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Carlos Esperança

12 de Maio, 2004 Carlos Esperança

Paulo III, o pontífice que aprovou a regra dos jesuítas



Sobre a Ordem dos Jesuítas sabe-se muito. Do seu imenso poder, das suas riquezas fabulosas, dos ódios que cultivaram e suscitaram, das boas e más relações que mantiveram com sucessivos papas. Mas pouco se diz sobre o piedoso pontífice que aprovou tão piedosa Ordem ? Paulo III.

Paulo III, o pontífice que aprovou a regra dos jesuítas, não era um exemplo de virtudes. Inundou a cristandade de jubileus e indulgências, era obsessivo por dinheiro, lutou por terras e dignidades, criou e vendeu cargos eclesiásticos, não esquecendo o barrete cardinalício para dois netos seus ainda bem jovens. Claro que tinha sido escolhido papa por ter sido o aspirante que mais compensações financeiras ofereceu aos eleitores.

Nesse tempo até o Espírito Santo, que é suposto iluminar os cardeais, era subornável.

11 de Maio, 2004 Carlos Esperança

A bíblia será um livro recomendável?



O Evangelho de Marcos tem cerca de 40 versículos explicitamente anti-semitas, o de Lucas 60, o de Mateus cerca de 80 e o de João, cujo ódio aos judeus era particularmente intenso, 130, a que podem acrescentar-se cerca de 140 de Os Actos dos Apóstolos, o que dá cerca de 450 na contabilidade organizada por Daniel J. Goldhagen.

11 de Maio, 2004 Carlos Esperança

Dicionário informático (em elaboração).

Computador – Animal que computa. Não pensa nem fala. Mas faz as coisas bem feitas

Copy paste – Método moderno de reprodução sem malícia. Por enquanto usa-se apenas para imagens e texto. Quando se lhe introduzir o prazer poderá ser alargado a outras utilizações.

Deus – A mais inútil das ferramentas para navegar na Internet.

E-mail – Carta que pode ser mandada a muita gente ao mesmo tempo, na certeza de que poucos a lêem e raros lhe dão importãncia. Não carece de envelope, selo, nexo ou ortografia canónica.

Excel – Senhor que descobriu uma folha enorme e que tornou a aprendizagem da aritmética obsoleta.

Hacker – Corredor de obstáculos que detesta o exercício físico.

Hardware – Nome genérico pelo qual são conhecidos os electrodomésticos da informação no seu conjunto.

Internet – Catedral do conhecimento onde os aprendizes não encontram o caminho de entrada e os viciados não descobrem o de saída.

Microsoft – Espécie de Modelo/Continente à escala planetária onde as mercearias, as hortaliças e os detergentes são substituídos pelo Windows, Explorer, Outlook, etc. e o Sr. Bill Gates é o Belmiro daquilo tudo.

NET – (Fam.) V/ Internet.

Online – Dom da ubiquidade; meio de transporte que permitiu a Santo António estar ao mesmo tempo em Pádua e em Lisboa (o que foi mentira), mas permite aos ateus conversarem através do MSN Messenger.

PowerPoint – Indivíduo que se dedicou a tornar agradáveis as palestras para disfarçar o conteúdo.

Rato – Animal de plástico com uma única pata esférica e duas asas, também chamadas botões, onde se encontra o cérebro.

Site – Lugar onde os que sabem encontram o que não precisam e os outros não sabem procurar o que lhes faz falta.

Software – Conteúdo do hardware.

Vírus – Agentes infecciosos que atacam a memória, produzem cegueira, loucura e morte dos ficheiros. Obrigam o utilizador a dizer obscenidades e a consultar o Administrator. São, no entanto, indispensáveis à manutenção dos postos de trabalho dos criadores de antivírus.

Word – Empregado da Microsoft que escreve textos e lhes dá um aspecto agradável mesmo quando só contém banalidades.

10 de Maio, 2004 Carlos Esperança

Se o exótico dirigente repudiar a Europa, a África ganhará um respeitado régulo.



No dia 9 de Maio deste ano da Graça teve lugar o X Congresso do PSD/Madeira. O Diário de uns Ateus não ficou indiferente à efeméride, com o bailinho da Madeira a repetir-se e os papelinhos laranja a inundarem a cabeça dos congressistas pela 35.ª vez .

