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17 de Julho, 2004 jvasco

Um tipo de Agnosticismo (e outras considerações…)

Tenho sobre a posição agnóstica (por si) um elevado respeito e consideração.

No entanto, sei que existem vários tipos de agnósticos, com diferentes motivações e razões.

Há quem veja na questão religiosa algo de “artificial” e pouco importante, que só serve para dividir as pessoas, fazendo-as discordar. Com horror à discórdia, à discussão e ao debate, essas pessoas preferem assumir a posição que consideram menos conflituosa. Não são “ateus”, para não ofender os crentes, dizendo que não acreditam, mas não são “crentes” porque simplesmente não acreditam.

 

Considero saudável que numa sociedade e cultura seja normal a discussão de ideias, o desacordo, a argumentação. A ideia de que discutir a actualidade política, a religião ou outros temas do género num jantar de amigos é desagradável, é uma ideia que acho nefasta: as pessoas tendem a manter as suas ideias, sem as “arejar” pelo seu confronto, tendem a desinteressar-se dos assuntos citados, tendem a desinteressar-se mesmo de qualquer assunto “sério”.

 

O facto de algumas pessoas que se dizem agnósticas serem na verdade ateus, com o temor do confronto que referi, é um sintoma deste problema.

Que se discutam temas sérios! Que se dêem bons argumentos! Que se oiçam e respeitem as diferentes opiniões e perspectivas! Que se confrontem ideias diferentes!

As ideias de todos tendem a subir de nível quando a discussão acontece. 

15 de Julho, 2004 jvasco

Esclarecimento

Vou aproveitar este artigo para fazer um esclarecimento que já tenho repetido até à exaustão nos comentários, mas cuja repetição parece sempre insuficiente, já que continuamos a ser mal interpretados. Vou falar por mim, mas estou certo que o essencial daquilo que vou dizer se aplica aos outros autores.

 

Não tenho nada contra os crentes. Não lhes desejo nenhum mal. Três dos meus melhores amigos são umbandistas, alguns familiares e amigos da família, que muito estimo, são católicos (incluindo os meus Avós, a minha Madrinha e o meu Padrinho). Há figuras públicas que admiro que são religiosas (não conhecia bem a falecida Maria de Lurdes Pintasilgo, mas tinha a respeito dela uma ideia positiva).

A maior parte dos ateus limita-se a sê-lo, sem o afirmar aos sete ventos. Tem uma atitude paternalista do tipo: «eles que acreditem nesses disparates, se isso os faz felizes». Devo dizer que, durante algum tempo, também fui assim. 

Não manter esta atitude (o «ateísmo militante»), longe de ser desrespeito ou inimizade para com os crentes, pode ser (também) uma atitude de preocupação para com eles (e para com as pessoas em geral). «As pessoas que acreditem no que quiserem, mas que tenham acesso a todos os dados, informações e perspectivas, para fazerem a melhor escolha». Se me bato para que os diferentes mitos urbanos desapareçam, para que as mentiras repetidas até à exaustão deixem de ser consideradas verdades, então terei de considerar que as religiões representam o melhor exemplo dessa triste ocorrência.

13 de Julho, 2004 jvasco

Religião e Obscurantismo

Será que existe alguma relação entre religião e obscurantismo?

Os factos que acabei de descobrir no blogue Oeste Bravio podem elucidar-nos a este respeito:

Mas poucas pessoas sabem que até 1963 autores como Rabelais, Montaigne, Descartes, La Fontaine, Pascal, Montesquieu, Voltaire, Rousseau, Diderot, Casanova, Sade, Stendhal, Balzac, Victor Hugo, Flaubert, Dumas, Zola, Maeterlinck, Pierre Larousse, Anatole France, André Gide, ou Jean Paul Sartre viram os seus livros proibidos pela Santa Sé.

