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8 de Maio, 2005 jvasco

Liberdade derrotada em Timor

Se há dois dias me congratulei aqui por uma vitória contra o fundamentalismo religioso, hoje tenho de lamentar que ele tenha saído vitorioso.

Em Timor, o governo quis que as aulas de religião e moral fossem facultativas. A Igreja não quis aceitar. Tentou o golpe de estado, tentou pressionar o presidente, fez julgamentos populares em casa do Bispo, espancou timorenses e portugueses. E por fim… venceu.

Sim. A Igreja venceu.

Foi criada uma comissão permanente, da qual fazem parte os dois bispos envolvidos, por via da qual a Igreja controlará o Estado. Está garantido que o aborto será considerado crime (mesmo nos casos de violação), assim como uma série de reinvidicações da igreja.

Entretanto, enquanto duraram as manifestações, registaram-se dois polícias feridos, devido ao arremesso de pedras por parte dos manifestantes. Sim, os católicos.

PS- Soube deste episódio pelo «Causa Nossa» onde o Vital Moreira caracteriza as consequências desta situação da seguinte forma: «O poder legislativo pertence agora aos bispos. E o poder político carece da benção dos representantes do Vaticano».
Outra ameaça preocupante na luta contra o fundamentalismo religioso foi-me dada a conhecer neste artigo do Rui Tavares no Barnabé.

6 de Maio, 2005 jvasco

Preso número três da Al-Qaeda

O alegado número três da rede terrorista Al-Qaeda, Abu Faraj al-Libbi, está sob custódia das forças de segurança paquistanesas, soube-se ontem de fonte oficial em Islamabad, a capital do Paquistão.

A Al-Qaeda, sob a liderança de Bin Laden, é mais do que uma organização terrorista e odiosa. Ela é o símbolo do mal que pode advir do fanatismo e fundamentalismo religiosos. Ela simboliza aquilo que a alienação, obscurantismo e demência associados a este fanatismo podem causar.

Como inimigos do fundamentalismo religioso que os ateus em geral combatem, esta notícia é para nós um forte motivo de alegria.
Todas as vitórias contra o fundamentalismo religioso são de louvar.

1 de Maio, 2005 jvasco

Aspiração clericalista

Não só em Timor, mas em muitas partes do mundo, vários crentes de diferentes religiões lutam para conseguirem concretizar as suas aspirações…

23 de Abril, 2005 jvasco

Explicando os casamentos homossexuais

Que a ICAR seja contra o casamento homossexual, que se recuse a prestar o sagrado matrimónio a crentes homosexuais, e que garanta que as relações homossexuais são um pecado com direito ao Inferno, é legítimo.
Claro que é uma posição homofóbica, triste, intolerante. Mas se acreditam realmente nisso, estão no seu direito de tomar aquela posição.

Mas que a ICAR seja contra que o Estado case homossexuais, sejam estes católicos ou não, faz tanto sentido como quererem obrigar os cidadãos a ir à missa! Sem tirar nem pôr! Eles acreditam que os homosexuais casados vivem em pecado, tal como acreditam que um crente que não vá à missa comete um pecado. Mas não têm nada que procurar alterar as leis para evitar que os cidadãos não tomem as decisões por si.

Quando vejo alguns crentes a comentar a posição da Igreja sobre a lei espanhola (ver os comentários do pertinente artigo Começou… do Blasfémias, e destes esclarecimentos adicionais no Da clara ilicitude de uma organização…), fico com a sensação que ainda não entenderam esta distinção.

22 de Abril, 2005 jvasco

Brasil – batalhas pela Fé

O Brasil é o país com mais católicos no mundo inteiro. No entanto, é palco de uma enorme batalha de «marketing religioso» que a ICAR está a perder.

Em 1991, 83% dos brasileiros eram católicos. Em 2000, a percentagem era de 73.5%.
Pode parecer pouco, mas temos de ver a dimensão do mercado em jogo: se a ICAR tivesse conseguido manter a proporção de crentes desde 1991, teria hoje mais de 16 milhões de fiéis.
No entanto, a ICAR aumentou o número absoluto de crentes em 0.3%, enquanto os evangélicos aumentaram 8%.
A dinâmica actual está longe de favorecer a ICAR…
Vejam este artigo, que relata esta situação em maior pormenor.

Pessoalmente não acho a perda de influência da ICAR para os evangélicos nada desejável…
Será que o novo Papa vai alterar esta dinâmica? Será que as suas posições dogmáticas, radicais e medievais vão fazer com que a ICAR compita com os evangélicos pelo mesmo «mercado» (pessoas menos instruídas), estancando o crescimento das Igrejas evangélicas, mas perdendo fiéis para o ateísmo e para as não-crenças? Será que o panorama da crença no Brasil vai mudar bastante?
Ou será que o novo Papa vai acentuar esta dinâmica? Com as suas posições contra a música nas Igrejas, contra um envolvimento sério na luta contra a pobreza (e é nas zonas mais pobres que as Igrejas evangélicas mais crescem), ele vai «empurrar» cada vez mais crentes católicos para as Igrejas evangélicas?

Aconteça o que acontecer, vale a pena estar atento a tudo o que vai acontecer no Brasil nos próximos tempos.

