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Carlos Esperança

8 de Agosto, 2020 Carlos Esperança

A pena de morte e a Igreja católica

A pena de morte é um anacronismo que persiste em sociedades ditas civilizadas, nódoa que a direita europeia de vocação fascizante se prepara para reintroduzir, à semelhança do que sucedeu em 1976 nos EUA, onde é aplicada em 34 dos 50 estados.A aplicação, sem efeitos dissuasores, tem sido responsável pela execução de inocentes, por erros judiciais. Deveria bastar a irreversibilidade para fazer tremer a mão aos juízes humanistas, mas não faltam carrascos à crueldade, quando legalizada.

A Igreja católica, pressionada pela civilização europeia, condenou a pena de morte, mas com restrições, na última edição do seu catecismo.O Papa Francisco limpou finalmente a nódoa do catecismo romano quando o facínora das Filipinas, PR católico, defende execuções sumárias para traficantes e drogados, e, como outros déspotas católicos europeus, se prepara para reintroduzir a pena de morte.

A decisão deste papa, rompe com dois milénios de tradição, credita-o como humanista e honra-o perante o mundo civilizado. Esperemos que, com este exemplo, as religiões não continuem ao serviço da tradição e dos interditos e se tornem aliadas da modernidade.

Foi de forma simples que revolucionou o Evangelho, um repositório da moral da Idade do Bronze: “A pena de morte é inadmissível porque é um ataque à inviolabilidade e dignidade da pessoa e ela [Igreja católica] trabalha com determinação para que seja abolida no mundo todo”.

Não posso deixar de me solidarizar com o papa católico que dignificou a Igreja ao assumir o compromisso de se associar ao movimento abolicionista. Assim procedam os dignitários de outras religiões e das várias teocracias.

Recordando e alterando Neil Armstrong, ao pisar na lua: “Esse é um pequeno passo para a civilização, mas um enorme salto para o Vaticano”.

Infelizmente, o catecismo não foi alterado.

5 de Agosto, 2020 Carlos Esperança

O Antigo Testamento e os 3 monoteísmos

O AT é um livro escrito na Idade do Bronze, certamente de natureza hebraica, com um deus violento, misógino, vingativo, xenófobo e cruel, essencialmente tribal e patriarcal.
Para um ateu é um truísmo aceitar que o deus é uma criação humana, e não o contrário, mas não podemos nem devemos ignorar os sentimentos e convicções de quem se tornou crente desde o nascimento e interiorizou a crença sem a submeter ao escrutínio da razão.

O primeiro monoteísmo é o judaísmo, convencido de que Deus era o protetor das doze tribos e que na Conservatória do Registo Predial celeste lhe outorgou a escritura que lhe doou a Palestina. Dessa crença nasceu a tragédia do sionismo que envenena as relações entre judeus e muçulmanos e são um fator de permanente ódio e crispação.

A cisão de Paulo de Tarso com o judaísmo deu origem ao cristianismo que a urgência de Constantino em aglutinar o Império Romano, passou de seita a religião oficial.

Entre 610 e 632, Maomé, pastor iletrado, enriquecido com o património de uma viúva rica, teve tempo para decorar o Corão, ditado pelo anjo Gabriel, o mesmo que tinha dito à Virgem Maria que estava grávida, coisa de que dificilmente se apercebe uma mulher. Demorou 20 anos a decorar a cópia grosseira do cristianismo, entre Medina e Meca, e, para desgraça da humanidade, Maomé foi o último profeta, Deus falou pela última vez e a guerra passou a ser o argumento de quem não se resigna a ser detentor da verdade sem a querer impor aos outros.

O cristianismo e o islamismo têm em comum o proselitismo, tara que é responsável por imensos crimes do primeiro, no passado, e pela continuação, no presente, pelo último. A evangelização, com a fanatização de crianças de tenra idade, é a arma de que não abdica o fascismo islâmico e que o cristianismo só depôs após a paz de Vestefália, graças à repressão política sobre o seu clero.

O Antigo Testamento, visto como obra literária e documento sobre os usos e costumes da Idade do Bronze, é um documento interessante. Considerado como sendo a palavra de Deus, deixa de ser o manual de maus costumes, referido por Saramago, para ser, mais exatamente, um conjunto de fascículos terroristas onde a decadência da civilização árabe e o ódio pregado nas mesquitas e madraças encontram o seu suporte.

Não se julgue, contudo, que a Igreja católica abdicou da pouco recomendável literatura para se basear apenas no Novo Testamento, um avanço ético notável, onde caiu a nódoa do antissemitismo, compreensível em trânsfugas do judaísmo.

