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Carlos Esperança

4 de Agosto, 2017 Carlos Esperança

A solidão e a fé

A solidão é o cimento que cola o abandonado à fé, torna o proscrito crente, faz beata a pessoa e transforma o cidadão num trapo.

A religião é o colchão que serve de cama ao desamparado, o mito que se entranha nos poros do desespero, o embuste a que se agarra o náufrago. É o vácuo a preencher o vazio, o nada que se acrescenta ao zero.

O padre está para a família como o álcool para o corpo. Primeiro estranha-se, depois entranha-se e finalmente domina.

A religião é um cancro que se desenrola dentro das pessoas e morre com elas. Também metastiza e atinge órgãos vitais. Mas é dos joelhos que se serve, esfolando-os; da coluna vertebral, dobrando-a; e do cérebro, atrofiando-o.

A religião busca o sofrimento e condena o prazer. Preza o mito e esquece a realidade.

Um crente faz o bem por interesse e o mal por obrigação. É generoso para agradar a Deus e perverso para o acalmar. Dá esmola para contentar o divino e abate um inimigo para ganhar o Paraíso.

A religião vive da tradição, do medo e da morte. Começa como doença infetocontagiosa contraída na infância, transmitida pelos pais, através do batismo. O lactente é levado ao primeiro rito mais depressa do que às vacinas.

Depois, o medo, o medo da discriminação na escola, no emprego e na sociedade, leva a criança à catequese, à confirmação, à eucaristia e à penitência. De sacramento em sacramento, missa após missa, hóstia sobre hóstia, com orações à mistura e medo do Inferno, transforma-se um cidadão em marionete nas mãos do clero.

Na cúpula do catolicismo temos o Vaticano, um antro de perversão a viver à custa dos boatos sobre o filho de um carpinteiro de Nazaré e os milagres obrados por cadáveres de crentes de duvidosa virtude, à custa de pesados emolumentos.

O seu negócio é a morte que explora em ossos ressequidos pelo tempo, caveiras, tíbias e maxilares, pedaços de pele e extremidades de membros, numa orgia de horror e delírio.

É assim que a tradição, o medo e a morte continuam a encher os cofres do último Estado totalitário da Europa, que governa pelo medo e se mantém pela chantagem.

31 de Julho, 2017 Carlos Esperança

O Islão é pacífico

A raiva saudita.

14 jovens serão decapitados na Arábia Saudita por se manifestarem contra a monarquia. Entretanto, as potências que são parceiras comerciais deste regime têm um silêncio cúmplice.

30 de Julho, 2017 Carlos Esperança

Nem eu…

29 de Julho, 2017 Carlos Esperança

Naquele tempo… (crónica)

Naquele tempo, Deus não era ainda o mito. Era apenas mitómano, a gabar-se de ter feito o Mundo em 6 dias, quatro mil e quatro anos antes da era vulgar, nem mais, nem menos, e descansado ao sétimo.

Era um celibatário inveterado que inadvertidamente criara Adão e Eva no Paraíso, onde matava o ócio na olaria. Fez o homem à sua imagem e semelhança e a mulher a partir de uma costela do homem.

Mandou que se afastassem da árvore do conhecimento, ordem que Eva logo desprezou, tentada por um demónio que por lá andava. O senhor Deus logo os expulsou do Paraíso, recriminando a malvada e condoído do tonto que se deixou tentar.

Entretanto, na Terra, local de exílio, o primeiro e único casal logo descobriu um novo e divertido método de reprodução que amofinou o Senhor e multiplicou a espécie.

Deus era bastante sedentário, mas as queixas que lhe chegaram pelos anjos, um exército de alcoviteiros hierarquizados, decidiram-no a deslocar-se ao Monte Sinai onde ditou a Moisés as suas vontades. Ensandecido pelo isolamento e pela castidade veio ameaçar os homens e exigir-lhes obediência e submissão.

Após algum tempo, vieram profetas – vagabundos que prediziam o futuro –, lançando o boato de que o velho, tolhido pelo reumático, enviaria o filho para salvar o Mundo. Foi tal a ansiedade nas tribos de Israel que alguns logo vislumbraram, no filho da mulher de um carpinteiro de Nazaré, o Messias anunciado.

