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José Moreira

15 de Fevereiro, 2013 José Moreira

Hóstias roubadas

As televisões dão-nos notícia de que na zona de Bragança têm sido roubadas hóstias das igrejas.

Diz quem sabe que tais hóstias são destinadas a rituais satânicos – as chamadas “missas negras”. Adiantam, os peritos no assunto, que a venda de hóstias consagradas pode chegar a valer cinco mil euros. Não dizem se é à unidade, ao quilo ou à grosa.  Mas há uma pergunta que me anda a bailar na cabeça: como é que se sabe que as hóstias são “consagradas”? Levam selo de garantia, mudam de cor, ou o sabor é diferente?

11 de Fevereiro, 2013 José Moreira

Fé e religião

A fé está, por regra, ligada à religião. Aliás, neste mesmo portal são recorrentes as afirmações de fé por parte de religiosos, e não me recordo de ter visto esse tipo de afirmação proferido por ateus.

Há quem garanta que “a fé é que nos salva”, embora nunca ninguém tenha explicado de quê. De qualquer modo, não está provado, nem sequer minimamente, que a fé salve seja quem for e do que for. Pelo contrário, porém, está mais do que demonstrado que as manifestações de fé religiosa podem causar resultados nefastos. São exemplo disso os atropelamentos no decurso de peregrinações a Fátima, acidentes com viaturas cheias de peregrinos, e outros que a memória não me deixa apontar. Deixo, aqui, mais este exemplo, a aumentar a extensa lista.

Em sentido contrário, porém, o facto de ser ateu pode, sim senhores, ser a salvação. Como se demonstra aqui.

 

8 de Fevereiro, 2013 José Moreira

O meu Pacote de Leite

Quando eu era pequenino, ouvia, muitas vezes, a minha avó dizer “Olha, meu menino, café é que nos salva”, convindo esclarecer que a santa e provecta senhora era frequentadora assídua de missas e novenas, e consumidora compulsiva de rodelas de Cristo. Actualmente, a senhora já não diz nada, porque os mortos não falam, embora haja quem afirme o contrário, aliás a Joaninha até toma café com um morto todos os dias, ela é que o assevera. Adiante, que atrás vem gente, a ora defunta senhora, enquanto ainda não o era costumava, até, rezar umas lengalengas a Santa Bárbara, quando trovejava, e a verdade é que algum tempo depois a trovoada afastava-se ou silenciava-se, e o certo é que, por exemplo, agora não está a trovejar, pelo menos na cidade onde escrevo. É claro que algumas vezes troveja, mas não dura muito, o que quer dizer que há pessoas que continuam a rezar a Santa Bárbara, e isso é bom, porque eu não gosto de trovoadas. Mas nunca percebi o que tinha o café a ver com a salvação. Só mais tarde, quando já era crescidote, é que o padre Hilário, meu professor de Religião e Moral me explicou que aquilo do café mais não era de um simpático cacófato, já que a minha defunta avó queria era dizer “que a fé”, mas dizia “qu’afé”, e ouvia-se “café”. A minha avó tinha uma cultura algo suburbana, a atirar para o rural, mas pelos vistoa o padre Hilário sabia português à brava.

Entretanto cresci e fiz-me homem, como é fácil de constatar, e comecei a verificar que quase todos os meus amigos e conhecidos tinham uma fé embora não fosse uma fé comum, havia feses para todos os gostos, um deles, o Jeremias, que nós, carinhosamente, tratamos por Jeremias, ainda tem fé em que o Sporting, não é o de Braga, mas o outro, há-de ganhar o campeonato este ano, se calhar por isso é que alguém disse que “a fé é a crença no improvável”, mas a verdade é que eu comecei a sentir-me mal no seio do grupo, todos com uma fé e eu sem fé nenhuma, eu aprendi com os mais velhos a respeitar os mais velhos, que costumam ter muita sabedoria, a minha avó era velha, eu acho que sempre a conheci velha, por isso devir ter muita sabedoria, vai daí um dia decidi ter uma fé. Como já me tinha tornado ateu e materialista, achei que devia ter fé numa coisa palpável, visível, existente. Resolvi atirar a minha fezada para um pacote de leite, mas que estivesse dentro do prazo de validade, naturalmente. Meus amigos: resultou! Tal como Deus, o meu Pacote de Leite, PL, assim com maiúsculas e tudo, protege-me ou não me protege, guia-me ou não me guia. Só não me promete o Céu, e ainda bem, porque aquilo deve estar cheio de crentes e deve ser uma pasmaceira. Também é certo que não me castiga com o Inferno, o que é pena, porque deve estar cheio de gajas boas. Mas a verdade é que desde que adoptei o PL me sinto mais protegido, já que nunca mais voltei a cair pelas escadas abaixo, uma vez que passei a descê-las com cuidado, nunca fui atropelado porque olho sempre para todos os lados da rua antes de atravessar, bem sei que a rua só tem dois lados mas nunca fiando, a única coisita que me aconteceu foi ter tido cancro, mas na unidade de oncologia do hospital também vi lá duas freiras, ora, se Deus não é válido para cancro, por que carga de água o meu PL havia de ser? Depois, o meu PL tem outra vantagem, que é a de poder ser bebido quando estiver em cima do prazo de validade, e pode ser substituído por outro, o que não acontece com Deus. Vantagem, pois, para o PL.

