22 de Julho, 2020 Carlos Esperança
O Arcanjo Gabriel foi fotografado
Descobriu-se finalmente quem ditou o Corão a Maomé.
Descobriu-se finalmente quem ditou o Corão a Maomé.
Por
Onofre Varela
Abraão, o patriarca das três principais religiões monoteístas, teria vivido entre 1812 aC e 1637 aC. Foi exaltado por Moisés que só aparece na estória bíblica 500 anos depois. Hoje, Abraão é venerado por mais de metade da Humanidade, como pai espiritual da fé (cerca de 2000 milhões de Cristãos, 1300 milhões de Muçulmanos e 15 milhões de Judeus). Oriundo da família de Sem (filho de Noé, e de cujo nome deriva o termo “Semita”), teria nascido em Ur, cidade da Suméria a sul de Bagdad, na Mesopotâmia, local do nascimento da civilização cerca do ano 5000 aC.
Consta que Deus lhe falou em sonhos, incentivando-o a partir para Canaã (actual Israel), cujas terras lhe seriam oferecidas para nelas fundar a sua nação, e aí poderem nascer, crescer e trabalhar, os seus descendentes. Canaã é a terra dos Cananeus, cujo termo significa “comerciantes activos”, o que conjuga com as actividades profissionais dos judeus.
As estórias que se contam de Abraão não passam de lendas. Uma delas diz que nasceu numa gruta, e um dia depois de nascer já tinha envelhecido um mês, e fez 12 anos quando completou o seu primeiro aniversário! Talvez por isso (diz-se) viveu 175 anos!… Outra lenda diz que Abraão, levado pela fé que tinha na existência de um único deus, terá destruído figuras das divindades e de ídolos com culto no seu tempo. O rei Nimrod ficou furioso e condenou-o à morte na fogueira. No momento em que ateavam fogo à lenha sobre a qual Abraão estava amarrado, formou-se um enorme lago que neutralizou as chamas transformando-as em peixes, e estes libertaram o condenado. Ainda conforme a narrativa bíblica, Abraão estava velho e não tinha filhos. A sua mulher Sara não engravidava, o que impedia o povoamento daquelas terras que Deus programou para serem o país da sua prole.
Na sua viagem pelo Egipto, Abraão combinou com sua mulher dizerem-se irmãos, para que não zombassem de um homem velho ter uma mulher nova e, eventualmente, decidirem matá-lo para ficarem com a mulher. Foi assim que o faraó soube que Sara não era sua esposa, e gostando da sua beleza tomou-a para si. Mas Deus, que não dorme, através do sonho (o modo de difundir notícias preferido pela divindade) alertou o faraó para o parentesco de Sara com Abraão. Ao acordar, o faraó reuniu a corte, chamou Abraão, confessou não saber que Sara era casada e, devolvendo-a ao marido, declarou não lhe ter tocado sexualmente, mas expulsou o casal do Egipto.
Abraão e Sara regressaram a Canaã, mas na companhia de Agar, uma escrava egípcia que os servia. Confrontada com a impossibilidade de ser mãe, Sara sugeriu a Abraão que fizesse um filho na criada Agar, cumprindo os desígnios de Deus. Assim se fez, e Agar terá sido a primeira barriga de aluguer da história! Mas as coisas não são assim tão fáceis quando o espírito feminino entra em funções específicas de confronto com uma rival, como se verá na próxima edição.
(Continua)
(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)
OV
O majestoso edifício bizantino dos Anos Trinta do século VI, Aya Sophia, um templo milenar, foi sucessivamente igreja cristã ortodoxa, cristã latina, mesquita e finamente museu, desde 1931.
A transformação em museu, onde permaneceram os minaretes, foi a herança de Atatürk, o desejo de promover a neutralidade religiosa e a secularização da Turquia. Foi o legado do criador da Turquia do século XX na vigorosa exigência da modernização do País.
