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Fernandes

23 de Julho, 2010 Fernandes

A Igreja e a ditadura franquista

Como é sabido, a Igreja Católica exige o monopólio do mercado da fé, quando se encontra em maioria, e igualdade quando se encontra em minoria.

Na sua mensagem às cortes em 23 de Outubro de 1953, Franco definiu a base doutrinal da concordata: «Conceber a Igreja como sociedade perfeita, livre e independente, não é mais do que reconhecer as prerrogativas com que as dotou o seu Divino Fundador.» Este não era mais do que o reconhecimento implícito da supremacia da Igreja Católica.

O 2º artigo e seguintes, elucidam-nos sobre as consequências desta doutrina,  e enumeram as exorbitantes concessões económicas: «O Estado assumirá a construção e conservação de templos e seminários, comparticipará e cuidará dos mosteiros, colaborará no financiamento dos organismos de assistência para clérigos enfermos ou inválidos, e atribuirá uma pensão honrosa aos bispos reformados. Assumirá as despesas inerentes à criação das novas paróquias e dioceses e dos edifícios religiosos. Concederá ainda subvenções a ordens e institutos religiosos eclesiásticos de carácter missionário, assegurará a “assistência religiosa” nos centros e organismos sociais e forças armadas, e concederá outros privilégios no ensino público, meios de comunicação, na legislação canónica matrimonial e outros mais».

Neste Oásis de abundância, e já em vésperas do Concílio Vaticano II o Cardeal Quiroga Palacios, protótipo do prelado franquista, declarava: «A Igreja considera a colaboração Igreja-Estado, como “normal”, e olha-a como um ideal para o povo, […] só em circunstâncias excepcionais se pode admitir a separação entre estes dois poderes, como um mal menor».

Só após o Concílio Vaticano II, em Junho de 1967, é aprovada a Ley de Regulación del Ejericio Civil de la Libertad Religiosa.

O progressivo envelhecimento do Ditador, o esgotamento ideológico do regime, os crescentes ventos de liberdade reclamados pelos cidadãos e perante a insegurança na sucessão de Franco, a Igreja decide lançar-se numa paulatina “operação de afastamento”, do regime, típica da multi-secular tradição de oportunismo político e de ambiguidade ideológica que a caracterizam.

A reviravolta dos anos 60, as experiências dos “sacerdotes-obreros”, as manifestações de rua do Maio de 68 e alguns factores mais, galvanizaram os ânimos dos mais sensíveis. A verdade é que o almirante Carrero Blanco chegou a expressar a sua indignação, perante a ingratidão da Igreja, e passou-lhe factura detalhada das dívidas por esta contraídas durante mais de três décadas com o Estado. Mas Franco, no seu discurso de fim de ano apressou-se a dissipar todo o risco de enfrentamento.

Em Setembro de 1971 a Assembleia Conjunta de Bispos e Sacerdotes aprova o documento: “La Iglesia y la Comunidad” onde expressam um cauteloso propósito de emenda sobre a escandalosa presença de eclesiásticos nos órgãos do Estado (ditatorial).

Formalmente tudo seguiu igual pois a Igreja não renunciou a nenhum dos privilégios que conseguira no calor da guerra fratricida conduzida debaixo do signo da cruz. Assim o incontestado domínio da Igreja em todas as áreas da vida pública espanhola, permaneceu intocável.

Inicia então o processo de transição política que poderá classificar-se como frustrante. Em vez da renovação que implicava substituição daqueles que haviam encarnado o regime ditatorial, assiste-se a uma “fusão” dos novos dirigentes democráticos com os velhos franquistas, predominando a mentalidade, os interesses e as pessoas do velho regime.

O processo de “transição” tratou de transformar uma ditadura exausta e uma Igreja comprometida; numa democracia, lavando a cara e a história com a palavra “consenso” e as suas anestésicas virtudes. G. Morán escreveu na altura: « Desde os primeiros dias de 1976 que se inicia um processo de “desmemorização” colectiva. Não de esquecimento, senão de algo mais perigoso e voluntário, a capacidade de se tornar “desmemorizado”.

*fonte: Ojea, Gonzalo Puente. – Elogio del Ateísmo

22 de Julho, 2010 Fernandes

A Igreja e a Guerra Civil Espanhola

Em Setembro de 1936 a Igreja Católica em Espanha, faz aprovar uma lei que obriga à separação dos sexos no ensino, e estabelece que nas escolas primárias, os directores não podem permitir obras cujo conteúdo não corresponda aos “saudáveis princípios da Religião e Moral Cristã». Decretam a “obrigatoriedade” do estudo da Religião e História Sagrada no ensino primário, passando depois em regime definitivo para as escolas secundárias e ensino superior. Nas universidades, havia ainda, semanalmente, uma conferência sobre temas fundamentais da Cultura Religiosa.

Em 1937 restauram-se as grandes festas litúrgicas, reconhece-se – sobre uma absurda ficção sem a menor base histórica – São Tiago como patrono de Espanha, decreta-se feriado o dia da Imaculada Concepção, e decreta-se que a figura da “Virgem” seja colocada em todas as escolas para que professores e alunos a “invoquem” diariamente.

Ao mesmo tempo oficializam-se os grandes cultos de Santos e reconstroem-se todas as Basílicas, Catedrais e Templos com dinheiros públicos. Em Março de 1938 é suspensa a aplicação da lei do direito ao divórcio, com o argumento de que o casamento católico é o único válido capaz de acabar com o sectarismo da Republica.

