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Carlos Esperança

13 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Alá é grande

Pasmo com o silêncio cobarde que paira sobre as imagens de civis americanos a arderem dentro de um carro, nas ruas de Falluja, enquanto a multidão atirava pedras e gritava «Alá é grande!», para depois arrastarem os cadáveres e os desmembrarem.

Foi uma orgia de sangue e nojo a repetir, alguns anos após, a sorte de militares soviéticos a quem serraram os membros no Afeganistão, com os mesmos gritos entusiásticos da população.

Parece que o facto de serem americanos num caso e comunistas no outro deve merecer silêncio; que, por ser injusta a guerra, deve absolver-se a bestialidade; que o facto de ter a fé na origem merece alguma compreensão.

São cruzados de sinal contrário a tentarem conduzir o mundo de regresso à idade média. Há nos rostos desesperados da população faminta a mesma boçalidade dos cristãos medievais a delirar com a queima de hereges e bruxas.

Aliás, o islamismo é um plágio do cristianismo a que falta o tempero da cultura helénica. Nem sequer foi contaminado pelo direito romano, bastando-lhe a boçalidade dos mullahs a interpretar o Corão.

A história ensina-nos que, sempre que um Estado se liga a uma religião, esta tende a apoderar-se daquele. É preciso proteger o Estado da religião e, sobretudo, esta de si própria, para preservar a democracia.

As religiões têm o monopólio da rede de transportes que conduzem ao Paraíso. É urgente que ninguém seja obrigado a percorrer tais caminhos.

Os lacraus segregam veneno, as religiões produzem a fé.

O ateísmo é a vacina que pode libertar a humanidade.

12 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Bush agradece a Deus, com todos os joelhos no chão

Do Diário de Notícias de hoje (pg. 14) transcrevo o seguinte:

O Presidente dos Estados Unidos garantiu, ontem, ser correcto o que os americanos estão a fazer no Iraque. A afirmação de George W. Bush foi feita no final da missa de Páscoa na capela de Fort Hood, Texas. «O que estamos a fazer no Iraque é correcto. Hoje de joelhos, agradeço a Deus por proteger as tropas americanas», disse Bush que interrompeu as suas férias no rancho de Crawford para se deslocar à base militar onde assistiu à missa da Páscoa. M.R.F.

Comentário: Não era preciso tanto. Com a protecção que Deus lhes tem dado escusava de se pôr de joelhos.

11 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Deus não suporta procissões

«A chuva encharcou a Semana Santa sevilhana. O verdadeiro dilúvio que se abateu sobre a cidade na quinta e sexta-feira ensopou crentes e turistas, provocou inundações e reteve dentro de portas as imagens sagradas e milhares de penitentes que deviam ter desfilado em procissão. A decepção foi abismal.» – lê-se no Diário de Notícias, de hoje.

«Os mais resistentes, mesmo encharcados, aguardaram algumas horas até saberem se o cortejo ia prosseguir caminho ou voltar para casa. Nem uma nem outra alternativa se concretizou pois a delicadeza das imagens não permitiu arriscar mais uma chuvada. A difícil decisão foi tomada pelo conselho superior de irmãos da confraria e provocou ondas de desolação na multidão. Um pouco por toda a cidade e por Espanha, o cenário repetiu-se: umas procissões não saíram da igreja, as que o fizeram foram obrigadas a pedir resguardo».

Comentário: Às vezes o céu diz aos crentes para terem juízo.

9 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Bem-aventurado Escrivá de Balaguer – um patife que chegou a santo

O servo de Deus monsenhor Escrivá de Balaguer, depois de percorrer os degraus de Venerável e Beato chegou a Santo em 6 de Outubro de 2002 graças a dois milagres aprovados – o primeiro no campo da oncologia e o segundo do foro da dermatologia.

O apoio ao ditador Franco e a obsessão por dinheiro, poder e honrarias podem ter arredado o taumaturgo da bem-aventurança mas não lhe tolheram a canonização.

O virtuoso bispo do Funchal, D. Teodoro de Faria, e o impoluto ministro de Estado e da Defesa, Dr. Paulo Portas, destacaram-se entre os portugueses bem formados convidados a deslocar-se a Roma para a cerimónia. Não terão deixado de rezar para que se esqueçam as ligações da Prelatura ao mundo da alta finança e os inúmeros escândalos financeiros em que se viu envolvida no passado ( Rumasa, Matesa, Banco Ambrosiano, etc.).

A tentativa de criar o governo teocrático universal sonhado por Paulo, a sua aliança com a Mafia internacional e a pseudo maçonaria financeira, ou o abuso indiscriminado do negócio milagreiro, documentados por Juan G. Atienza (Los Pecados de la Iglesia), são acusações para esquecer.

