Loading

José Moreira

10 de Junho, 2013 José Moreira

Afinal, quem chegou primeiro?

Devidamente gamado ao Almeida Pereira, no Facebook, transcrevo uma deliciosa história:

 

Um engenhoso exemplo de oratória e política, ocorrido recentemente na ONU, fez sorrir a comunidade mundial lá presente:

O representante de Israel na ONU: “Antes de começar o meu discurso queria contar-lhes algo sobre Moisés (todos curiosos…):

Quando Moisés golpeou a rocha e dela saiu água, pensou “ que boa oportunidade para tomar um banho”.

Tirou a roupa, deixou-a junto da pedra e entrou na água. Quando acabou de tomar banho e quis vestir-se, a roupa tinha desaparecido!

Os palestinianos tinham-na roubado!!

O representante da Palestina levantou-se furioso e bradou: Que estupidez, nem existiam Palestinianos naquela época!!!

O representante de Israel sorriu e disse:

Muito bem, e agora que ficou claro quem chegou primeiro a este território e quem foram os invasores, posso começar meu discurso…

5 de Junho, 2013 José Moreira

Que aconteceu à tradição?

Nós sabemos que em Portugal já vai sendo proibido dar uns bofetões numa mulher. Claro que ainda vai havendo resquícios de um machismo troglodita, aliás bem patentes nos comentários à notícia, mas a Justiça tem, felizmente, estado atenta. Por isso, que um homem seja punido por agredir uma mulher, já não causa espanto. Mas o caso que vos trago ao conhecimento não se passou em Portugal; passou-se, pasmem os senhores e as senhoras, na Arábia Saudita!  O que me leva a perguntar: o que é que se está a passar por aquelas bandas? A civilização está a chegar, ou tratou-se de uma qualquer distracção?

30 de Maio, 2013 José Moreira

A Primavera está a chegar?

Ou será que, afinal, cultura não tem nada a ver com religião?

Uma jornalista egípcia, depois de confrontar um muçulmano fundamentalista, acaba por tirar o véu, o que irritou, ainda mais, o pobre coitado.

A conversa entre entrevistadora e entrevistado é delirante, por inédito e insólito, com o clérigo a confirmar ter recebido dinheiro para fazer a entrevista. Como se não bastasse, a jornalista faz-lhe perguntas de conteúdo sexual.

A notícia peca por não dizer o que é que poderá, eventualmente, acontecer à jovem jornalista, dado o tipo de democracia instalado para aquelas bandas. De qualquer modo, foi um momento alto na afirmação de que as religiões deixaram de ser como antigamente. Incluindo esta.

23 de Maio, 2013 José Moreira

As aparições continuam

Desta vez, a senhora de Fátima mudou de local de aparições e apareceu em Boliqueiimage002me. Só que, desta vez, o fotógrafo estava lá.

image003

10 de Maio, 2013 José Moreira

Religião e arte

O facto de ser ateu não me impede de admirar a arte religiosa. Ainda vou tendo o discernimento suficiente para separar as águas de modo a entender um “Requiem” como arte musical e não como uma oração fúnebre.

Por isso não fiquei minimamente chocado quando um amigo que, recentemente, tinha visitado Roma e um dos bairros mais mal frequentados da capital italiana, me descreveu o encanto que sentiu ao visitar a Capela Sistina e a fabulosa pintura de Miguel Ângelo: “Tu não imaginas, pá, aquela perfeição, aqueles pormenores! Olha que até o umbigo de Adão é visível!”

Confesso que ainda não tive oportunidade de ver, ao vivo e a cores, a fabulosa pintura; mas também não é muito importante, porque a “Criação de Adão” está à distância de um clique. Tenho-a, agora, à minha frente, e dá para confirmar as palavras do meu amigo: Adão tinha umbigo.

Se tivesse sido feito pelo velhote, nunca poderia ter umbigo. Adão foi gerado, não foi criado.

Tal como o outro.

O J. Cristo.

6 de Maio, 2013 José Moreira

Democracia e laicidade

Quando convém, a nossa comunicação social, em geral, e os nossos políticos em particular, enchem a boca de democracia e laicidade. E são capazes de jurar a pés juntos e com um prego aceso na mão que Portugal é um estado democrático e perfeitamente laico, não tendo o menor pejo em invocar a Constituição como a principal e melhor testemunha.