A neutralidade religiosa da mais significativa e sumptuosa obra da arquitetura bizantina foi, durante quase 90 anos, símbolo da separação da Igreja e do Estado. Não consentiu o proto Califa Erdoğan, na ânsia de re-islamizar a Turquia, o símbolo tão emblemático do secularismo no País que quer dedicar à sua religião, uma religião onde o direito é ainda a alegada vontade do profeta que Atatürk definiu como ‘beduíno analfabeto e amoral’.
Devagar, a separação das Igrejas e do Estado, marca civilizacional e democrática, vai cedendo ao proselitismo religioso. A nossa civilização está em perigo. Recentemente voltaram a ser em maior número os países que vivem sob regimes autoritários.
De Erdogan espera-se sempre o pior. O papa Francisco declarou no último domingo, dia 12, que está “muito entristecido” com a decisão da Turquia de transformar a basílica de Santa Sofia de museu em mesquita.
À semelhança a UNESCO, o papa Francisco manifestou o sentimento generalizado na defesa da civilização e da cultura.
Foi pena o Vaticano não ter censurado o bispo de Córdova, Espanha, ao registar como propriedade da diocese, em março de 2006, como ‘Santa Igreja Catedral de Córdoba’, a colossal mesquita, património da Humanidade (1984), com o valor patrimonial de 30 €, em afronta à decência, num roubo ao Estado espanhol e numa provocação ao Islão.
A Europa esqueceu a sangrenta Guerra dos Trinta Anos e a Paz de Vestefália. Até o seu estudo vai caindo em desuso.
Por
JAIME GRALHEIRO — Advogado, escritor e intelectual – Sócio e militante da Associação Ateísta Portuguesa (falecido)
Porque é ateu?
Essa é uma boa pergunta para uma resposta complexa. É que ninguém se torna ateu de um momento para o outro, por obra e graça de um “milagre” do Mafarrico.
Só há dois caminhos para se chegar ao ateísmo: ou se é educado, desde criança, num clima de agnosticismo religioso ou da pura ausência da ideia de Deus (o que será muito difícil num mundo onde a larga maioria se diz crente), ou se atinge o ateísmo através de um longo processo de confronto e negação. Foi esse o meu caso.
Como quase todas as crianças portuguesas nascidas na primeira metade do século XX no Portugal rural de então (o das “aparições” de Fátima) eu fui educado por meus pais dentro da máxima popular religiosa “graças a Deus muitas; graças com Deus poucas”.
De qualquer maneira nunca fui à catequese da Igreja. Na minha aldeia (de Macieira) não havia igreja nem escola. Por isso, meus pais, mediante a paga de um alqueire de milho e de pouco mais, entregaram o cultivo da minha ignorância religiosa ao cuidado de um homenzito (meio anão), conhecido pelo Pedro, que não sei onde se tinha especializado nas questões do “creio em deus padre todo-poderoso…”, nos atos de contrição e de atrição, na salvé-rainha e nos mandamentos (de Deus e da Igreja) e em todos os outros atos de fé, que o “padre-nosso” e “avé-maria” eram coisas corriqueiras que a gente ia aprendendo em casa com a reza do terço e as “ações de graças”.
Quando saí lá da serra e debaixo das saias de minha mãe, fui para dois colégios de padres. Aí o Deus do Pedro de Macieira foi-se interiorizando em mim, tornando-se caminho e guia que eu levava muito a sério com muitas medalhas penduradas do pescoço, muitas missas e comunhões, persignações antes de todas as refeições, da deita e da levanta, tudo misturado com muitas orações e rezas. Para cada ato da vida eu tinha uma oraçãozinha adrede.
Nesta situação de Deus como caminho e guia me mantive até aos meus 26 anos, altura em que iniciei a minha vida profissional, tomando então contacto com a vida dura dos camponeses e dos outros “servos da gleba”. Esse contacto, acompanhado com o “abre-olhos” dos meus dois patronos profissionais, que eram dois democratas agnósticos de férrea tempera, fez-me ver que o tal Deus que eu tinha arvorado como “caminho e guia” não passava do grande aliado do Salazarismo, oprimindo o Povo português. Mais: que as próprias aparições de Fátima se encaixavam na grande encenação político-religiosa do Regime (“Fátima Desmascarada”, como mais tarde vim a verificar).
