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19 de Fevereiro, 2006 jvasco

Lúcia em alta na programação televisiva

Entre as 9h da manhã e as 13h da tarde, nenhuma das 4 televisões (RTP1, A Dois, SIC e TVI) deu qualquer alternativa à programação religiosa. Todos aqueles que não têm TVCabo foram impedidos de ver televisão sem se sujeitar a este verdadeiro monopólio.

Isto é tanto mais grave quando desses 4 canais televisivos dois deles são públicos. A televisão pública deveria precisamente servir para garantir alternativas. O canal «A Dois» garante alternativas aos cristãos passando programação religiosa que não tem qualquer sustentabilidade económica. Hoje era altura de mostrar que não há cidadãos de primeira e de segunda: deveria ter dado uma alternativa a todos aqueles (e não são assim tão poucos) que não querem saber de rezas e de transladações.

14 de Fevereiro, 2006 jvasco

Um episódio que não deve ser esquecido

Tal como George W. Bush agora, também seu pai governou os EUA.
Enquanto este se candidatava à presidência, em 27 de Agosto de 1987, teve o seguinte diálogo com um jornalista (da American Atheists) que cobria a sua campanha:

Sherman: O que é que fará para ganhar os votos dos americanos que são
ateístas?

Bush: Eu acho que não estou em alta na comunidade ateísta. A Fé em
Deus é importante para mim.

Sherman: Mas certamente reconhecerá a cidadania e patriotismo dos
cidadãos que são ateístas?

Bush: Não, eu não sei se os ateus deveriam ser considerados cidadãos ou se deveriam ser considerados patriotas. Isto é uma nação sob Deus.

Sherman (um tanto apanhado de surpresa): Suporta, como sendo um princípio constitucional acertado, a separação da igreja e do estado?

Bush: Sim, eu acredito na separação da igreja e do estado. Só não sou grande fã dos ateus.

Bush nunca pediu desculpa pelo que disse. Sempre se manteve firme na sua posição de duvidar que os ateus fossem cidadãos como os outros.

8 de Fevereiro, 2006 jvasco

Comunicado da ARL

Recebi (por correio electrónico) o seguinte comunicado de imprensa da direcção da ARL (que responde às declarações do Ministro dos negócios estrangeiros):

1. A Associação República e Laicidade considera que o único dever das autoridades de um Estado laico e democrático na actual «polémica dos cartunes» é reafirmar o direito inalienável dos cidadãos ao exercício da liberdade de expressão, o qual inclui o direito à blasfémia. A Associação República e Laicidade não pode, portanto, deixar de lamentar e repudiar o comunicado do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros datado de 7 de Fevereiro de 2006.

2. Contrariamente ao que sustenta aquele documento oficial, a presente crispação internacional não evidencia uma «guerra de religiões», mas sim o confronto entre laicidade e clericalismo. A liberdade de expressão, constitucionalmente garantida, é um direito fundamental que tem valor exactamente na medida em que não conhece excepções. Um alegado «dever de respeito» pelos «símbolos e figuras» religiosos não pode ser constituido em limite à liberdade de expressão, sob pena de destruir o debate livre e aberto que caracteriza as sociedades democráticas.

3. A Associação República e Laicidade – embora respeitando a legitimidade das crenças religiosas pessoais – considera também que quem exerce o cargo de Ministro do Governo da República Portuguesa não deve aduzir dogmas de fé (nomeadamente, a existência de um «profeta Abraão») como justificação de tomadas de posição políticas.

A bem da República.

Lisboa, 8 de Fevereiro de 2006

Luís Mateus ( presidente )
Ricardo Alves (secretário)

Novamente, verifico que estou completamente de acordo com a posição tomada pela ARL.

8 de Fevereiro, 2006 jvasco

Estaline, Mao e a Inquisição

Pessoalmente repudio Estaline e Mao. Entre outras coisas, a sua governação foi responsável por indesculpáveis atropelos à liberdade, e muitos, muitos mortos. O repúdio é tal que fico transtornado quando alguém sugere que essa violência foi perpetrada em nome do ateísmo.

