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Fernandes

2 de Dezembro, 2009 Fernandes

O perigo do adventismo

Como muito bem diz o Carlos Esperança, Deus não existe, as religiões sim. Infelizmente. Através do seu rasto a história da humanidade é contada com sangue fogo e espada.

No seu livro: Las Religiones Asesinas; Élie Barnavi escreve:

«…um bom judeu ou um bom muçulmano, é aquele que obedece a um conjunto de preceitos; o bom cristão é aquele que tem a fé metida no corpo».

O problema começa quando, a verdade, e por conseguinte a tranquilidade aqui na terra, e a felicidade no outro mundo, só se alcançam através da “disciplina religiosa”, o mesmo é dizer: através da submissão às autoridades eclesiásticas e às regras por eles estabelecidas.

O judaísmo é uma religião étnica que não tem por objectivo formar prosélitos, impondo até, provas draconianas a quem se lhes queira juntar. Ao contrário das outras religiões, apenas estabelece um “contrato” com Deus, e os seus adeptos não se sentem na obrigação de levar a Boa Nova ao resto da Humanidade. Não fora o maldito proselitismo e a mania da universalidade de que as outras duas religiões monoteístas se pintam, e haveria certamente mais paz. Segundo as três religiões monoteístas: – está escrito, basta esperar que se cumpra a vontade divina, com ou sem a ajuda dos homens.

Os judeus esperam a vinda do Messias, os cristãos esperam o segundo advento do “seu” Messias. Até o Islão, cujo profeta “enclausurou” toda a série de mensageiros até então, deixou uma “oportunidade” para as figuras messiânicas – o Imã oculto dos Xiitas, o Mahdi, que o presidente Ahmadineyad espera com impaciência. O Messias dos cristãos é o próprio Deus; o dos judeus e muçulmanos é um chefe essencialmente político, humano e mortal. A característica comum é a capacidade de dividir a história da humanidade em duas partes; um antes e um depois, na tentativa de transformar o tempo “profano” em tempo “sagrado”.

O mais frequente nestes crentes é a atitude passiva, confiando na omnipotência divina, e na espera do advento do dito Messias. O problema é que há alguns mais impacientes que estão decididos a dar uma mãozinha ao “Senhor” com o objectivo de “antecipar” esse mesmo advento. A força destes movimentos adventistas vemo-la todos os dias, mais viva, e com mais angustia que nunca.

Nós, europeus, olhamos com leviandade o fundamentalismo norte-americano, suficientemente poderoso para colocar um Bush na Casa Branca, impor o embuste criacionista, darem shows televisivos 24 horas por dia e ainda têm tempo para colocar bombas em clínicas onde se pratica a interrupção voluntária da gravidez. Acusam os europeus de condicionarem a liberdade religiosa e legislarem sobre as seitas: – trampa para débeis mentais que lhes interessa proteger.

As calamidades que assolam a humanidade, ocorrem, não porque as vítimas se neguem a dar ouvidos aos profetas da desgraça do seu próprio bando (apesar de que estes se equivocam frequentemente), senão porque se recusam a acreditar nas ameaças dos seus futuros verdugos. Antes de 1940, quantos haviam lido o Mein Kampf? Quantos dos que o leram lhe deram crédito? Quantos lêem hoje a abundante literatura dos “Loucos de Deus”? Quantos acreditam no pequeno Hitler de Teerão, quando diz que vai “eliminar” Israel do mapa? (apesar de ser pouco provável que Israel deixe), mas que poderá levar aquela região e o mundo, a um cataclismo nuclear sem precedentes na história da humanidade. O cinismo é património da gente razoável, os fanáticos, por desgraça, são sinceros. A principal causa de uma guerra de religiões, não é o território, o dinheiro nem a forma de poder. – É a religião.

O que se passa na Europa, não é um conflito clássico em que a vitória no campo de batalha traz a paz ou pelo menos um tratado mais ou menos duradouro. Não nos defrontamos contra um governo que representa um povo, senão uma nebulosa que transmite uma ideia. Por isso a batalha das mentes é mais importante que a batalha dos minaretes. Apesar de que o fundamentalismo Islâmico não nasceu da miséria, ele prospera amparando-se na miséria e no subdesenvolvimento. Os valores da liberdade, igualdade e fraternidade ocidentais, arrancados durante séculos com tantos sacrifícios e sem os quais a vida não valia a pena ser vivida, devem ser defendidos com o mesmo afinco com que os seus inimigos tentam destruí-los.

