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David Ferreira

26 de Junho, 2014 David Ferreira

Deus e futebol

O jogador está no centro da área. Desmarca-se para receber a bola. Sente uma leve brisa no ombro e atira-se ao chão. O árbitro apita. Grande penalidade. O jogador levanta-se, exultante, ergue os braços ao céu e agradece a Deus. Perante os protestos do jogador adversário que também olha para o céu e abana a cabeça, incrédulo, clamando inocência. Como é possível, meu Deus?!

Neste jogo da vida pode um Deus omnipotente acudir a todos os pedidos e orações dos que nele creem? Não pode. A concessão de um simples pedido, de um desejo ou de um sonho a um indivíduo em particular quebraria a ordem natural, o rumo aparentemente caótico dos acontecimentos, e provocaria demasiadas incoerências e injustiças. Nada mais faria sentido, sendo que o que nos faz sentido varia de acordo com a adaptação constante da autoconsciência ao plano de existência causal em que evoluímos.

É precisamente o resultado do desempenho dessa autoconsciência que permite a recompensa ao farsante e a consequente penalização ao inocente, ao mesmo tempo que converte a culpa em graça por intermédio de uma reconfortante réplica do ego projetada extrinsecamente, a que dá o nome de Deus, um super-eu.

Neste jogo mais arbitrário que de livre-arbítrio, o árbitro, o juiz, o que decide a verdade de um facto ou de uma ocorrência, somos todos nós. Os que experienciamos, os que ajuizamos. Sempre iludidos pelas aparências devido às nossas limitações físicas e sensoriais. E para repor a verdade e a justiça não precisamos de Deus. Apenas de tecnologia.

23 de Maio, 2014 David Ferreira

Previsão meteorológica

De acordo com vários líderes religiosos ortodoxos, as recentes inundações que assolaram os Balcãs foram provocadas pela vitória de Conchita Wurst no Fjesus facepalmestival Eurovisão da canção. Segundo estes, Deus terá enviado a chuva para relembrar as pessoas que não devem optar pelo seu lado mais selvagem.

Devido à preenchida agenda de Conchita, não param de chegar encomendas de embarcações aos estaleiros navais de todo o mundo.

22 de Maio, 2014 David Ferreira

A questão religiosa

Retirado de: “Almanaque Republicano” (http://networkedblogs.com/X58gQ)

JOSÉ D’ARRIAGA. “A Questão Religiosa”, Livraria de Alfredo Barbosa de Pinho Lousada (Largo dos Loyos, 50), Porto 1905, XIV+106 p.

Do Prefácio do autor, que, em vésperas da queda da monarquia, alerta para o verdadeiro inimigo da inteligência e do progresso:

« … Combatendo a reacção religiosa, não queremos attentar contra as crenças dos que a promovem e sustentam, mas trazer a paz e harmonia a todas as seitas por meio da tolerancia, que constitue a base fundamental das sociedades contemporaneas.

Não é este opusculo um grito de guerra, como o são as obras publicadas pelas associações catholicas: é mais um brado a favor da tranquillidade dos povos, tão perturbada n’estes ultimos tempos pela reacção religiosa […].

A campanha das associações catholicas consiste em guerrear nos paizes catholicos todas as religiões estranhas, oppondo-se ao livre exercicio dos seus cultos, e pedindo aos governos medidas de rigor contra ellas. Pretende manter em nossos dias os antigos fóros e privilegios da igreja catholica, os quaes foram origem do antigo regimen absoluto, e da intolerancia religiosa, que produziu os autos de fé, os carceres da Inquisição e cruzadas expurgatorias, etc.

A mesma reacção religiosa préga o exterminio dos que não pensam com a igreja catholica, dos que não acceitam seus dogmas e preceitos, dos livres pensadores, e de todos os que sahiram do gremio catholico. […]»

20 de Maio, 2014 David Ferreira

Pontos de vista

Na Igreja Ortodoxa russa, homens com barba que cantam de vestido afirmam que são contra homens com barba que cantam de vestido .

A coerência nunca foi apanágio das religiões…

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9 de Maio, 2014 David Ferreira

Por minha grande culpa

Disseste que Jesus morreu na cruz pelos nossos pecados. Mas quando eu te perguntei o que eram pecados, nunca pensei que fosses dedicar tanto do teu tempo a elucidar-me…

Ensinaste-me que Jesus tinha morrido pelos nossos pecados pois só assim alcançariamos a vida eterna. Isso significa que tu para além de mau professor foste um péssimo aluno.

29 de Abril, 2014 David Ferreira

Para o Islão fundamentalista, aprender é um ato criminoso

 

No dia 16 de abril cerca de 234 meninas entre os 16 e os 18 anos foram sequestradas da sua escola durante a noite, em Chibok, na Nigéria, enquanto se preparavam para os exames finais, tendo sido levadas em pequenos grupos para serem violadas. A maioria delas ainda se encontra desaparecida.