Há menos tempo no cargo do que Fidel de Castro, Alberto João Jardim sucedeu a si próprio e ameaçou: «Se Deus me der vida e saúde estou para continuar». Assim, se a opção estiver disponível, o vitalício Alberto João vai eternizar-se.

Entusiasmado, Dias Loureiro, presidente do Congresso Nacional do PSD, manifestou o desejo de que Portugal se transformasse numa imensa Madeira. Mas, o que poderia ter sido interpretado como um acto hostil a Portugal, não passou de uma amabilidade para com o anfitrião. Já quando afirmou que «é difícil encontrar no mundo outro lugar onde a mão de Deus e do homem tenham trabalhado em tanta sintonia», ficou a dúvida se foi para acusar Deus ou para desculpar o sátrapa da Madeira.

Um susto ficou a pairar sobre a Europa quando Alberto João Jardim declarou: «Em 2008 vamos ter de decidir se nos interessa continuar na União Europeia ou não, (…)». Apesar das nuvens negras que esta ameaça lança sobre o futuro da Europa fica-nos a consolação de saber que a Madeira, ainda que deixe de ser a região mais despótica da Europa pode transformar-se numa das mais liberais do continente africano e com o mais antigo e experiente governante.

Se o exótico dirigente repudiar a Europa, a África ganhará um respeitado régulo.

8 de Maio, 2004 Carlos Esperança

O exorcismo da Celeste



Deus e o Diabo partilham os mesmos territórios. O habitat de um é o do outro. São duas faces da mesma moeda, a assegurarem o ganha-pão dos clérigos.

Ultimamente têm aparecido padres exorcistas a tirar o demo do corpo de pessoas possessas. Vejo que a técnica não evoluiu nos últimos cinquenta anos. Por isso deixo aqui uma crónica que publiquei em tempos e que mantém plena actualidade.

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Em terras da Beira, depois da guerra, a gratidão para com a senhora de Fátima, pela afeição a Portugal, estendia-se ao senhor presidente do Conselho por nos ter livrado do conflito. No Cume sobrava piedade e faltava comida. Estavam no fim os anos quarenta e os portugueses longe de começarem a ser gente.

A Celeste morava ao cimo do povo, sozinha, e cismava que se matava. Via-se que não regulava bem da cabeça e adivinhava-se a fome que a apoquentava. Suspeitaram os vizinhos de mau olhado e a ti Catrina, calhada nas benzeduras para tal moléstia, já a tinha ido visitar com outras mulheres embiocadas no xaile e os rostos sumidos na copa de enormes lenços pretos. Das conversas delas nada se disse mas ouviu-se na rua a ladainha:

«Dois to deram, três to tirarão,

foi S. Pedro e S. Paulo e o apóstolo S. João

Sant’Ana pariu Maria, Maria pariu Jesus,

assim como isto é verdade,

livre este corpo de ares, olhares e todo o mal

em louvor de Sant’Ana e Santa Iria…

padre nosso, ave-maria…»

Muitos padre-nossos e ave-marias depois, sem abrandar o mal, as mulheres mais velhas concluíram que deviam ser espíritos que atenazavam a bendita alma da Celeste, tão temente a Deus que ela era, mas nestas coisas de espíritos ruins são estes que escolhem a morada e, embora a oração lhes dificulte a entrada, está provado que não é intransponível a barreira.

A adensar a suspeita ouvia-se na habitação, durante a noite, o barulho de máquina de costura, que não havia, a trabalhar, a perturbar o sono e a aumentar a angústia. À porta juntavam-se pessoas vindas da igreja a ouvir o som que os espíritos produziam. Os poucos que não ouviram, apesar da atenção e do silêncio, conformaram-se com a deficiência auditiva e renderam-se à maioria.