Com a falta de emprego, algum pó e líquidos capitosos à mistura, inventaram a história do nascimento do pregador com jeito para milagres e parábolas.

Puseram a correr que Maria fora avisada pelo Arcanjo Gabriel – o alcoviteiro de Deus –, de que, na permanente castidade, ficara prenhe de uma pomba chamada Espírito Santo.

Nascido o menino que nunca mijou, usou fraldas, fez birras ou fornicou, foi discreto na adolescência e dedicou-se cedo aos milagres e à pregação. Falava no pai e na obrigação de todos irem e ensinarem as coisas que dizia. Acabou mal e culparam os judeus, desde então os suspeitos do costume. Claro que JC também era judeu, mas isso é irrelevante.

Sabe-se que foi circuncidado, que era exímio em aramaico, língua em que discutiu com Pôncio Pilatos, que apenas sabia latim, sem necessidade de intérprete.

Quando se lixou, crucificado, esteve três dias provisoriamente morto e, depois, subiu ao Céu levando o prepúcio que tantas discussões teológicas havia de gerar. Os judeus ainda hoje são odiados porque o mataram, mas há quem diga que isso foi uma calúnia dos que se estabeleceram com a nova religião e quiseram suprimir a antiga. Ódio de trânsfugas!

26 de Julho, 2017 Carlos Esperança

Boa pergunta

Artigo integral

“Por que é aceitável criticar o Cristianismo mas não o Islão?”, diz ícone ateu após evento cancelado

Richard Dawkins havia sido convidado para evento em Berkeley, na Califórnia, mas acabou vetado por discurso “ofensivo” contra muçulmanos

Dawkins foi vetado em Berkeley. Ele não foi o único Divulgação /Richard Dawkins Foundation
Um evento com a presença do cientista Richard Dawkins na universidade de Berkeley foi cancelado por causa de declarações “ofensivas” dele contra muçulmanos, o que reacendeu o debate sobre a falta de liberdade de expressão em uma das mais conceituadas dos Estados Unidos.

O evento havia sido agendado pela rádio KPFA, de Berkeley, para agosto. A ideia era que Dawkins falasse sobre seu livro de memórias, “Brief Candle in the Dark”. Mas o evento foi cancelado depois que alguns tuítes de Dawkins com críticas ao Islã foram enviados aos organizadores do evento.

Dawkins, o mais famoso expoente do chamado neoateísmo e autor do best-seller “Deus, um delírio”, tem um longo histórico de críticas à religião em geral, e ao Cristianismo especificamente.

Nos últimos anos, entretanto, com a ascensão de grupos terroristas muçulmanos, ele tem centrado boa parte de seus ataques no fundamentalismo islâmico.

“Nós não sabíamos que ele tinha ofendido – em seus tuítes e outros comentários sobre o Islã – tantas pessoas. A KPFA não apoia discursos ofensivos”, disse a rádio, em um comunicado.

Em um dos tuítes citados pela KPFA para justificar sua decisão, Dawkins afirma que o Islã é “a maior força para o mal no mundo de hoje”.

Dawkins, por sua vez, criticou a decisão da rádio, que ele disse ser sem fundamento.

“Eu sou conhecido como um crítico frequente do Cristianismo e nunca foi desconvidado por causa disso. Por que dar um passe livre para o Islã? Por que é aceitável criticar o Cristianismo mas não o Islã?”, disse ele.

O autor também disse que, longe de atacar os praticantes do Islã, entende que os próprios muçulmanos são as primeiras vítimas da cultura do Islamismo militante.

Reações

O cancelamento do evento com Dawkins provocou outras reações. “A decisão é intolerante, mal-fundamentada e ignorante”, escreveu Steven Pinker, autor e professor de Harvard, em carta à radio.

V.S. Ramachandran, conceituado neurocientista da Universidade da Califórnia, também protestou: “Dawkins é a pessoa mais corajosa e intelectualmente honesta que eu conheço. Concorde ou não com suas posições, você não pode questionar a integridade dele”, afirmou.