Nesse mesmo ano é erradicado o laicismo da vida pública, e é promulgado o “Fuero de los Espanholes” com o objectivo de reavivar a “Tradição Católica”. Em Maio restabelece-se com júbilo, a Companhia de Jesus, e em Setembro tem lugar o que de mais nefasto aconteceu, com repercussões na sociedade espanhola democrática; a aprovação da lei do ensino secundário, de estrita “Orientação Confessional”.

Rezava assim:

«O catolicismo é o fundamento, a medula de Espanha. Não se pode prescindir de uma sólida educação religiosa sem que esta contemple o Catecismo, o Evangelho, a Moral, a Liturgia, a História da Igreja e a correspondente Apologética; completada com noções de Filosofia e História da Filosofia, pois a verdadeira Espanha sempre defendeu a verdadeira civilização, ou seja, a civilização cristã.»

Seguidamente, é alterada a constituição e adaptada aos interesses da Igreja, o que permite que vários altos prelados, façam parte do órgão máximo legislativo, que fazem aprovar a lei que decreta que a Igreja Católica goza da protecção Oficial do Estado, não sendo permitidas cerimónias ou manifestações externas de qualquer outro culto religioso.

Assim a “Ley de Sucesíon en la Jefatura del Estado” de Julho de 1947 define:

1º artigo: Espanha como unidade política, é um Estado Católico[…].

2º O exercício de estado corresponde ao Caudillho de Espanha e da Cruzada[…].

O 3º artigo cria um conselho com dezassete membros com representação eclesiástica, que estabelece que, para se ser Rei, tem que “obrigatoriamente” professar a religião católica.

Ainda a “Lei de princípios Fundamentais” do Movimento Nacional de Maio de 1958 dizia que: «A nação espanhola considera ser uma honra o acatamento da lei de Deus, segundo a Igreja Católica, Apostólica, Romana, única e verdadeira, que inspirará a sua legislação na fé, inseparável da consciência nacional».

A lei de imprensa de 1957 concedia um estatuto de privilégio às publicações da Igreja, independente das leis do estado. O monopólio ideológico da religião católica permitiu a aprovação de leis como a “Lei de Repressão do Comunismo e Maçonaria”, onde a intolerância, o ódio e a satanização, tão caras à Igreja Católica, atingiram o seu máximo esplendor.

Em Março de 1939 são aprovadas várias leis que atribuem importantíssimos favores e “dádivas” de toda a espécie a par de muitos benefícios fiscais, e avultadas subvenções ao mantimento do culto e do clero. Subvenções de centros de docência que pronto obtêm reconhecimento oficial como; escolas, edifícios, bibliotecas, etc. Além de toda a franquia postal.

No ensino; vital para a reprodução “mecânica” social da igreja; esta arroga-se única usufrutuária dos poderes públicos conseguindo uma hegemonia sem rival, os colégios e as ordens religiosas alcançam o máximo domínio possível nesse campo, aumentando substancialmente o seu negócio e manipulando sem obstáculos a mente das classes médias e altas, ao mesmo tempo que provocavam a depauperação das escolas oficiais do estado.

O ensino universitário, impulsionado pela Igreja com dinheiros públicos e com a protecção oficial do estado, fica igualmente refém dos braços tentaculares da Igreja. Basta recordar que a “Ley de Ordenación de la Universidad Española”, de Julho de 1942 dispunha no seu 3º artigo:

«A universidade , inspirando-se nos princípios católicos […] orientará o seu ensino de acordo com o dogma e a moral católica, e de acordo com as normas do Direito Canónico vigente».

O artigo 9º completava: «O estado reconhece à Igreja Católica em matéria universitária, os seus direitos, conformes com os dos Sagrados Cânones».

Foram quarenta anos de doutrinamento católico no sistema de ensino, que continua a receber a protecção dos actuais poderes políticos através do reconhecimento de habilitações e títulos, e por estranho que pareça, continuam a ser subvencionados economicamente com dinheiros públicos.

Há que reconhecer que a Igreja não é hoje uma sombra do que foi no passado, devido à quebra de confiança que inspirou nas novas gerações de jovens, e pela saturação de mitos inverosímeis com que ainda se enroupa, sustentados apenas pela obediência cega e mimética, e pela ignorância generalizada.

*Fonte: Ojea, Gonzalo Puente,- Elogio del Ateísmo.

21 de Julho, 2010 Fernandes

A Igreja e a Guerra Civil Espanhola

Freud não definia a religião como uma mera ilusão, mas como aquela forma de ilusão que satisfaz as exigências do sujeito, ou seja, como uma forma “interessada” da projecção do ego. Não deve pois surpreender-nos que no enorme leque humano que povoa as múltiplas moradas da Igreja, se encontrem indivíduos de boa fé que crêem encarnar a autêntica comunidade eclesial, que eles imputam ao “verdadeiro” Cristo. A estes crentes há que explicar-lhes que, o Nazareno não conheceu nem desejou a existência de Igreja alguma.

A Igreja é mestra na arte da “indução” à conspiração através de um extenso reportório de instrumentos de manipulação das consciências, começando pelo confessionário. A cumplicidade da Igreja Católica na guerra fratricida de 1936-39 em Espanha, foi total. 

