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Carlos Esperança

26 de Abril, 2018 Carlos Esperança

9.º Aniversário da canonização de D. Nuno Álvares Pereira

D. Nuno e D. Guilhermina

Há nove anos, D. Nuno foi posto a render ao serviço do obscurantismo e da superstição. Não se referiram as leis da época, as lealdades a que os cavaleiros medievais eram obrigados nem as circunstâncias políticas das batalhas, e, por lapso, não foi referido que do lado de Castela também se ajoelhavam os cavaleiros, como era hábito.

Se houvesse exigência de rigor em alguma afirmação, alguém devia ter sido explicado como se tornou D. Nuno o homem mais rico do reino e como exigiu a fortuna. Mas isso são coisas alheias à santidade e à cura do olho da D. Guilhermina.

Só do lado de D. Nuno se genufletiram os cavalos, é certo, a fazer fé num opúsculo do Sr. Duarte Pio, especialista em cavalos devotos e tolices avulsas, não se percebendo o esquecimento dos cavalos com o precedente de S. Guinefort, o cão injustamente morto pelo dono e feito santo. Os historiadores ignoraram o espetáculo e deixaram ajoelhar consolados os escuteiros, bispos e beatos que foram agradecer a cura do olho esquerdo de D. Guilhermina, órgão que devia ser protegido com grades, não vá um especulador de relíquias arrancar-lho em vida.

O Patriarca Policarpo acusou o Estado de conviver mal com a Igreja, sem compreender a separação e a laicidade a que o Estado é obrigado. O Sr. Duarte Pio, com vocação para a asneira, considerou que a canonização «tem mais importância para Portugal do que os «prémios Nobel».

Apostila – Este texto foi escrito na data da canonização e ora adaptado para a efeméride.
Dada a importância da cura do olho esquerdo de D. Guilhermina para a santidade de D. Nuno, trarei aqui, a este mural, os textos da época.

24 de Abril, 2018 Carlos Esperança

25 de Abril, Sempre!

Amanhã é dia de comemorar o dia maior da liberdade num país de quase nove séculos de História.

Daqui a uma dúzia de horas começa a noite da primeira madrugada em que a liberdade veio na ponta das espingardas embrulhada em cravos vermelhos, com balas por disparar e sonhos para cumprir. Há 44 anos.

Nunca tantos devemos tanto a um exército que deixou de ser o instrumento da repressão da ditadura, para se transformar no veículo da liberdade conduzido, por jovens capitães.

Foi a mais bela página da nossa História e o dia mais feliz da minha vida. Abriram-se, por magia, as prisões, neutralizou-se a polícia política, acabou a censura e não mais se ouviram os gritos dos torturados nas masmorras da Pide.

Há 44 anos, daqui a poucas horas, ainda os coronéis e os padres censores empunhavam o lápis azul da censura já sem efeito nas palavras e imagens cortadas. O dia 25 de Abril nasceria límpido e promissor com a guerra para acabar e a promiscuidade entre o Estado e a Igreja a ser interrompida.
Os exilados e os degredados viriam juntar-se aos que saíam das prisões. O fascismo era já um cadáver que sobrevivia com a mais dura das repressões. A Pátria não era o país de um povo, era o lúgubre reduto de onde os fascistas oprimiam o próprio povo e as pátrias de outros.

Amanhã é dia de ouvir canções, de sair à rua e de gritar, «fascismo nunca mais!»

O Povo Unido Jamais Será Vencido! Viva o MFA! Viva o 25 de Abril, que aí vem na idade madura dos seus 44 anos.

Para os heróis desse dia, de todos os dias e de sempre, para os que ainda vivem, não há cravos que cheguem para agradecer a vida que cumpriram num só dia.

Obrigado, capitães de Abril! Amanhã, como então, as lágrimas são de alegria incontida, e é forte e comovido o abraço que aqui deixo a todos os que amanhã lembrarei.

A Igreja já anda aí de novo. É preciso lembrar que a separação da Igreja e do Estado é desígnio do 25 de Abril que não podemos deixar trair. Por enquanto, ainda podemos ser ateus, sem risco de prisão.


23 de Abril, 2018 Carlos Esperança

A indústria dos exorcismos

Por que aumenta a procura?

«Padres católicos de diversos países disseram à imprensa terem notado um aumento no número de fiéis relatando sinais de “possessão demoníaca”.

No ano passado, o papa Francisco disse a clérigos que eles “não deveriam hesitar” em encaminhar casos para exorcistas ao notarem “distúrbios espirituais genuínos”.»