Esta constatação fez-me olhar com mais cuidado para a História em geral e para a História da Igreja Católica, em particular, onde o retrato do tal Deus não aparecia nada favorecido. Ele tinha sido o mentor e responsável pelas Cruzadas, pela “santa” Inquisição, pela morte de Savonarola e pela perseguição de Galileu, para não falar em todas as guerras de muitos trinta anos…
Esse Deus cuja Igreja pregava o Amor era, historicamente, o Deus da violência, do terror e da morte. Era o Deus de Constantino que, desde o Concílio de Niceia (325), o pôs ao seu serviço. Serviço esse que manteve e reforçou com o Concílio de Trento (1546).
No fim da década de 50 e início da de 60 do século passado a Igreja Católica tornara-se para mim na grande aliada e defensora dos valores salazaristas, posição esta que ficou demonstrada com a expulsão do bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, que se atreveu a dizer não à omnisciência e omnipotência de Salazar (1958).
A convocação do Concílio Vaticano II pelo papa João XXIII, em 1962, com o objetivo de a Igreja fazer o seu aggiornamento democrático, foi para mim uma fonte de esperança. Comigo estavam todos os chamados “Católicos Progressistas”.
Nesta esperança passei a militar ativamente na Oposição Democrática, desde o início dos anos 60.
Procurando dar uma base teórica à minha praxis política eu lia tudo, desde Emmanuel Mounier, às encíclicas Mater et Magistra e Pacem in Terris, os documentos conciliares, as intervenções de D. Hélder da Câmara e dos bispos de Medelim, do padre e guerrilheiro colombiano Camilo Torres e de Che Guevara. Lia tudo, desde as revistas O Tempo e o Modo, Seara Nova e Vértice até aos Cuadernos para el Dialogo e ao Novell Observateur, desde o teólogo Bernard Haring aos teólogos protestantes, para não falar nos padres portugueses Felicidade Alves e Mário da Lixa. Tudo devorava de uma literatura mais ou menos clandestina que me chegava à socapa da PIDE: ele eram os escritos políticos da Oposição Democrática, a que se juntavam os textos clandestinos dos socialistas e marxistas europeus, complementados pelas leituras de Jorge Amado (Os Capitães da Areia, Jubiabá, Capitão da Esperança e Os Subterrâneos da Liberdade); ele eram os escritores russos do fim do século XIX e princípio do século XX; ele era Antero de Quental das Conferência do Casino; ele era Soeiro Pereira Gomes, Alves Redol e Álvaro Cunhal; ele era José Cardoso Pires, Luís Stau Monteiro, Bernardo Santareno e Luís Francisco Rebelo (dos quais me tornei depois amigo e camarada) ….
Ao mesmo tempo tomava contacto com Fátima Desmascarada de João Ilharco, a Fabricação de Fátima de Prosper Alfaric, para além da Cova dos Leões de Tomás da Fonseca; lia, ainda, A Origem do Cristianismo de Iakov Lenstaman, A Fábula de Cristo de Guy Fau, Cristo Nunca Existiu de Emilio Bossi e O Deus que a Igreja nos Vende de António Calvinho. Estas leituras continuaram com outros autores até ao presente.
Quando Abril (de 74) já vinha perto (em 1969) abandonei um “Curso de Cristandade”, deixando, a partir de então, de ter qualquer contacto com a igreja oficial.
Embora me continuasse a declarar como “católico progressista”, a verdade é que, com a Revolução de Abril, eu tomei consciência de que, efetivamente, dentro de mim se tinha operado um grande salto qualitativo, e que, pela mão de Cristo, eu tinha chegado ao Marxismo!
A partir de então, Deus passou a ser uma invenção humana com vista a dar resposta às perguntas a que não se sabia responder; Cristo, a tal 2ªa pessoa da santíssima trindade, a ter existido historicamente, era (só) mais um herói que, à semelhança de Espártaco (que viveu mais ou menos no seu tempo histórico) morreu em luta pela libertação do seu Povo.
