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Carlos Esperança

19 de Novembro, 2017 Carlos Esperança

O cardeal e a sexualidade

O atual bispo de Lisboa, Manuel Clemente, licenciado em História, cardeal por herança do direito adquirido por bula de 1737, que não ficou barata ao reino, parece ter obtido a mitra, o báculo e o anelão, mais por razões pias do que por inteligência ou bom senso.

Não tendo um bispo titular qualquer ascendência sobre outro de diocese diferente, foi na qualidade de presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) que o dr. Clemente se pronunciou sobre o sacerdote da diocese do Funchal, que assumiu a paternidade cujo mérito lhe coube.

Diz o cardeal que o padre pode exercer o múnus, desde que renuncie a viver com a mãe da criança, de onde se conclui que o desempenho sexual não elimina o direito ao alvará canónico, apenas a coabitação com a mãe ou o conhecimento público. Como hipocrisia, não foi mera declaração pia, foi a exegese da doutrina católica.

O homem a quem o PR, fiel à fé e alheio à laicidade, beija a mão, afirmou ainda “ser completamente desaconselhável a entrada de jovens homossexuais nos seminários.” A discriminação, por motivos sexuais, de jovens ou idosos, é inadmissível num emprego profano, e torna-se ridícul e inútil o requisito heterossexual com interdição do exercício. É como sujeitar um animal carnívoro a uma dieta vegetariana.

Só faltou pronunciar-se sobre a sexualidade das freiras onde a jurisprudência canónica é parca. Apenas recordo uma decisão que forçou freiras de uma abadia, onde as gestações surgiram de violações, a optarem entre a entrega das crianças e a saída do convento.

Ao ouvir o Sr. «D. Manuel José Macário do Nascimento Cardeal Clemente», nome que o direito canónico lhe confere, para gáudio profano, quem pode resistir à recordação da paródia à «Ceia dos Cardeais»?

– …, Cardeal!

18 de Novembro, 2017 Carlos Esperança

O ridículo não mata

É (ainda) isto que escondem das massas crentes, que os alimenta e se alimentam de obscurantismo, dogma, medo e servidão!

Foto de Telmo Vaz Pereira.
Telmo Vaz Pereira

A IGREJA DOS “PRÍNCIPES” CONTRA O PAPA FRANCISCO
– UM VÍDEO INIMAGINÁVEL E QUASE IRREAL

O vídeo que este post apresenta é, talvez, a mais condensada e simbólica representação da oposição conservadora ao Papa Francisco e seu projecto. A cena aconteceu na nova Basílica do Santuário de Fátima, em Portugal. O personagem é o ultraconservador cardeal americano Raymond Burke, líder da oposição a Francisco.

São 14min15 impressionantes, e o vídeo pode ser visto clicando no link que deixo mais abaixo, no final.

Mais da metade do tempo dedica-se a mostrar o cardeal sendo paramentado, em pleno altar com pompa medieval – o vídeo começa quando a vestição e tomada de hábito de Burke já havia sido iniciada –, o que leva a crer que a montagem completa talvez se tenha prolongado por mais de 10 minutos.

O ambiente da cena oscila entre o surreal e o macabro, algo como um filme dos anos 1970/80 sobre a realeza decadente. O “príncipe” cercado por uma corte de homens de cenho cerrado, vestido com capas negras ou púrpuras, algo como um retrato em negativo da klu klux klan, sem os capuzes.

Aos 3min25 há uma cena para a qual peço a vossa melhor atenção, difícil de acreditar que tenha acontecido, depois de todos os escândalos de pedofilia e abuso de menores da Igreja: um menino talvez entre 10 a 12 anos de idade, leva ao cardeal seu barrete cardinalício, um chapéu que é um símbolo de caráter evidentemente fálico do poder dos hierarcas da Igreja. O menino ajoelha-se diante de Burke um sem-número de vezes e é orientado a beijar uma das pontas do barrete e da capa magna — um verdadeiro fetiche dos conservadores – e não deixa de ser simbólico que um homem, adulto, fique todo o tempo conduzindo o menino no ritual de ajoelhar e beijar variadas vezes.

Este é o projecto de uma Igreja imperial e demasiado conservador que a oposição a Francisco tem a apresentar ao mundo. Chega a ser inacreditável que eles tenham ainda alguma expressão. E que gigantesca diferença com a extrema simplicidade de Francisco e sua Igreja pobre com os pobres!