23 de Abril, 2018 Carlos Esperança

Religiões e ditaduras

Conheci bem a conivência da Igreja católica com as ditaduras ibéricas. Ainda recordo os apelos feitos nas missas para que Deus protegesse os «nossos» governantes, lhes desse longa vida e iluminasse a inteligência, sendo certo que Deus foi sensível aos primeiros e surdo ao último. De Salazar ouvi a vários padres que a Providência o tinha designado para governar Portugal. Creio que nasceram aí as minhas dúvidas relativamente a Deus e a suspeita aos seus padres.

O cardeal Cerejeira avisou Salazar do desígnio providencial, de que teria conhecimento pelas confidências da senhora de Fátima à Irmã Lúcia. E escreveu-o com o despudor com que João Paulo II confirmou ao mundo que a beata Alexandrina de Balazar passou mais de uma década sem comer, nem beber, em anúria, a alimentar-se apenas de hóstias consagradas.

Em Espanha o caudilho era idolatrado pelo clero e numerosas missas de ação de graças foram celebradas em sua honra, agradecendo ao Senhor a encomenda. Mons. Escrivá de Balaguer, já na altura bastante íntimo do divino, incensava o generalíssimo e combatia os seus adversários. Foi um apóstolo denodado do franquismo na região de Burgos, primeiro, e um pouco por toda a parte, depois. Como compensação levou para o túmulo o truque para fazer milagres e rapidamente chegar a santo.

Pio IX excomungava os que defendiam a separação entre a Igreja e o Estado. Pio XI declarou numa missa grandiosa em honra do «Duce», que ascendeu ao poder com o apoio ativo da ICAR: «Moussolini é um homem que a Providência Divina nos enviou». Na sequência do atentado falhado de que foi alvo pelo jovem Anteo Zamboni, militante da Liga ateísta, com 15 anos de idade, este foi preso no local e linchado por fascistas. O Vaticano fez difundir nas igrejas e escolas uma imagem piedosa mostrando a morte do jovem Zamboni, «joguete do Diabo, inimigo da fé, punido pela mão de Deus».

A simpatia de Deus pelos ditadores comprometeu-lhe o prestígio e distanciou a clientela quando as democracias se popularizaram. Excetuando o comunismo em que Estaline (um ex-seminarista que quase chegou a padre) se entregou a uma demência sanguinária, as ditaduras tiveram quase sempre o apoio militante e entusiástico do clero, da Europa à América latina, com grande destaque para a ICAR. Pinochet foi sempre devoto da missa e desenvolveu pela eucaristia uma síndroma de habituação e dependência. Nos países árabes, onde o livro sagrado é de cumprimento obrigatório, sabe-se como a liberdade ofende Alá, irrita o seu profeta e obriga o clero a proceder em conformidade.

Penso, no entanto, que é menos a fé do que a volúpia do poder que atira o clero para relações promíscuas com o Estado. A sedução por regimes autoritários é o corolário lógico da verdade única, do ser supremo, do respeito pela hierarquia, da obediência cega. A submissão e a obediência são apresentadas como virtudes e estimuladas pelos guardiões da fé.

Quando o poder vem de Deus instala-se o poder discricionário e institucionaliza-se a violência. Quando o sufrágio universal e secreto se conquista, Deus emigra e os homens tornam-se livres.

21 de Abril, 2018 Carlos Esperança

Fátima, altar da fé

(em regressão)

A religião é um embuste grosseiro que alimenta poderosas máquinas clericais, obscuros interesses privados e redes de cumplicidades que atravessam o globo.

Sob a capa untuosa do clero que finge defender a paz e promover a harmonia, jogam-se poderosos interesses e definem-se estratégias globais de conquista do poder.

Há quem pense que as religiões são um mal necessário, que são como armas nucleares cujo equilíbrio do terror impede uma guerra global. Mas enquanto os Estados não têm disparado as armas nucleares contra os seus cidadãos, as religiões espalham o medo, a superstição e o ódio e incitam a guerra e a violência contra infiéis (fiéis de outro deus).

À medida que a instrução e a ciência avançam, as religiões definham, mas agravam a virulência e, na aflição, a agressividade e o ódio que devotam à liberdade, à democracia e ao livre-pensamento.

Nos últimos dias temos assistido à mais violenta e sinistra ofensiva da ICAR contra o Governo de Espanha e à tentativa desesperada de virar o povo contra os seus órgãos legítimos. Até o referendo à Constituição europeia, cuja abstenção fomentou, lhe serve para promover o divórcio entre as camadas mais embrutecidas da população e o Governo legítimo.