Aspectos negativos da personalidade de Escrivá, referidos pela colaboradora e secretária de muitos anos, Maria del Carmen Tapia, no livro “Uma vida na Opus Dei”, e as denúncias de Robert Hutchison em “O Mundo Secreto do Opus Dei” desvanecem-se com o tempo.

Regozijemo-nos, pois, por ter sido Monsenhor Escrivá “o justo entre os justos mais rapidamente elevado aos altares em toda a história da Igreja”, 17 anos exactos após a sua morte ( Ob. citada de J. Atienza, Pág. 342), êxito posteriormente ultrapassado por madre Teresa de Calcutá.

1750 sacerdotes e 80 mil fiéis – um exército de prosélitos sob a omnímoda autoridade de um prelado que dispõe de amplos recursos financeiros e sólidos apoios políticos em todo o mundo – não deixarão de proclamar a santidade do “Pai”.

Quem não puder beneficiar da graça divina por intercessão do novo santo, ao menos que se previna contra os perigos da Prelatura. Ela anda aí.

9 de Abril, 2004 Carlos Esperança

As igrejas e as flagelações



As televisões serviram, uma vez mais, as flagelações e crucificações anuais levadas a cabo nas Filipinas, nesta sexta-feira que dizem santa. Um pobre diabo católico, apostólico, romano, fez-se crucificar pela 14.ª vez das 15 de que fez promessa. Agradece uma graça que deus lhe concedeu – cura de familiar –, graça obtida a troco de tão cruel sofrimento. Que raio de Deus e que raio de crentes!!

É obsceno o espectáculo e abjecto o sofrimento, mas têm muita clientela piedosa e despertam sentimentos de fé entre os autóctones, enquanto JP2 se baba de gozo em silêncio devoto e asperge devotos no Vaticano. Esta impudica crucificação nas Filipinas, bem como as flagelações de numerosos católicos masoquistas, com chicotes com vidros nas pontas, remetem-nos para um filme recente, muito apreciado pelo Vaticano, pela exaltação da dor, exibição de sangue e fortes contornos anti-semitas.

E eu que acho mais exaltante a Vida de Brian contada pelo grupo inglês Monty Pithon do que a de Cristo morbidamente encenada por Mel Gibson!

Comparadas com estas manifestações cruéis, as digressões de joelhos nos santuários marianos são benignas demonstrações de fé.

Recordo que santo Escrivá de Balaguer se flagelava, deliciado. Não duvidando do seu merecimento, repugna-me que se louve o sacrifício, se estimule o fanatismo e se abençoe o martírio.

Que diferença há entre as autoflagelações dos xiitas e as dos católicos?

8 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Nuno Álvares Pereira a caminho da santidade



Com o forte empenhamento do patriarca Policarpo e de todos os que se sentem humilhados com a fraca criação de santos portugueses, o condestável D. Nuno (há muito usado como argumento dos pais castelhanos para persuadirem as crianças a comer a sopa) vai finalmente ser canonizado – lê-se no jornal Região de Leiria.

«Segundo “Santos de Cada Dia”, fez voto de castidade na adolescência, indo a Santarém mandar afiar e restaurar a espada… Até que, mais tarde, “unicamente aspira a engrandecer a sua alma com os mais edificantes actos de devoção e caridade.

Segundo as “Chronicas dos Carmelitas”, são atribuídas ao futuro santo as seguintes curas: 24 paralíticos, 21 cegos, 21 surdos e 18 doenças internas. Embora no exercício ilegal de medicina, faz frente à eficiência dos hospitais S. A.

Porém, somente em 1918 Sua Santidade Bento XV viria a conferir-lhe os atributos de beato. 6 de Novembro é o dia consagrado ao Beato Nuno de Santa Maria», segundo a amável informação prestada pelo meu amigo Manuel Maça, de Leiria.

6 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Novo contingente da GNR partiu para o Iraque

Após os ferimentos que atingiram militares portugueses estacionados no Iraque o 1.º ministro Durão Barroso declarou «que os militares da GNR sabiam perfeitamente que iam para uma missão deste tipo» e acrescentou «graças a Deus foram apenas ferimentos ligeiros». Ao ouvi-lo fiquei sem perceber se quis incriminar Deus na malfeitoria ou se quis atenuar-lhe a responsabilidade.

Seja como for não podemos esquecer que o primeiro contingente levou uma imagem de «Nossa Senhora do Carmo» que goza de muita devoção entre os militares da GNR e de grande influência perante «o divino mestre» e, de facto, até ao dia 4 do corrente mês, tinha sido de uma eficácia absoluta. Todavia, quiçá por falta de revisão, foi impotente para proteger completamente os 3 portugueses feridos.

Sabendo-se que àquela latitude é difícil encontrar onde fazer uma revisão cuidada e não levando a unidade um padre da ICAR para actuar como mecânico, teme-se que a dita imagem passe a comportar-se como mero placebo.