De resto, antes dele, já o filósofo grego Sócrates havia sido condenado à morte pela cicuta, por se atrever a ensinar os jovens atenienses a pensar…
Resumindo: a partir de certa altura (e não sei quando, pois essa “altura” foi um longo e doloroso processo histórico) dei-me conta de que, afinal, eu deixara de ser um idealista (como todos os bons católicos) e passara a ser um empedernido e convicto materialista dialético.
Nesta posição filosófica a existência de Deus deixou de fazer qualquer sentido pois se tornara numa inutilidade racional. Para mim, Deus deixou de ser preciso, pois, sem ele, eu atingira uma explicação racional, lógica e coerente do Munda e da Vida, explicação essa que me satisfazia de uma ponta à outra.
Quando atingi este “nirvana” senti-me bem e feliz como nunca até aí me havia sentido. Em boa verdade, Deus fora sempre para mim uma fonte constante de angústias, de remorsos e medos; de ameaças, de covardias e de fugas (até nas relações sexuais entre mim e minha mulher, Deus, totalitariamente, se metia!…).
Perante esse tal Deus, eu e os outros Homens só tínhamos uma maneira de estar: de joelhos; sem ele, inesperadamente, eu fiquei de pé, no centro do Universo, heroicamente, inteiro na grandeza da minha Humanidade.
A partir daí abriram-se os caminhos de uma nova moral, de uma nova ética e de uma nova estética. Mais que os mandamentos de Deus há os Direitos Universais do homem; mais do que a caridade e o amor ao próximo, há o sentimento da fraternidade e da solidariedade humana.
Depois, até a Arte dá um salto e passa a ser a realidade recreada pelos homens e mulheres, na esteira dos grandes sonhos e das grandes aspirações da Humanidade.
Sem Deus tudo fica no seu lugar, sem licença de ninguém.
Eu compreendo que haja pessoas para quem a dimensão divina da vida é essencial. Para um ateu essa dimensão não existe, mas todos os ateus, porque defensores da Liberdade, aceitam que os crentes tenham e vivam essa outra dimensão; só exigimos que eles não nos imponham essa dimensão como historicamente sempre quiseram fazer (e fizeram).
De resto, tenho muita dificuldade em discutir com um crente o meu ateísmo, pois mal eu começo a explicar-me, logo ele me trava com o argumento de que isso é o que eu penso, porque, para além de mim, Deus continua lá.
Assim nunca iremos a lado nenhum.
O que o separa de Saramago nesta faceta?
2- Pelo que li de José Saramago (O Evangelho segundo Jesus Cristo e Caim), suponho que a posição religiosa de José saramago é muito idêntica à minha.
Sobre este assunto só conversámos uma vez, em Viseu, aquando do lançamento do seu “Evangelho”. Disse-lhe que esperava que ele tivesse ido mais longe, questionado a própria existência histórica de Jesus Cristo que pode muito bem ser a humanização de um mito criado pelos “cristãos”.
Respondeu-me que não; que lhe parecia complicado uma religião como a cristã ter por base só um mito inventado e não uma qualquer experiência histórica que, depois, foi mitificada.
E sobre esse ponto, hoje em dia, a literatura é imensa. Cito apenas A Dinastia de Jesus de James D. Tabor onde a história do homem Jesus Cristo e de sua família (mãe, pai e irmãos) é contada com muitos pormenores e fundamentos documentais.
E pronto.
Nota: O que fica dito no ponto 1 é uma espécie de resumo daquilo que escrevi no meu OS DOIS PRECS NO DISTRITO DE VISEU, págs. 34/35, 75 e segs.
15 de julho de 2012
Caros Consócios,
O movimento que legalizou a Associação Ateísta Portuguesa começou há mais de duas décadas e dinamizou-se num hotel de Coimbra, onde algumas dezenas de ateus e ateias se reuniram, numa sessão de trabalho, após o almoço convocado sob o lema “Vale mais um primeiro almoço do que a última ceia”.
Após intensos debates e muitas centenas de artigos, divulgados em ‘sítios’ ateístas e no Diário Ateísta, durante anos, procedeu-se ao registo notarial, em 30 de maio de 2008, e foi nomeada a comissão promotora da primeira Assembleia Geral, onde foram eleitos os corpos sociais do primeiro mandato.
