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13 de Abril, 2005 jvasco

Um Deus cruel

«Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram»
Mateus 7:13

O Deus da mitologia cristã é conhecido pelos crentes por ser um Deus perfeito, de amor e de bondade. Também é conhecido por ser um Deus omnisciente, omnipresente e omnipotente. Creio que tudo isto está em evidente contradição com as escrituras sobre as quais essa mitologia é baseada.

Basta considerarmos o seguinte: o Inferno é, de acordo com essas escrituras, um lugar de sofrimento terrível e eterno. De acordo com essas escrituras, é o destino da maioria da humanidade. Assim sendo, o Deus da mitologia cristã decidiu, quando criou o mundo, fazer a maioria da humanidade por si criada sofrer um castigo terrível e eterno.

Qualquer cristão argumentará que não é bem assim: «não é Deus que condena as pessoas ao Inferno, Ele apenas lhes dá a Liberdade para escolherem, ele quer que elas escolham o céu!». Mas a verdade é que esse Deus já sabe a escolha que a maioria daqueles que criou vai fazer. Já sabe que qualquer um deles se vai eternamente arrepender da sua escolha, e que qualquer um deles preferia nunca ter existido, a ter sido criado tendo o sofrimento eterno como destino. Ainda assim Deus decidiu criá-los a todos. Quanta maldade, quanta crueldade é que tal acção representaria? Uma infinita maldade. Uma infinita crueldade. Ideal para a megalomania da mitologia cristã, que insiste em chamar a tal Deus, «um Deus de amor».

Imaginemos a seguinte imagem: um indivíduo teve, ao longo da sua vida, 13 filhos. A cada um destes, quando tinham 2 anos, deu-lhes a seguinte escolha: «Que é que preferes, estes espinafres, ou este bolo? Podes escolher o que quiseres, mas peço-te que não escolhas o bolo, pois será muito mau para ti, e eu ficarei triste». Estando o bolo envenenado, e sendo da natureza das crianças de dois anos preferirem doces a espinafres, ligando pouco a certas recomendações, 12 dos 13 filhos morreram. O filho que não morreu foi muito amado e recebeu todo o carinho e amor do pai.

Acharemos nós que este pai é amoroso e carinhoso? Considerá-lo-emos um bom pai?

Ele queria que todos os filhos escolhessem os espinafres, mas tinha de lhes dar a «Liberdade» para escolherem. Que maior prova de amor? Ele sofreu por todos os filhos que morreram, chorando amargamente. Ele acarinhou e protegeu o filho que fez a escolha certa durante toda a sua vida.

Não!
Este pai é horrível! Doentio!
De uma falta de amor indescritível!

Mas infinitamente pior é o Deus da mitologia cristã. Pois o pai do exemplo, mata os seus filhos, algo infinitamente menos cruel do que presenteá-los com o sofrimento eterno.

E o pai do exemplo, pode supor que muitos filhos vão escolher o bolo, mas o Deus da mitologia Cristã sabe que a maioria daqueles que criou escolherão o caminho do Inferno, e ainda assim tendo (pela sua omnipotência) o poder de criar apenas aqueles que vão escolher a salvação, preferiu criar todos.

Ainda bem que um Deus assim não existe.

13 de Abril, 2005 jvasco

Sintomático…

A Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) gosta de impôr as suas regras a todos: crentes e não-crentes.

Veja-se, por exemplo, esta notícia muito curiosa: em Timor, o governo quer tornar facultativo o ensino da religião. A ICAR reage acusando o governo de «atentar ‘contra a convicção e referências fundamentais dos timorenses’, ao mesmo tempo que ‘minimiza a Sagrada Escritura’» .

Não parece familiar? Por cá, quem pretende que as escolas públicas não tenham crucifixos pendurados nas paredes, é considerado por alguns um «fanático ateu» que quer impôr a laicidade aos outros. Do outro lado do planeta, um governo que quer tornar facultativo o ensino do cristianismo é acusado de «atentar contra a Igreja». Só muda o cenário, o teatro é o mesmo.

12 de Abril, 2005 jvasco

Vote no Hugo [repetição]

Não resisto.