Em 23 de Agosto de 1936, o bispo de Pamplona, Monsenhor Olaechea, declarava: «Não levamos a cabo somente uma guerra senão também uma cruzada». Havia-se encontrado a palavra “reveladora!”… o bispo de Segóvia foi um dos primeiros em manifestar a sua total adesão ao «movimento salvador»,” salvação e cruzada”, termos que a partir de então, serão o “selo eclesiástico” legitimador da matança.

Em Setembro de 1936, o Bispo de Salamanca, E. Pla y Deniel, na sua carta pastoral “As duas cidades”, estabelece o paralelo das duas “civitates” agostinianas com a ”Espanha legal” e a “Espanha insurrecta”. Em Toledo uma carta de I. Gomá, Primado de Espanha, termina com as seguintes palavras: «Governantes!, praticai o catolicismo se quereis fazer a pátria grande […] que nenhuma lei, nenhuma instituição, nenhum jornal, nenhuma opinião seja contra Deus e a sua Igreja em Espanha». Em Março do mesmo ano, o Arcebispo de Valladolid qualificava aquela guerra como «a mais santa de todos os séculos»; em Outubro, o Bispo de Granada afirmava: «encontramo-nos de novo em Lepanto», enquanto que uns meses depois o Arcebispo de Córdova valorizava aquela guerra entre irmãos como «a cruzada mais heróica que a história registava». E para terminar esta breve antologia, citemos o Bispo de Tuy: «não é uma guerra civil mas sim uma cruzada patriótica e religiosa». Do Bispo de Tenerife saiu a sentença: «De todas as guerras legítimas e santas registadas na história, nenhuma é mais legítima e mais santa do que esta».

O tema da Recristianização de Espanha havia-se apoderado obsessivamente da Igreja, do mesmo modo que, com a mesma crispação proselitista, o Papa Wojtyla lança a “Recristianização da Europa” . Ratzinguer na recente visita a Portugal fez questão de o reafirmar, como se de uma declaração de guerra se tratasse.

Um grupo de intelectuais da “Acção Católica Espanhola” acompanhados por outros sectores da imprensa católica, já haviam preparado o desígnio do Nacional Catolicismo como Modelo-Hispano da “Verdade Católica”. O Nacional Catolicismo não nasce da guerra civil, apenas a usa para explicar a sua natureza e dinâmica. À semelhança do que hoje é propalado pela mesma Igreja acerca dos conflitos que vivemos, também na altura afirmava ser o NC, o único capaz de “reconhecer e interpretar” tudo quanto acontecia, e capaz de “reconduzir” os factos dentro de uma visão coerente. «Só o NC está em situação de unificar as forças sociais e políticas que se encontram próximas de Franco», – afirmavam.

O NC corresponde à vontade indefectível da Igreja Católica para jogar um papel hegemónico incontestável em Espanha. O mesmo foi alcançado em termos ideológicos e em termos de poder de facto. A sua função repressiva manifesta-se na “obrigatoriedade” dos certificados de “boa conduta” que os párocos emitiam aos cidadãos para a sua apresentação às autoridades políticas nas zonas conquistadas, a fim de “depurar” a quantos haviam colaborado com os “vermelhos”. Esta colaboração abarcava não só actos, mas também ideias. Não é preciso referir que um certificado negativo passado pelo pároco, na melhor das hipóteses dava direito a prisão, mas geralmente a morte.

*Fonte: Ojea, Gonzalo Puente. – Elogio del Ateísmo.

13 de Junho, 2010 Fernandes

O Banco de Sua Santidade

IOR, – Instituto das Obras Religiosas -, é apenas uma das instituições financeiras mais importantes do Vaticano. Os mais altos dignitários da política, privilegiam o IOR nas suas relações bancárias. A seu tempo, pessoas como Giulio Andreotti e outras personalidades bastante próximas dele, como Bisignani e os seus amigos ou o cardeal Angelini, também escolhiam o banco do Papa para as operações ilegais camufladas.

Os maiorais da Democrazia Cristiana naqueles anos, faziam fila à porta do IOR. Uns para reciclar dinheiro de subornos, outros pelas compensações da Máfia, outros ainda, como Gianni Prandini, de Bréscia, o poderoso ministro dos Trabalhos Públicos no sexto e sétimo governo de Andreotti, para colocar em segurança as suas consideráveis poupanças.

No IOR, o antigo ministro sentia-se em casa. Nos anos noventa, perante a suspeita, e debaixo do ataque dos jornalistas, o antigo ministro volta-se para o IOR para aí guardar o seu dinheiro. Uma escolha previdente, dadas as investigações que o envolvem pouco tempo depois e que farão ruir a Primeira República por entre julgamentos, prisões e apreensão de bens.

Passados 15 anos, em 2005, Prandini regressa ao IOR para tomar posse dos seus bens, mas o dinheiro, entretanto, tinha desaparecido. O antigo ministro exibe toda a sua fúria, mas do dinheiro nada se sabe. Recorre assim às entidades oficiais e denuncia o Banco do Vaticano.

No auto de citação, Prandini afirma que o então vice-director Scaletti teria sido fiador ao confiar formalmente as suas poupanças a um sacerdote bastante conhecido, Corrado Balducci, exorcista que ficou conhecido na televisão como «demonólogo», autor de livros sobre Satanismo e Ovniologia.