Entendamo-nos. É tudo uma questão de rigor linguístico – ou de falta dele. Porque omitem uma palavra que, apesar de pequena, faz toda a diferença. É um singelo advérbio e modo que dá pelo nome de formalmente. Exacto. Portugal é um país formalmente democrático, e formalmente laico.

Em Portugal, a justiça é igual para todos, ninguém está acima da Lei, a saúde é tendencialmente gratuita  e a educação é mesmo gratuita, toda a gente tem direito ao trabalho. Formalmente falando, claro.

Em Portugal, a religião está separada do Estado. Formalmente. Porque a prática diz-nos, precisamente, o contrário. A TV do Estado, de todos nós, encheu-nos o Domingo com as Festas de Barcelos, o que até nem seria grave, se não fizessem o patético esforço de tentar justificar a origem das festas, enchendo o tempo com estórias cuja veracidade está a anos-luz da razão. Mas isso ainda é o menos; porque ao fim da tarde, a dita “primeira-dama”, esposa de um presidente de uma república dita laica, aparece no meio de uma procissão religiosa cuja única finalidade visível é a de aproveitar o sol para tirar o cheiro a mofo do mamarracho, e tentar aliviar-lhe o caruncho. E tivemos de gramar largos minutos, como se o folclore tivesse alguma importância para o momento que o país atravessa.

Tudo isto, afinal, a propósito do nome do futuro hospital de Lisboa. Que, num país laico, vai chamar-se “Hospital de Todos-os-Santos”. Mas o que é que têm os santos a ver com os hospitais de um estado que se diz laico? Já agora: vale uma aposta em como vai levar benzedura?

Portugal, país laico e democrático? A língua portuguesa é mesmo muito traiçoeira…

22 de Abril, 2013 José Moreira

Da (in)existência de Deus

De vez em quando levanta-se, neste portal, a velha e relha questão de Deus existir ou não. Nada de especial, de considerarmos que este é o local, por excelência, apropriado a esse tipo de discussão. Só que, quando isso acontece, aparece sempre alguém que, fazendo exímio uso da difícil arte do “copy/paste”, tenta convencer os ateus de que, sim senhores, Deus até existe. Vai daí, pespega-nos, com uma catrefada de pensamentos e/ou ditos de personalidades que, em determinados momentos da vida, concluíram que, afinal, Deus existe mesmo. E não são personalidades fatelas, não senhores, são gente ligada à cultura, à ciência e a outras áreas de igual jaez, muitos deles premiados com o “Nobel”. E frases do tipo “Para mim, a fé começa com a percepção de que uma inteligência suprema trouxe o universo à existência e criou o homem” são jogadas, como se de trunfos se tratassem num tabernícola jogo de sueca. Entendamo-nos: esta frase, que coligi propositadamente, é paradigmática. Não passa de uma respeitável mas discutível opinião. E quanto ao “respeitável”, tenho as minhas dúvidas. De qualquer modo, e por muito paradoxal que pareça, a frase acima encerra uma imensa pedagogia. Na verdade, o sr.  Arthur Compton, prémio Nobel da Física, está a ensinar-nos, tim-tim-por-tim-tim, com uma minudência de arrepiar, e de que só um laureado é capaz, como é que Deus foi inventado. Pois, foi assim mesmo. Olhando à sua volta, e sem poder responder à sacramental pergunta “como é que isto aconteceu?”, o Homem resolveu o problema: foi Deus.

O esquecimento é sempre uma coisa aborrecida. Por isso, acho bem que sejam recordados os valores intelectuais que acreditam em Deus; pela minha parte, e modestamente, recordo alguns valores, igualmente intelectuais, que não acreditam:

Eu sou ateu porque não há evidência para a existência de Deus. Isso deve ser tudo o que se precisa dizer sobre isso: sem evidência, sem crença.” — Dan Barker.

Acreditar é mais fácil do que pensar. Daí existem muito mais crentes do que pensadores.” — Bruce Calver

Não, nossa ciência não é uma ilusão. Ilusão seria imaginar que aquilo que a ciência não nos pode dar, podemos conseguir em outro lugar.” — Freud

As pessoas preferem acreditar naquilo que elas preferem que seja verdade.” — Sir Francis Bacon

O que pode ser afirmado sem provas também pode ser rejeitado sem provas— Christopher Hitchens

Se 5 bilhões de pessoas acreditam em uma coisa estúpida, essa coisa continua sendo estúpida.—  Anatole France

Se existisse um Deus bondoso e todo-poderoso, teria feito exclusivamente o bem.—  Mark Twain.