Uma descrição magistral desse projecto foi resumida em apenas um parágrafo que cito mais abaixo, por um dos maiores nomes da Igreja católica contemporânea, o teólogo dominicano e cardeal francês Yves Congar, falecido em 1995 e considerado um dos maiores eclesiólogos do século XX que abriu a eclesiologia católica ao ecumenismo, e que sofreu por mais de 30 anos perseguições e punições de toda ordem pela Cúria romana e seus prepostos.

Foi escrita em 11 de outubro de 1962, em pleno Concílio Vaticano, do qual Congar foi talvez o principal protagonista, em confronto com os Burke da época, liderados pelo cardeal Ottaviani e pelo reacionaríssimo arcebispo Marcel Lefebvre – os dois, como os conservadores de hoje, repudiaram o Concílio em menor ou maior grau.

Leiam a descrição de Ives Congar que transcrevo já a seguir e constatem como ela antecipou aquela cena de Burke no Santuário de Fátima, que verão no vídeo:

“Vejo o peso daquilo a que nunca se renunciou, do período em que a Igreja se comportava como um senhor feudal, quando detinha poder temporal, quando o papa e os bispos eram lordes que tinham suas cortes, eram mecenas de artistas e pretendiam uma pompa igual à dos Césares. A isso a Igreja nunca repudiou em Roma. Deixar o período Constantino para trás nunca fez parte de seu programa”.

Vídeo : https://www.youtube.com/watch?v=bC-AqvxX6-o

Área de anexos

17 de Novembro, 2017 Carlos Esperança

A beata hipocrisia

Cardeal de Lisboa admite padre com filho mas sem “vida dupla”

Padre Giselo Andrade quer continuar à frente da paróquia, depois de ter assumido paternidade de bebé

O Cardeal-Patriarca de Lisboa defendeu esta quinta-feira que a igreja não deve abandonar o celibato dos sacerdotes católicos nem abrandar a sua apologia, considerando que esta é uma questão que diz respeito à doutrina, ao culto e à cultura.

16 de Novembro, 2017 Carlos Esperança

A alma, essa desconhecida

A alma é um furúnculo etéreo que infeta o corpo dos crentes. É um vírus que sobrevive à morte do hospedeiro e migra para a morada perpétua que os clérigos lhe destinam.

A alma é um bem mobiliário sujeito a imposto canónico e que, à semelhança das ações de empresas, hoje também desmaterializadas, exige taxa de ‘gestão da carteira celestial’.

No mercado mobiliário as ações são transmissíveis e negociáveis. Representam avos do capital social das empresas. A sua clonagem é criminosa e leva o autor à prisão, exceto quando o Vaticano está envolvido e nega a sua extradição, como sucedeu ao arcebispo Marcinkus, que JP2 protegeu, após a falência fraudulenta do Banco Ambrosiano.

Quanto à alma, há suspeitas de haver um número ilimitado em armazém, o que exaspera os clérigos, intermediários do negócio, com o planeamento familiar. Não se sabe bem se a alma vai no sémen, está no óvulo ou surge depois da cópula, um ato indecente para tão precioso e imaculado bem.

Os almófilos andam de joelhos e põem-se de rastos sem saber se a alma se esconde nas mitocôndrias, nas membranas celulares, no retículo endoplasmático ou no núcleo e nos cromossomas, sem nunca admitirem que seja o produto de reações enzimáticas.

Ignoram se já tem algum valor no ovo, no embrião em fase de mórula ou no blastocito. Juram que aparece no princípio, sem saberem bem quando e onde está o alfa, ou quando surge Deus a espreitar pelo buraco da fechadura e a lançar aos fluidos a alma que escapa ao entusiasmo de quem ama.

Após o aparecimento dos rudimentos da crista neural, só às 12 semanas o processo de gestação dá origem ao feto e falta provar que a alma, embora medíocre, se encontra nos anencéfalos, ou seja de qualidade a que resulta de violação ou incesto.

A alma é um produto da religião destilado por sacerdotes no alambique da fé, através de um processo alquímico.

15 de Novembro, 2017 Carlos Esperança

Ateísmo

14 de Novembro, 2017 Carlos Esperança

A ICAR continua vesga, mas a fábrica da santidade não para

O papa Francisco agradeceu hoje o “testemunho exemplar” dos 60 espanhóis vítimas de perseguição religiosa e assassinados durante a guerra civil, que foram beatificados hoje numa cerimónia que decorreu no Palácio Vistalegre, em Madrid, Espanha.