Esta sugestão costuma surgir em resposta ao relembrar das atrocidades das cruzadas, da inquisição, da caça às bruxas, e muitas outras do tipo. Alguns crentes (católicos, em geral) afirmam que, tal como as primeiras atrocidades podem ser atribuídas a católicos, também estas últimas podem ser atribuídas a ateus.

Este raciocínio é falacioso, e passo a explicar porquê.

Na Europa medieval, praticamente todos os monarcas eram cristãos. Houve, durante a idade média, centenas de guerras, batalhas, mortes. Mas não há praticamente ninguém que se lembre de culpar o cristianismo por estas mortes. Por estes milhões e milhões de mortos. E porquê?

Porque é que se tratam os crimes da inquisição de forma diferente dos crimes de qualquer monarca medieval? Porque é que ninguém culpa a Igreja por estes últimos?

Porque uma coisa é um cristão matar alguém em nome de Deus. Outra coisa diferente é um indivíduo matar outro porque quer terra, ouro, vingança, ou por outra razão qualquer, e vir-se a verificar que o assassino é cristão.

Ninguém culpa a Igreja Católica por todos os crimes que os católicos cometeram. Mal seria! Mas a Igreja teve culpa da Inquisição. Teve culpa das Cruzadas. Teve culpa da caça às bruxas. Teve culpa e até teve o bom senso de pedir desculpas.

Mao e Estaline não mataram ninguém para implementar o ateísmo. Nunca existiu uma «igreja ateísta» que matasse em nome do ateísmo, e não me parece que algum dia apareça. Mao e Estaline mataram em nome do comunismo (embora muitos possam afirmar que mataram em seu nome, por ambição, ganância, e medo de perder o poder). O ex-seminarista Estaline perseguia as pessoas por serem inimigas do seu regime, e não por acreditarem nesta ou naquela superstição.

Os crimes de Mao e Estaline são análogos aos crimes dos monarcas medievais, e de muitos outros cristãos que, no poder, foram responsáveis por incontáveis mortes. Ninguém culpa a Igreja por estes crimes, e com razão.

Mas a Igreja Católica foi responsável por horríveis atrocidades. Em nome de Deus. E para estas (Inquisição, Cruzadas, Caça às bruxas) o ateísmo nunca teve o seu análogo.

3 de Fevereiro, 2006 jvasco

Liberdade de Expressão

É engraçada a forma como esta imagem traduz bem a polémica que causou

28 de Janeiro, 2006 jvasco

Entrevista com Douglas Adams

Vagueando pela internet, dei de cara com uma entrevista ao Douglas Adams feita pela “American Atheists” (já bem antiga, até…). As respostas que deu pareceram-me particularmente sensatas, e decidi traduzir alguns excertos que acho melhores:

«Na Inglaterra parece que se tem visto uma deriva de um vago Anglicanismo não muito convicto para um Agnosticismo não muito convicto – ambos dos quais creio que mostram o desejo de não pensar muito nas coisas»

«[Em relação a ser Ateu e não Agnóstico,] outras pessoas perguntam como é que eu posso alegar que sei? Não é a crença de que deus não existe tão irracional e arrogante como a crença de que existe? Para estas respondo negativamente por várias razões. […] Eu acredito ou não acredito na minha filha de 4 anos quando ela me diz que não fez aquela sujeira no chão. Eu acredito na justiça e no desportivismo […] Eu também acredito que a Inglaterra devia entrar na União Monetária Europeia […] Poderia facilmente estar errado e sei disso. Estes parecem-me usos legítimos da palavra “acreditar”. […] Eu estou, no entanto, convencido de que não existe deus […]»

«Eu não aceito a teoria da moda de que cada ponto de vista merece tanto respeito como o oposto. A minha perspectiva é que a Lua é feita de rocha. Se alguém me disser “bem, tu nunca lá estiveste, pois não? Se não viste por ti, a minha perspectiva de que é feita de queijo de castor norueguês é igualmente válida” – eu nem me vou dar ao trabalho de discutir […]. Deus era a melhor explicação que nós tínhamos, e agora temos ums série de explicações melhores. Deus deixou de ser a explicação de alguma coisa, mas passou em vez disso a ser algo que exige uma quantidade incontável de explicação. Então, não me parece que estar convencido que deus não existe seja tão irracional ou arrogante como acreditar que existe. Nem me parece que sejam comparáveis»