Balducci, na qualidade de sacerdote e, portanto, elegível para cliente do IOR, assumiu a função de testa-de-ferro. Abre duas contas no IOR, uma em liras e outra em moeda estrangeira, para proteger o tesouro, bastante considerável, do antigo ministro. Na primeira são creditados 3 biliões, na segunda 1,6 milhões de dólares. Mas, quando Prandini bate à porta do exorcista, em 2005, para recuperar a quantia, esbarra contra uma surpresa demoníaca. O dinheiro desaparecera.

A verdade é que Prandini ainda hoje pede 5 biliões a Scaletti e ao Banco do Vaticano, não sabendo para quem se há-de virar para encontrar o tesouro. A verdade é que Balducci morreu a 20 de Setembro de 2008, aos 85 anos, levando os segredos com ele para o túmulo. Uma magia baixa que ameaça deixar Prandini sem um tostão.

A história tragicómica de Prandini torna explícita a multiplicidade de testas-de-ferro e feiticeiros das magias financeiras que gravita em torno do Banco de Sua Santidade.

*Adaptado de, Gianluigi Nuzzi, Vaticano S.A.

14 de Maio, 2010 Fernandes

Venha a nós o vosso reino

– «Enfrentamos um dilema, se damos a impressão de sermos demasiado ricos, o povo não nos “apoia”; se parecemos pobres de mais, perdemos o seu respeito»; confidencia um cardeal milionário no livro de Nino lo Bello: O Empório do Vaticano. Quiçá uma das expressões menos lisonjeiras, ouvidas em Roma; utilizada por católicos e usada há pelo menos cinco séculos para descrever os negócios papais, seja: – La Bottega del Papa, ou La Santa Bottega-, “A loja do Papa”. Eles referem-se não apenas aos interiores dourados das igrejas e santuários mas também às riquezas do Papa. Quando os italianos discutem o Vaticano, acabam quase sempre por encolher os ombros e lembrar-nos que “l`oro non fa odore”.

Os leigos obedecem e não questionam a sua religião ou os elementos dedicados que a ministram, com assuntos práticos e terra-a-terra, como dinheiro e economia. A maioria dos católicos não pensa no Vaticano como uma empresa financeira, ou seja, como um centro nervoso da alta finança, organização interessada em lucros, activo e passivo com receitas e despesas. A noção de que o Papa é multimilionário, e que a sua Igreja não é apenas uma instituição religiosa mas essencialmente um gigantesco império financeiro, passa despercebido à maioria dos fiéis.

O estado do Vaticano é a comunidade mais singular do mundo, ao contrário das outras nações, não dispõe de indústria válida, agricultura ou recursos naturais, no entanto, enfileira ao lado dos países mais ricos do planeta. A riqueza ostensiva do enclave de 108,7 acres, dentro das sólidas Muralhas Leoninas, – igrejas magnificentes, muitos milhares de tesouros artísticos e manuscritos preciosos -, apenas servem de cume visível ao “icebergue” financeiro, já que a parte mais vultosa jaz abaixo da superfície num secretismo total.

Único Estado soberano que jamais publica um orçamento. Os estádios financeiros da actividade do Vaticano mantêm-se rodeados pelo segredo. O Vaticano é a única religião organizada a guardar estritamente para si os seus negócios venais. Quanto à fortuna do Papa, nem ele nem nós sabemos exactamente o valor. Sabemos apenas que o Vaticano é uma das maiores organizações financeiras do planeta, ocultando as suas operações financeiras cuidadosamente sob um véu de obscuridade e divulgando constantemente uma imagem de falsa pobreza, fazendo passar a ideia de que tem fracos rendimentos e enormes despesas.

O não pagamento de impostos na maior parte dos países onde a igreja católica se instala, a sua total liberdade de acção (que faz a inveja de qualquer homem de negócios) e o secretismo a par da ausência de relatórios de contas ou fiscalização, a que se juntam os contactos diplomáticos e a informação privilegiada, permitem-lhe toda a vantagem sobre os concorrentes, sendo que, no Vaticano, a soma de dois mais dois nunca dá quarto ou vinte e dois, mas centenas de milhares de dólares.

Os quase 90 milhões de dólares pagos por Mussolini ao Papa, resultantes do Tratado de Latrão, rapidamente se transformaram em 550 milhões, pelas mãos de Bernardino Nogara que gastou 26,8 milhões para adquirir ouro aos Estados Unidos, parte desse ouro foi posteriormente revendido aos mesmos, ficando o Vaticano com um lucro líquido final de 21,8 milhões de dólares. A manobra implicou contas do Vaticano em bancos suíços. Pediam ao banco suíço que depositasse dinheiro do Vaticano em Nova Iorque, mas em nome do próprio banco. Seguidamente, providenciavam no sentido de o banco suíço ordenar ao banco americano recipiente que emprestasse dólares a uma firma italiana propriedade do Vaticano. A firma italiana a quem pertencia o dinheiro em primeiro lugar, debitava-se a si própria na conta suíça pelo juro que estava a ser pago na América. Deste modo, o dinheiro do Papa era investido em segurança, e segredo, ao abrigo de qualquer interferência por parte das autoridades italianas, e isto durante um período em que o estado impunha severas restrições cambiais.

– Jamais esquecerei a primeira vez que estive no Banco da cidade do Vaticano; escreve Nino lo Bello no seu livro; – ao observar os caixas a receberem freiras, jesuítas, missionários e bispos. Num momento de acalmia, disse a um dos caixas: – suponho que alguns dos seus clientes, na qualidade de religiosos, não perceberão muito de dinheiros. O jovem deu a resposta correcta à minha demonstração de ingenuidade, comentando com a precisão de uma calculadora: – A minha experiência diz-me que todos eles sabem muito, mas mesmo muito, de dinheiros.