O senhor padre pode ter desconfiado do diagnóstico, o sr. António Bernardo dizia que ela não batia bem da bola, podia até ser dos espíritos, a senhora professora aconselhou um médico, que disparate, o que sabe um médico destas coisas e onde é que o há, mas o povo na sua infinita sabedoria já tinha o veredicto, eram espíritos, só podia ser, falava-se de uma avó falecida há muitos anos, a voz tinha sido reconhecida, faltaram-lhe algumas missas ao trintário na encomendação da alma, não se perde nada em benzer a casa e deixar algum latim – conformou-se, acossado, o padre Pires –, dizem-se as missas em dívida e logo se verá.

A Celeste é mulher e o destino das mulheres serem possuídas, os espíritos malignos aproveitam e, depois de entrarem, são difíceis de expulsar. É um combate para senhores párocos, ou mesmo para um reverendíssimo bispo se as posses da vítima e a malignidade o aconselham. Pouco avezado a tais pelejas, mas com habilitações canónicas e compleição adequada à luta, bem se esforça o padre a desalojá-los. Quem julgue que a força da cruz e do divino devem bastar não conhece os espíritos e o furor que transmitem às mulheres possuídas, levando à exaustão o exorcista que não raro precisa de várias tentativas para se fazer obedecer. Fracassa e fica extenuado, à primeira, o padre Pires, valendo-lhe a gemada que o aguarda com vinho e açúcar, enquanto a ceia e o breviário lhe não retemperam as forças e devolvem a serenidade.

A Celeste não melhora. Continua a ouvir vozes que desconhece, definha. Alguns dias após, no regresso do Carapito, onde tinha ido levar o viático a um moribundo, volta o padre Pires à peleja com o maligno. Pode ser que na vez anterior se tenha entupido o hissope, avariado o crucifixo ou faltado à água a bendição, quem sabe, o senhor prior não costuma partilhar as dúvidas, se dúvidas assaltam o ministro de Deus, isto é um incréu a pensar, a força da fé move montanhas, sempre ouvi dizer, a Celeste pode ter perdido a fé com a fraqueza, e sem fé não adianta, é um esforço inglório, o certo é que o senhor padre volta a entrar naquela casa, se pode chamar-se assim ao sítio, mal nunca faz, senhor eu não sou digna de que entreis na minha morada, isto é uma forma de dizer, a Celeste refere-se a Deus que está em toda a parte, mas quando vem acompanhado do seu representante há-de infundir maior respeito, as pessoas humildes dizem estas coisas, o senhor padre mergulha bem o hissope, asperge-o com vigor, desenha cruzes, vai-se ao demo com o latim e as mãos, põe as pessoas a rezar o terço que a irmã Lúcia recomenda contra o comunismo, que também resulta com os espíritos, tudo obra do demo, deixa a reza para os paroquianos e sai da refrega exausto à procura da gemada com vinho, açúcar e nódoas para a batina, sem saber se os espíritos encurralados no corpo frágil obedeceram à ordem de expulsão, onde resistiam acossados à parafernália de alfaias sagradas e pias intimações.

As pessoas esperam na rua alheias ao perigo de serem apanhadas para refúgio dos espíritos em fuga. Nessa noite a máquina de costura inexistente permanece silenciosa e quieta, calam-se as vozes das almas penadas, a Celeste dorme bem pela primeira vez em muitos dias, depois da canja que lhe levaram. Se os espíritos não saíram estão debilitados.

A Celeste, com pouco alento, é certo, volta à horta e à igreja, o exorcismo resulta. Finou-se algumas semanas depois, completamente curada e liberta de espíritos malignos.

8 de Maio, 2004 Carlos Esperança

A Igreja católica e o nazismo



A Eslováquia teve um padre católico Presidente nazi, Tiso, que foi executado pelos crimes cometidos, em 1947.

Portugal e a Espanha tiveram dois excelentes católicos, Salazar e Franco, abjectos ditadores que sempre foram dedicados a Hitler e à Santa Madre Igreja.

Pio XII impediu a publicação de Humani Generis Unitas, a encíclica anti-racismo, ainda não promulgada, do seu antecessor Pio XI.

Pio XII excomungou todos os comunistas do mundo em 1949 e nem um único nazi ou o próprio Hitler que nasceu católico. Em Agosto de 1943 ainda Pio XII exortava as autoridades italianas para manterem as leis raciais, leis que na Eslováquia serviram para deportar judeus para Auschwitz com a cumplicidade da igreja católica autóctone.

