22 de Abril, 2004 Carlos Esperança
Faltam 48 horas para termos uma nova beata
A cumplicidade com a ditadura salazarista evitou à ICAR a necessidade de exibir prodígios para se fazer respeitar. A polícia política e um numeroso exército de sotainas garantiam-lhe tranquilidade e asseguravam-lhe o futuro.
Com o advento da democracia e a lenta e inexorável hemorragia da fé, o recurso aos milagres era inevitável. Após numerosas mortes de peregrinos a caminho de Fátima, sem qualquer milagre, foi tentado o primeiro na pessoa de D. Emília dos Santos, na área da locomoção, por intercessão do Francisco e da Jacinta. D. Emília morreu completamente curada, poucos meses depois, a andar. O milagre tinha sido confirmado por 3 médicos diferentes: Dr. Felizardo Prezado Santos, Dr.ª Maria Fernanda Brum (esposa) e a filha de ambos (todos ligados ao santuário de Fátima).
Depois deste milagre bem sucedido foi a vez de se adjudicar outro à venerável Alexandrina Maria da Costa que no próximo dia 25 vai ser promovida a beata. O milagre não foi nada de especial, limitou-se a fazer uma cura, na área da neurologia, a uma portuguesa que vive na Suíça, mas a vida da devota é um espanto.
Foi visitada em Balazar pelo próprio Jesus Cristo que lhe disse «Eu quero que, logo após a tua morte, a tua vida seja conhecida, e há-de o ser, farei que o seja. Chegará aos confins do mundo», donde se conclui que JC foi a Balazar e sabe que o mundo tem confins.
Alexandrina esteve de cama 31 anos e «durante os 13 anos e 7 meses finais da vida, em jejum (apenas tomava a comunhão) e total anúria» – lê-se na Visão de 22 de Abril e na sua biografia, elaborada para prestar provas para beata.
Apesar de não ter estudos e de ser muito pobre, soube defender a virgindade, ver os males do comunismo e evitar à alma o fogo do inferno.
Agora, já com alguma experiência, espera-se que os 32 candidatos portugueses comecem a obrar milagres para aproveitar este bom momento em que a indústria dos milagres ameaça crescimentos exponenciais.
O padre Abílio Cardoso, antigo secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, foi nomeado pároco de Balazar. Com grande experiência na área comercial, como reitor da basílica de Nôtre Dame de Fátima, em Paris, espera-se dele que faça esquecer que Alexandrina foi possuída pelo demónio, várias vezes exorcizada, e dê particular relevo aos êxtases arrasadores de virgem e devota.