Além do “seu pessoal”, o Vaticano serve-se ainda dos seus uomini di fiducia (homens de confiança) que “cuidam” dos interesses do Vaticano, como laicos. O círculo é restrito e cabe-lhes “dar a cara” no mundo exterior dos negócios. Os nomes do conselho de administração numa determinada empresa ou companhia, constituem normalmente uma indicação sobre se o Vaticano a penetrou.

As empresas industriais e companhias, revelam amiúde o interesse da Igreja nelas, ao incluírem, em qualquer nível, os nomes de “agentes” conhecidos do Vaticano. “Agentes,” não será porventura a palavra mais feliz para descrever os membros do círculo laico interior, mas dá uma ideia precisa dos interesses que estes servem. Sempre que um “nome do Vaticano” aparece no conselho de administração de um serviço público, uma investigação apurará quase invariavelmente, o facto de este possuir interesses minoritários ou maioritários nessa organização.

Estes agentes, no mundo empresarial são conhecidos como os “cães de guarda do Vaticano”. Em Portugal até se atropelam na vil tentativa de subir na escala de interesses e influência, nos mais variados cargos de empresas públicas e privadas. Todos os dias desfilam na comunicação social. Eles têm poder suficiente para “vergar” o país aos interesses que representam, e para tal não olham a meios, e atingem os fins. Esta semana, em que todo o país quase parou, é o exemplo.

Não é difícil perceber como é descaradamente provocatório ao garantir os seus interesses financeiros. O Vaticano não se entrega unicamente ao comércio de Deus; a sua empresa vai muito além Dele.

1 de Maio, 2010 Fernandes

Escolha o seu

Com a crise, cresce a devoção nos santos com fama de concederem graças rapidamente. Com o agravamento da situação económica, a fé, que antes não costumava existir, agora não pode faltar. Tem de ser rápida, expedita. Os santos que estão no “top” são os directamente relacionados com os problemas económicos.

Pode dizer-se que os três preferidos são os que atendem às urgências do povo: Santo Expedito, São Judas Tadeu e Santa Rita de Cássia. A Senhora de Fátima compõe o quarteto que monopoliza a devoção dos fiéis. Santo Expedito é o “protector” dos endividados. São Judas Tadeu e Santa Rita de Cássia ajudam, respectivamente, nos casos desesperados ou perdidos – uma mezinha que tanto ajuda quem está no desemprego, como quem anda à porra e à massa com a mulher.

Nem todos os santos venerados são realmente considerados “válidos”. Um exemplo típico é o Santo Expedito, que tem a sua história questionada por teólogos católicos. Conta-se que era comandante de uma legião de soldados romanos e foi sacrificado em 19 de abril de 303, por ordem do imperador Diocleciano, ao lado dos companheiros Caio, Gálatas, Hermógenes, Aristonico e Rufo, por ter aderido à fé cristã. Segundo a tradição, no momento da sua conversão apareceu um corvo que lhe disse, crás (amanhã, em latim). O soldado esmagou imediatamente o corvo com o pé e gritou, hodie (hoje), razão pela qual se tornou naquele a quem se recorre quando não se pode deixar nada para amanhã. Para a Igreja, ele é uma lenda, não existiu de facto, mas se alguém mencionar o facto, o crente que o procura fica “ofendido”. Santo Expedito faz milagres, mas para desconforto dos fiéis, não aparece no anuário da editora Paulus.

É normal os santos “engrossarem” os seus currículos com milagres. Primeiro um milagre corriqueiro, comum, como um analgésico para a dor de cabeça. Depois, vem o tumor no olho salpicado com azeite de fritar peixe e por aí adiante. O tempo parece ser fundamental para o exercício dos ‘milagres’ por parte dos santos. Além disso, os santos têm-se especializado em milagres específicos. É importante para o crente, “descobrir” o seu santo.

Contam que o bondoso São Cristóvão atravessava um rio carregando pessoas nas costas. Por isso é o padroeiro dos motoristas. Mais recentemente, São Camilo de Lellis dedicava a vida aos doentes, tornando-se assim no protector dos enfermeiros. Esses são alguns dos casos mais conhecidos.

O catolicismo contém santos para quase todas as profissões. Alguns santos nem são reconhecidos, como São Jorge, por exemplo. Embora considerado apócrifo pelo Decreto Gelasiano do século VI, a influência que exerce sobre os fiéis é enorme. Conforme reza a lenda difundida na Idade Média, São Jorge foi aquele cavaleiro que lutou contra o dragão. Tal lenda diz que um horrível dragão saía das profundezas de um lago e atirava-se contra os muros da cidade, espalhando a morte e o terror com o seu mortífero bafo de fogo. Para afastar tamanho flagelo, o povo oferecia ao “monstro” jovens vítimas, escolhidas por sorteio. Um dia coube à filha do rei servir de alimento ao dragão. O monarca, que nada pôde fazer para evitar o horrível destino da filha, acompanhou-a com lágrimas até às margens do lago. A princesa parecia destinada a um fim atroz quando, de repente, apareceu um corajoso cavaleiro vindo da Capadócia. Era São Jorge! O valente guerreiro desembainhou a espada e, em pouco tempo, reduziu o terrível dragão a um manso cordeirinho, que a jovem princesa levou preso numa corrente até dentro dos muros da cidade perante a admiração de todos os habitantes que antes se fechavam em casa cheios de pavor. O misterioso cavaleiro asseverou gritando-lhes que tinha vindo em nome de Cristo, para vencer o dragão. Eles deviam então converter-se e serem batizados.