O Pentateuco, em especial o Deuteronómio e o Levítico, descrevem o mundo medonho da época a que se referem. Vejamos alguns exemplos da moral bíblica: Qual é o castigo para quem invoque o nome de Deus em vão?.- a morte (Levítico 24:16). E por trabalhar ao 7.º dia? – a morte, claro (Êxodo 31:15). E o castigo para o adultério? – Naturalmente, a morte (Levítico 20:10). E para a homossexualidade? (Levítico 18:22). E por comer moluscos? (Levítico 11:10). Mas é permitido vender uma filha como escrava: (Êxodo 21:7) e possuir escravos, tanto homens como mulheres, desde que comprados em nações vizinhas (Levíticos 25:44).


Os exegetas cristãos, contrariamente aos mullahs, esforçam-se por dizer que o que está escrito não quer dizer o que diz, enquanto o Islão prega a maldade que o Corão bebeu na tradição judaico-cristã. No entanto, o catecismo da Igreja católica, elaborado pelo Prefeito da Sagrada Congregação da Fé (ex-Santo Ofício) – o então cardeal Ratzinger –, afirma o que deixo à consideração dos meus leitores:

Não pode, pois, dizer-se que o Antigo Testamento é uma obra meramente literária, como dizem, envergonhados, alguns crentes. Não é o que pensa o Vaticano.


Eis dois parágrafos do «Catecismo da Igreja Católica» que deixo à consideração dos leitores:

«§121 – O Antigo Testamento é uma parte indispensável das Sagradas Escrituras. Os seus livros são divinamente inspirados e conservam um valor permanente, pois a Antiga Aliança nunca foi revogada».

«§123 – Os cristãos veneram o Antigo Testamento como a verdadeira Palavra de Deus. A Igreja sempre rechaçou vigorosamente a ideia de rejeitar o Antigo Testamento sob o pretexto de que o Novo Testamento o teria feito caducar».

3 de Agosto, 2020 Carlos Esperança

Barrigas de aluguer (2)

Por

ONOFRE VARELA

Vimos no último artigo que Agar, criada egípcia de Abraão e Sara, aceitou servir de barriga de aluguer para gerar um filho de Abraão. O que as estórias bíblicas nos dizem é que, a partir daí, Agar passou a olhar desdenhosamente para a patroa, dando-lhe a perceber a sua inutilidade como mulher. Sara não gostou daquele olhar e pediu ao marido que expulsasse a criada. Esta, apercebendo-se do perigo que corria mantendo-se naquela casa, esperou o nascimento do filho, Ismael, e fugiu durante a noite levando a criança, com a intenção de abandonar o filho à morte.

Mais uma vez Deus actuou durante o sono, incentivando Agar a salvar o bebé, pois ele, Deus, tinha projectos destinados ao rapaz. E assim se fez. Entretanto, Sara conseguiu engravidar de Abraão, cumprindo-se a vontade de Deus, e nasceu Isaac. Na Mitologia grega também há uma estória de barriga de aluguer. Zeus, lá do seu trono celeste, deixou cair o seu divino olhar sobre Alcmena, enamorando-se dela. Os deuses gregos eram guerreiros e sexualmente activos… as paixões platónicas ainda as não havia inventado Platão (reeditadas pelo filósofo florentino Mirsílio Ficino no Séc XV), e só viriam a servir para serem usadas pelo Cristianismo sofredor! Por isso Zeus passou a alimentar a ideia de uma relação carnal com aquela bela mulher, a ter lugar rapidamente.

Porém, Alcmena era mulher de Anfitrião, general dos tebanos, e o militar vigiava-a não a deixando sozinha um minuto sequer… o que era um empecilho para os intentos do deus dos deuses. Mas um deus que se preza, nunca se atrapalha… e Zeus traçou um plano. Encarregou o seu filho Hermes – Deus do comércio, dos ladrões e mensageiro dos deuses – de pôr em prática o plano que arquitectara para conseguir encontrar-se com a mulher dos seus divinos sonhos.

Aproveitando a saída de Anfitrião para a guerra de Tebas, Hermes tomou a forma de Sósia, escudeiro de Anfitrião e amante de Calipsandra, que era criada de Alcmena, para guardar os aposentos desta, não fosse o general chegar antes do tempo. Zeus tomou a forma de Anfitrião e entrou no quarto de Alcmena. Não desconfiando que aquele homem não era o seu marido, a mulher entregou-se a ele naquela noite em que o achou especialmente fogoso. Dessa relação nasceu Hércules, o homem-deus… e deste mito da segunda barriga de aluguer das estórias religiosas, sobram-nos termos como sósia, para referir pessoa muito parecida com outra, e anfitrião, aquele que recebe em sua casa (mas que no mito grego e na exacerbada expressão latina se coaduna mais com “corno-manso”).