«O que me espantou, no entanto, foi a percepção de que os argumentos a favor de ideias religiosas são tão débeis e patetas comparados mesmo com os de assuntos tão interpretativos e subjectivos como a história. De facto, eram vergonhosamente infantis»

Também achei muito curioso ficar a saber que Douglas Adams passou do agnosticismo para o ateísmo com a leitura dos excelentes livros de Dawkins. No meu caso a obra de Carl Sagan teve alguma inflência pois levou-me às reflexões que acabaram por resultar nessa mudança (do agnosticismo para o ateísmo).

16 de Janeiro, 2006 jvasco

Esclarecendo equívocos

«Foi, é claro, uma mentira o que você leu sobre minhas convicções religiosas, uma mentira que está sendo sistematicamente repetida. Eu não acredito num Deus pessoal e eu nunca neguei isso, sempre o expressei claramente. Se existe algo em mim que pode ser chamado de religioso, esse algo é a admiração ilimitada pela estrutura do mundo tão longínqua quanto a nossa ciência pode revelar.»
Albert Einstein

13 de Janeiro, 2006 jvasco

Presidenciais e Religião

A Visão colocou a seguinte pergunta aos 6 candidatos presidenciais: «Professa algum credo religioso? Se sim, qual?». As respostas foram:

Cavaco Silva – Não respondeu às perguntas da Visão
Mário Soares
Sou agnóstico, como se sabe. Mas também é do conhecimento público que tenho participado activamente no diálogo entre religiões.
Manuel AlegreSou agnóstico.
Jerónimo de SousaJá professei, agora não.
Francisco LouçãNão.
Garcia PereriraNão, mas respeito profundamente quem o tenha, qualquer que ele seja.

Notas:

a) Como é óbvio, o sentido de voto não deve ser condicionado pela religião (ou posição religiosa) do candidato. Importa saber se o candidato presidencial defende a separação entre a Igreja e o estado, qual a posição face à lei da liberdade religiosa, as suas opiniões a propósito do episódio dos crucifixos, etc.

b) De salientar a maturidade, a este respeito, do eleitorado português (antes existisse a mesma maturidade em relação a outras questões…) – apesar dos ateus e agnósticos serem uma pequena minoria, 5 dos 6 candidatos não temem tornar pública a sua «falta de fé» (coisa que certamente alguns candidatos fariam se o eleitorado
religioso fosse penalizar severamente esse posicionamento).
Sobre este assunto, ver o infeliz exemplo dos EUA onde um Presidente é praticamente forçado a usar abundantemente expressões religiosas nos seus discursos.

12 de Janeiro, 2006 jvasco

A ICAR e a economia da homofobia

Vamos supor.

Vamos supor que a “contratação de Padres” pela Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) funciona de acordo com os pressupostos de Adam Smith, do mercado livre, de acordo com as leis da oferta e da procura. Que impacto teria a exigência de uma vida de celibato, nos ordenados e na quantidade de Padres?

A linha a vermelho representa a procura de Padres pela ICAR: o preço que pagaria, por Padre, para obter um determinado número de Padres. Obviamente que não se trata de uma decisão centralizada, mas sim no englobar das procuras das várias paróquias do país.

A linha a azul, de baixo, representa a oferta de Padres: relaciona o preço que a ICAR pagaria por um Padre com a quantidade de induvíduos dispostos a sê-lo. Isto assumindo que a ICAR não exigiria o celibato.

A linha azul, de cima, representa a oferta de Padres, desta vez tendo em conta o incómodo que representa o celibato para a maioria dos indivíduos.

Se este modelo estivesse razoavelmente adequado à realidade, poderíamos concluir que a exigência de celibato pela ICAR faria com que a quantidade de Padres no mercado fosse inferior (face à não exigência: de Q1 para Q2), e com que o valor pago a cada Padre fosse superior (de S1 para S2).