30 de Novembro, 2009 Fernandes

O fenómeno religioso

O término projecção designa, em psicologia, a operação através do qual um estado de consciência é desviado e localizado no exterior, seja do centro para a periferia, seja do sujeito ao objecto. O término admite bastantes matizes semânticas. Segundo J. Laplanche e B. Pontalis, a projecção, num sentido mais psico-analítico, é uma «operação através da qual o sujeito retira de si e localiza noutro, pessoa ou coisa, qualidades, sentimentos, desejos, inclusivamente objectos. As exigências de raciocínio do ser humano põem em marcha um trabalho de explicação intelectual que pode gerar processos de projecção mental. O homem pré-histórico perante fenómenos que ultrapassavam as experiências do dia-a-dia, procurava nos processos de projecção, acicatado pela pressão emocional ou por um estado de grande perplexidade, uma explicação ilusória de tais fenómenos.

A apresentação do fenómeno religioso, como uma operação alienatória – no sentido amplo do termo, inscreve-se decididamente, nas teorias circulares na génese dos fenómenos religiosos. Os numens animalis, não existem enquanto tais, são simplesmente projecções mentais do homem primitivo, ou não primitivo, em termos cronológicos, – e por conseguinte, não são reais, são meros ficta da consciência ingénua, ou seja, são fenómenos de consciência, dentro da própria consciência, projectados sobre objectos ou sujeitos exteriores.

Desde dentro das chamadas experiências religiosas, é certo que o crente, tanto o homem pré-histórico como o mutatis mutandis, pensa que na sua crença não existe nada de ilusório, pois as suas experiências religiosas são vividas como reais seja relativamente à alma, espíritos, numens ou deuses. Mas desde fora da crença, ou seja, criticamente, – o não crente, vê com evidência que sim, que existe ilusão, falsa consciência, sugestão, superstição ou alucinação, gerados por processos de projecção mental sobre objectos, sujeitos externos ou exteriorizados, processos que podem inscrever-se no campo da psicologia normal ou no da psicopatologia.

As representações zoomórficas nas chamadas religiões primárias e secundárias, projectam determinados animais com a reputação de sagrados desempenhando destacas funções na imaginação religiosa do homem. O animismo é o ponto em que se apoia a fabulação religiosa do ser humano, a matriz dos sentimentos convencionalmente designados como religiosos.

As crenças animistas povoam de tal forma a mente do ser humano, que se convertem numa segunda natureza passando daquilo que era ficção inconsciente, a realidade inquestionável. A história das formas religiosas gravita permanentemente, ainda que de forma oculta ou mascarada, sobre o subsolo das ficções animistas e a correspondente concepção dualista do mundo.

No homem primitivo, a imediatez genética destas formas de falsa consciência, é mais evidente, porque as formas primárias das fantasias da mente aparecem numa versão ingénua e naturalista, despidas todavia da roupagem mitológica das fabulações exuberantes da religiosidade secundária ou do aparato metafísico das especulações teológicas da religiosidade terciária, num contexto civilizacional de progresso moral. Efectivamente, a especulação teológica foi levantando no decurso da história, um edifício de tal magnitude que o seu fundamento originário desapareceu no meio de uma linguagem obtusa e obscura.

Não devemos escandalizar-nos nem cientifica nem piedosamente, se constatarmos que o fenómeno religioso se dissolve nos mecanismos psicológicos que o geraram.

 Neste processo, constantemente reforçado pelo trabalho da especulação teológica, o homem teve o seu espelho em Deus, – divinização do homem, – e Deus teve-o no homem, – antropomorfização de Deus.

O ser humano descobre então, que ele mesmo criou os deuses, revela-se assim a falácia da religião.

21 de Novembro, 2009 Fernandes

Santos, relíquias e parasitas

 Resulta anacrónico e até ridículo que ainda se consagrem edifícios, locais, objectos, animais, carros, barcos, e até tropas e armas que vão para a guerra matar o “próximo”. Mas não se pode estranhar demasiado, pois ainda recentemente o Vaticano definiu as normas para realizar exorcismos; (talvez por vergonha) recomendam que o exorcismo se realize em privado, sem a presença dos meios de comunicação, pedindo às testemunhas que não divulguem o que viram, “nem antes nem depois”.

Não deixa de ser extravagante que a Igreja fomente e apoie práticas de verdadeiro fanatismo religioso de inquestionável origem pagã.

O costume de efectuar peregrinações a lugares santos estava muito divulgado nas religiões mais antigas, e o cristianismo soube aproveitar e fomentar esse costume, pelos grandes proventos que tal prática traduz. Resulta lamentável ver milhares de doentes acudir a Fátima, cheios de esperança, e voltarem de lá como estavam e por vezes ainda pior, se algum se cura, mais tarde, tal facto deve-se a factores psicológicos a que chamam milagre.

Os milagres são o maná das religiões, a história está repleta deles. Fizeram milagres entre outros: Orfeu, Abaris, Aristeo, Epiménides, Esculápio, Pitágoras, Empédocles, Apolónio de Tiana, Plotino, Mahomé, etc. Diderot chegou a perguntar: Porque será que os milagres de Jesus e dos santos são verdadeiros, e os dos outros são falsos?