Tenho bastantes ideias para escrever artigos, até mesmo de mais para o pouco tempo que tenho disponível para o fazer. No entanto, gosto muito de um texto que já cá tinha colocado, mas numa altura em que o nosso Diário tinha muito menos visitas e visibilidade.

É por isso que quero voltar a partilhar este texto de Jim Huber, adaptado por Tim Gorski.

VOTE NO HUGO

Hoje de manhã alguém bateu à minha porta. Era um casal bem vestido e arrumado. O homem falou primeiro, e disse

João: Olá! Eu sou João, e esta é a Maria.
Maria: Olá! Gostaríamos de convidá-lo a votar no Hugo connosco.
Eu: Como assim? O que é isso? Quem é Hugo, e porque é que vocês querem que eu vote nele? Nem é dia de eleição hoje.
João: Se votar no Hugo, ele dar-lhe-á um milhão de dólares, e se não, ele espanca-o.
Eu: Mas o que é isso? Extorsão da máfia?
João: Hugo é um multibilionário filantropo. Hugo construiu esta cidade. A cidade é dele. Ele pode fazer o que ele quiser, e ele quer dar-lhe um milhão de dólares, mas isso só é possível se você votar nele.
Eu: Mas isso não faz o menor sentido. Se o Hugo construiu a cidade, é dono dela e pode fazer o que quiser, então por que precisa ser eleito? E por que ele…
Maria: Quem é você para questionar o presente do Hugo? Você não quer o milhão de dólares? Não vale a pena por votar nele uma vez só?
Eu: Bom, talvez, se mesmo a sério, mas…
João: Então venha connosco votar no Hugo.
Eu: Vocês já votaram no Hugo?
Maria: Ah, claro, e…
Eu: E vocês já receberam o milhão de dólares?
João: Bom, na verdade não. Você só recebe o dinheiro depois de sair da cidade.
Eu: Então porque é que vocês não saem?
Maria: Você só sai quando o Hugo deixar, ou você não leva o dinheiro, e ele espanca-o.
Eu: Vocês conhecem alguém que tenha votado no Hugo, saído da cidade e ganho o dinheiro?
João: Minha mãe votou no Hugo por anos. Ela saiu da cidade ano passado, e tenho certeza de que ela ganhou o dinheiro.
Eu: Você não falou com ela depois disso?
João: Claro que não, o Hugo não deixa.
Eu: Então porque é que acha que ele vai dar-lhe o dinheiro se nunca falou com alguém que tivesse conseguido o dinheiro?
Maria: Bom, ele dá-lhe um pouco antes de você ir embora. Pode ser um aumento de salário, pode ser um pequeno prémio de lotaria, pode ser que você ache uma nota de cinquenta na rua.
Eu: E o que tem isso a ver com o Hugo?
João: O Hugo tem uns «contactos».
Eu: Sinto muito, mas isso parece-me muito estranho…
João: Mas é um milhão de dólares, você vai arriscar? E lembre-se, se você não votar no Hugo, ele espanca-o.
Eu: Talvez se eu pudesse ver o Hugo, falar com ele, ajustar os pormenores directamente com ele…
Maria: Ninguém vê o Hugo, ninguém fala com o Hugo.
Eu: Então como é que vocês votam nele?
João: Às vezes nós fechamos os olhos e votamos, pensando no Hugo. Às vezes votamos no Carlos, e ele conta ao Hugo.
Eu: Quem é o Carlos?
Maria: Um amigo nosso. Foi ele que nos ensinou a votar no Hugo. A gente só precisou de o levar a jantar algumas vezes.
Eu: E vocês simplesmente acreditaram no que ele disse, quando ele contou que existia um Hugo, e que o Hugo queria que vocês votassem nele, e que o Hugo daria uma recompensa?
João: Claro que não! Carlos trouxe uma carta que o Hugo lhe mandou anos atrás, explicando tudo. Tenho uma cópia aqui, veja você mesmo.