5 de Abril, 2004 Carlos Esperança

LAICIDADE BÍBLICA NA ESCOLA PÚBLICA ?



À Escola está cometida a importante função institucional de ensinar e instruir, de formar e educar as novas gerações da nossa sociedade e, segundo creio, todos estaremos de acordo quanto a essa sua especial e particular – ainda que não exclusiva – responsabilidade social, cultural e política.

Mas, falemos claro : no essencial, à Escola cumpre ensinar a ciência e não difundir a fé, fomentar o conhecimento e não celebrar a crença, estimular a pesquisa e não exercer a catequese, proporcionar a crítica e não estabelecer o dogma ; tal como também lhe compete formar para a cidadania – isto é, educar para a abertura e a tolerância culturais, para a inclusão e a solidariedade sociais, para a intervenção e a participação cívicas – e não orientar para a adesão a qualquer sistema ideológico ou filosófico, para a filiação política partidária ou para a convicção e a devoção religiosa.

É nesse sentido claro e positivo que a « laicidade » se assume na Escola e é pelas largas possibilidades formativas que ela permite e favorece que o « laicismo » se afirma enquanto princípio essencial à caracterização de um ensino moderno, plural e democrático, de um ensino efectivamente capaz de veicular – e até de impulsionar – o projecto da sociedade plural, aberta e inclusiva que hoje pretendemos edificar.

Se a laicidade visa impedir que o « espaço público » – isto é, o « espaço de todos » – possa ser de alguma forma controlado por um qualquer grupo social dominante ( tenha ele uma matriz ideológica, religiosa ou outra ) e, por essa via, visa assegurar uma efectiva possibilidade universal de acesso ao seu uso e fruição, recear que o laicismo se possa transformar numa « religião dominante » constitui um completo absurdo : o Estado deve efectivamente ser laico e garantir a laicidade do espaço público, precisamente para permitir que a sociedade possa ser plural e que, na sua totalidade, dele possa plenamente beneficiar.

Mas a separação entre Estado e Igreja, apesar de claramente consagrada na Constituição da República, não constitui a nossa tradição ( ! ) e essa situação explica – mas não justifica – a forma como os católicos portugueses se arrogam um estatuto especial na nossa sociedade ( cf : “Concordata” e “Lei da Liberdade Religiosa” ) e persistem em manter uma acção prosélita contínua e intrusiva no nosso quotidiano.

A recente iniciativa de promover a cópia manuscrita da Bíblia nas nossas escolas públicas constituiu mais um triste exemplo daquela prática.

Luis Manuel Mateus ( Presidente da Direcção )

4 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Aterrorizem os inimigos. Alá é grande e Maomé o seu profeta

«O líder radical xiita Moqtada Sadr apelou aos seus apoiantes para «aterrorizarem os inimigos» (…) depois dos confrontos em várias cidades iraquianas, que fizeram pelo menos 24 mortos» – lê-se na TSF.

O Iraque foi invadido por gente pouco recomendável, não o esqueçamos, e ao arrepio do direito internacional, mas merece registo a bondade do apelo «aterrorizem os inimigos», feito por um fanático do islão.

Os que julgam o terrorismo um epifenómeno de grupos radicais minoritários esquecem o potencial de violência que as religiões encerram. O terror é uma arma que a fé cultiva com obstinada violência. Devemos à progressiva secularização das sociedades a paz e a democracia.

Os crentes bons sonham com a conversão dos outros à sua religião (única verdadeira), os maus sonham com a eliminação. É este proselitismo totalitário que faz das religiões um perigo a solicitar um combate cultural profundo e permanente.

A cólera divina é por definição mais obscena do que a dos homens.

4 de Abril, 2004 Carlos Esperança

O islão é uma religião de paz? Madrid outra vez.

Enquanto o islamismo não tiver uma «revolução» laicizante que o contenha e uma «reforma» que lhe introduza um pouco de senso, o carácter troglodita do Corão vai continuar.

Três presumíveis terroristas acabam de imolar-se em Madrid, matando um polícia e ferindo 11 entre os que os cercavam.

Iniciaram, assim, mais depressa, a viagem para os rios de mel em cujas margens os aguardam as 70 virgens que os mullahs lhes prometem. Pena é que tenham arrastado consigo um dos que arriscaram a vida para combater o terrorismo.

Um povo que não crê em si próprio facilmente se refugia no seio de um deus qualquer. Os três terroristas eram desgraçados, vítimas de uma religião obsoleta, convencidos da grandeza de Alá e de que Maomé é o profeta dele.

É urgente começar o combate social e cultural contra o islão para evitar que a islamofobia crescente se vire contra os crentes embrutecidos pelo clero reaccionário e fanático.

A redenção não se faz pelo sofrimento como pretendem as religiões.