Vamos agora supor que existe um grupo da população masculina que, devido a preconceitos sociais, não poderia viver numa situação que preferissem francamente face ao celibato (chamemos ao grupo “homossexuais”, e ao preconceito “homofobia”).
Para esta camada da população, o celibato não seria uma grande desvantagem. Assim sendo, se esta população representasse uma percentagem razoável da população total (imaginemos que o palpite do Expresso dos 10% estava correcto), isso iria alterar a curva da oferta. De que maneira?

A linha vermelha e a linha azul continuam a representar a mesma coisa.
A novidade deste gráfico é a linha verde, que representa a oferta de Padres numa população mista e sujeita aos referidos preconceitos. Até à linha cinzenta horizontal, apenas membros deste grupo (homossexuais) aceitam o emprego que requer o celibato. A partir daí, pessoas de ambos os grupos decidem ser Padres.

Note-se que, nesta população mista, se não existisse qualquer preconceito quanto à orientação sexual, o celibato seria considerado desvantajoso para todos, independentemente da dita orientação. Assim sendo, a oferta global seria traduzida pela linha azul de cima.

Se este modelo fosse uma representação razoável da realidade poderíamos concluir que:

a) A homofobia seria um preconceito útil à ICAR, na medida em que a quantidade de Padres no mercado (Q3) seria superior aquela que existiria sem preconceito (Q2). Por outro lado, o dinheiro pago aos Padres aumentaria (de S1 para S2).

b) Assim sendo, à medida que as sociedade se fossem tornando mais tolerantes e menos homofóbicas, a quantidade de Padres diminuiria rapidamente, causando uma crise de vocações: a ICAR iria sentir falta de Padres.

c) Devido à existência de tal preconceito nas gerações anteriores, a ICAR contaria entre os seus elementos uma percentagem de homosexuais superior à da sociedade. Isto advém da proporção de homosexuais entre Q1 e Q3 ser a da sociedade, mas até Q1 todos os Padres serem homosexuais. Assim sendo, a proporção de homossexuais na ICAR (PHI) seria, em função da percentagem de homosexuais na sociedade (PH):

PHI = PH + (1-PH)Q1/Q3 > PH

Notas adicionais:

1- obviamente os gráficos são apenas ilustrativos. Este raciocínio apenas mostra as variações qualitativas nos rendimentos e nas quantidades de Padres no mercado. Para conhecer as proporções (e o significado) destes factores teríamos de conhecer os parâmetros das funções de oferta e de procura (em particular, as respectivas elasticidades)

2- sabe-se que para alguns Padres a exigência de celibato não terá representado grande incómodo. Mas, como é óbvio, para a maioria dos Padres representa.

3- este artigo também foi publicado no Banqueiro Anarquista.

28 de Dezembro, 2005 jvasco

Manobras Maquiavelicas segundo o GLOBO

«Diferentemente do que a Igreja Católica costuma ensinar, o Espírito Santo não presidiu o último conclave. O caráter político da eleição do Papa Bento XVI foi muito mais forte do que se divulgou até hoje. O cardeal alemão Joseph Ratzinger deu sinal verde para sua candidatura, mandou dizer aos colegas que aceitaria ser Papa e fez uma forte campanha nos bastidores para tornar-se Bento XVI. Chegou a contar com a ajuda de um grupo influente de cardeais conservadores como cabos eleitorais. Esses cardeais pró-Ratzinger passaram a sondar os colegas em conversas reservadas logo após a morte do Papa João Paulo II. Com isso, Ratzinger entrou para o conclave, no dia 18 de abril, praticamente eleito.

O relato foi feito por um dos quatro cardeais brasileiros que participaram da votação ? a mais secreta e misteriosa do mundo contemporâneo. O cardeal revelou os bastidores do conclave ao GLOBO sob condição de anonimato. Os que quebram o sigilo da eleição de um Papa estão sujeitos à pena máxima da excomunhão.»

Ver todo o artigo aqui.