João entregou-me uma fotocópia de uma carta com o cabeçalho «Do punho de Carlos». Havia onze pontos ali:

1. Vote no Hugo e ele dar-lhe-á um milhão de dólares quando você sair da cidade.
2. Beba álcool com moderação.
3. Espanque quem não for como você.
4. Coma bem.
5. O próprio Hugo ditou esta lista.
6. A lua é feita de queijo verde.
7. Tudo que o Hugo diz está certo.
8. Lave as mãos depois de ir à casa de banho.
9. Não beba.
10. Só coma salsicha no pão, e sem condimentos.
11. Vote no Hugo, ou ele espanca-o.

Eu: Parece que isso foi escrito no bloco do Carlos.
Maria: Hugo não tinha papel.
Eu: Tenho um palpite que se fôssemos conferir, descobriríamos que essa letra é do Carlos.
João: Claro que é, o Hugo ditou.
Eu: Pensei que vocês tinham dito que ninguém vê o Hugo.
Maria: Agora não, mas tempos atrás ele falava com algumas pessoas.
Eu: Pensei que vocês tinham dito que ele era um filantropo. Como é que um filantropo bate nas pessoas só porque elas são diferentes?
Maria: É o desejo de Hugo, e o Hugo está sempre certo.
Eu: Como sabe?
Maria: O item 7 diz: «Tudo que o Hugo diz está certo». Para mim isso é suficiente.
Eu: Talvez o seu amigo Carlos tenha inventado isso tudo.
João: De jeito nenhum! O item 5 diz: «O próprio Hugo ditou esta carta». Além disso, o item 2 diz «beba álcool com moderação», o item 4 diz «coma bem», e o item 8 diz «lave as mãos depois de ir à casa de banho». Toda a gente sabe que isso está certo, então o resto deve ser verdade também.
Eu: Mas o item 9 diz «não beba», o que não bate com o item 2. E o item 6 diz que «a Lua é feita de queijo verde», o que está simplesmente errado.
João: Não há contradição entre 9 e 2, 9 só esclarece 2. E quanto ao 6, você nunca esteve na Lua, então não pode ter certeza.
Eu: A ciência já estabeleceu muito bem que a Lua é feita de rochas…
Maria: Mas eles não sabem se as rochas vieram da Terra ou do espaço, então poderiam muito bem ser queijo verde.
Eu: Não sou um perito, mas acho que a ideia é que dois ou mais corpos de bastante massa podem ter colidido durante a formação do sistema solar para criar o sistema Terra-Lua. Mas não saber exactamente como a Lua foi formada não tem nada a ver com ela ser feita de queijo.
João: Ah! Você acabou de admitir que os cientistas não podem ter certeza, mas nós sabemos que o Hugo está sempre certo!
Eu: Sabemos?
Maria: Claro, o item 5 diz isso.
Eu: Você está a dizer que o Hugo está sempre certo porque a lista diz, e a lista está certa porque o Hugo ditou, e sabemos que o Hugo ditou porque a lista diz. Isso é lógica circular, é a mesma coisa que dizer que «o Hugo está certo porque ele diz que está certo».
João: AGORA você entende! É tão bom ver alguém entender a forma de pensar do Hugo!
Eu: Mas… ah, deixem estar… E que história é essa com as salsichas?
João (enquanto Maria enrubesce): É um esclarecimento do item 4. Salsicha, só no pão, sem condimentos. É a maneira do Hugo. Qualquer coisa diferente disso é errado.
Eu: Mas então pode comer hamburguer sem pão? E bratwürst?
João: Espere aí, espere aí! Não vamos deixar as coisas mais complicadas do que elas são. É melhor deixar esses pormenores para os peritos profissionais no Hugo e suas regras.
Eu: E se não tiver pão?
João: Sem pão, nada de salsicha. Salsicha sem pão é errado.
Eu: Sem molho? Sem mostarda?
João (Gritando, enquanto Maria parece chocada): Não precisa falar assim! Condimentos de todos os tipos são errados!
Eu: Então uma pilha enorme de repolho azedo com umas salsichas picadas em cima, nem pensar?
Maria (enfiando os dedos nas orelhas): Eu não estou escutando!! La la la, la la, la la la.
João: Mas que nojento! Só um pervertido comeria isso…
Eu: Mas é bom! Eu como sempre!!
João (amparando Maria, que desmaia): Se eu soubesse que você era um desses, não teria desperdiçado meu tempo. Quando o Hugo o espancar, eu vou estar lá, contando meu dinheiro e rindo. Eu vou votar nele por você, seu comedor-de-salsicha-cortada-com-repolho!

