados.

Existem formas inteligentes de responder a este tipo de contra-argumentos. Por exemplo, se o crente alegar que existem mais testemunhos e mais fiáveis a respeito da ressurreição que a respeito de Sereias – alegação da qual eu discordaria – ele subentende que existe um patamar de indícios testemunhais a partir do qual existem boas razões para acreditar num evento extraordinário, mas que o avistamento de sereias está abaixo desse patamar. Um contra-exemplo adequado seria algo que ambas as partes concordassem estar acima de tal patamar, e que ambas as partes concordassem não existir. Em alternativa o ateu poderia discordar, como eu discordo, de tal alegação, e em conjunto aferir quantos e quais testemunhos existem, para que a discussão progredisse sem que ninguém mostrasse uma notável incompreensão dos processos de lógica formal.

29 de Junho, 2010 João Vasco Gama

Pequenos episódios das guerras religiosas

Desta feita, em Jacarta:

«O grupo que consiste em nove membros representando diferentes organizações islâmicas na cidade, formou-se no Domingo, o último dia do congresso Islâmico Bekasi na mesquita Al Azhar, convocado para dar resposta ao, assim chamado, “problema da cristianização“.

Entre as recomendações deste congresso está a formação de grupos militantes islâmicos, laskar, no seio de cada mesquita, e o esboço de políticas baseadas na Charia pela administração Bekasi.

Todos os muçulmanos deveriam unir-se e manter-se em guarda, pois… os cristãos estão a preparar alguma“, disse ao Jakarta Globe Mur hali Barda, cabeça da ala Bekasi da linha-dura da Frente de Defesa Islâmica (FPI).

Aparentemente, querem testas a nossa paciência. Planeamos convidá-los para um diálogo para determinar aquilo que realmente querem. Se as conversações falharem, isso pode significar guerra”, avisou.»

Uma entre muitas ilustrações do difícil convívio entre crenças baseadas não naquilo que é partilhável – as observações da realidade – mas sim naquilo que é divisivo, os dogmas e as superstições dos antepessados.