Recordo que estávamos perante uma ofensiva clerical, quando a peregrinação de 13 de maio a Fátima, uma maratona pia comandada pelo cardeal português, Saraiva Martins, emigrado no Vaticano, tinha sido convocada sob o lema belicista «Contra o ateísmo». Foi uma grande honra ter integrado esse movimento ateísta e participado na criação da AAP, de que fui o primeiro presidente durante os 12 anos que ora findam.
É a última vez que me dirijo a centenas de sócios dispersos pelo país e estrangeiro e, por isso, vos envio uma última e calorosa saudação. Saúdo ainda os ateus e ateias não sócios e os agnósticos, racionalistas, céticos e todos os livres-pensadores, especialmente os que vivem em países onde são perseguidos e mortos pelas teocracias ou marginalizados pelo poder onde as religiões se infiltraram nos aparelhos de Estado.
Solidarizo-me com todos os que, em condições adversas, contestam as verdades únicas e combatem a violência clerical, onde quer que surjam e os ateus se encontrem.
A AAP repudia o proselitismo e nunca foi uma central de propaganda que incensasse o ateísmo. Defendeu, sim, a laicidade do Estado, e combateu a ameaça das religiões, que incitam a xenofobia, o racismo, a misoginia e a homofobia, sendo fiel à Constituição da República Portuguesa e à Declaração Universal dos Direitos Humanos.
É desolador ver os judeus sionistas a espalhar a violência e a morte na faixa de Gaza e a inviabilizar o Estado da Palestina; os islamitas a impor a sharia; os nacionalistas hindus, na Índia, e os budistas na Birmânia a acossar os muçulmanos; e quaisquer outras manifestações de intolerância religiosa onde quer que ocorram.
Do protestantismo evangélico ao cristianismo ortodoxo, do catolicismo dos exorcismos ao fascismo islâmico, do judaísmo sionista ao hinduísmo das castas e vacas sagradas, as religiões continuam a mostrar a sua nocividade e falsidade.
A AAP repudia os privilégios que a Concordata e a Lei da liberdade religiosa atribuem à Igreja católica, certa de que a fé não se impõe por tratados nem cabe ao Estado pagar a sua difusão. A laicidade é um requisito da tolerância e a garantia da liberdade para todas e cada uma das religiões.
Não há sociedades livres sem respeito pela liberdade individual e a igualdade de género. Repudio a moral imposta pelas religiões, fruindo a vida, um bem único e irrepetível, até ao limite do prazo biológico ou da minha decisão.
Perante os que aguardam que a idade ou o medo da morte abalem as minhas convicções, de mais de sessenta anos, recordo Voltaire no leito da morte, quando o clero, para exibir o troféu, «converteu-se na hora da morte», pretendia que «negasse o Diabo», respondeu com fina ironia: «Não é o momento apropriado para criar inimigos».
Christopher Hitchens, influente escritor e jornalista britânico, autor do livro «Deus não é grande», quando soube que, na sequência do cancro que o consumia, se faziam apostas na NET sobre se se converteria antes de morrer, declarou sarcástico: «se me converter é porque acho preferível que morra um crente do que um ateu».
Fiel ao ateísmo e à Declaração Universal dos Direitos Humanos, certo de que o ónus da prova cabe a quem afirma a existência de um qualquer deus e não a quem o nega, serei sempre um defensor do livre-pensamento. Combatendo as crenças, respeito os crentes, seja qual for o embuste em que creiam ou a fé que perfilhem. Um ateu não pode aceitar o totalitarismo de qualquer corrente filosófica, incluindo o do próprio ateísmo.
Todos somos ateus em relação aos deuses dos outros. Os ateus só negam mais um deus do que os crentes.
Caros consócios, agradecendo aos ateus e ateias da AAP, em especial aos membros dos corpos sociais, a sua colaboração inestimável, despeço-me de todos com um caloroso abraço republicano, laico e democrático, e as habituais saudações ateístas.
E continuarei sempre presente.
Viva o livre-pensamento!