Por causa da lenda, quadros e mais quadros foram pintados e capelas erigidas com São Jorge vencendo o dragão. E podemos encontrá-lo nas casas de alguns fiéis. E não só. Há muito tempo que ouvimos falar da figura de São Jorge e o dragão estampada na face da lua. São histórias cheias de drama e mistério com que se enroupam os crentes; que vêm desde os tempos em que o Arcanjo São Gabriel  anunciou a gravidez a Maria – o que o tornou padroeiro dos carteiros! – Creio que o leitor já entendeu o processo que habilita um santo a ser um protector especialista em determinado ramo ou ofício.

*Adaptado do sitio CACP.

7 de Abril, 2010 Fernandes

Jesus esse ilustre desconhecido (2)

As referências a Jesus, fora da Bíblia, são pouco credíveis para um filho de Deus. Vamos agora ver dentro desta.

Relativamente ao nascimento, Mateus escreve que «nasceu em Belém, região da Judeia, no tempo em que Herodes era o rei do país…», enquanto Lucas escreve que «por aquele tempo o imperador Augusto ordenou que se fizesse um recenseamento em todo o mundo. Este primeiro recenseamento foi feito, sendo Cirenio governador de Síria». Uma vez que Herodes morreu no ano 4 antes da Nossa Era, os relatos são temporalmente contraditórios. Nesse período não se registou nenhum fenómeno atmosférico que possa ser interpretado como a estrela dos reis magos, nenhuma matança de crianças, nem nenhum recenseamento romano. Este último, pelo simples facto de que naquele tempo a Judeia não estava debaixo do domínio romano. Assim sendo, estes relatos não correspondem à verdade.

Nos quatro evangelhos Jesus é chamado de Nazareno, mas só nos capítulos iniciais de Mateus e Lucas se conta o seu nascimento e se situa em Belém, sem nunca referirem o boi (ou vaca) e o burro que aparecem nos presépios. Tal como no nascimento, também da morte de Jesus não dispomos de relatos credíveis. O único dado que sabemos é que aconteceu “sob Pôncio Pilatos”, entre o ano 26 e 36 depois da Nossa Era. Não há registo dos dificilmente esquecidos prodígios que acompanharam a sua morte. É certamente falso que «desde o meio dia e até às três da tarde, toda aquela terra ficou às escuras», não poderia haver um eclipse do sol de três minutos  e muito menos de três horas, durante o plenilúnio. Surpreendentemente, nenhum historiador da época parece ter-se apercebido que naquele momento «o céu se rasgou em dois de alto a baixo, a terra tremeu, as rochas se partiram, os túmulos se abriram e muitos homens de Deus que estavam mortos ressuscitaram».

As explícitas raízes judias do nascimento e morte de Jesus, revelam semelhanças flagrantes com os mitos religiosos de outras civilizações: os egípcios Horus e Osíris, o persa Mitra, os gregos Hércules e Dionísio, inclusivamente com o asteca Quetzalcoatl. O nascimento a partir de uma virgem com a morte e posterior ressurreição, constituem óbvios arquétipos universais partilhados pelas mitologias de várias culturas. Mas a cópia mais ou menos propositada não fica por aqui: o dia 25 de Dezembro dia do nascimento de Jesus é um plágio da festa do “Sol Invictus” o Deus Sol, que o imperador romano Heliogábalo importou da Síria no ano 218. O imperador Aureliano instaurou o seu culto no ano 270 consagrando-lhe um templo a 25 de Dezembro do ano 274, durante a festa do “Natal do Deus Sol”, dia do solstício de Inverno segundo o calendário juliano. E em 17 de Março de 312 o imperador Constantino estabeleceu o “Dies Solis” (que ainda hoje se chama Sunday em inglês) dia de descanso romano. A substituição do culto ao “Deus Sol” pelo culto ao Deus-Cristo “eu sou a luz do mundo”, foi oficializada em 350 pelo papa Júlio I, com a imposição do dia 25 de Dezembro como nascimento de Jesus. Mas este culto não conseguiu eliminar facilmente o culto ao “Deus Sol”, como demonstra o Sermão de Natal do papa Leão Magno em 460: «É tão estimada esta religião do Deus Sol que alguns cristãos antes de entrarem na basílica de São Pedro, dedicada ao único Deus vivo e verdadeiro, viram-se para o sol e inclinam a cabeça em honra do astro fulgente. Este acto lamentável, que é repetido em parte por ignorância e em parte por mentalidade pagã, angustia-nos».

