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Carlos Esperança

30 de Julho, 2018 Carlos Esperança

O criacionismo é uma crença perigosa

Há quem confunda convicções e crenças e ignore que quem possui convicções fortes se mantém aberto ao contraditório, e quem perfilha crenças enjeita o que as possa abalar.

As crenças não exigem reflexão, basta-lhes a tradição e o ritual. As convicções obrigam à ponderação e à firme vigilância da realidade, que muda com os avanços da ciência.

Não há convicções que resistam aos factos ou que não sejam abaladas pela ciência, e as crenças resistem às evidências e recusam mudanças. A crença é a certeza sem provas, a obstinação que, perante a realidade que a contraria, lamenta que a realidade se engane.

O criacionismo é uma dessas crenças perfilhadas por quem pensa que a Idade do Bronze produziu verdades imutáveis transmitidas por um deus criado pelas comunidades tribais, dessa época, à imagem e semelhança dos seus patriarcas.

As pessoas de convicções firmes propõem as opiniões pela persuasão, as que perfilham crenças impõem-nas pela força. As primeiras são didáticas, as segundas são fanáticas. Umas sugerem, e veem adversários em quem diverge; outras recitam, e veem inimigos em quem discorda; num caso, há divergências; no outro, heresias.

As crenças conduzem ao proselitismo e são veículos de verdades únicas e imutáveis. As convicções são sugestões a debater, e suscetíveis de reavaliação.

As convicções baseiam-se na ciência e exigem método e objeto; as crenças prescindem do contraditório e não o toleram, dispensam o método, e o objetivo é a perpetuação.

Hoje vivemos num mundo que se deve à ciência, e que arrisca a sobrevivência por causa das crenças.

Pensar é mais difícil do que acreditar.

28 de Julho, 2018 Carlos Esperança

Milagres

O Canard Enchainé desta semana conta a história de um libanês emigrado na Roménia que não conseguia ter filhos e que depois de ter feito uma peregrinação ao tumulo de S. Charbel (um eremita e asceta maronita que o Vaticano santificou em 1977 e erigiu em patrono do Libano), encontrou a mulher grávida quando regressou a casa.

Pois vejam que uns incréus se atreveram a publicar no Facebook o seu cepticismo sobre a intervenção do santo, perguntando um ao crédulo progenitor se a criança se parecia com ele e atrevendo-se outra a comentar que talvez se parecesse mais com S. Charbel.

O jornal, que refere como fonte uma notícia do Le Monde do dia 24, dá igualmente conta da campanha de ódio que foi desencadeada contra os dois sacrílegos, que foram alvo de ameaças fisicas e foram mesmo detidos pela polícia que exigiu que retirassem os comentários do Facebook como condição da sua libertação.

Estes infiéis ateus não têm respeito por nada, conclui ironicamente o Canard.

a) CAASF

28 de Julho, 2018 Carlos Esperança

Para quem julga tolerante a Igreja católica

Serbian civilians who are being forced to convert to Catholicism by the Ustasa regime stand in front of a baptismal font in a church in Glina.
Photograph | Photograph Number: 90163

Serbian civilians who are being forced to convert to Catholicism by the Ustasa regime stand in front of a baptismal font in a church in Glina.

More than 1200 Serbs from Glina were forced to convert. They were later slaughtered in the same church where they were converted.

DateJune 1941
Photo CreditUnited States Holocaust Memorial Museum, courtesy of Muzej Revolucije Narodnosti Jugoslavije
D1A – Cortesia de Stephano Barbosa
27 de Julho, 2018 Carlos Esperança

Veículo litúrgico movido a feno

Bispo ortodoxo grego diz que culpa dos incêndios é do ateísmo de Tsipras

Polémico bispo ortodoxo grego de Calávrita afirmou no seu blog na terça-feira, que “os ateístas do Syriza são a causa do desastre”. Outros clérigos ortodoxos criticam afirmações.

Os fogos na Grécia já fizeram 80 mortos e mais de uma centena de feridos

O bispo ortodoxo Ambrósio de Calávrita, afirmou numa publicação no seu blog que a causa dos trágicos de incêndios é o “primeiro-ministro ateu”. O religioso afirmou ainda que “os ateístas do Syriza são a causa do desastre” porque “o seu ateísmo chama a fúria divina”. Nas redes sociais outros responsáveis da igreja ortodoxa e criticaram as declarações, como revela o jornal Ekathimerini. O arcebispo de Atenas reiterou que Ambrósio estava a “expressar a sua opinião pessoal”.