À azia que o clero carrega depois de ter abençoado o casamento da plebeia divorciada com o príncipe herdeiro, com pompa e circunstância, junta agora a brotoeja que lhe provoca o casamento de homossexuais, a liberdade religiosa e o uso do preservativo. A Cúria romana reagiu como se a grande nação ibérica fosse ainda um protetorado sob o domínio de um rei absoluto dominado pelo confessor católico.

Em Portugal, um comportamento discreto e dissimulado foi a regra até à assinatura do aborto e abuso clerical que é a Concordata. A partir de então a chantagem aumentou. À medida que a clientela se afasta, o acréscimo de poder e as exigências de visibilidade aumentaram. A luta contra a maçonaria foi o primeiro ensaio de uma guerra mais vasta contra os sectores laicos, agnósticos e ateus.

Sirvam de consolo os revezes na conquista de novos clientes. Fátima, o supermercado da fé católica, a maior área de oração em Portugal, não deixa de perder peregrinos desde 2000, data da última visita do Papa JP2, num extremo esforço de marketing para manter e aumentar a clientela. Em 2004 teve menos meio milhão de peregrinos apesar de haver mais grupos organizados pelas agências turísticas. O mercado da fé, no que diz respeito aos peregrinos, retraiu-se em mais de 10%, nos últimos anos, só interrompido com a vinda do Papa em 13 de maio de 2017. Até atividades de lazer místico (terço, adoração, procissão das velas, laudes, vésperas) sofreram uma razoável retração. As próprias maratonas de joelhos (populares exercícios sadomasoquistas) vão perdendo praticantes.

Não há só más notícias.

20 de Abril, 2018 Carlos Esperança

O primeiro transplante

Em 23 de dezembro de 1954, o cirurgião americano Joseph Murrey realizou o primeiro transplante humano – um rim doado por um irmão gémeo ao outro, que estava a morrer de doença renal. A generosidade fraternal foi compensada com mais de 8 anos de vida do irmão transplantado que constituiu família e havia de gerar duas filhas.

Os crentes mais devotos de então consideraram que se tratou de uma profanação do corpo e que os médicos interferiram numa prerrogativa de Deus. Nesse dia os homens deram mais um pequeno passo para a sua emancipação e Deus um enorme trambolhão para o seu descrédito.

O êxito da operação foi também a vitória sobre a omnipotência e a omnisciência divinas cuja credibilidade sofreu um rude golpe. A partir de então, milhares e milhares de vidas puderam ser prolongadas graças à ciência.

Quem acredita na vida eterna e na ressurreição da carne, há de perturbar-lhe a cabeça, no caso de a ter, o que sucederá no Vale de Josafat, entre Jerusalém e o Monte das Oliveiras, no dia do Juízo Final. O Deus deles, cruel e medonho, lá estará a julgar os vivos e os mortos, perante uma enorme confusão em que à gravidade dos problemas logísticos se juntará a berraria de quem pede a devolução do fígado, dos milhares que reclamam os rins próprios, daqueles que exigem de volta o coração ou procuram o esqueleto dividido por centenas de próteses após o acidente rodoviário.

Deus começa a ter problemas complicados. O melhor é desistir dessa ideia maluca da ressurreição e manter-se na clandestinidade a que se remeteu após o género humano ter decidido pensar.

18 de Abril, 2018 Carlos Esperança

Sintra e a sua mesquita

Sei da minha irrelevância na formação da opinião pública, mas o silêncio é o perigo que ameaça a ausência de opinião, o narcótico que anestesia as consciências, a cumplicidade que permite as iniquidades.

Não tenho o monopólio da verdade. Aceito, em teoria, que seja melhor a opinião oposta, mas se não expuser a minha arrisco-me a que vença a única que é expressa. Entendo que é um dever cívico pronunciar-me sobre o que acontece no mundo e, sobretudo, no meu País.

Depois de Lisboa é em Sintra que vai ser construída uma nova mesquita, cuja Câmara cedeu o terreno onde irá ser erigido um Centro Comunitário com Mesquita, com 7141 metros quadrados.

Não é o direito à construção de um templo que está em causa, é o roubo do património público a favor de uma crença particular, é a apropriação de um bem coletivo por uma associação pia.

Num país cuja Constituição estabelece de forma irrevogável a separação das Igrejas e do Estado não se percebe que instituições religiosas gozem de isenções fiscais, recebam terrenos, dinheiro, heranças e se permita que a escola pública sirva para evangelização com professores pagos pelo erário público.

A Concordata assinada por Durão Barroso é uma afronta à autoridade do Estado e uma cedência que transforma Portugal em protetorado do Vaticano. A presença do clero nas cerimónias públicas converte o Estado e as autarquias em sacristias.