21 de Abril, 2005 jvasco

Religião e Obscurantismo II

Lembram-se quando eu listei citações e factos que indiciavam a existência de uma relação entre religião e obscurantismo? Vejam lá se a seguinte citação não poderia lá estar:

«O cristão é uma pessoa simples (…) e os bispos devem proteger estas pessoas sinceras dos intelectuais»
Cardeal Joseph Ratzinger

Descobri esta citação no barnabé, num artigo que aconselho vivamente.

Não convém esquecer que foi Ratzinger quem afirmou que os católicos não poderiam ler o «Código Da Vinci».

Enfim… parece que vem a propósito este artigo que Júlio Machado Vaz escreveu no seu blogue. É que parece que impediram, sem qualquer explicação, a emissão de um programa da sua autoria.

21 de Abril, 2005 jvasco

Não temos nada melhor para fazer?

A crítica à ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana) é ainda um tabu. Não importa quão legítima ela seja, não importa quão cordato seja o tom, não importa que o façamos num espaço onde nenhum católico é obrigado a «tropeçar» em textos que não quer ler. Não importa nada disso, há vários católicos que ficam revoltados com a existência de críticas à ICAR.

Muitas vezes a revolta é tão independente da crítica em questão, que pouco importam os argumentos. É nessa circustância que surgem várias ladaínhas recorrentes. Uma delas é esta:

«Vocês não têm mais nada que fazer? Porque é que estão sempre a criticar a ICAR Porque é que isso é tão importante para vocês? Porque é que vocês vivem para criticar a ICAR?»

Deixem prestar-vos alguns esclarecimentos. Neste Diário são publicados cerca de 20 textos por semana. Somos 10 autores, e eu, curiosamente, escrevo cerca de um décimo dos textos. Isso dá uma média de cerca de dois textos por semana. A fiar-me no meu perfil, escrevo uma média de 241 palavras por artigo. Isso dá um esforço semanal de menos de 500 palavras escritas, menos de uma página de texto.

Deixem-me dar-vos uma novidade: eu não preciso de dedicar todo o meu tempo livre para escrever uma página de texto semanal. Eu não preciso de «viver para críticar a ICAR» para ter motivação para escrever essa página. É lamentável que pareça, aos olhos de alguém, tão escandalosamente trabalhosa a produção semanal de uma página de texto. Não abona nada de positivo a respeito dessa pessoa.

É óbvio que este blogue não existe só para criticar a ICAR. Muitos nos nossos artigos falam das religiões em abstracto, e de outras religiões (o Islamismo, o Induísmo, o Paganismo) e Igrejas (IURD, testemunhas de Jeová, Evangélicos) em concreto. Estranhamente esses artigos não parecem «incomodar» os nossos leitores crentes, não parecem suscitar neles estas dúvidas acerca da forma como dispendemos o nosso tempo livre, e acerca dos nossos objectivos de vida.

E se eu realmente dispendesse muito tempo a criticar algo que me parecesse errado? Qual era o problema? Era por isso que as minhas críticas seriam menos legítimas?

São interrogações que não passam pela cabeça daqueles que não suportam críticas a uma Igreja, não importando o quão legítimas elas sejam.

19 de Abril, 2005 jvasco

Mas o que é que nós temos com isso?

Várias vezes oiço católicos queixarem-se da atitude dos ateus a propósito de toda a questão relacionada com a escolha do novo Papa.

«Epá, porque é que se metem onde não são chamados? O Papa é o líder de uma Igreja a que não querem pertencer, então porque é que têm de se pôr a dizer se acham bem, ou acham mal, se preferem este ou aquele?»

Devo dizer que este tipo de discurso não me sensibiliza muito. Acho-o mesmo um bocado pateta.

Até parece que não faz sentido um português pronunciar-se sobre as eleições norte-americanas. Dizer que considera que Bush governa bem, ou afirmar que Bush é um mau líder.
Até parece que não faz sentido dar qualquer opinião sobre um chefe de um estado que não o nosso (é isso que o Vaticano é). Fidel, Berlusconi, Tony Blair. Será que quando dizemos o que pensamos sobre eles (bem ou mal) esperamos que alguém nos venha dizer que não é nada connosco porque somos portugueses?

O Papa tem uma influência enorme sobre a nossa sociedade. As suas posições e escolhas influenciam fortemente todos os católicos, mas também os restantes cristãos, ateus, os agnósticos, os islâmicos, os indus, etc… Que sentido é que faz condenar um não-católico por dar a sua opinião sobre o Papa?

Claro que não faz nenhum. E tanto é assim que, se der uma opinião positiva sobre o Papa, nunca vou ouvir essa ladaínha de que não tenho nada com isso. Se der uma opinião positiva, qualquer católico a ouvirá e ponderará.

Eu preocupo-me com o mundo que me rodeia. Por essa razão, mesmo que não dê a importância que daria se fosse católico, considero a escolha do novo Papa um acontecimento incontornável da actualidade.
E faz tanto sentido que me pronuncie sobre ela (apreciando positiva ou negativamente) como sobre outra qualquer que tenha a mesma importância.

PS- Já agora esclareço: a escolha dos cardeais parece-me lamentável.
Comentando o artigo da Palmira (em que ela previu acertadamente o nome escolhido) pessoalmente disse-lhe que a Igreja Católica não podia ser assim tão retrógada.
Enganei-me…