E assim João arrastou Maria para o carro, e foram embora.

O original faz parte da página da igreja do pensamento livre, que gentilmente o cederam.

9 de Abril, 2005 jvasco

Sabotagem da livre-expressão

O Diário Ateísta existe há cerca de ano e meio, tendo vindo sempre a crescer significativamente. Até agora sempre mantivemos um sistema de comentários no qual não existia qualquer forma de censura. Crentes, ateus e agnósticos diziam tudo o que queriam, faziam as críticas que achavam devidas, participavam com mais ou menos nível. Gostaria tanto que o civismo de todos os participantes fosse, pelo menos, o suficiente para manter esse sistema indefenidamente…

No entanto, é triste que um comentador sem escrúpulos tenha decidido prejudicar o debate a todos. Alguém que não sabe argumentar, que não é capaz de exprimir os seus pontos de vista, mas que fica revoltado com a expressão daqueles que são diferentes dos dele, decidiu, em toda a sua intolerância, quebrar as regras mínimas que permitiam o diálogo entre todos.

Assim sendo, começou a assinar os seus comentários como «Carlos Esperança» e «Ana», para que todos pensassem que as ignomínias que escrevia eram da autoria de um membro do nosso blogue e de uma comentadora frequente.

É uma pena que nem todos saibam lidar com a liberdade de expressão.

8 de Abril, 2005 jvasco

O lado positivo do legado de João Paulo II

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Existe um lado positivo no legado de João Paulo II.

Não custa nada dizê-lo, e seria errado não o esperar. Afinal ele foi o líder de uma das mais poderosas instituições do planeta, com um impacto tão grande no resto da humanidade, que ao longo do seu longo pontificado fez muitas coisas boas e muitas coisas más. Afinal de contas, ao contrário daquilo que vários cristãos evangélicos acreditam, o Papa não é o anti-Cristo.

Então porque é que nós, os autores deste blogue, nunca escrevemos isso mesmo?
Pela minha parte, que até agora não escrevi nada sobre o Papa, desde que morreu, vejo uma razão óbvia: não é preciso. O lado positivo do legado de João Paulo II tem sido repetido até à exaustão pelos meios de comunicação social, numa fúria revisionista Orwelliana, esquecendo todos os aspectos negativos do seu legado.

É por essa razão que, neste blogue, se têm referido exclusivamente os negativos. Por uma questão de equilíbrio, de reposição da verdade, de ver ambos os lados da moeda. Queremos ser livres pensadores.

Não negamos, portanto, que João Paulo II tenha feito coisas positivas (um exemplo é a sua contribuição assinalável para o diálogo inter-religioso, que acaba por ser, indirectamente, uma contribuição louvável para a Paz)
Mas queremos que se fale sobre tudo: as coisas boas e as coisas más.

Queria deixar isto bem claro.

5 de Abril, 2005 jvasco

Talvez seja preciso um desenho

Continua a espantar-me o debate e a polémica sobre a questão dos crucifixos na sala de aula.

Sinceramente nunca pensei que fosse uma questão polémica. Sempre considerei que qualquer católico de bom senso subscreveria a posição da ARL (Associação República e Laicidade) e que a questão dos crucifixos na sala de aula só não estaria resolvida por questões de inércia burocrática, e falta de empenho nessa questão (estamos todos de acordo que não é prioritária – mas é de muito fácil resolução).

Nem me passou pela cabeça que tantas pessoas ficassem revoltadas com a posição da ARL, e não entendessem qual a razão para retirar os ditos crucifixos. Já tentei explicar por palavras, mas resolvi fazer um pequeno esboço, que talvez seja mais explícito, visto que as palavras têm-se mostrado insuficientes:

Ninguém gostaria de ver a segunda imagem, pois não? Nem numa aldeia onde o satanismo fosse uma «tradição cultural» e numa escola oficial onde a maioria dos professores fossem satânicos. Se viajassem para tal aldeia, para aí viver, eram bem capazes de gostar que tais símbolos fossem retirados, já que o director da escola nem sequer permitiria uma imagem cristã na sala de aula dos vossos filhos. Eu gostaria que tais símbolos satânicos fossem retirados.
Façam lá a analogia…

O estado não é cristão, islâmico, satânico, budista, ateu ou agnóstico. E não deve ser! O estado deve ser laico. Indiferente às religiões ou posições religiosas, não fazer propaganda nem às religiões, nem à ausência delas. Cada cidadão opta em total liberdade, sem a pressão do estado para fazer esta ou aquela escolha.