Louvado seja.

5 de Fevereiro, 2013 José Moreira

Quem dá aos pobres…

Diz, um antigo e conveniente ditado, que “quem dá aos pobres empresta a Deus”. Claro que, neste caso, não se trata de uma dádiva, mas sim de um investimento, mas não é por aí que eu quero ir. O que ocorreé que, ao que parece, o ditado tem o seu fundo de verdade. Com efeito, Deus, através da Igreja Universal do seu Reino, devolveu os dízimos pagos por uma crente.

Deus, a quem promete não falta – outro antigo e conveniente ditado…

21 de Janeiro, 2013 José Moreira

Um ateu poderia…?

Estive a ver parte da cerimónia de posse do presidente Obama. E perguntei-me: será que um ateu, na hipótese de haver ateus nos EUA, poderia ser presidente daquele país? Só encontrei uma resposta: não. Aliás, nem ateu nem muçulmano, por exemplo. E isto num país que se gaba de ser dos mais livres e democráticos do mundo.

Na verdade, o presidente faz o juramento com a mão sobre a Bíblia, e a fórmula termina com “…so help me God” (assim Deus me ajude). Não, os americanos estão livres de terem um ateu a governá-los. Ou um muçulmano.

Liberdade? Democracia?

13 de Janeiro, 2013 José Moreira

Deus e deuses (III)

Parece não haver dúvidas de que Deus foi criado pelo Homem, à sua, do Homem, claro, imagem e semelhança: rancoroso, misógino, homófobo, vingativo, assassino, impiedoso, pulha, trafulha, irascível, xenófobo,violento, carregado de ódio, basta abrir um jornal, ligar a televisão ou ouvir a rádio para concluir que, sim senhores, “Deus está em toda a parte”.

Acontece que o Homem, ao criar Deus, entendeu conceder-lhe alguns atributos que o tornassem “superior” ao criador, leia-se “Homem”. Aliás, só assim se justificaria a sua criação, porque para ser igual ao que já existia, já bastava o que bastava. Vai daí, decidiu, juntamente com o “sopro da vida”, atribuir-lhe toda uma parafernália de tudo quanto é omni: omnisciente, omnipotente, omnipresente, omnitudo o que queiramos imaginar. Duas cerejas em cima do bolo: “Justo” e “Misericordioso”. Ao pé desta trapalhada, até o governo do Passos parece competente.

Vejamos: como é que se pode ser, a um tempo, justo e misericordioso? Ou se aplica a lei e pune-se o infractor, ou se é misericordioso e perdoam-se todas as infracções. Podemos remeter-nos, em termos, comparativos, para a Justiça terrena, onde um juiz tem uma escala de valores que lhe permite graduar a pena de acordo com vários factores. Incluindo a misericórdia. Mas isso é no campo do Direito, e a Justiça não tem nada a ver com o Direito. Além disso, um juiz não é Deus. Felizmente, acrescento eu. Então quanto  a “justiça divina”, nem pensar: ou Céu, ou Inferno. Aliás, continuo a não entender as missas “por intenção de” Fulano ou Sicrano: se está no Céu, não precisa de missas para nada; se está no Inferno, não tem salvação possível, pelo que a missa só adiantará alguma coisa… para os cofres da Igreja.

Mas as contradições de construção, digamos assim, não se ficam por aí: Deus é, dizem eles, omnisciente e omnipotente. Como se os dois predicados tivessem conciliação possível… Se Deus sabe que vai acontecer algo, não pode evitar que esse algo aconteça. Porque se o evitar, esse acto vai entrar em contradição com o que ele sabe que vai acontecer. Omnisciência e omnipotência são irremediavelmente inconciliáveis.

Eu sei que os ateus não precisam de deuses para nada; mas, para os que precisam: não acham que está na hora de fazer um “upgrade”?