08-07-2020
Carlos Esperança,
Presidente.
AAP – Associação Ateísta Portuguesa
http://aateistaportuguesa.org
Há milagres dos grandes e dos pequenos, isto é, de todos os tamanhos.
Perante milagres fraquinhos como o que pôs a D. Emília a andar, para canonizar os seus pastorinhos, ou o do olho esquerdo da D. Guilhermina de Jesus, queimado com óleo de fritar peixe, para elevar à santidade D. Nuno Álvares Pereira,
Aparece finalmente a notícia de um milagre antigo, tão grande que nem a Igreja católica acreditou.
Um milagre desta dimensão deve ser divulgado.
Só no Brasil!
Associação Internacional de Livres Pensadores (AILP)
Na habitual troca de mensagens com os membros da direção da AILP comuniquei o fim das minhas funções de presidente da AAP, que ocorrerá no próximo dia 11:
«l lun., 29 jun. 2020 a las 16:24, Carlos [Esperan (email)] escribió:
Obrigado a todos, daqui de Portugal, onde, no próximo mês, serei substituído na presidência da Associação Ateísta Portuguesa (AAP).
Aproveito para enviar um abraço fraterno na última vez que vos escrevo como presidente da AAP de que fui o primeiro presidente, durante 12 anos.
Carlos Esperança
Apostila – No fim do atual mandato, cessarei também as funções diretivas na AILP. É gratificante registar as manifestações de apreço dos seus mais destacados membros:
Vergara Lira – 30 de jun. de 2020 00:38
Felicitaciones distinguido amigo Carlos.
Un abrazo desde Chile para los miembros de la AAP.
Fraternalmente,
Antonio Vergara Lira
Director Internacional de la AILP.
Philippe Besson – 30 de jun. de 2020 06:46
Parabéns, caro camarada Carlos e nossos melhores pensamentos seculares de boa saúde e de boa continuação!!
Philippe BESSON, membro da delegação AILP na ONU
Edgar Jarrin – 1 de jul. de 2020 02:50
Querido amigo Carlos Esperança:
Un saludo cordial y reconocimiento por tus valiosos aportes al Librepensamiento.
Fraternalmente,
Edgar G. Jarrín Vallejo
Director Internacional y Vocero para Latinoamérica de la AILP
marcelo victor Llobet – 1 de jul. de 2020 16:14
Querido amigo Carlos Esperança: un cordial saludo y agradecimiento por sus aportes al libre pensamiento y al laicismo.
Marcelo Llobet. Laicismo Argentino. Buenos Aires. Argentina
Por
ONOFRE VARELA
Conversando com um amigo, falávamos da diversidade de sensibilidades políticas e religiosas que unem as pessoas, mas que também as separam e muitas vezes conduzem a agressões verbais ou físicas condenáveis. Como exemplo desses procedimentos bélicos, referíamos os actos pouco dignos, até criminosos, de grupos fundamentalistas, sejam religiosos ou políticos, e mesmo claques de clubes de futebol. Todos têm a mesma matriz do ódio… só porque uns gostam de maçãs, e outros preferem pêssegos!…
Estas atitudes, sendo condenáveis, também são naturais em nós. Fazem parte da nossa característica de predador, de que a Natureza nos dotou como sistema de defesa e sobrevivência. Mas se a Natureza nos fez predadores – tal como fez o leão – também nos equipou com um cérebro de características especiais, dando-nos raciocínio, sensibilidade e inteligência… faculdades que o leão não possui. Por isso nos obrigamos a usar as nossas características de Sapiens, contrariando o mero animal que somos, usando “odeus que habita em nós”, e abandonando a nossa parte animalesca que, naturalmente, faz o leão. O meu amigo arregalou os olhos de espanto.