E se eu acharia mal ver um símbolo ateu no topo da sala de aula, pois o estado não tem nada que fazer propaganda ao ateísmo, também acho mal ver uma cruz (assumindo que não tem valor artístico especial, etc…).
Será a minha posição tão difícil de entender?

3 de Abril, 2005 jvasco

Eles não compreendem

A questão dos crucifixos (e outros símbolos Católicos) pendurados nas paredes das escolas públicas, que me parecia ser uma questão burocrática menor e consensual, que só não estava resolvida por uma certa inércia social, e que teria o apoio de qualquer pessoa de bom senso, está, afinal, a causar muita polémica.
Muitos crentes parecem não concordar com esta medida de elementar defesa dos princípios constitucionais.

No Barnabé li a este respeito O mural da história, o qual me senti «obrigado» a citar. O artigo explica muito bem a posição que eu próprio tenho a este respeito, aflorando uns assuntos bem interessantes, que muitas vezes são esquecidos nesta discussão. Para quem não estiver completamente contextualizado convém dizer que, embora o artigo se possa ler independentemente, ele é a resposta ao Murais e Morais ou República e Laicidade 2, que por sua vez responde a Negócio fechado.

2 de Março, 2005 jvasco

Blasfémia na Blogosfera

Ontem e hoje alguns artigos do Barnabé foram muito comentados: um artigo sobre a forma como a Igreja Católica tem explorado a condição débil do Papa, e outros sobre os comentários a este artigo, um do autor do mesmo (Nuno Sousa), outro do Rui Tavares e outro do João MacDonald.

Verifica-se o mesmo que cá no Diário Ateísta já conhecemos: existem muitos crentes intolerantes para quem admitir a existência de ateus e agnósticos já é cedência suficiente: desde que eles se mantenham bem silenciosos. Qualquer argumentação por parte de não-crentes é considerada proselitismo (mesmo que feita em espaços próprios como o nosso blogue, onde só vai quem quer); qualquer texto humorístico é considerado falta de respeito.
Até no blogue de nome Blasfémias vários leitores e autores se indignaram quando um dos autores se limitou a colocar uma carta do cardeal Cerejeira na qual este escrevia que a irmã Lúcia tinha dito que Salazar havia sido escolhido por Deus para guiar os destinos de Portugal.

Mas, felizmente, a Blogosfera Portuguesa não é a Grécia. O nosso blogue continua a aumentar o número de visitas, e, de vez em quando, ainda vamos sendo agraciados por diferentes textos interessantes que, de uma perspectiva céptica, falam sobre religião. O artigo «Um estado totalitário» do Blogo logo existo é um excelente exemplo. Este blogue também comentou aquilo que se passou no Barnabé.

8 de Fevereiro, 2005 jvasco

Deus e a Líbido

«Talvez os sacerdotes das várias grandes religiões sejam homens comuns. Se o forem e parece que o são e até gente ordinariamente considerada respeitável pelos seus seguidores, de expressão grave, gestos solenes, falas calibradas, vestes sublimes, então merecemos que os bispos espanhóis opinem sobre o uso do preservativo, que os ulamas decretem sobre os cremes de beleza das mulheres islâmicas, que os rabis pratiquem cirurgia em crianças e que os sacerdotes hindus celebrem casamentos arranjados entre meninas de quatro anos e homens adultos. Entretanto, talvez porque os seus deuses estão ocupados em regular os impulsos da libido, multidões morrem de fome, de doença e de guerras, muitas delas santas.»

É assim que termina este excelente artigo de opinião, publicado hoje no Público, que não pude deixar de destacar neste espaço.