Sem dúvida que os relatos dos milagres, não são milagres. Todos os que aparecem no Antigo e Novo Testamento são autênticos plágios da época pré-cristã, produzindo-se uma espectacular similitude com os milagres de Buda, Pitágoras, Héracles e Diomísio. Spinoza afirma que a demonstração de uma religião através dos milagres é o mesmo que: «querer explicar o obscuro através de uma coisa mais obscura ainda.»

O culto das relíquias não é nada de novo, na antiguidade existiam relíquias de deuses e heróis. A sua origem baseia-se na crença supersticiosa de que os heróis, profetas e santos, têm uma força que se mantém activa nos objectos dos personagens e se transmite a quem os possui. A magia cristã das relíquias, possui coincidências com os cultos pagãos e não tem nada que ver com o judaísmo nem com Jesus, na realidade constituem um claro gosto pelo fetichismo. No paganismo produziam-se aparições e milagres junto das tumbas dos heróis, e colocavam-se relíquias debaixo dos seus altares. O cristianismo adoptou este costume a partir do séc. IV, o que ocasionou uma forte procura e a consequente falsificação das chamadas relíquias. Este culto indiscutivelmente fetichista, alcançou tal protagonismo que algumas “relíquias” chegaram a fazer parte do tesouro nacional de certos países e foram símbolo de poder oficial até muito depois da Idade Média.

Entre estas relíquias, há algumas tão curiosas como ridículas. Conservam-se três ou quatro prepúcios “autênticos” de Jesus; a personificação do Espírito Santo em forma de pomba é tão genuína que se conservam umas plumas e até uns ovos como relíquia. A casa de Nazareth, onde viveu a Sagrada Família, foi transladada integralmente para Loreto por uns anjos. Conservam-se várias plumas das asas do Arcanjo Gabriel. O Santo Sudário que supostamente envolveu o cadáver de Jesus, continua a ser uma relíquia muito venerada apesar de análises feitas terem apontado a origem do tecido para muitos séculos depois.

O fetiche promovido pela Igreja por relíquias e santos, levou a situações tão aberrantes em que o título de Santo é dado a personagens que são mero produto da imaginação e jamais existiram, como, Jorge o aniquilador de dragões ou o arcanjo Gabriel, Miguel e Rafael.

Santifica-se inclusivamente um pecado capital! A Ira. Desde que praticado por eles, claro, ou a intransigência e o temor, mas só quando é o “Santo temor a Deus”.

Mas o cúmulo acontece quando uma instituição tão perversa e assassina como a Inquisição, a Igreja a chama de “Santa”, assim se santifica o crime, a tortura, a perseguição, a exploração, a delação e a vingança, tudo isto e muito mais o foi a “Santa” Inquisição.

Da mesma forma que a Igreja inventa relíquias, ela inventa os milagres e inclusivamente “cartas vindas do céu” que idealizaram a vida de Santos e Mártires a que todos chamamos Lendas.

Com os santos passou-se o mesmo que com as relíquias, a Igreja “produziu” uma tal quantidade de mártires e santos que o Papa Benedito XIV viu-se obrigado a intervir lembrando que a inscrição no lugar dos mártires ou dos santos, não demonstrava em absoluto a santidade nem sequer a existência de tal personagem.

Verdadeiros indesejáveis ou simplesmente indivíduos sem a menor relevância são “transformados” em seres excepcionais que sobem aos altares para serem adorados pelos ingénuos. E isto não sucedeu antes, continua nos dias de hoje. O arcebispo Stepinac, estreito colaborador do assassino e títere nazi na Jugoslávia, Pavelic, foi elevado aos altares como “mártir do comunismo”, esquecendo-se a sua colaboração no massacre dos sérvios. Um padre bastante vulgar, mas ambicioso, José María Escrivá, rapidamente e por indiscutível influência económica, está repleto de excelsas virtudes e foi elevado aos altares; seguramente que entre as suas virtudes está a humildade, por isso se fez chamar Josemaria, unindo os dois nomes com a finalidade de que existisse um nome novo no “santódromo”; ainda enriqueceu o apelido transformando-o em Escrivá de Balaguer e adquiriu o título de Marquês de Peralta; resulta difícil encontrar santidades com tão evidentes mostras de humildade.

Assim, temos hoje nos altares, para serem venerados pelos ingénuos e produzirem autênticos milagres económicos para a Santa Madre Igreja, santos que não passaram de autênticos parasitas da sociedade ou até de uns indesejáveis que mantiveram o seu “prestígio”  à custa da ignorância dos demais.