A suspeita de que a ICAR beneficiou do ouro que os assassinos em série croatas roubaram às vítimas judias e sérvias e possa ter ido para o Vaticano, mantém-se graças à recusa deste em permitir o acesso aos seus arquivos, ao contrário do que fez o Governo Suíço, em relação aos seus bancos.

Nos primeiros dias de Maio de 1945, o cardeal da Alemanha, Bertram, ao saber da morte de Hitler, não quis abandoná-lo, ordenando que em todas as igrejas da sua arquidiocese fosse rezado um requiem especial, nomeadamente «uma missa solene de requiem em lembrança do Führer».

JP2, que não perdeu tempo a calar o teólogo suíço Hans Küng ou o teólogo americano Roger Haight, progressistas, demorou até 1993 para reconhecer Israel, reconhecimento formalizado em 1994. Ainda em Maio de 1948 o L’Osservatore Romano, o jornal que repudiou a atribuição do Nobel da literatura a José Saramago, defendia que a «Terra Santa e os seus locais sagrados pertencem à cristandade».

A Polónia de JP2 tinha, antes da guerra, cerca de 4,5 milhões de judeus; Calcula-se que restem lá (incluindo todos os que chegaram provenientes de países ocupados pelos Alemães) apenas 10 mil.

O que terá pensado este fabricante de santos da tragédia que então se desenrolou à sua volta na sua bem amada Polónia Natal?

7 de Maio, 2004 Carlos Esperança

Notas piedosas

G.N.R. – Os militares do primeiro contingente tiveram apenas feridos ligeiros, graças à senhora do Carmo que os acompanhou, adequadamente benzida. Rendida pela senhora de Fátima, está a decorrer um ensaio aberto sobre a eficácia comparada das duas santas.

Iraque – As sevícias praticadas pelos invasores sobre os prisioneiros é a prova irrefutável da superioridade moral da civilização cristã e ocidental sobre o islão.

Intercâmbio Universitário – O Opus Dei recebe ayatollahs do Irão para regerem um curso sobre «Igualdade Feminina» na Universidade de Navarra e, por sua vez, os padres da prelatura dirigem um seminário sobre a virtude da tolerância durante a próxima peregrinação a Meca.

Fátima – Os folhetos distribuídos, apelando ao voto nos partidos da Direita, devem ter sido da autoria da senhora de Fátima, que em tempos levou a Lúcia a visitar o Inferno onde lhe mostrou um conterrâneo republicano que não ia à missa.

Nuno Álvares Pereira – Está em curso o processo de canonização, sem necessidade de adjudicação de qualquer milagre. Segundo D. José Policarpo, Urbano VIII fez uma excepção para quem há mais de 200 anos era prestado culto e reconhecida, pelo povo, a santidade.

Alexandrina de Balasar – Depois de ter passado os últimos 13 anos e 7 meses de vida, sem comer nem beber (alimentando-se apenas de hóstias consagradas), mantem a mesma dieta, após a beatificação.

Moçambique – Os bispo católicos acham as campanhas pelo uso do preservativo «enganosas» e «em grande parte responsáveis» pelo aumento dos casos de sida, exortando à abstinência sexual. No entanto não se pronunciam sobre os benefícios para a alma em furar os preservativos.

6 de Maio, 2004 Carlos Esperança

É tão grande a devoção dos peregrinos que nem reparam nos sinais do céu



Portugal tem sido preterido na desenfreada criação de beatos e santos com que JP2 tem conquistado a clientela.

Dos 477 santos e 1377 beatos promovidos no actual pontificado só 3 beatos foram adjudicados a Portugal apesar de ser português o burocrata encarregado das contratações, D. José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos. É bem verdade que santos da casa não fazem milagres.

E poucos fizeram tanto pela santidade. Durante 48 anos os portugueses passaram fome, eram analfabetos e julgavam que viviam no Paraíso. E quase todos rezaram muitos terços pela conversão da Rússia e pela longevidade dos governantes!