Sabendo-me ateu, estranhou a minha referência ao “deus que habita em nós”! Compreendi o seu assombro porque o Ateísmo sempre foi vilipendiado e dele se faz, erradamente, exemplo de desvio comportamental no pior dos sentidos. Na verdade não há razão para espanto, porque os ateus (isto é: eu. Da sensibilidade de outros ateus não posso falar. Tal como há vários modos de se ser religioso, também os há de se ser ateu). Dizia eu que os ateus criticam “a ideia da existência de um deus exterior a nós”, no aproveitamento social e económico que dessa ideia se faz, mas nunca criticam “o deus que habita em nós”… isto é, a ideia que nos levou à criação de deuses, e depois à sua depuração até chegarmos ao “Deus único” adorado por judeus, cristãos e muçulmanos. O processo da “depuração da ideia de Deus” ainda não está concluído. O caminho que conduziu ao abandono de um panteão, apurando um único deus, acabará por dispensar, também, o deus Jeová (Alláh) criado pelos Hebreus (e adoptado por Maomé), que sobrou da purga do tempo.
Quando refiro “o deus que há em nós”, sei que sou compreendido por quem me escuta e é crente, porque a força que ele sente na crença que alimenta “o deus que habita em si” – cujo deus, na verdade, só existe na sua cabeça, e não fora dela – é característica daquela parte de nós que sublinha o facto de sermos Sapiens, diferenciando-nos de todos os outros animais nossos companheiros da vida na Terra. Só a capacidade de raciocínio, a inteligência, a sensibilidade e o sentido estético que nos levou à criação da Arte, ao entendimento do belo… e à criação de deuses… faz de nós uns seres especiais e superiores. No entanto, quando em discordância com os nossos semelhantes, somos capazes de adoptar comportamentos iguais aos de um qualquer animal predador inferior, porque a nossa origem natural, enquanto animais, é a mesma… embora raciocinemos, deixamos, imensas vezes, a nossa sensibilidade tormentosa comandar-nos, tomando conta da razão.
Por esse caminho, muitas vezes ficamos em patamares inferiores aos irracionais nossos irmãos de reino, porque enquanto que estes só guerreiam por alimento, por fêmea e pelo domínio do grupo, nós fazêmo-lo pelas mesmas três razões… e acrescentamos a lista, tomados por uma irracionalidade que demonstra o pior da nossa condição animal… o que parece incongruente com a nossa capacidade de raciocinar… mas somos assim!…
(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)
Sinto-me um nano-micro-mini intelectual, espécie de especialista em coisa nenhuma, o opinante que faz suposições sobre realidades variadas sem aprofundar uma única. Não me demito de opinar, de me interrogar e de desafiar os outros para me acompanharem nas inquietações, dúvidas e enganos. Cada um de nós só se levanta se tiver caído antes e, em cada tombo, aprender a erguer-se de novo.
Por cada preconceito que enjeito adoto outro, por cada amarra de que me liberto aparece uma nova corrente que me prende. A liberdade é o caminho estreito, entre vias sinuosas de vários constrangimentos, que não podemos desistir de procurar e defender.
Ameaçam a liberdade a fome, a sede, o medo e o preconceito, mas a grande ameaça é a violência que se lhes junta, o sectarismo de quem se julga detentor de verdades únicas, a vindicta de quem vê nos adversários inimigos e nos livres-pensadores réprobos a abater.
As religiões são frequentemente detonadoras do ódio, fautoras de guerras, guardiãs dos velhos preconceitos e inimigas da liberdade, apesar da bondade de muitos crentes e dos golpes de rins dos exegetas.
Todas as religiões consideram falsas as outras e o Deus de cada uma delas. No fundo todos somos ateus porque quem se reclama ateu só considera falsa mais uma religião e um Deus mais. Sem recorrer ao conceito grego de ateísmo, veneração de deuses de uma cidade diferente, hoje todos somos ateus em relação a Zeus, Amon, Júpiter ou Boi Ápis.
A crença ou a descrença não fazem as pessoas boas ou más. Há exemplos deploráveis de umas e de outras. Trágico é pretender que o que foi escrito na Idade do Bronze, por homens de tribos patriarcais, seja a palavra de um Deus que demorou muitas centenas de milhares de anos a revelar-se e apenas soprou o barro quando o género humano se reproduzia há muito pelo método popular ainda hoje em uso.
