10 de Janeiro, 2007 jvasco
Alucinação ateísta
Para quem acredita literalmente a Bíblia, uma pequena animação que mostra a «alucinação ateísta». Divirtam-se.
Para quem acredita literalmente a Bíblia, uma pequena animação que mostra a «alucinação ateísta». Divirtam-se.
«Para quem se interessa por informática, está aqui um excelente contributo criacionista: um algoritmo de ordenação por design inteligente.
Como a probabilidade de um dado conjunto de elementos ter a ordem que tem por mero acaso é muito reduzida, conclui-se que foi ordenado por um Criador duma forma perfeita, mesmo que incompreensível para nós. Assim a melhor forma de ordenar qualquer conjunto é deixá-lo como está.
(Via Pharyngula)»
——————————–[Ludwig Krippahl]
«No passado dia 1 surgiu no site criacionista «Creation Ministries» um artigo intitulado «Dawkins and Eugenics, a leading high priest of evolution reveals its ugly side». Este artigo acusa o «ateu fanático» Dawkins de defender que não há bem nem mal, de concordar com Hitler, e promover a eugenia, citando o que Dawkins escreveu no Sunday Herald do dia 19 de Novembro:
«I wonder whether, some 60 years after Hitler’s death, we might at least venture to ask what the moral difference is between breeding for musical ability and forcing a child to take music lessons. Or why it is acceptable to train fast runners and high jumpers but not to breed them.»
Terrível. Estes ateus são piores que o bicho papão. É claro, não parece tão terrível se lermos o resto do parágrafo, que os criacionistas não citaram. Dawkins continua:
«I can think of some answers, and they are good ones, which would probably end up persuading me. But hasn’t the time come when we should stop being frightened even to put the question?»
Afinal parece que Dawkins não considera a eugenia uma boa ideia. O que ele propõe é que se ponha de parte o terror inspirado pelo nazismo e não se tenha medo da pergunta: se pudermos influenciar o património genético dos nossos filhos, devemos fazê-lo ou deixá-lo à sorte?
Numa crítica cinco vezes maior que o artigo criticado, os criacionistas acusam Dawkins e os ateus de não terem valores, de defender a eugenia, e tiram uma citação do contexto para dar uma ideia completamente diferente do que o autor pretendia. Isto revela um atributo curioso dos criacionistas. Apresentam-se como defensores da Verdade, mas têm muito pouco respeito pela verdade.»
——————————–[Ludwig Krippahl]
No seu livro ‘Genetic Entropy & the Mystery of the Genome’, John Sanford revela que não há mecanismos naturais capazes de manter o genoma humano fixo no seu estado actual. Mutações surgem demasiado depressa para que a selecção natural as possa eliminar a todas, e os genes da nossa espécie vão mudando ao longo do tempo. É uma descoberta importante para um criacionista, mas os biólogos já sabiam disto. Chama-se evolução.
Não admira que os criacionistas achem isto surpreendente. Eles leram num livro que cada ser vivo foi criado de acordo com o seu tipo, e assim ficaria para sempre. A nossa espécie especialmente. Segundo esse livro fomos criados à imagem de Deus, que toda a gente sabe é gordo, magro, claro, escuro, alto, baixo, homem, mulher… bem, mulher não, que essas foram criadas à imagem da costela. Mas seja como for não é suposto mudarmos ao longo do tempo.
Para a biologia dos últimos séculos isto é tão novidade como o pão às fatias. Inspirando-me nas analogias que Sanford oferece, deixo aqui uma ao leitor. As espécies são episódios duma longa novela Venezuelana. A nossa espécie é aquele em que Marisol descobre que Alonso afinal já é casado. Na altura parece uma grande coisa, mas uns episódios mais tarde já ninguém se lembra disso. E se bem que as cenas mudem de episódio para episódio não há nenhum propósito em vista e ninguém sabe como aquilo vai acabar. Se algum dia acaba.
Um exemplo que Sanford julga refutar a teoria da evolução é a diferença entre os humanos e os chimpanzés. Sanford estima que desde a separação das duas linhagens, há seis milhões de anos atrás, se acumularam na nossa espécie cerca de 20 milhões de mutações, e que a selecção natural apenas podia ter fixado mil destas. Mas vou explicar mais do principio.