15 de Novembro, 2009 Fernandes

Terá futuro esta Igreja?

Segundo “Eugen Drewerman, 1999”, cometer-se-ia uma injustiça para com os eclesiásticos, se alguém quisesse dar deles uma imagem de marotos lúbricos, mentirosos e ávidos de poder. É certo que na história da Igreja Católica, não faltam épocas de autêntica hipocrisia e alegre “cinismo de taberna”, mas não é dos divertidos atrevimentos das freiras e padres do “Deccamerone de Boccaccio”, que falaremos, ou daquela farsa onde a madre abadessa, arranjando-se à pressa, no escuro, para ir apanhar em flagrante delito a freira cujos amores haviam sido denunciados, enfia na cabeça as calças do amante pensando ser a sua touca.

Falaremos das pessoas que pecam por fraqueza e não por força, dos eclesiásticos de hoje que embora se vejam obrigados a viver na duplicidade e na falta de sinceridade, torturados pelos seus escrúpulos de consciência, põem todo o seu empenho em sofrer, e em fazer sofrer os outros, quando deveriam antes espalhar a alegria e a felicidade.

Segundo uma noção simplista das coisas, as inibições sexuais vêm directamente de proibições no âmbito sexual, e são o resultado de uma moral repressiva e de uma contínua inversão do prazer dos sentidos, transformando este em pecado. Para um não crente, é difícil compreender como a Teologia Moral Católica se infiltrou nos crentes, de acordo com uma tradição secular, unânime e inalterada, a partir das directivas de um personagem chamado Espírito Santo.

Recentemente a Sagrada Congregação da Fé, declarou sem qualquer equívoco os seguintes conselhos contra o prazer sexual:

“Hoje também, e mais ainda que noutros tempos, os crentes devem recorrer aos meios recomendados pela Igreja para se levar uma vida de castidade: disciplina dos sentidos e do espírito, vigilância e prudência para evitar a ocasião do pecado, preservação do sentimento do pudor, moderação no gozo, distracções sãs, oração assídua, e recepção frequente dos sacramentos da penitência e da eucaristia. A juventude, sobre tudo, deverá venerar a Imaculada Conceição, e seguir o exemplo dos santos e de todos aqueles que se destacaram pela sua pureza. Que todos tenham em altíssima estima a virtude da castidade e o seu brilhante esplendor”.

Imagine-se a leitura deste texto solene numa escola profissional, perante um grupo de futuras técnicas de contabilidade ou futuros informáticos; é evidente até que ponto a Igreja Católica se tornou, hoje em dia, fanaticamente estranha à realidade, e mesmo sectária.

Esta é a forma de pensar e agir daqueles a quem foi proibido tomar conhecimento do amor, e que acabam por descobrir, já tarde, que lhes foram envenenadas as fontes da vida. Querem apaixonadamente não amar, não desejar. Tornam-se cinza fumegante, vítimas de um sistema que gera morte em nome da vida.

Se somos capazes de entender as objecções contra a comercialização da sexualidade, é completamente impossível continuar a levar a sério um conjunto de princípios, cuja finalidade é ensinar que a educação ao amor só pode ser feita evitando esse mesmo amor. Não se pode aceitar que seja possível “santificar” o corpo, a carne, ou o mundo, declarando-os fonte de pecado. Como se a vida fosse melhor por renunciar ao amor. A defesa de pontos de vista que durante séculos arrastaram tantas pessoas à doença e à loucura, só podem, hoje em dia, provocar três reacções da nossa parte: cólera, troça ou indiferença, pois são pontos de vista definitivamente ultrapassados.

Se alguém interrogar os eclesiásticos sobre a sua evolução no campo sexual, a maior parte deles negará que tenha recebido uma educação sexual “repressiva”. Mas observando-se mais de perto, reconhecer-se-á a velha angústia, sob uma forma muda e recalcada.

Quando alguém, sob pressão moral, se vê obrigado a classificar realidades absolutamente naturais como vícios pecaminosos, gera-se uma espiral de angústia, do sentimento de culpa, de impotência e de “queda no pecado”, um sentimento de inferioridade.

É verdadeiramente incrível a obstinada recusa da Igreja em reconhecer a sua enorme responsabilidade na infelicidade causada aos demais. Em vez de tirar as suas consequências, ela insiste no mesmo tipo de comportamento repressor. Chega ao ponto de justificar o sofrimento causado às suas próprias vítimas, como a confirmação da verdade divina dos seus ensinamentos, utilizando o sofrimento alheio para fins de propaganda. É precisamente a exploração de sentimentos homofóbicos, que torna bem claros os objectivos desta Igreja.

8 de Novembro, 2009 Fernandes

Os suíços têm medo dos minaretes.

Os suíços têm medo dos minaretes e não são os únicos na Europa.