26 de Julho, 2018 Carlos Esperança

A fé e o suborno

A mãe que reza um terço para que o filho passe no exame está a meter a cunha à santa para que influencie o júri que o há de avaliar.

O construtor civil que manda o cabaz de Natal ao engenheiro da Câmara, agradece o último andar do empreendimento, que não constava do projeto inicial.

O funcionário que promete ir a Fátima, se for promovido, quer apenas que a Senhora se lembre dele para a vaga que, por mérito, pertenceria a um colega.

O cordão de ouro que a minhota deixou no andor do Senhor dos Passos para que o seu homem abandonasse a galdéria que o transtornou e voltasse para ela, imagina que, sem a renúncia ao ouro, o Senhor não lhe levaria de volta o bandalho do marido.

Sempre que há promessas para obter do santo, especializado em certo tipo de subornos, um qualquer benefício, é a admissão do carácter venal da Providência. É o cabrito que se manda ao chefe na véspera das atualizações salariais.

Ao santo pede-se que interceda junto de Deus para fazer ao mendicante o que não faz a outros. Ao chefe solicita-se que trame o parceiro em benefício próprio.

Portugal é um país venal, de pequenas e vis corrupções, feito à imagem da religião que o formatou, espécie de marca que indica a ganadaria de origem e reparte os portugueses por paróquias e dioceses como animais da respetiva quinta.

Que pode esperar-se da Igreja do Papa JP2 que acreditou que a Virgem lhe dirigiu a bala por sítios não vitais poupando-o a ele sem dele poupar os crédulos?

A mentalidade beata cria gente que vê o empenho, suborno e compadrio como virtudes canónicas, que levam as pessoas a condutas que lhes ensinaram a ter com Deus.

Felizmente ainda há gente séria. O mesmo não se pode dizer da fauna mística que povoa o Paraíso, para onde se viaja através de agiotas, à custa de missas, terços, oferendas e da renúncia aos prazeres da vida.

A ligeireza ética é uma consequência da mentalidade autóctone, que nos remete para as “Causas da Decadência dos Povos Peninsulares”, bem analisadas por esse grande vulto da cultura portuguesa, Antero de Quental, na 2.ª das históricas Conferências do Casino.

24 de Julho, 2018 Carlos Esperança

Gazeta Ateísta

“Centenário”

(Por ONOFRE VARELA)

Este é o centésimo artigo ateísta que publico na Gazeta de Paços de Ferreira. Decidi festejar este “centenário” partilhando com os leitores a minha satisfação por esta longevidade que, no início, não me pareceu provável. Sei no país que vivo, conheço o sentimento religioso da zona onde a Gazeta está implementada, e também sei da falta de hábito dos religiosos se defrontarem com opiniões que não afinam pelo diapasão das homilias nas missas da sua paróquia.

Às pessoas crentes foi ensinado que um ateu é um demónio e que as suas palavras não merecem escuta. Esta ideia provém dos tempos inquisitórios em que a Igreja Católica torturava os não crentes e queimava-os numa fogueira, apenas e só por não partilharem dos ideais religiosos que os sacerdotes impunham à comunidade. Bem sei que hoje ainda há quem pense assim… mas têm de refrear os seus instintos totalitários e desumanos, perante a lei da liberdade de expressão num país saudavelmente laico e não doentiamente religioso.

O primeiro artigo ateísta foi publicado na edição do dia 7 de Agosto de 2014, com o título “Eu, ateu me confesso”, do qual apenas me chegou a reacção de um único leitor, considerando que se um ateu “quer divulgar a sua opinião, deve criar um jornal para o efeito, e não usar as páginas da Gazeta”. Esqueceu-se, esse leitor, de dois pormenores importantíssimos: 1 – a Gazeta também publicava (e publica, e espero que para sempre) um artigo de um sacerdote católico que não criou um jornal para difundir a sua opinião religiosa; 2 – A liberdade de pensamento e expressão foi reposta no país em Abril de 1974, e aferida pela Constituição da República Portuguesa em Assembleia Constituinte reunida em sessão plenária de 2 de Abril de 1976, e que os jornais existem, também, para difundirem a palavra de quem, no anterior regime, estava condenado ao silêncio.