Primeiro, não imaginem o ADN como uma sequência de letras. São moléculas de ácido desoxirribonucleico. As letras foram ideia de pessoas que passam o dia a inalar éter no laboratório, e são apenas abreviaturas para designar partes dessas moléculas. Ao longo da molécula de ADN há regiões que interagem com outras moléculas e desencadeiam complexas reacções químicas que acabam por determinar a cor dos olhos, da pele, a estatura, o sexo, e assim por diante. Esses trechos são os genes, e pessoas diferentes podem ter genes diferentes no mesmo sitio do seu ADN.
Voltemos ao exemplo de Sanford. Um gene fixa-se na população quando todas as outras variantes desaparecem. Por exemplo, o gene para os olhos azuis estará fixo na nossa espécie quando toda a gente tiver o mesmo gene e os olhos azuis. Sanford diz que só houve tempo para fixar mil novos genes nos últimos seis milhões de anos, baseando-se nos cálculos de Haldane (de 1957… os criacionistas gostam de livros antigos). Haldane considerou um cenário extremo: uma alteração no ambiente reduz a sobrevivência de toda a espécie excepto a pequena minoria que tem uma mutação que é benéfica nas novas condições. Daqui estimou ser preciso 300 gerações para esse gene se fixar na população, mas este valor pode ser bastante mais pequeno noutras situações. Mas vamos dar a Sanford o benefício da dúvida, e usar os números dele: em números redondos, para cada mutação benéfica que se fixe por selecção natural há cerca de 10 mil mutações que se fixaram por acaso.
Mudando novamente de direcção (este post parece uma gincana…). O que observamos em espécies como a nossa é que os trechos que especificam a estrutura química das proteínas ocupam, no total, apenas a milésima parte da molécula de ADN. Além disso, a taxa de mutações nestas regiões é cerca de dez vezes maior que nas regiões mais importantes. Dez vezes mil. Dez mil mutações sem efeito para cada mutação que faz diferença. Mais uma vez, Sanford descobre a roda.
É claro que isto é em números redondos. Mutações fora das regiões que codificam proteínas podem ter efeitos, e mutações que alteram as proteínas podem não ter impacto na sobrevivência do organismo. O número exacto de pelos no nariz, a cor dos olhos, a velocidade de crescimento das unhas dos pés, tudo isso pode variar sem afectar minimamente a sobrevivência ou a informação contida no genoma. O facto importante é que uma espécie é um conjunto diverso de indivíduos em constante mudança. Sanford descobriu isso e ficou assustado, mas não é degeneração, nem perda de informação, nem o fim do mundo. É evolução.
——————————–[Ludwig Krippahl]
«Há umas semanas o Jónatas Machado teve a amabilidade de me oferecer o livro «Genetic Entropy & The Mistery of the Genome», do John Sanford, o que me deu a oportunidade de ficar a conhecer melhor os argumentos mais recentes do movimento criacionista.
O livro é um pouco estranho. Pretende ser uma divulgação científica e objectiva, mas todos os capítulos começam com um subtítulo que diz «Newsflash», no meio do texto há frases sublinhadas, frases a negrito, e muitos pontos de exclamação. A sensação é de estar a ouvir um pregador emocionado a exortar os seus seguidores em vez de uma explicação científica. Também incomoda a forma como o livro subestima a capacidade de compreensão do leitor. Quando o autor diz que as instruções para fazer um carrinho de mão caberiam num livro, temos um desenho de um carrinho com um livro em cima. Quando o autor fala da fábula da princesa que sentia uma ervilha através do colchão, lá vem o desenho da princesa em cima de uns colchões e ervilhas espalhadas à volta.
Mas interessa mais o conteúdo que a forma. A proposição central do livro é que o nosso genoma está a degradar-se pela acumulação de mutações. Todos nascemos com mutações e, segundo Sanford, a selecção natural não consegue eliminar um número suficiente para prevenir a destruição da informação no genoma humano. Para isto Sanford invoca o custo de selecção, um termo criado por Haldane para designar a quantidade de mortes (ou esterilidade) necessária numa população para que um alelo (um gene de um tipo) substitua outro.
Suponhamos que todos os indivíduos de uma população têm o gene A, e surge um mutante com a variante B deste gene. Para que a população fique toda com o gene B é preciso que muitos indivíduos com o gene A morram sem descendentes. Como só uma parte da população pode ser eliminada a cada geração, e como em geral vão morrer também indivíduos com o gene B, é preciso muitas gerações para que o gene B substitua o gene A na população. Haldane estimou que este processo numa espécie como a nossa demoraria cerca de 300 gerações.