Um Deus feito à imagem e semelhança dos homens, dos homens de tempos onde a luta assegurava a sobrevivência, imbuíram os livros sagrados do espírito violento, xenófobo, vingativo, misógino e homofóbico, incompatível com a modernidade.
Não vem mal ao mundo que as pessoas substituam a reflexão e o espírito crítico pela fé, direito que o Estado moderno deve garantir, mas torna-se intolerável o carácter prosélito que devora os crentes, a demente obsessão de impor aos outros o que cada um julga ser a verdade divina, perpétua e imutável, pela violência, quando necessária.
Um Deus que se preocupa com as normas de conduta, da alimentação ao vestuário, das orações aos jejuns, da liturgia à sexualidade, sobretudo com a última, especialmente a das mulheres, não pode andar à solta, sem que o Estado refreie os guardiões e defenda da sua ira quem prefira, ao risco perpétuo de perder a alma, a fugaz apoteose da vida.
A laicidade é a vacina que defende a Humanidade dos confrontos religiosos na disputa do mercado da fé. A globalização ameaça reduzir a um único os credos em confronto.
As suscetibilidades pias são um episódio na escalada contra a laicidade. A substituição do direito divino pela soberania popular foi um passo para a democracia e uma grande deceção para o clero.
A liberdade é um bem escasso. Limitada pela opressão dos Estados, tolhida pelo medo individual e fanatismo religioso, precisa de quem a defenda contra tudo e contra todos.
A publicação de caricaturas de Maomé desatou, há anos, a ira do Islão e os desacatos, ameaças e violência do fascismo islâmico. Os cristãos opor-se-ão sempre ao escárnio do calvário de Cristo ou da virgindade de Maria, e a liberdade de expressão regressará ao escrutínio dos clérigos que ao longo dos séculos oprimiram a Humanidade.
Recordamo-nos do trauma das perseguições da inquisição, da celeuma do preservativo colocado em sítio menos óbvio – o nariz de João Paulo II –, pelo cartoonista António e do assassínio de um médico por um pastor evangélico, na sequência da prática de um aborto, nos EUA.
Temos o direito de caricaturar Deus, afirmou então, em França, o jornal France Soir, após a publicação dos desenhos de Maomé: «OUI, on a le droit de caricaturer Dieu».
Se nos deixarmos tolher pelo medo, não tarda que o poder seja de novo confiscado pelo clero, que sempre reivindicou procuração divina, e que sejam postos em causa direitos, liberdades e garantias arduamente conquistados ao longo dos séculos.
Dar publicidade aos testemunhos de irreverência, humor e heresia não é provocação aos crentes, é um ato de cidadania em defesa da liberdade de criação, uma ousadia contra a chantagem, uma advertência de quem resiste ao medo, à violência e às bombas.
Não faltarão cobardes a dizer que «deve haver um certo cuidado» e que «talvez não seja sensato». A pusilanimidade não conhece limites.
Defender o direito à blasfémia é um ato de solidariedade para com criadores artísticos, órgãos de comunicação que os acolhem e países que não se vergam à histeria da fé e ao fascismo religioso. É também a forma de homenagear Salman Rushdie cuja condenação à morte teve do Vaticano, do arcebispo de Cantuária e do Rabino Supremo de Israel uma posição favorável ao aiatola Khomeini quando, em piedosa demência, o condenou à morte, pelo abominável crime de…ter escrito um livro.
Se os crentes, de qualquer fé, por mais idiota que seja, entenderem caricaturar os ateus, apelidá-los de burros, idiotas e patetas, estão no seu direito. Todos temos de aprender a tolerar o direito de opinião dos que discordam de nós, por mais injustos e provocadores que sejam. O direito de expressão tem de estar acima do direito à repressão.
Quando o grotesco Califado com que gerações de jihadistas sonharam nasceu entre a Síria e o Iraque, e os facínoras da fé instauraram o Estado islâmico nos territórios que controlaram, não houve caricaturas e insultos que bastassem, urgia repor a salubridade nos territórios que as mesquitas e madraças ameaçaram tornar insalubres.
Mas a vitória não aconteceu ainda. E não há vitórias definitivas.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.