Para além disto, o estatuto editorial da Gazeta diz que o jornal “participa no debate das grandes questões que se colocam à sociedade portuguesa […] aposta numa informação diversificada, abrangendo os mais variados campos de actividade e correspondendo às motivações e interesses de um público plural […] e considera que a existência de uma opinião pública informada, activa e interveniente é condição fundamental da democracia e da dinâmica de uma sociedade aberta”.

Por tudo isto endereço os meus parabéns à Gazeta (na pessoa do seu director Álvaro Neto) pela sua pluralidade e respeito pela liberdade de expressão, e endereço os meus melhores cumprimentos aos colaboradores e aos anunciantes da Gazeta, e deixo aqui um especial agradecimento aos leitores que me vão lendo e incentivam a continuar com a divulgação da minha opinião de ateu. Muito obrigado a todos.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

19 de Julho, 2018 Carlos Esperança

A cumplicidade da Igreja católica com o fascismo espanhol

A IMPUNIDADE DO FRANQUISMO

O Governo andaluz aplicará la Lei de Memória se a Irmandade de Macarena não retirar voluntariamente os restos de Queipo de Llano.

Uma imagem histórica de Queipo de Llano em Sevilla

Una imagen histórica de Queipo de Llano en Sevilla.

17 de Julho, 2018 Carlos Esperança

A confissão está obsoleta

A confissão era uma arma

Na Idade Média, e ainda no século passado, a confissão era mais do que um sacramento, era a arma que a Igreja usava para estar bem informada, um instrumento da sua política secular, um manancial de informações para os seus serviços secretos.

Hoje, com os padres em vias de extinção, os pecados isentos de sanções penais e os crentes a dizerem apenas o que lhes convém, nem os padres têm paciência para substituir os psicólogos, nem os confessionários se mantêm como postos de recolha de informações.

Há que dizer depressa os pecados para evitar que a absolvição seja dada antes da confissão.

15 de Julho, 2018 Carlos Esperança

Deus é pior do que a sarna

Os homens, à força de ouvirem que Deus existe, tornam-se crentes e, à medida que o repetem a si próprios, fazem-se beatos.

Deus é uma infeliz criação, difícil de aperfeiçoar. Enquanto as máquinas se melhoram, a partir da dúvida sobre a sua perfeição, Deus só pode piorar porque os clérigos garantem que é infinitamente bom e não admitem a discussão.

Com tal mercadoria minam-se as bases da civilização, perturba-se a paz, impede-se a solidariedade humana.

Deus não é apenas uma criatura pior do que o seu criador – o Homem –, e um troglodita incapaz de se regenerar, é o princípio do mal, o acicate de todos os ódios e crueldades.

Na base do racismo e da xenofobia está Deus na despótica inexistência, no seu demente primitivismo, um ser misógino e delinquente, manejado por fios invisíveis tecidos pelas religiões, através de prestidigitadores profissionais, os clérigos.

Deus e o Diabo são irmãos gémeos, filhos do medo dos homens, explorados em favor do clero.

As peregrinações são atos de insensatez coletiva em direção a locais onde os homens inventaram marcas de Deus, centros de exploração da fé e da superstição, locais de recetação onde se esbulham os crentes, para maior glória dos parasitas de Deus.

Se Deus existisse, os crentes ficariam satisfeitos por serem os únicos com direito a uma assoalhada no Céu e para gozarem o ócio eterno na companhia da fauna celeste. Assim, vivem cheios de azedume, com vergonha da sua estultícia, ávidos de converter os outros aos seus próprios erros e fazer deles infelizes, à sua semelhança.

Um mundo sem Deus, ou com muitos, seria certamente mais pacífico, mas a loucura das religiões monoteístas quer fazer do Planeta um antro de fanáticos, de um único Deus, uma perigosa quimera que ensandece os homens, os assusta e imbeciliza.

Deus é um déspota imprevisível com lacaios que não o discutem nem o deixam discutir.