No evangelho de João, Jesus aparece como uma reencarnação de Moisés e das passagens do Êxodo. O primeiro milagre de Jesus, a transformação da água em vinho, é uma cópia da primeira praga do Egipto; a transformação do Nilo em sangue. A multiplicação dos pães, é uma adaptação do episódio do maná no deserto. A caminhada sobre as águas corresponde à divisão das águas do Mar Vermelho. A ressurreição de Lázaro; à libertação do Egipto, etc. Trata-se de compilações mais ou menos fiéis e livres dos vários trabalhos anteriores. O próprio Lucas o afirma: «muitos trataram de escrever a história dos factos sucedidos tal como nos ensinaram[…] também a mim me pareceu oportuno escrever estas coisas para que comproves a verdade de tudo quanto te ensinaram». Ou seja; são relatos mais ou menos fiéis e livres, de ensinamentos orais mas não necessariamente de Jesus. Já na primeira metade do séc. II, as “Interpretações dos ditos do Senhor” da autoria de Papías, assinalavam que Marcos se remetia aos sermões de Pedro, mas que estes haviam tido um fim catequista e não historiográfico: havia-se “inspirado” indirectamente nos sermões de Cristo mas não os havia reproduzido literalmente. Os livros de Papías que pretendiam remeter os ditos dos apóstolos para uma tradição oral; foram classificados pela “História Eclesiástica” de Eusébio, como um conjunto de «estranhas palavras e ensinamentos do Salvador, e outras coisas mais míticas».

Está claro desde o início, que os evangelhos não são obras históricas mas sim vocacionais, que falam de um personagem mais ou menos idealizado e mitificado, quando não, simplesmente inventado. A credibilidade dos evangelhos é tal, que apenas quatro são considerados canónicos e todos os outros apócrifos e rejeitados pela Igreja como autênticos. Naturalmente em questões de cânon (regra) tudo é relativo, por exemplo; nos livros do Antigo Testamento, os Macabeus, que actualmente a Igreja Católica considera canónicos, são considerados não canónicos pelos próprios judeus e apócrifos pelos protestantes, e a decisão definitiva sobre o cânon católico do Antigo Testamento não vai além de 1546 quando o Concílio de Trento estabeleceu a lista actual e declarou «anátema sobre quem não admita como sagrados e canónicos estes livros completos, com todas as suas partes, tal como são lidos na Igreja Católica». Tal facto não impede que a igreja Etíope admita ainda mais três livros como canónicos. Muitos dos evangelhos considerados apócrifos perderam-se, mas outros se conservaram e narram episódios completamente diferentes da vida de Jesus, da Virgem e dos apóstolos. Aqui a posição da Igreja varia entre uma clara aceitação de alguns documentos como oficiosos, e uma explícita recusa de outros como oficialmente heréticos.

Não deixa de ser curioso que o evangelho de Pedro parcialmente encontrado em 1886 descreva a “paixão” de Cristo de maneira análoga à dos sinópticos, mas desde uma perspectiva política diversa, anti-judia e pró-Pilatos.

4 de Abril, 2010 Fernandes

Jesus esse ilustre desconhecido (1)

No Antigo Testamento aparecem uma série de personagens e acontecimentos que fazendo parte da mitologia se vão misturando gradualmente com a história. Actualmente só os fundamentalistas recusam admitir a não existência de Abraão, Isaac, Jacob, Moisés, Josué, David e Salomão, assim como a veracidade do êxodo, a conquista da terra prometida e por aí adiante; senão na sua totalidade pelo menos nos detalhes com que a Bíblia os descreve. Estas dúvidas foram inclusivamente admitidas em 2002 pelos tradicionalistas das Sinagogas Unidas do Judaísmo Conservador, que representam um milhão e meio de judeus nos estados unidos.

Mas, ao chegarmos ao Novo Testamento, até o simples facto de questionarmos a existência de Jesus e seus pretensos milagres ou a veracidade dos evangelhos, se converte numa ofensa para os cristãos e num insulto à religião. No entanto nem a arqueologia nem a história nem o Antigo Testamento contêm uma única referência ao personagem Jesus. Apenas o Novo Testamento.

As primeiras notícias sobre Jesus, são anteriores aos evangelhos, aparecem em meados do séc. I, nas cartas de Paulo, um personagem que nunca viu Cristo. Nos documentos históricos contemporâneos ou posteriores à época de Jesus, “nunca” se fala  d`Ele, e apenas quatro historiadores o referem:

Flávio Josefo: “Naquele tempo viveu Jesus, um homem sábio, pode chamar-se homem, porque realizou obras extraordinárias…” após análise criteriosa dos seus restantes escritos, conclui-se facilmente, ser uma falsificação grosseira, uma tentativa de “colar” o nome do historiador à prova existencial do suposto Jesus, e nem Orígenes que viveu no séc. III o refere, queixando-se que Flávio Josefo “não aceitava Jesus como Cristo”, enquanto Clemente de Alexandria questionava que “não dizia nada sobre as coisas maravilhosas que o Senhor havia feito”. Plínio o Jovem faz referência numa carta a Trajano em que fala vagamente, que os cristãos, “afirmavam que as culpas ou erros se redimiam no facto de encontrar o dia esperado antes da alba para cantar um hino a Cristo como se fora um deus…”.

Seutónio (referindo-se a alguém que no ano 45, estava em Roma): “ uma vez que os judeus fomentavam contínuos distúrbios instigados por Crestos, [Claudio] expulsou-os de Roma”. Crestos é a tradução do original latino Chrestus; nome derivado do grego Chrestos, que quer dizer – Bom, Valente -. Mais do que um erro de transcrição de Christus, este era um nome comum na altura. Tácito cita algumas vezes os cristãos nos seus “Annales”, dizendo que estavam em Roma no tempo de Nero, entre 54 e 65, escrevendo que “Cristo foi condenado à morte por Pôncio Pilatos, durante o reinado de Tibério”.