A Suíça vai referendar a construção de minaretes, as torres altas das mesquitas que simbolizam a presença muçulmana. Construir mesquitas ou erguer minaretes nos países europeus nem sempre tem sido fácil. A invasão já começou, a intolerância também, por isso é que notícias como esta, em que uma imigrante é agredida por não usar véu, em Espanha, começam a ser frequentes, onde fantasmas do franquismo permanecem e onde a Igreja  teve imensa responsabilidade na Guerra Civil, e persiste a influência da Igreja Católica na Europa, particularmente em Itália, por isso Berlusconi recusa tirar crucifixos das escolas. Haja pelo menos esperança na procura do fim da “cultura da impunidade” no Médio Oriente.

8 de Novembro, 2009 Fernandes

A Bíblia (III)

Os Dez Mandamentos:

(cf. Êxodo 20:3-17)

Os cristãos dizem que os Dez Mandamentos são o fundamento da lei.

Nada poderia ser mais absurdo. Muito antes de esses mandamentos aparecerem, havia códigos legislativos na Índia e no Egipto – leis contra o assassínio, o perjúrio, o furto, o adultério e a fraude. Tais leis, são tão antigas quanto a sociedade humana; tão antigas quanto o amor à vida; tão antigas quanto a noção de prosperidade e o amor humano.

Nos Dez Mandamentos todas as ideias boas são antigas; todas as novas são tolas. Se Jeová fosse civilizado, teria dispensado o mandamento sobre guardar os sábados para o santificar, e no seu lugar diria: “Não escravizarás o teu próximo”.

Teria deixado de lado aquele sobre imagens esculpidas, e diria: “Não provocarás guerras de extermínio”.

Se Jeová fosse civilizado, os Dez Mandamentos seriam melhores.

Tudo o que chamamos de progresso, emancipação do homem, a substituição da pena de morte pela prisão e da prisão pela fiança, a liberdade de expressão, os direitos de consciência; em suma, tudo que favoreceu o desenvolvimento da civilização humana; todos os frutos da investigação, da observação, da experimentação e do livre-pensamento; tudo que o homem conquistou em benefício do próprio homem desde o fim da Idade das Trevas – de tudo isso prescindiu o Velho Testamento.

Permitam-me ilustrar a moral, a misericórdia, a filosofia, a poesia e a bondade do Velho Testamento:

A história de Acã:

(cf. Josué 7)

Josué tomou a cidade de Jericó. Antes da queda da cidade ele declarou que todos os despojos deveriam ser entregues ao Senhor. Apesar dessa ordem, Acã escondeu numa capa um pouco de prata e ouro. Posteriormente, Josué tentou tomar a cidade de Ai. Fracassou e muitos soldados foram mortos. Josué procurou a causa da derrota e descobriu que Acã havia escondido numa capa, duzentos siclos de prata e uma cunha de ouro.

Diante disso, Acã confessou.

Imediatamente Josué tomou Acã, seus filhos, filhas, esposa, bois e ovelhas, apedrejou-os até a morte e queimou os seus corpos.

Nada indica que seus filhos e filhas haviam cometido qualquer crime. Certamente, os bois e ovelhas não deveriam ser apedrejados até à morte pelo crime do seu proprietário. Essa foi a justiça, a clemência de Jeová!

Após Josué ter cometido esse crime, com a ajuda de Jeová, capturou a cidade de Ai.

É esta uma história bonita para ensinar a uma criança?

A história de Eliseu:

(cf. II Reis 2:23-24)

“Então subiu dali a Betel; e, subindo ele pelo caminho, uns meninos saíram da cidade, e zombavam dele, dizendo: Sobe, calvo; sobe, calvo!” “E, virando-se ele para trás, os viu, e os amaldiçoou em nome do Senhor. Então duas ursas saíram do bosque, e despedaçaram quarenta e dois daqueles meninos.”

Essa foi a obra do bom Deus – do misericordioso Jeová! Esta é a tal poesia de que tanto ouvimos falar aos “especialistas bíblicos”.

Linda história para educar as nossas crianças!

6 de Novembro, 2009 Fernandes

A Bíblia (II)

Muitas vezes dou comigo a pensar até que ponto o Antigo Testamento pode ser considerado um livro “inspirado” por Deus. Se assim for, esse será um livro que ninguém jamais conseguirá igualar pois deverá conter a perfeição filosófica e moral, estar totalmente de acordo com cada facto ocorrido na natureza e dar-nos a conhecer o mais ínfimo pormenor da vida e do universo. As suas normas de conduta deverão ser justas, sábias e perfeitas. Jamais ambíguas. Deverá estar repleto de inteligência, justiça e principalmente de liberdade.

Deverá opor-se à guerra, à escravatura, à cobiça, ignorância e superstição. Numa palavra: deverá ser Verdadeiro.