Mas isto é muito diferente do problema de eliminar mutações novas. Quando surge uma mutação deletéria num indivíduo basta que esse indivíduo morra sem descendentes para que a mutação seja eliminada da população. É surpreendente que Sanford tenha confundido o custo de eliminar uma mutação nova com o custo de substituir um gene presente em toda a população.
Sanford também assume que a proporção de mutações prejudiciais é uma constante, mas isso é falso. Imaginemos um o organismo com os melhores genes possíveis para todos os atributos. Adão, para os criacionistas; a criação perfeita (antes de perder a costela). Neste qualquer mutação será prejudicial. Mas conforme os descendentes vão acumulando imperfeições vai aumentando a probabilidade de uma mutação aleatória melhorar algo, quanto mais não seja por reverter um gene mutante ao gene original.
Na realidade não há uma degradação constante mas um equilíbrio dinâmico. Mutações aleatórias introduzem um grande numero de imperfeições e algumas melhorias ocasionais. A selecção natural elimina defeitos graves rapidamente faz com que as melhorias se propaguem lentamente pela população. Alterações que têm um impacto pequeno demais simplesmente se acumulam ou desaparecem ao acaso (a evolução neutra proposta por Kimura e outros). E é verdade que a distribuição de genes pela população está em constante evolução. Não há nenhum processo natural que fixe para sempre o genoma de uma população. Mas é só o criacionismo que exige que o Homem seja o produto final duma criação perfeita. Para a teoria da evolução somos apenas um passo num deambular sem fim.
O que podemos esperar deste equilíbrio dinâmico é uma grande diversidade de características e indivíduos. Uns serão mais fortes, outros mais rápidos, outros mais atraentes, e assim por diante. Todos terão alguns defeitos, e alguns terão muitos defeitos. Exactamente o que observamos em qualquer população.
Nos próximos posts vou elaborar melhor alguns pontos que o Jónatas Machado sugeriu e que são discutidos neste livro. Mas como apreciação geral posso dizer que este livro sofre dos mesmos problemas que todos os argumentos criacionistas que conheço: uma má compreensão da teoria da evolução, e uma análise incompleta e tendenciosa dos factos.»
——————————–[Ludwig Krippahl]
«Na edição do jornal O Público de dia 8 [de Dezembro] há um artigo sobre Charles Brabec, que está a montar um museu criacionista em Mafra:
«Charles Brabec traz para a mesa uma série de fósseis. Dentro de uma caixinha transparente está um pedacinho de âmbar amarelo, com uma minúscula mosca-do-vinagre lá dentro. ‘É resina fossilizada, muito antiga; por que é que as moscas-do-vinagre continuam a existir? Não evoluíram!’»
Temos então uma mosca em resina ‘muito antiga’. Claro que não diz quão antiga é. Se disser que a mosca tem 4000 anos ninguém acha estranho que seja parecida com as que vivem hoje em dia. E se disser que tem milhões de anos vai ser difícil defender que o universo tem poucos milhares de anos. Mas uma é clara: ele sabe que a mosca não evoluiu.
Chamamos moscas aos insectos da ordem Diptera (duas asas). Conhecem-se 85 mil espécies nesta ordem e estima-se que haja um total de 200 mil. Do género Drosophila, a tal mosca-do-vinagre, há cerca de mil espécies descritas. O senhor criacionista olha para uma mosca que lhe parece ser duma destas espécies e diz logo que não evoluiu.
Não sei o que Brabec procurava numa mosca primitiva. Um machado de pedra e uma tanga de pele de leopardo? É que aos nossos olhos uma mosca é uma mosca. Primitivas ou não parecem-nos todas a mesma coisa, e é por isso que agrupamos 200 mil espécies no mesmo termo ‘mosca’. Talvez um entomólogo experiente saiba distinguir moscas primitivas de moscas modernas, mas a pergunta de Brabec sugere que ele não é perito na matéria. Além disso muitas características podem evoluir sem que se note nada olhando para a mosca adulta fossilizada. O tipo de alimento, os rituais de acasalamento, onde põem os ovos, o que comem as larvas, e assim por diante. Mas Brabec dá uma olhada e diz que não houve evolução. E porquê? Porque ainda existem moscas do vinagre. É claro, se não existissem ele também dizia que não tinha havido evolução porque se tinham extinguido. O criacionismo tem mesmo resposta para tudo… é pena é ser sempre a mesma resposta.