Estas são as passagens “não cristãs”, da antiguidade, que de alguma maneira referem Jesus . Demasiado vagas para se poderem considerar uma prova convincente da sua existência. O que não significa que não tenha existido. Houve inúmeros personagens reais, que não deixaram rasto na história oficial. Mas isso não significa que para provar a existência de Jesus só possamos confiar nas fontes do Novo Testamento, porque então o Mahabharata ou a Ilíada provariam a existência de divindades que nenhum cristão estaria disposto a aceitar como reais.

Além disso, as eventuais coincidências nos evangelhos com factos objectivos, não constituem prova alguma da veracidade dos seus personagens. A descrição dos factos na Ilíada é tão “real” que, baseando-se nela, Heinrich Schlieman conseguiu localizar em 1873 as ruínas de Troia; mas isso não nos autoriza a confirmar a veracidade do relato da batalha ou a existência dos heróis e deuses homéricos.

14 de Fevereiro, 2010 Fernandes

Da Eurábia com amor

Foi assim que um comentador deste blog se despediu, há uns dias, no final de um comentário.

Confesso que fiquei a pensar no assunto.

A Eurábia é simultaneamente, uma ideologia e um sintoma; é uma atitude colectiva, própria dos povos que se submeteram – por medo e por interesses económicos – aos ditames do totalitarismo islâmico, que engloba, a um tempo, organizações internacionais (como a Organização da Conferência Islâmica, a Liga Islâmica Mundial, a Liga dos Estados Árabes, etc.), estados islâmicos e movimentos fundamentalistas com projectos de conquista planetária.

Um dos troféus mais ardentemente cobiçados por este totalitarismo verde, fruto do fracasso do islamismo moderado preconizado pelos estados petro-islâmicos do Golfo nos anos 60, é a velha Europa, antiga potência colonial, hoje demográfica e psicologicamente enfraquecida, encontra-se sobre tudo dependente dos hidrocarbonetos do mundo islâmico.

A islamização da Europa é também vista e sentida por muitos fiéis sinceros de Maomé como uma oportunidade única de os europeus descristianizados, «imorais» e desprovidos de coluna vertebral espiritual, caírem em si e retomarem o caminho da redenção. Uma ideia aliás cara ao filósofo françês René Guénon (1886-1951) que, tendo-se convertido ao Islão, via na islamização futura da civilização a que pertencia, a única maneira de ela se reconciliar coma sua própria tradição e de esconjurar o materialismo do Ocidente moderno.

Os grandes pólos da nova conquista islâmica (Arábia Saudita, Paquistão, Irão, Turquia reislamizada, Fraternidade Muçulmana, etc.) compreenderam claramente que chegou o momento de penetrar no Velho Continente.

A Eurábia é um conceito inseparável de outro paradigma: A “diminitude”. Designação formada a partir da expressão árabe “ahl al dhimma” (que designa Gentes do Pacto ou Gentes da Protecção), que rege o estatuto de sujeição e de inferioridade dos não muçulmanos em terras do Islão (Dar al Islam) e designa, por extensão, a atitude mais geral que consiste na submissão voluntária ou na cedência às reivindicações, às ameaças e aos apetites de conquista dos diversos pólos do islamismo mundial.

Fruto da “diminitude” voluntária, a Eurábia caracteriza, pois, a atitude e opções geopolíticas dos intelectuais e dos decisores ocidentais, em particular dos dirigentes europeus, que, por medo do inimigo totalitário de amanhã, o islamismo e o terceiro-mundismo revanchista, mas também pelos compromissos político-económicos que assumiram com os países islâmicos fornecedores de petróleo e de mão de obra, dedicam-se desde há vários anos a precaver a Europa de potenciais conflitos por meio de uma política de auto-submissão e de capitulação “ex-ante” relativamente ao mundo árabe islâmico.

Será no futuro a Europa “Dar al-islam”? – literalmente , “lugar do Islão”. Território no interior do qual a soberania e o poder político são directamente exercidos por muçulmanos. No dar al-islam, pode ser tolerada a existência de minorias religiosas não pagãs, desde que elas se submetam por completo ao poder temporal do Islão e paguem tributo. Para onde caminha o Velho Continente?

*del Valle, Alexandre. A islamização da Europa. 

6 de Fevereiro, 2010 Fernandes

Saramago recusa eventual encontro com o Papa.

A um eventual convite para participar no encontro que Bento XVI terá com personalidades da cultura portuguesa, na sua visita ao País, José Saramago diria não. O Nobel da Literatura explicou ao DN porquê. “Não temos nada para dizer um ao outro”, garantiu o escritor que recentemente se envolveu numa polémica com a Igreja Católica, com a obra Caim.

O escultor José Cutileiro, o escritor Vasco Graça Moura, e a poetisa Maria Teresa Horta são outros nomes da cultura nacional que manifestaram ao DN desinteresse pela iniciativa do Papa. (…) estas personalidades dizem não ter interesse no encontro que a 12 de Maio reunirá 1200 convidados no Centro Cultural de Belém. “Um encontro para dialogar faz-se com poucas pessoas. Com muitas, é um cocktail, não é um encontro que assegura a profundidade que o diálogo exige”, justificou Vasco Graça Moura. José Cutileiro explica o desinteresse com o seu ateísmo. “Sou completamente ateu. Para mim, este encontro não teria sentido.” Já Maria Teresa Horta, escritora e feminista, põe a questão ao contrário: “Qual seria o interesse da Igreja em incluir-me nesse encontro?”

A notícia:   http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1487206