É evidente que o tratamento igual para todas as religiões levaria a que o Islão exigisse o mesmo tratamento da Igreja católica e não foi surpresa saber do regozijo do sheik David Munir, imã da Mesquita Central de Lisboa, na cerimónia de início das obras em Sintra, em vez de saber o que sucedeu ao processo onde foi acusado de maus tratos à mulher.

O catolicismo é hoje tolerante, mas isso deve-se á repressão política sobre o clero e não à virtude intrínseca da religião. Não se pode dizer o mesmo do Islão cuja deriva fascista e carácter totalitário é uma realidade de que as primeiras vítimas são os muçulmanos.

O Estado fica sem meios, e sem terrenos, ao trair a laicidade e não submeter as religiões a um tratamento igual ao de qualquer outra associação. Um dia, amargamente, serão os católicos a compreender a virtude da laicidade que aceitam com reservas.

«L’État chez lui, l’Église chez elle». “O Estado na sua casa e a Igreja em casa dela”. Um dia, as palavras pronunciadas por Vítor Hugo, em 14 de janeiro de 1850, no Parlamento francês, ressoarão tarde nos ouvidos de beatos, tímidos e idiotas que cedem à tentação de entregar o que é de César aos funcionários dos deuses que surgem nas esquinas da História.

16 de Abril, 2018 Carlos Esperança

Demónios e exorcismos

A religião que apavorava as noites da infância, com demónios das profundas do Inferno, nas recônditas aldeias da Beira Alta, foi esquecendo o Maligno, talvez por este ter maior medo das escolas do que do sinal da cruz ou ter-se cansado de atormentar as almas.

Se a memória me não falha, todos os párocos tinham então alvará para exorcismos, além das tarefas inerentes ao tríplice múnus do sacramento da Ordem. Agora, só a licença do Ordinário do Lugar, designação canónica do bispo da diocese, habilita para exorcismos, sendo as restantes tarefas do múnus sacerdotal, profético e pastoral comuns a todos.

Hoje, com a escassez de demónios, sem íncubos e súcubos, de vocação libidinosa, cuja existência era atestada por Tomás de Aquino e outros santos doutores, o Papa declarou que o Inferno era uma criação humana.

O Papa pode duvidar, mas a Cúria não, e obrigou-o a recuar no despautério teológico e a dizer que o demónio existe, certificado por exorcistas. Há quatro anos, a Igreja católica reconheceu oficialmente a Associação Internacional de Exorcistas que reúne cerca de 200 especialistas, entre sacerdotes católicos, anglicanos e ortodoxos, de onde se percebe que as divergências entre clérigos, de diversas confissões, não afetam demónios, mais coesos e alheios às diferenças litúrgicas ou teologais.

Sabe-se por sábios exorcistas, que desde o próximo dia 17 até 21 vão lecionar no curso de exorcismo no Vaticano, talvez para ficarem mais próximos do Demo, que “às vezes é preciso tapar a boca porque os demónios cospem muito” e que “ouvindo um grunhido satânico uma vez nunca mais se esquece”, entre outras peculiaridades demoníacas. É um curso para ensinar padres a expulsar demónios, saber levado por quem domina a arte e a ciência demonífuga.

Duarte Sousa Lara, que recusou ser administrador de uma empresa pública, lugar que o pai lhe ofereceu (não cabe aqui falar da licitude), para se dedicar ao serviço de Deus e …do Demónio, com mais de 50 pedidos de ajuda semanais, é a estrela dos exorcistas portugueses, reconhecido pela diocese de Lamego onde – diz ele –, exorciza possessos enviados por psicólogos e psiquiatras amigos, casos que não reagem a medicamentos. A afirmação exasperou o presidente do Colégio de Psiquiatria da OM, que o levou a dizer que “o sobrenatural não existe em medicina” e a comparar os exorcistas aos bruxos.

Sendo o sacerdote Sousa Lara filho do devoto censor de Saramago e não de um íncubo, o que o faria nascer bruxa e não exorcista, função reservada a homens, é de crer que este psiquiatra, Miguel Bragança, seja excomungado por falta de fé. O mesmo pode suceder ao padre Anselmo Borges, que disse: “O Diabo e os exorcismos são uma crendice”. Não se duvida de um exorcista e, muito menos, do Catecismo da Igreja Católica:

“Embora Satanás exerça no mundo a sua ação por ódio contra Deus, e embora a sua ação cause graves prejuízos, essa ação é permitida pela divina Providência. A permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério.”