Haverá no Antigo Testamento, na história que lá se descreve, na teoria, na lei, na moral e na ciência, algo de transcendente ou sobrenatural que não corresponda aos costumes, preconceitos, crenças e ideias dos povos daquela época?

Os antigos hebreus acreditavam que a Terra era o centro do Universo, que o sol, a lua e as estrelas eram manchas no céu. A Bíblia assim o afirma. Os antigos hebreus pensavam que a Terra era plana, com quatro cantos; que o céu, o firmamento, era sólido, sendo essa a morada de Deus. A Bíblia ensina precisamente o mesmo.

Também imaginavam que o sol viajava ao redor da Terra e que, parando-se o sol, o dia poderia ser prolongado. A Bíblia também o diz. Acreditavam que Adão e Eva foram os primeiros seres humanos; que haviam sido criados poucos anos antes deles – os hebreus –, e que eles próprios eram os seus directos descendentes. Também a Bíblia ensina isso.

Ora, admitindo que Deus é o autor da bíblia, esta não deveria conter erros tão flagrantes em astronomia, geologia ou quaisquer outros assuntos.

Lendo a bíblia ficamos a saber que os seus autores estavam enganados acerca da criação do homem, da Astronomia, da Geologia, sobre as causas dos fenómenos, a origem do mal e as causas da morte. Ficamos a saber que Deus não domina as ciências e erra com demasiada frequência para um Deus Omnisciente.

É óbvio que a bíblia foi escrita por seres ignorantes e equivocados. No entanto durante séculos, a Igreja insistiu que a bíblia era verdadeira, e não podia conter erros porque ela era a Palavra de Deus, que os relatos nela descritos sobre a astronomia e geologia estavam rigorosamente certos, que a história da criação era verdadeira, e que os que dela discordavam eram infiéis e Ateus, sendo por isso condenados às penas do Inferno e à fogueira.

Hoje as coisas são diferentes. Foram necessários muitos séculos para forçar os teólogos a admitirem as mentiras bíblicas.

Com relutância, cheios de malícia e ódio, os padres tomaram outra posição. Admitem que os autores da bíblia não estariam assim tão “inspirados” para as coisas das ciências. Que Deus não tinha como objectivo instruir o mundo sobre astronomia ou geologia. Que os homens que escreveram a bíblia desconheciam qualquer ciência, e que escreveram sobre a Terra as estrelas, o sol, a lua e o universo de acordo com a ignorância da época. Que Jeová queria que os seus filhos tomassem apenas conhecimento do seu amor infinito e da sua vontade. Que Jeová quis apenas corrigir o seu povo depravado, ignorante e corrompido, tornando-o espiritualmente sábio, moralmente justo e compassivo.

5 de Novembro, 2009 Fernandes

A Bíblia (I)

– Para aqueles que acham que o mundo devia ter a Bíblia como guia, que esse livro foi “revelado” por Deus e quem aspira à santidade deve adoptá-lo como código moral:

Há milhões de pessoas que acreditam ser a Bíblia a “Palavra de Deus”, ou por Ele inspirada. Milhões de pessoas acreditam que a Bíblia é um guia moral, um livro conselheiro e consolador que incentiva a paz e esperança no futuro.

Milhões de pessoas acreditam que a Bíblia é a fonte da lei, da justiça e da clemência, pela qual o mundo devia reger-se na base da liberdade nela expressa e na riqueza civilizacional dos seus sábios ensinamentos. Milhões de pessoas acreditam que a Bíblia é a revelação do amor de Deus ao homem. Mas também milhões de pessoas ignoram ou tentam omitir, a selvajaria, o ódio à liberdade, o incentivo à perseguição religiosa, à vingança e à dor eterna, expressa na Bíblia. Omitem que ela é inimiga da liberdade intelectual, e incentiva à superstição.

A Bíblia tem na sua origem umas famílias errantes, pobres e ignorantes, sem educação, sem qualquer forma de arte ou poder. Descendentes daqueles que foram escravizados, acabaram fugidos dos seus senhores, no deserto. O seu líder, Moisés, é descrito como um homem criado pela família do Faraó. Aprendeu a lei e a mitologia egípcia, falava assiduamente com Deus, chegando inclusivamente a encontrar-se “face a face” com Ele, recebeu das mãos deste, umas tábuas de pedra com dez mandamentos escritos. Deus informou Moisés sobre os sacrifícios que lhe agradavam ou não, e as leis que deviam governar esse povo.