Embora nenhum grupo tenha reivindicado responsabilidade, acredita-se que a organização fundamentalista islâmica “Boko Haram” esteja directamente implicada.

O nome da organização, que se pode traduzir por – “A educação ocidental ou não-islâmica é um pecado “, tem como um dos seus objetivos impor a sharia e impedir todo o conhecimento científico que não esteja de acordo com os textos islâmicos, como o conceito da Terra esférica, a evolução ou o ciclo da água. A educação das mulheres é também proibida.

Este grupo tem um longo historial de violência na Nigéria, tendo já este ano sido responsável pela morte de cerca de 1.500 pessoas numa série de ataques contra escolas, mesquitas, vilas, instalações militares e áreas públicas.

Pode ler-se mais em: http://www.bbc.com/news/world-africa-27101714

14 de Abril, 2014 David Ferreira

Argumentos racionais e fé

Por:

“Bezerros de Ouro”,  em (http://bezerrosdeouroeoutrastentacoes.wordpress.com/)

 

Sobre os argumentos racionais serem bastante frágeis diante da fé de um crente convicto

 

A fé não pode ser derrotada por um argumento racional, porque a fé é a crença irracional em qualquer coisa, em alguém ou numa situação; ora se não é racional a razão não poderá ser encontrada na base do seu argumento, visto este ser de natureza diferente da avaliação que fazemos com os nossos sentidos. O argumento pela fé e o argumento pela razão estão em linhas de pensamento que nunca se irão encontrar.

Qualquer argumento racional é baseado na perceção que temos da realidade, naquilo que pode ser analisado com a visão, o olfacto, o tato, a audição e o paladar, auxiliado pela ciência e tecnologia. Um argumento pela fé é baseado numa crença ou num dogma, ou seja, naquilo que se acredita sem nenhum fundamento racional.

Duas pessoas, que nutrem um grande carinho por gatos, estão sentadas num banco de jardim falando calmamente da vida. Subitamente surge no seu ângulo de visão um gato preto de pelo particularmente bonito e brilhante. Uma das pessoas aprecia a pelagem do animal e tece elogios à sua elegância. A outra fecha os olhos, faz figas e reza uma oração propícia ao espantamento do azar, afinal era sexta feira, treze. Ambas tiveram a mesma perceção da realidade: viram um gato preto, só que uma delas descodificou um belo exemplar felino e a outra associou ao negro animal uma fonte de má sorte.

Na verdade, e relativo ao quadro anterior, qualquer argumento racional é bastante frágil perante a crença nos malefícios do gato preto. É que numa análise racional um gato preto é apenas um felino de pelagem preta em qualquer dia do mês. Numa análise pela crença um gato preto continua a ser um felino preto, mas tem mais uma coisa que é completamente irracional: é um veículo do azar particularmente às sextas feiras, treze.

Não há como analisar a má sorte contida no gato preto, pois ela, a má sorte, depende apenas do funcionamento psicológico das pessoas que acreditam que gatos pretos trazem azar.

A fé funciona da mesma forma.

12 de Abril, 2014 David Ferreira

É preciso matar esta tristeza

 

Por coincidência, e após vários dias a discernir sobre uma matéria que sempre me suscitou reflexão, eis que deparo com o texto de um grande escritor, de seu nome Baptista Bastos, que vem precisamente ao encontro da linha de pensamento que procurei reproduzir em breves palavras, e que pode ser lido aqui: http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3802752&seccao=Baptista

Abordando a questão com a tenacidade, a cultura e a experiência de vida que caracterizam o escritor, julguei não ser necessário alongar-me demasiado na leiga elucubração que me propus desenvolver, uma vez que o texto de Baptista Bastos reflete na perfeição muito do que pretendia dizer. Fica, contudo, o apontamento de um assunto que julgo ter relevância para um debate sério.

 

 

Vivemos tempos difíceis. A crise económica abateu-se sobre o país com a força de um tsunami deixando a descoberto as nossas centenárias fragilidades, habilmente varridas para debaixo do tapete da ilusão e da esperança ao longo de vários mandatos políticos excessivamente populistas ou escandalosamente interesseiros.

Não obstante as esparsas manifestações de desagrado e o sentimento de revolta que alimenta frívolas conversas de ocasião ou acesas discussões em fóruns ou blogs da internet, a sensação com que se fica deambulando pelas ruas é a de uma incapacidade quase congénita para reagir de forma eficaz à adversidade que nos anestesia o espírito e nos açaima a vontade, tão bem retratada no dizer de uma célebre figura pública – “O país aguenta mais austeridade? Ai aguenta, aguenta!”. Como se o soubesse. Como se este fado que assumimos e cantamos fosse um dado adquirido, um protótipo de destino traçado a priori para um indulgente desgraçadinho.

Somente agindo se reage. Só que nós reagimos como um peixe-balão – inchamos o peito e mostramos ao predador que não estamos para brincadeira mas ficamo-nos por aí, o peito inflado de ar, a suster a respiração, ansiando que não nos devorem, confiando na nossa capacidade de apneia. E nunca questionamos de onde nos vem essa capacidade ou inclusive que necessidade temos de constantemente a exercitar.