Para um ateu o mistério maior é a permissão divina para que o Demo atormente crentes e, nunca, incréus. É um mistério explicável pela maldade de Deus, castigar os que mais ama. Os homens que criaram Deus inventaram mais justo o Demo.

Duarte Sousa Lara gasta em média 20 minutos a realizar um exorcismo e carece de 1 a 5 ou 6 pessoas, conforme a gravidade, para segurar os possessos, normalmente possessas, para que arrotem, vomitem e se torçam, e, eventualmente, tapar-lhes a boca, porque ‘os demónios cospem muito, mordem e é preciso cuidado’. Tem um longo futuro na função, e coincide com as declarações do mais antigo especialista do ramo, ainda em funções, o padre Humberto Gama, que chegou a fazer exorcismos para a TVI.

Ao padre Humberto Gama, que exercia [exerce ainda (?), em Fátima Mirandela], foi-lhe retirado o alvará pelas autoridades canónicas, e não abandonou o exercício das funções, apesar de problemas judiciais com maridos inconformados com a reentrância usada para extrair demónios que, quando são muito grandes, segundo as suas palavras, têm de sair por algum lado.

Há muitos demónios à solta. Um dos maiores especialistas em exorcismos calcula que são anualmente identificados 500 mil casos de possessão demoníaca, enquanto outro revela que há diabos especializados em diabruras diferentes, sabendo-se que a oração e o sinal da cruz são demonífugos profiláticos, mas não suficientes para dispensarem os experientes exorcistas que regem cursos de formação e aperfeiçoamento no Vaticano. 

14 de Abril, 2018 Carlos Esperança

Crer e saber

Por

ONOFRE VARELA (Gazeta Ateísta)

O Homem é um animal dotado de inteligência, o que o torna superior aos restantes animais seus companheiros da vida na Terra. Por isso mesmo é, também, um ser religioso por excelência, cuja característica de animal inteligente o levou à criação dos conceitos do belo, do sagrado e dos deuses, e à consequente prática de cultos religiosos. A Igreja pretende ser proprietária do conceito de Deus – sobre o qual se erigiram civilizações – mas, na verdade, do mesmo modo como a Língua que falamos é propriedade nossa, também o conceito de Deus a todos pertence, independentemente de seguirmos, ou não, uma religião, porque o conceito dos deuses é uma invenção da espécie Homo sapiens sapiens. Nessa pretensão de posse, a Igreja Católica já perseguiu e puniu com tortura e morte quem se atreveu a abordar a divindade fora do âmbito da sua fé, e o Islamismo extremista ainda hoje mata em atentados terroristas praticados em nome de Deus com os assassinos a gritarem “Allahu akbar” (Alá é grande). No século XXI voltamos à barbárie, desta vez refinada, que os mais bem intencionados de nós já tinham arrumado nas prateleiras da História mais macabra e longínqua.

Crer em Deus não é o mesmo que saber sobre Deus. O saber precisa de conhecimento, obrigando à constante renovação das ideias, sem o que, o verdadeiro saber não existe. A par disto há a considerar que o saber é lento, frio e racional. A crença, não! A crença é emotiva, ferve em pouca água e, por vezes, provoca danos irreversíveis. Na crença afirma-se sem se saber, com a mente aquecida pela emoção cega. O crente não sabe, de saber certo, aquilo que afirma saber, porque crer não é saber. Por muito que o leitor creia que o comboio parte ao meio-dia, vai perdê-lo se não souber que ele parte às dez horas da manhã! A crença rejeita a dúvida e afirma a certeza na fé.

O saber obriga à constante investigação e abertura ao que é duvidoso, novo e contraditório. Sem esta atitude de curiosidade e humildade, podemos ser crentes… mas nunca seremos sabedores. Em tudo, na vida, por uma questão de honestidade para connosco e com os outros, e até para que cada um sinta segurança no seu próprio raciocínio, é indubitavelmente preferível que se saiba, do que se creia.

Há que dizer que as religiões também são “modos de saber”, no sentido emocional da crença. Isto é: quando “eu sei que Deus existe porque o sinto”, adquiro um “saber” que ninguém destruirá, pois o meu sentimento mais profundo me diz estar a verdade do meu lado. É este “saber” que faz a “razão” dos crentes… embora não seja saber, nem razão, na verdadeira acepção dos termos, porque não pode ser aferido pelo saber das ciências, nem pela razão filosófica enquanto forma de chegar a conclusões reais, porque estas são contrárias àqueles saberes que não passam da imaginação que a fé alimenta. É este “saber religioso” que constrói fundamentalistas. E alguns deles… até são criminosos!

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)