Afirmaram que o Pentateuco era da autoria de Moisés. Hoje sabemos de fonte segura que não,  porque nele são mencionadas cidades que nem sequer existiam na época em que Moisés viveu, é mencionado dinheiro que só foi cunhado muitos séculos após a sua morte. Muitas leis que são mencionadas no livro, sobre agricultura, sacrifício, sobre tecelagem de roupas, sobre o cultivo da terra, sobre as colheitas, o debulho do grão, casas e templos, sobre cidades e sobre muitos outros assuntos; não têm relação possível com uns quantos viajantes famintos, errantes no deserto.

Todos os teólogos são unânimes em afirmar que o Pentateuco não foi escrito por Moisés, nem por uma só pessoa. Todos admitem que não é possível saber quem foram os autores daqueles livros. Todos são unânimes em reconhecer que esses textos estão repletos de erros e contradições, por exemplo:

– Jusué não escreveu o livro que tem o seu nome, porque nele existem referências a eventos que ocorreram muito tempos após a sua morte. Ninguém conhece o autor de Juízes; mas sabe-se que foi escrito séculos após os juízes terem deixado de existir. No 25º capítulo de I Samuel, é narrada a criação de Samuel pela feiticeira de Endora, mas ninguém conhece o autor do Primeiro ou do Segundo de Samuel; sabe-se apenas que Samuel não escreveu os livros que têm o seu nome. Ninguém sabe quem foi o autor de Rute ou o autor de I e II Reis ou de I e II Crónicas; tudo o que sabemos, é que tais livros não têm qualquer valor. Sabemos que os Salmos não foram escritos por David. Neles fala-se da escravidão, a qual só ocorreu cinco séculos após David ter “dormido” com os seus pais. Sabemos que Salomão não escreveu os Provérbios nem os Cânticos; que Isaías não foi o autor do livro que tem o seu nome; que ninguém conhece o autor de Jó, Eclesiastes, Éster ou qualquer outro livro do Novo Testamento, com excepção de Esdras. Sabemos que Deus não é citado no livro de Éster, mas basta lê-lo para constatar que o livro é cruel, absurdo e impossível.

Podemos constatar que Deus não é mencionado no Cântico dos Cânticos, – o melhor livro do Velho Testamento. Mas sabemos que Eclesiastes foi escrito por um incrédulo, e que até ao século II da N.E. (nossa era), os judeus não haviam decidido que livros seriam considerados como “inspirados”. Sabemos também que a ideia da “inspiração” se foi difundindo lentamente, e que essa pretensa inspiração foi determinada por “indivíduos” que tinham objectivos muito bem definidos.

O problema começa quando estes ”indivíduos” alegam que essa lei foi “revelada” e estabelecida para ser aplicada a toda a humanidade.

1 de Novembro, 2009 Fernandes

A dissolução da família

A propósito da polémica que se adivinha sobre a lei da união de facto, e para a qual a Igreja Católica já afia navalhas:

Na Roma antiga os deuses não intervinham para oficiar casamentos, não se fazia distinção entre casar e coabitar. O casamento não passava de um acordo privado entre famílias, selado com um banquete, regado com bom palhete. A prática daquilo a que hoje chamamos, amor adúltero, foi socialmente aceite durante vários séculos. O casamento era pois, um acto de carácter prático, um acordo de conveniência. A Igreja Católica Apostólica Romana, cujos ministros não se contentam em “levar as almas todas para o céu principalmente aquelas que mais precisarem”, (assim me obrigam em miúdo, a rezar no terço) …  à medida que reforçava o seu poder económico e político, empenhava-se no controlo e regulamentação do casamento, impondo inclusivamente, restrições em matéria sexual.

O concílio de Worms (1077) proibiu a poligamia, censurou os prazeres do corpo e até proibiu os banhos! Os respeitáveis funcionários de deus, bafejados pelo Espírito Santo, chegaram à conclusão de que o sexo estava relacionado com doenças como a lepra (tal era a sua obsessão pelo pecado da carne). O concílio de Latrão (1215) estabeleceu como condição para o reconhecimento da união, um dote para a noiva, e a boda tinha que ser celebrada numa Igreja, sendo que, só eles podiam oficializar o acto. A Igreja estabeleu ainda, a possível causa para a anulação do casamento, a impotência, esta era verificada por um grupo de mulheres “idóneas”, que deveriam vigiar o casal durante o acto sexual e comprovar se o membro viril estava ou não capaz, na função para o qual deus o engendrou.