Histórico

Nos últimos meses, a tradicional universidade de Berkeley, na Califórnia, tem ocupado o noticiário por causa de sua restrição a palestrantes que destoam do discurso politicamente correto predominante na instituição.

Em abril, a universidade cancelou uma palestra da escritora conservadora Ann Coulter após protestos de estudantes de esquerda.

Em fevereiro, o mesmo havia ocorrido com o jornalista de direita Milo Yiannopoulos, cuja palestra também acabou cancelada em meio a atos de violência de manifestantes.

A transformação de Berkeley em um espaço hostil a certos tipos de palestrantes é mais surpreendente porque a universidade californiana esteve na vanguarda da luta pela liberdade de expressão nos campi americanos na década de 60.

26 de Julho, 2017 Carlos Esperança

Até no budismo…

O envolvimento de um monge budista num escândalo que envolve sexo, dinheiro e até abuso sexual de menores pôs a nu a crise que o budismo vive na Tailândia. Tudo começou com um vídeo com muito “bling bling”.

A imagem não parecia fazer sentido: monges budistas, com as habituais cabeças rapadas e túnicas alaranjadas, sentados nos bancos de couro de um jacto privado e a exibirem acessórios de luxo, como óculos escuros e uma mala Louis Vuitton.

25 de Julho, 2017 Carlos Esperança

Viagens sem retorno

Adolescente de 16 anos que se uniu ao “Estado Islâmico” e foi presa no Iraque diz estar arrependida. Ela fugiu ano passado de sua casa, em cidade do leste da Alemanha, após ter se convertido ao islamismo.Ela se arrepende de ter se juntado ao “Estado islâmico” (EI), segundo reportagem publicada neste domingo (23/07) pelo jornal Süddeutsche Zeitung. “Eu quero ir para casa, para minha família”, afirmou a adolescente alemã Linda W., em Bagdá. dessas muitas armas, do barulho.” De acordo com a reportagem, a alemã tem um ferimento de bala na coxa esquerda e precisa de tratamento médico para um ferimento no joelho direito.

24 de Julho, 2017 Carlos Esperança

O carpinteiro José e a pomba – Crónica

Naquele tempo, em Nazaré, aparava tábuas um carpinteiro, com delongas, que a crise da construção civil estava para durar. A cidade regurgitava de taumaturgos, pregadores, profetas e mendigos, os tempos eram difíceis, e urgia fazer pela vida.

José, na pacatez de quem se habituara a esperar pelas encomendas, ruminava o desgosto da miséria em que caíra, descendente que lhe diziam ser do rei Salomão, personalidade que ficava bem em todas as árvores genealógicas, mas não mitigava a fome.

Às vezes soía o carpinteiro abandonar as alfaias do ofício e entrar sorrateiramente em casa para solicitar à mulher o cumprimento das obrigações matrimoniais. Demovia-o ela por mor da enxaqueca que a apoquentava, da dor de dentes que lhe provocava a cárie do segundo molar ou do estado de impureza que invocava. E lá voltava o carpinteiro para o ócio da oficina que as encomendas tardavam em chegar e era inútil a faina.

Quando um dia esperava a compreensão da mulher ouviu dela o anúncio da gravidez, um milagre que a própria não sabia explicar e ele aceitou mal, apesar da conversa que a casta esposa tivera com o anjo que trazia o correio do Paraíso, de nome Gabriel, e que tanto anunciava a gravidez a uma virgem, mulher de um carpinteiro judeu, como ditaria em árabe, séculos depois, a vontade de Deus a um rude condutor de camelos.

José, na sua infindável resignação e melancolia, ensimesmado, refugiava-se na oficina, a pensar na vida. Um dia poisou-lhe nas tábuas por aparar uma pomba. Pegou na plaina e arremessou-lha com tal força e pontaria que a pomba, a sangrar do bico, logo se finou.

Chegou o anjo Gabriel, enfurecido, a sacudir as asas e a levantar poeira, a avançar irado para o carpinteiro. Este, calmo e decidido, impediu o anjo de falar.

– Não te metas na minha vida, são contas velhas.