A lista é longa e eu tirei estes nomes da Internet à pressa, só para ilustrar a minha história: Peter Abelard, Erasmus, Machiavelli, John Milton, Spinoza, John Locke, David Hume, d’Alembert, Condorcet, Daniel Defoe, Jonathan Swift, Emmanuel Kant, J. S. Mill, ou G. D’Annunzio.

A propósito destas informações, ocorrem-me três citações:

“Existe um outro tipo de tentação, mais perigosa ainda. Essa é a doença da curiosidade (…) É ela que nos leva a tentar descobrir os segredos da natureza, aqueles segredos que estão além da nossa compreensão, que não nos podem trazer nada e que os homens não devem desejar aprender (…) Nessa imensa selva, cheia de armadilhas e perigos, tenho-me afastado, e mantido longe desses espinhos. No meio de todas essas coisas que flutuam incessantemente à minha volta no dia a dia, jamais algo me surpreende, e eu nunca sou tomado por um desejo genuíno de estudá-las (…) Eu não sonho mais com as estrelas.”

Aurélio Agostinho (Santo Agostinho), Bispo de Hipona, cuja morte, em 430 d.C. marca o início da idade das trevas na Europa. (cit. em Sagan, C. “The Dragons of Eden”, p247.)

“A Razão deveria ser destruída em todos os cristãos. Ela é o maior

inimigo da Fé. Quem quiser ser um cristão deve arrancar os olhos de

sua Razão”
Martinho Lutero

“É totalmente ilícito exigir, defender ou conceder incondicionalmente a liberdade de pensamento, expressão ou culto, como se esta fosse um direito natural do homem” Encíclica do Papa Leão XIII

Lembremo-nos também dos livros da biblioteca de Alexandria que foram todos queimados de acordo com o seguinte critério: “Os que não são conformes aos escritos do Corão são hereges e deverão ser queimados. Os que são conforme aos escritos do Corão são inúteis e deverão ser queimados.”

12 de Julho, 2004 jvasco

Demonstração matemática: Deus é imaginário

Circulando pela internet, acabei por encontrar esta brincadeira da autoria de Lucas V. B.

É uma demonstração matemática que prova que Deus e o Diabo são ambos imaginários.

Cá vai ela:

Tomemos D como sendo Deus, S como sendo o Diabo (S de Satanás) e U como sendo o Universo.

Sabemos que o Diabo, representa a escuridão onde Deus representa a luz, o mal onde Deus representa o bem, toda essa conversa do costume, etc… Daí concluímos que:

S = -D

Também sabemos que o “produto” de ambos é o Universo:

D*S = U

Daqui tiramos que:

D*(-D) = U <=>

D^2 = -U <=>

D = +raiz(-U) V D = -raiz(-U) <=>

D = i*raiz(U) V D = -i*raiz(U)

Como S= -D,

S = -i*raiz(U) V S = i*raiz(U)

Sendo o Universo real, Deus e o Diabo são imaginários.

QED.

11 de Julho, 2004 jvasco

10% do cérebro

É boa ideia repetir novamente: o ser humano usa 100% do seu cérebro!

Há quem diga que o «o ser humano usa apenas 10% do seu cérebro». Estão errados.

Diversas técnicas empregues pela neurociência moderna (tomografia, ressonância magnética, etc) mostram que não existem áreas inactivas no cérebro.

Esclareçam tudo isto neste artigo do projecto Okham (cujo lema «a verdade está lá fora… e ela é muito menos estranha do que você pensa» tem muito a ver com a atitude ateísta), ou então neste outro aconselhado pelo Dicionário Céptico.

10 de Julho, 2004 jvasco

O desafio de Randi

Continuem os curandeiros a assegurar os seus poderes de falar com os mortos e limpar as maldições dos vivos, continuem os mediuns a insistir que falam com os mortos, continuem as fontes duvidosas a divulgar a premonição e a existência de espíritos sobrenaturais. Mas se os cépticos duvidam dessas alegações, não digam que é por “falta de abertura de espírito“.