A Mitologia Cristã dá-nos a terceira barriga de aluguer das estórias mitológicas: Maria, que engravidou por obra e graça do Espírito Santo que tomou a forma de uma pomba, e fez com Maria, de um modo casto e sem cenas erótico-pornográficas, exactamente o que Zeus fizera com Alcmena de um modo muito mais próximo à realidade dos homens, numa relação infiel e criminosa.

Com Maria aquilo esteve mais próximo de uma inseminação artificial em laboratório, com o bico de uma casta pomba a servir de agulha hipodérmica.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

30 de Julho, 2020 Carlos Esperança

Naquele tempo… (crónica ímpia)

Naquele tempo, Deus não era ainda o mito. Era apenas mitómano, a gabar-se de ter feito o Mundo em 6 dias, quatro mil e quatro anos antes da era vulgar, nem mais, nem menos, e descansado ao sétimo.

Era um celibatário inveterado que inadvertidamente criara Adão e Eva no Paraíso, onde matava o ócio na olaria. Fez o homem à sua imagem e semelhança e a mulher a partir de uma costela do homem.

Mandou que se afastassem da árvore do conhecimento, ordem que Eva logo desprezou, tentada por um demónio que por lá andava. O senhor Deus logo os expulsou do Paraíso, recriminando a malvada e condoído do tonto que se deixou tentar, enquanto o Demónio, igualmente expulso, foi viver num condomínio privativo – o Inferno.

Entretanto, na Terra, local de exílio, o primeiro e único casal logo descobriu um novo e divertido método de reprodução que amofinou o Senhor e multiplicou a espécie.Deus era bastante sedentário, mas as queixas que lhe chegaram pelos anjos, um exército de alcoviteiros hierarquizados, decidiram-no a deslocar-se ao Monte Sinai onde ditou a Moisés as suas vontades. Ensandecido pelo isolamento e pela castidade veio ameaçar os homens e exigir-lhes obediência e submissão.

Algum tempo depois, vieram profetas – vagabundos que prediziam o futuro –, lançando o boato de que o velho, tolhido do reumático, enviaria o filho para salvar o Mundo. Foi tal a ansiedade nas tribos de Israel que alguns logo vislumbraram, no filho da mulher de um carpinteiro de Nazaré, o Messias anunciado.Com falta de empregos, algum pó e líquidos capitosos à mistura, criaram a inverosímil história do nascimento do pregador com jeito para milagres e parábolas. Puseram a correr que Maria fora avisada pelo Arcanjo Gabriel – o alcoviteiro de Deus –, de que, na permanente castidade, ficara prenhe de uma pomba chamada Espírito Santo.

Nascido o menino que nunca mijou, usou fraldas, fez birras ou fornicou, foi discreto na adolescência e dedicou-se cedo aos milagres e à pregação. Falava no pai e na obrigação espalharem todos as coisas que dizia. Acabou crucificado e culparam os judeus, desde então os suspeitos do costume. Claro que JC era judeu, mas isso foi e é irrelevante.Admite-se que foi circuncidado e era exímio em aramaico, língua em que discutiu com Pôncio Pilatos, que apenas sabia latim, sem necessidade de intérprete.

Depois de crucificado, demorou-se três dias, provisoriamente morto, antes de ascender ao Céu com o prepúcio recuperado, o que desencadearia muitas discussões teológicas.

Os judeus ainda hoje são odiados porque o mataram, mas há exegetas que admitem que foi calúnia dos que criaram a nova religião e quiseram eliminar a antiga. Ódio de trânsfugas!

29 de Julho, 2020 Carlos Esperança

Há 7 anos

O papa Francisco defendeu a “laicidade do Estado”. O papa Francisco surpreendeu claramente ao defender o Estado secular: “a coexistência pacífica entre as diferentes religiões fica beneficiada pelo estado secular, que, sem assumir como própria, nenhuma posição confessional, respeita e valoriza a presença do fator religioso na sociedade “.Como se conciliam tais palavras, que admito sinceras, com o que se passa em Portugal:

– Isenções de impostos de que beneficia a Igreja católica Apostólica Romana (ICAR);

– Pagamento pelo Estado dos capelães militares, hospitalares e prisionais;- Existência de uma disciplina de EMRC;

– Contratação de professores da EMRC, livremente nomeados e exonerados por bispos;- Presença de cavalos, músicos e militares nas procissões e em outros espetáculos pios;

– Profusão da iconografia católica nas paredes dos edifícios públicos;- Presença de sotainas em cerimónias do Estado;

– Designação pia de hospitais quando não há uma só Igreja com nome de políticos;

– Com dificuldades orçamentais, uma embaixada exclusiva para o bairro do Vaticano, havendo outra em Roma;

– Etc., etc., etc..

25 de Julho, 2020 Carlos Esperança

Já faltou mais…

Um membro do Comité para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício (CPVPV), antigo Comité para a Propagação da Virtude e Eliminação do Pecado, (CPVEP) a orientar um pintor.