“Todos foram mortos pela perseguição religiosa que ocorreu durante a guerra civil espanhola entre 1936 e 1937. Devemos agradecer a Deus por este grande presente destas testemunhas exemplares”, disse Francisco após a oração dominical.

Diário de uns ateus – Um dia também serão considerados mártires os bispos catalães assassinados pelos franquistas e que durante décadas permaneceram ignorados.

13 de Novembro, 2017 Carlos Esperança

As crenças e os crentes

Quem acreditou que o Sol girava à volta da Terra não foi, por isso, malfeitor. A ignorância da física quântica ou da energia atómica não torna ninguém indigno ou mau.

Quem crê que a Virgem Maria saltitou de azinheira em azinheira à procura da Lúcia ou que a beata Alexandrina de Balazar passou anos sem comer nem beber, em anúria, e a alimentar-se de hóstias consagradas, não comete um crime.

Quem reza ao franquista Escrivá de Blaguer, convicto de que o fascista se tornou santo com três milagres obrados em defunção, e lhe implora outro, não é delinquente.

Entendamo-nos de uma vez por todas. Os crentes são pessoas iguais aos ateus. O direito a acreditar na virgindade de Maria ou na virtude da bruxa da Lousã é um direito que os ateus defendem. Não significa que a bruxa não deva responder por burla e Fátima denunciada a uma associação de defesa dos direitos dos consumidores.

O que urge denunciar nas religiões ou no ateísmo, se for caso disso, é a publicidade enganosa, a coação psicológica, os terrores que infundem, os ódios que acicatam, as guerras que fomentam. Nenhum ateu persegue os crentes, apenas combate o que julga ser mentira.

A minha posição para com os crentes é a mesma que tenho para com os drogados. Tolerante com estes e vigoroso contra quem produz e trafica a droga.

As hóstias que cada um deglute, as missas que consome, os terços que reza, as ladainhas que debita, o incenso que aspira ou a água benta com que se borrifa, são direitos que os países livres consagram e defendem. E defendem ainda o direito de mudar de religião e o de abdicar de qualquer uma.

As Igrejas não podem nem devem, na minha opinião, servir-se do aparelho de Estado, ameaçar, perseguir ou perturbar a opinião pública no seu proselitismo. E, naturalmente, têm o direito de combater o ateísmo, pela palavra, o mesmo que assiste aos ateus para desmascarar a burla religiosa.

É do confronto dialético de posições divergentes que nasce a luz, não é da palavra de Deus bolsada pela voz de clérigos ou vertida na violência dos livros sagrados.

11 de Novembro, 2017 Carlos Esperança

Vaticano – antro poluído

Jornalista revela contas milionárias dos Papas e abusos sexuais no Vaticano

Gianluizi Nuzzi / Facebook

O jornalista italiano Gianluizi Nuzzi.

“Dinheiro, sangue, sexo”. Eis os três pilares em que assenta o novo livro do jornalista italiano Gianluizi Nuzzi que, nos últimos 10 anos, tem investigado a história do Vaticano e que avança com novas revelações, envolvendo contas milionárias de Papas e abusos sexuais.

Vale a pena ler mais…

9 de Novembro, 2017 Carlos Esperança

A Estónia e a religião

«Igreja ortodoxa localizada na Cidade Velha em Tallinn. Ela foi construída em 1894, como influência do Império Russo.

De acordo com a mais recente pesquisa de opinião pública do Eurostat, em 2005, apenas 16% dos cidadãos estonianos responderam que “Acreditam que exista um Deus”, enquanto que 54% responderam que “Acreditam que exista algum tipo de espírito ou força vital” e 26% que “Não acreditam que exista qualquer tipo de espírito, Deus, ou força vital”.

Isto, segundo a pesquisa, faria dos estonianos o povo menos religioso de entre os então 25 membros da União Europeia. Historicamente, contudo, a Estónia foi um baluarte do Luteranismo devido a sua forte ligação com os países nórdicos. Durante o período de russificação, muitos camponeses foram convertidos à Igreja Ortodoxa, mas poucos permaneceram após a queda dos czares em 1917 e a lei de liberdade religiosa de 1920.

Uma pesquisa do Instituto Gallup, de 2009, indica que os estonianos são o povo menos religioso do mundo. Apenas 16% da população considera que a religião desempenha um papel importante em suas vidas.»

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