 

10 de Abril, 2013 José Moreira

…públicas virtudes.

Ao que parece, ali para os lados do Vaticano o pecado, seja isso lá o que for, não se limita a entrar por portas e janelas; já se descobriu que a Internet é um  mundo, e há que explorá-lo com toda a força. Força e minúcia, ao que parece. Mas eu julgo compreender: aquilo deve fazer parte do treino para, depois, do alto dos púlpitos, poderem berrar, com conhecimento de causa, que “aquilo” é pecado. Nada há como conhecer o “mal”, para poder combatê-lo com mais eficácia.

3 de Abril, 2013 José Moreira

A cruz da minha avó – crónica pascal

A minha avó mora numa vivenda moderna, tipo maison. Quem entra na casa da minha avó depara-se, logo à entrada e do lado direito, com um nicho recheado de tudo quando é parafernália religiosa, desde medalhas a “santinhos”, passando por terços, relicários, estatuetas, e outros atavios de igual  jaez. Sobrepondo-se a toda essa tralha, destaca-se a imponência de um enorme crucifixo em madeira, devidamente equipado com um Cristo pendurado. A minha avó garante que a cruz não é, e ela faz questão em enfatizar, não é, dizia eu e diz ela, daquelas cruzes foleiras que dizem ser de restos da cruz original. Nada disso até porque, argumenta ela e eu assino por baixo, se fossem a juntar todos os bocados que se garante serem da cruz original, isso daria direito a um instrumento de tortura com o peso de tantas toneladas, que nem Cristo, por mais deus que fosse, seria capaz de arrastar até ao Calvário. Não senhores, aquela cruz, a cruz da minha avó era, apenas, feita do que restou da madeira com que se construiu a cruz original, o que já permite crer um pouco mais na sua veracidade, até porque não consta haver cruzes feitas dos restos da madeira, facto demonstrativo da perspicácia criativa do vigarista que vendeu o crucifixo à minha ancestral. Aliás, se calhar foi por isso que aquela cruz custou uma pipa de massa, com manifesto prejuízo para a minha herança, já que sou o neto preferido, não obstante ser único. Já quanto ao Cristo dependurado, a minha avó assume ser uma imitação, já que “o original subiu ao Céu em todo o seu esplendor, como tu sabes”, embora a minha avó nunca tenha explicado se o esplendor era do Céu ou do original referente à carunchenta cópia.

Pois bem, nesta última Páscoa fui de abalada até à santa terrinha onde mora a minha avó. Era Domingo, e a provecta senhora afadigava-se em volta da mesa sobre a qual iam jazendo as mais apetitosas guloseimas pascais, devidamente acolitadas por uma pinga de estalo, colheita própria. Bom, se o vinho é sangue de Cristo, bem-haja quem o matou, que sempre se aproveita alguma coisa de jeito.  “É para o senhor padre e os acólitos, quando trouxerem Nosso Senhor a visitar e a abençoar esta casa”, explicava ela, perante a minha curiosidade. “Mas… ó avó, então o Nosso Senhor não sabe o caminho, é preciso vir tanta gente…” mas a minha avó nem me deixou terminar o aliás preclaro raciocínio: “Nada de heresias! Com Deus não se brinca, que podes ser castigado. Claro que Nosso Senhor está no Céu, sentado à direita de Deus-Pai, mas o senhor padre traz o crucifixo, que é a mesma coisa.” Mesmo correndo o risco de ver a minha herança, ou o que resta dela, ir direitinha para as mãos do padre, não me contive: “Ó avó, o que vale mais? É o crucifixo de metal que o padre traz, ou o crucifixo que a avó tem, e que até é feito dos restos da madeira da cruz original? Para que é que a avó quer a visita do “nosso senhor”, se ele já está cá em casa em regime de permanência?”

Ao longe, ouvia-se a cada vez mais próxima sineta que anunciava o “compasso”. Prudentemente, e sem aguardar a resposta, que se adivinhava pouco simpática, da minha avó, esgueirei-me para a tasca do senhor Alfredo, que corria o risco de se tornar mais bem frequentada do que a casa da minha avó.

O senhor Alfredo é ateu.