Interiorizámos o espírito de mártir, de exímio sofredor, um fardo obscuro e demasiado pesado que não raras vezes nos é apontado como característica digna de elogio apesar de nos condicionar a objectividade e a evolução.

A esta particularidade não estarão isentos de responsabilidade demasiados séculos sob o jugo do cristianismo, no nosso caso sob a vertente cristã em comunhão com a Igreja de Roma, cultivando uma experiência existencial demasiado assente no sofrimento, no julgamento, no arrependimento, no castigo, na aceitação acrítica do status de poder de quem inexorável e tiranicamente o define e, em particular, na adoração desprovida de racionalidade ao mito apocalítico da redenção e da salvação, fatores que moldaram uma identidade colectiva quase castradora que teima em emergir em períodos de maior dificuldade, embora se imponha ao imaginário social como reconfortante, otimista e esperançosa.

Apesar do sangue fresco injetado pelas recentes revoluções políticas e sociais, com destaque para o 05 de outubro de 1910 e para o 25 de abril de 1974, a transfusão que alvitrava rejuvenescimento nunca se chegou a concluir e os sintomas tendem a surgir a espaços como a recrudescência da malária. Há uma tristeza inatural que inexplicavelmente nos permeia a identidade sociocultural, tal como o olhar de comiseração das estátuas dos santos perpassa, condiciona e emociona o espírito dos crentes, reprimindo a liberdade do livre pensamento e comprometendo o espírito crítico necessário para a contraposição.

No mês em que se comemora a laxativa revolução dos cravos, sublevação adiada pela inanição colectiva e que nos libertou tardiamente de um longo inverno de opressão clerical fascista, urge refletir e repensar os objetivos capitais que estiveram na génese da mesma, sabendo nós de antemão que nenhuma revolução sobrevive eternamente em autofagia.

Todo o futuro se constrói sobre as ruínas do passado. E nada nos espera senão o futuro. É preciso matar esta tristeza!.

17 de Fevereiro, 2014 David Ferreira

Portugal. Um estado laico?

Fonte: DN de 17fev14.

Perante a impossibilidade legal de o Governo pagar um salário ao bispo das Forças Armadas – que já tem ao seu dispor gabinete, automóvel, motorista e secretária -, a solução encontrada foi a nomeação de D. Manuel Linda, que está reformado com 1429 euros, também para capelão-chefe da Igreja Católica. O titular do cargo passa a auferir 3518 euros e a decisão final cabe à ministra das Finanças.

D. Manuel Linda, nomeado bispo das Forças Armadas e de Segurança pelo Papa Francisco em outubro passado, reformou-se no mesmo mês e só poderá ser remunerado com autorização expressa das Finanças.

O prelado reformou-se como professor com uma pensão de 1429 euros. A sua situação de aposentado foi publicada a 9 de dezembro no Diário da República.

D. Manuel Linda admitiu existir um problema de legalidade quanto ao novo estatuto do bispo das Forças Armadas e de Segurança e a sua respetiva remuneração: “O problema económico também se põe, mas é muito secundário, porque a grande questão é legal: como ser reconhecido” pelo Estado e estar “autorizado a aceder às suas instalações”.

D. Manuel Linda, que entregou os papéis da reforma em dezembro de 2012, referiu que a Concordata entre o Estado e a Santa Sé é, em termos legislativos, de ordem superior à do decreto-lei que regulamenta o Serviço de Assistência Religiosa, pelo que a figura do bispo católico afeto às Forças Armadas deveria ter tido um reconhecimento que o Governo de então, socialista, não fez, adiantou.

Interrogado sobre a questão do limite de idade para aceder às fileiras (inferior aos 57 anos que tem) ou ser capelão militar (menor do que a permitida para chegar a bispo), D. Manuel Linda reconheceu em entrevista ao DN que “a omissão” legal que impede a sua remuneração como bispo das FA e de Segurança será ultrapassada com a nomeação para capelão-chefe, observando que “É um posto que está vago e deve existir, segundo a legislação” em vigor.

5 de Fevereiro, 2014 David Ferreira

Vaticano pressionado a entregar criminosos à justiça

http://www.publico.pt/mundo/noticia/onu-exige-ao-vaticano-prisao-imediata-de-todos-os-padres-pedofilos-1622443

“As Nações Unidas exigiram esta quarta-feira que o Vaticano “remova imediatamente” todos os padres que tenham abusado sexualmente de menores ou que sejam suspeitos disso, e que os entreguem às autoridades judiciais. Um relatório sem precedentes do Comité para os Direitos da Criança, apresentado em Genebra, concluiu que os abusos foram “sistemáticos” e pede à Igreja Católica que entregue os seus arquivos sobre abusos sexuais para que todos os casos sejam conhecidos, “até os escondidos”.”

Mais vale tarde que nunca.