Muitas vezes é feita essa confusão entre “espírito crítico” e ausência de uma capacidade tão desejável que é a “abertura de espírito“. Essa confusão é feita para encorajar a fraude e a mistificação.

Randi passou da indignação às acções: assegura agora o “Desafio de um milhão de dólares“. Qualquer um que acredite ter poderes “inexplicáveis” só tem de se inscrever para o desafio: pode ficar com o dinheiro ou doá-lo à instituição de caridade favorita (se a desculpa para não participar for o desinteresse pelos bens materiais). Randi e o concorrente combinam quais os testes que deverão ser feitos, quais os resultados considerados favoráveis e quais os resultados considerados desfavoráveis. A única coisa que Randi e a sua instituição pedem é a possibilidade de usar livremente os registos das experiências realizadas.

Até agora já participaram alguns indivíduos que estavam genuinamente convencidos dos seus poderes, e ficaram desolados por descobrirem que não existiam (os poderes, claro!). Mas participaram muito poucas pessoas, e nenhum dos grandes gurus do paranormal.

Veja tudo sobre o desafio na página oficial (em inglês) ou nesta página da Sociedade Terra Redonda (em português). Além disso, também lá está uma entrevista de Randi sobre o desafio.

9 de Julho, 2004 jvasco

500 artigos

Este blogue começou há cerca de um ano atrás, e este é o 500º artigo.

E este é o nosso crescimento:

Já agradeci, nas 10000 visitas, aos nossos leitores.

Faço-o de novo, na certeza de que não vos vou aborrecer tão cedo com artigos como este (os números simbólicos ficam agora distantes…).

9 de Julho, 2004 jvasco

Turquia pode dar um passo em frente

Acabei de ler no público que a justiça turca poderá proibir testes de virgindade feitos às mulheres, os quais são muito comuns em zonas rurais e conservadoras.

A fazê-lo, o estado Turco dará mais um passo em frente, no sentido de ter um estado laico, tolerante e desenvolvido. Muito embora seja, de todas as nações onde a religião dominante é o islamismo, aquela em que o estado é mais independente da religião, ainda não se pode dizer que a Turquia é um país laico… Não obstante as reformas constantes, a pressão militar, os focos de desenvolvimento, as influências culturais islâmicas continuam a ter um impacto negativo no desenvolvimento do país. Um exemplo disso são os testes de virgindade referidos. Atente-se nestas palavras desse mesmo artigo:

“Nas culturas islâmicas, a honra da família está depositada nas suas mulheres. Portanto, quando a pureza de alguma delas sai maculada, toda a família fica manchada. O raciocínio dos “crimes de honra” é que, nesse caso, o dever dos homens da família é matar a mulher desonrada. Na generalidade dos países muçulmanos, os juízes consideram esta situação uma atenuante para o crime de homicídio. Por vezes, o assassino pode mesmo não chegar a ser preso nem condenado.

Também se uma rapariga não sangrar durante a primeira relação sexual após o casamento será excluída pelo marido e pela sociedade, podendo até ser morta.”

5 de Julho, 2004 jvasco

Uma posição difícil?

Li recentemente um texto de um participante do fórum da Sociedade Terra Redonda. O texto está excelente. Transcrevo um parágrafo, mas creio que deveriam ler a versão integral nesse fórum:

É por isso que o ateísmo não possui muitos adeptos: nós oferecemos o lógico, o plausível, o real, por mais duro que seja. Seguimos nosso caminho sem paliativos psicológicos, sem analgésicos existenciais. Guiamos-nos ausentes da companhia de um amigo imaginário adaptável a qualquer necessidade ou conveniência. Vivemos sem alimentar a vaidade de que a entidade mais poderosa e perfeita de todo o Cosmos, se interessa e intervem nas nossas banalidades […]

Concordo em absoluto e diria mais: encarar a realidade como ela é, sem ilusões nem fantasias para nos enganarmos a nós mesmos, é o primeiro passo para saber torná-la melhor.

Por isso é que acho que há algo de corajoso e louvável no Ateísmo.