Mas a terra gira, e mesmo contra a vontade dos digníssimos representantes de deus, as coisas começaram a mudar quando no século XVI, Henrique VIII de Inglaterra, resolveu mandar o Papa às urtigas e se divorciou das suas esposas, contribuindo sem o saber, para a grande “revolução” na vida conjugal da Europa. No século XX, e com a emancipação económica da mulher, o casamento baseado no marido que sustentava a família e na esposa dona-de-casa que o esperava enquanto mudava as fraldas aos rebentos e vigiava as panelas ao lume, deixou de ser o único modelo possível. Nos E.U. enquanto Frances Willard escrevia sobre o prazer de andar em bicicleta, alguns crentes alertavam para o perigo de tal prática, afirmando que esse era o primeiro passo para a degeneração sexual da mulher. Também o antropólogo J. Allen, alertava para o perigo que seria, conceder o direito de voto às mulheres casadas, afirmava que tal facto iria conduzir inevitavelmente à “dissolução da família”. Em Portugal, até ao 25 de Abril de 74, o marido podia pedir o divórcio em caso de adultério da mulher, já o contrário não era possível.  A boa esposa porém, era obrigada a pedir autorização ao marido para abrir uma simples conta no banco.

É notório o vazio e inutilidade da quase patética cerimónia religiosa a que os curas insistem em submeter os nubentes. As Igrejas estão cada vez mais vazias, é um facto indesmentível que os padres reconhecem com desespero ao verem diminuir drasticamente as receitas. O que está em jogo é o que o Clero mais teme: a perda do protagonismo na organização social do país. Antigamente o casamento era uma forma de transmitir a propriedade e ampliar os laços sociais; hoje, baseia-se no amor, premissa que o Clero desconhece.  A Saramago não lhe é reconhecido o direito a opinar sobre a bíblia. Que sabem do amor conjugal uns celibatários que jamais experimentaram o afago e o beijo de uma esposa e recusam o ensejo da paternidade? Deviam coibir-se de se pronunciar sobre o amor que outros sentem, partilham ou decidem levar à prática.

25 de Outubro, 2009 Fernandes

O Deus do Clero

Este Deus é totalmente autónomo. Absoluto. Encerra tudo em si mesmo. É completamente diferente de tudo o que existe, pelo menos assim é descrito em todos os catecismos, e assim configurado, é como melhor serve e menos prejudica os interesses do Clero.

O Deus do Antigo e do Novo Testamento em nada difere do Zeus grego, do Júpiter romano ou Wotan germano. Todos são deuses despóticos, violentos e cheios de ciúme. Muitos duvidam da teologia que se encarrega da concepção de Deus, da fundamentação e das consequências que daí advêm para a vida dos homens. Não vai longe o tempo em que os Padres (a quem Deus investiu como donos-da-Verdade), ensinavam na catequese os muitos detalhes da natureza e vontade do “Deus-Verdadeiro”. Explicavam: «só o que a Igreja Católica ensina, é que foi revelado por Deus». Significa isso que nenhuma Igreja a não ser a Católica, está bem informada? Deus só se revela às suas ovelhas de forma indirecta? Os crentes só obtêm verdades em segunda mão? O Catecismo Católico continua a ensinar: «Deus permite o sofrimento, para que façamos penitência pelos nossos pecados para podermos obter a recompensa eterna». Assim sendo, milhares de sofredores, de assassinados (especialmente os assassinados pelo Clero), só padecem a dor para poderem obter a recompensa celestial? O catecismo, como código moral que é, continua: «os condenados ao Inferno sofrem mais do que qualquer homem pode imaginar. Padecem os tormentos dos fogo…e habitam na companhia do Diabo». Nos anos sessenta, estes absurdos, eram “Matéria de Fé” . O Clero, agora, não opina de maneira igual sobre este assunto. Ter-se-á então equivocado? Não é válido, hoje, aquilo em que éramos obrigados a acreditar firmemente, há trinta anos apenas?

– O Pecado é uma ofensa ao amor paterno, o perdão só Ele o pode conceder -. As interacções deste tipo, persistente e regularmente repetidas, são os factores constituites de qualquer religião. Às pessoas expostas a semelhante manipulação mental, estes mecanismos convertem-se em estruturas psíquicas solidificadas. As interacções entre Deus-Pai e Deus-Filho são petrificadas e convertidas em esquemas organizacionais abstractos (patterns) de modo que, os actos de demonstração amorosa como, a oração, o arrependimento e a obediência, provocam de maneira automática, as contrapartidas correspondentes, – o amor paternal de Deus! – Um deus que ama os seus, na condição de que estes acreditem que ele existe e Lhe obedeçam segundo a Sua vontade. Um Deus que ameaça com sofrimento eterno quem se atreve a questionar o seu amor ou a sua existência.

Deus não existe, o Clero sim. Este servir-se-á sempre da religião como do pão para a boca. Intitulam-se intérpretes de Deus, numa indisfarçável soberba e ganância pelo poder. Para eles a religião é o “emprego”. No dia em que o cristianismo se mostrar irremediavelmente inútil aos seus interesses, substituirão esta, por outra cosmovisão mais rentável.

Quem se atreverá a exigir de Deus, gestos de amor que possam, eventualmente, divergir dos interesses do Clero?