A fé dos criacionistas protege-se com uma grossa camada de ignorância. Ignoram a teoria que criticam, ignoram os factos, e ignoram até o propósito duma explicação. E é ignorância que nos querem vender, substituindo a compreensão que temos por um milagre incompreensível.»
——————————–[Ludwig Krippahl]
«[…]
Vou tentar mostrar aqui por três hipóteses que a verdade não é revelada pela fé, mas pela dúvida. Começarei pelo contraste entre o modelo Cristão e o modelo Hindu da escola advaita vedanta, o meu preferido nestas coisas da fé.
Segundo o modelo Cristão o universo é uma criação deliberada de um deus inteligente. Há uma diferença clara entre o criador eterno e a criação temporal, que tem inicio e fim. Somos dotados de independência e autonomia, mas temos o dever de contribuir para um plano divino que é o propósito de toda a criação. O criador fez um universo com um propósito sério, recompensa quem contribui para esse fim, e castiga quem se opõe. O mal e o bem são absolutos, determinados pelo propósito do criador.
Segundo o modelo Hindu a consciência de cada um de nós (atman) é idêntica ao ser absoluto para além do tudo e do nada (brahman). O universo não é uma criação, nem tem um propósito. Todos nós e tudo o que vivemos é esta totalidade consciente a brincar e a representar papeis, a fingir que é um médico, uma professora, um morcego, uma pedra, e a perder-se num jogo de faz-de-conta sem inicio nem fim. Não há um propósito. É como uma música ou uma dança; o objectivo não é levar o bailarino deste lado do palco àquele, mas sim dançar. É um fim em si mesmo, e não há mais nada que isto. Não há mal nem bem, culpa nem castigo, mas sim karma, a relação entre acto e consequência que dá drama a esta peça.
Estes são apenas dois exemplos de milhares de modelos contraditórios que a fé criou. Mas se a fé traz discórdia, a dúvida traz consenso. O terceiro modelo, dado pela ciência moderna, inverte a posição da consciência no processo. Sendo humanos vemos tudo com consciência, e por isso assumimos que a consciência está na origem das coisas. Mas combatendo esta tendência compreendemos a consciência como o produto de processos inconscientes. Como a chuva, o diamante, ou a divisão celular. Assim vemos um universo que é. Não é para. Não é porque. É. Neste modelo o mal e o bem, explicações, razões, causas, tudo isso são conceitos nossos que podemos aplicar apenas onde aplicável. A realidade transcendente é a realidade que, a qualquer momento, nos transcende, mas que se torna acessível quando desenvolvemos ferramentas materiais e conceptuais para a compreender. O electromagnetismo, a gravidade, o DNA, a vida. A origem do universo. A consciência em si, eventualmente.
Mas falei inicialmente de três hipóteses, e não de modelos. Estas hipóteses são que cada um destes modelos corresponde à realidade. Separar a hipótese do modelo pode parecer um preciosismo desnecessário, mas é importante. Se virmos o modelo como verdadeiro ou falso vamos avalia-lo de dentro do modelo e cair em argumentos circulares. A consistência interna […], ou o acreditar para compreender e compreender para acreditar, como dizia Ricoeur. Mas a hipótese de o modelo corresponder à realidade é exterior ao modelo, e por isso a única forma de validar o modelo é compará-lo com a realidade externa ao modelo. Qualquer que seja o modelo.
A fé é a nossa relação íntima com o modelo. A dúvida questiona a hipótese de o modelo corresponder à realidade e abre o modelo ao confronto com o que observamos à nossa volta. É a dúvida que usa os modelos para revelar o que a realidade nos esconde.
Concordo […] que o ‘revelatum’ é para todos. A realidade revela-se a todos. Mas pela dúvida, não pela fé. É por tentar encaixar modelos com a realidade que a ciência se torna uma e igual para todos, e este confronto constante entre modelos e realidade amplia gradualmente o nosso conhecimento. A fé é o apego sentimental a um modelo qualquer, e gera um conjunto disjunto de crenças contraditórias que são mais reveladoras das limitações humanas que da realidade que nos transcende.»
——————————–[Ludwig Krippahl]
A Igreja Católica está muito preocupada com o que está a acontecer ao Natal. Desta vez, vou dou-lhes razão. Não se admite que uma tradição tão antiga seja perdida, ou que se descure o seu significado religioso. É certo que vivemos num país laico, e que não era esta a religião original dos povos Ibéricos do neolítico, nem dos Celtas que os substituíram, nem dos Romanos que vieram depois. Mas é esta religião que está na base, na raiz mais antiga, da nossa cultura Europeia. E esta cultura é de todos, não só dos crentes.