Milagres não têm faltado. A D. Mariana Cascais fez voto de castidade para ir para o Governo e foi. Paulo Portas prometeu uma vela à senhora de Fátima se chegasse a ministro dos militares e chegou. Durão Barroso prometeu acreditar em Deus se entrasse em S. Bento e entrou. Bagão Félix e Celeste Cardona prometeram rezar com muita devoção se se aguentassem como ministros e aguentaram-se. Ninguém duvida de que só a ajuda divina conseguiu tais milagres.

Mas quanto a santos, continuamos a zero. Tantas almas devotas que serviram com zelo a União Nacional, a Câmara Corporativa, os Tribunais Plenários, a PIDE e outras beneméritas instituições e nada. Nem o cardeal Cerejeira serve para beato? nem o maj. Silva Pais, que teve uma alta condecoração atribuída por Pio XII, chega a santo?

Portugal está prejudicado. Apesar das promessas, não vai a tempo de recuperar o atraso. E ainda nem um santo lhe foi atribuído.

Que hão-de pensar os peregrinos que vão em bandos a caminho de Fátima, suportando a inclemência do Sol, a brutalidade da chuva e a chacota dos automobilistas! Que se habituam ao cheiro pestilento do suor, aos edemas nos pés, às dores nas costas! Que suportam, sem um queixume, sem uma vacilação da fé, sem uma folga nas rezas, as longas caminhadas!?

São estas pessoas, que nem pedem milagres, que se limitam a pagar promessas, a cumprir rotinas e a desejar que haja uma vida melhor, são estas pessoas, eternas sofredoras, que assim se vêem privadas do sonho de uma vida – um santo genuinamente português!.

São estes devotos que se revêem no Francisquinho, mais dado à contemplação mística do que à frequência escolar, que rezam à Jacintinha com maior devoção que a obsessão desta em evitar os pecados; são este imenso exército de crentes que ainda se batem por uma fé cada vez mais anacrónica, que anseiam por ver um papa, que exultam durante a liturgia, que se vêem privadas do espectáculo que daria sentido às suas vidas – a canonização de um santo com nome português!?

Não é justo. Nem se queixam de que só três dos 1377 beatos e 477 santos que este pontificado já conta no activo tenham sido atribuídos a Portugal!

Um rosário, um pouco de pão, alguma água e o desejo de que o comunismo desapareça da face da Terra são o suficiente para ciclicamente rumarem a Fátima.

Por tudo isto estes peregrinos bem mereciam mais alguns beatos e ao menos um santo verdadeiro. O Vaticano bem podia reduzir o vergonhoso défice com que este cristianíssimo País se encontra representado no coro celestial, bem pode conceder a graça de anunciar a boa nova a quem tanto reza e tão pouco pensa – um santo português.

5 de Maio, 2004 Carlos Esperança

O Iraque vai de mal a pior

A tortura usada pelas forças da coligação que invadiram o Iraque era a nódoa que faltava à alegada superioridade moral da civilização de que se reclamam.

O islão entrou em declínio após a última grande potência islâmica – o Império Otomano – e atingiu o seu ponto mais baixo no primeiro quartel do séc. XX com a colonização pelo Ocidente de grande parte do mundo árabe.

Recentemente a frustração pela pobreza e subdesenvolvimento, apesar dos amplos recursos energéticos, agravada pelo fracasso militar em relação a Israel, agravou o ressentimento e a fé.

O laicismo, imposto à Turquia por Mustafa Kemal Ataturk, que ergueu sobre os escombros do Império Otomano, está ainda longe da consolidação.

Os clérigos em vez de modernizarem o Islão islamizam a modernidade num eterno retorno ao obscurantismo.

A persistência do problema da Palestina é mais uma acha na fogueira do ódio que consome o Médio Oriente. Ariel Sharon e a administração Bush procuram agravar as coisas. Fazem mal tudo aquilo de que são capazes e da pior forma.

No Iraque continuar a ocupação é agravar o desastre, sair é apressar a tragédia. Derrubou-se uma ditadura laica, apoiada por sunitas, que oprimia os xiitas, para criar um estado teocrático onde os xiitas não prescindem de oprimir todos e, em particular, os sunitas.

Deus não é propriamente um entusiasta da democracia e os clérigos são sempre contra.

Se uma só religião fosse verdadeira não eram todas falsas.