10 de Agosto, 2013 José Moreira
O “anjo da guarda”
Alguns jornais noticiavam, hoje, que uma criança de 4 anos caíra de um 3º andar de um prédio. A queda foi, no entanto, amortecida por um toldo de uma loja, curiosamente, pertencente aos progenitores, daí que a criança não tivesse sofrido mais que ferimentos ligeiros.
Uma vizinha, dando de barato a existência do referido toldo, assegurou ao interessado repórter que “foi o anjo da guarda que a amparou”.
Não vou, de forma alguma, pôr em causa a afirmação da presumivelmente devota e respeitável senhora, sendo que o presumivelmente se aplica a ambos os adjectivos que se lhe seguem. Se ela garante que foi o anjo da guarda, quem sou eu para duvidar, pois até podia ser um anjo da covilhã, de castelo branco ou de pinhel. Por acaso, foi da guarda, alta cidade da vetusta beira. Mas há perguntas que me ficam a bailar na cabeça, a saber:
- Foi o anjo que estendeu o toldo?
- Não teria sido mais fácil, ao anjo da guarda, evitar que a menina se aproximasse do local da queda, nem que fosse através de duas palmadas no rabo? Ou será que a divina criatura quis mostrar o seu poder, obrando da forma mais difícil?
- Os babados papás poderão, a partir da afirmação da presumivelmente devota e respeitável senhora, descurar (ainda) mais os seus deveres parentais, ou há o receio de que o anjo da guarda, ou de outra cidade qualquer, vá de férias?
- Se o toldo estivesse recolhido, como é que o anjo da guarda se desamerdaria?
- Quando é que a comunicação social deixa de dar eco a estas (e outras) barbaridades religiosas?
- A quem interessa a prossecução do obscurantismo?