Dizem que foi milagre o que aconteceu naquela noite de inverno, e devemos respeitar esta tradição cultural e religiosa. Celebremos por isso o deus que fez o óleo de um dia arder durante oito. Que este milagre da poupança vos sirva de exemplo nesta quadra, e um feliz Hanukkah para todos.
——————————–[Ludwig Krippahl]
Segundo a Agência Ecclesia, menos de metade das crianças britânicas entre os 7 e os 11 anos sabe que o Natal é a celebração do nascimento de Jesus. A culpa parece ser do carteiro:
«Os protestos viraram-se, em boa parte, contra o Royal Mail, serviço postal britânico que este ano eliminou qualquer referência cristã dos seus selos: só há renas, árvores de Natal, bonecos de neve e pais natais. Nenhuma imagem lembra, como em ocasiões anteriores, o Nascimento de Cristo.»
Qualquer dia até ensinam às crianças que já havia um festival Romano celebrado nesta semana muito antes do Cristianismo. Dedicado ao deus Saturno, incluía um período de férias escolares, troca de presentes, muita bebida, comida, alegria, e um mercado especial da época. Até o cariz comercial do Natal antecede o Cristianismo. Eventualmente os Cristãos aproveitaram o festival para os seus propósitos. Espetaram uma missa no fim, substituíram Saturno por Jesus, e acabaram com a tradição de ir tudo cantar nu para a rua. Esta última talvez a única melhoria; para cantar nu na rua é mesmo melhor esperar pelo tempo mais quente.
Mas agora voltamos às origens. Dezasseis séculos depois da usurpação Cristã o Natal é finalmente o que era: comer, beber, gastar rodos de dinheiro, e divertir-se à brava quer se queira quer não. Jesus nasceu? Boa! Junte-se à festa, que quantos mais, melhor.
——————————–[Ludwig Krippahl]
«Um Dragão na minha garagem
– Um dragão que cospe fogo vive na minha garagem.
Suponhamos que eu fazia, com toda a seriedade, esta afirmação. Com certeza o leitor iria querer verificá-la, ver por si mesmo. São inumeráveis as histórias de dragões no decorrer dos séculos, mas não há evidências reais. Que oportunidade!
– Mostre-me – diz o leitor.
Eu levo-o até à minha garagem. O leitor olha para dentro e vê uma escada de mão, latas de tinta vazias, um velho triciclo, mas nenhum dragão.
– Onde está o dragão? – pergunta
– Oh, está ali – respondo, acenando vagamente – Esqueci-me de lhe dizer que é um dragão invisível.
O leitor propõe espalhar farinha no chão da garagem para tornar visíveis as pegadas do dragão.
– Boa ideia – digo eu – mas este dragão flutua no ar.
Então, o leitor sugere o uso de um sensor infravermelho, para detectar o fogo invisível.
– Boa ideia, mas o fogo invisível é também desprovido de calor.
O leitor sugere borrifar o dragão com tinta para torná-lo visível.
– Boa ideia, só que é um dragão incorpóreo e a tinta não vai aderir.
E assim por diante. Eu vou-me oponho a qualquer teste físico que o leitor propõe justificando sempre porque é que não vai funcionar.
Qual a diferença entre um dragão invisível, incorpóreo, flutuante, que cospe fogo atérmico, e um dragão inexistente? Se não há como refutar a minha afirmação, se nenhum experimento concebível vale contra ela, o que significa dizer que o meu dragão existe? A sua incapacidade de invalidar a minha hipótese não é absolutamente a mesma coisa que provar a veracidade dela. Alegações que não podem ser testadas, afirmações imunes a refutações não possuem caráter verídico, seja qual for o valor que possam ter por nos inspirar ou estimular nosso sentimento de admiração. O que eu peço ao leitor é tão somente que, em face à ausência de evidências, acredite na minha palavra. »
—————-Carl Sagan em «Um mundo Infestado de Demónios»
Foi a série Cosmos que comecei a despertar para o ateísmo, enquanto alimentava o meu deslumbramento pela ciência.
Desenvolvi raciocínios, argumentos e reflexões com outros livros de Carl Sagan. Adorei todos os que li.
Hoje é o décimo aniversário da sua morte.
Que a sua obra continue bem viva.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.