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Carlos Esperança

28 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

DIA INTERNACIONAL DE COMEMORAÇÃO EM MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DO HOLOCAUSTO

74.º aniversário da libertação de Auschwitz: As tropas soviéticas derrotaram o nazismo.

Vários países da União Europeia denunciam que a extrema direita está a conseguir que se minimizem as atrocidades cometidas pelo nazismo. Não esqueçamos.

27 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

Associação Ateísta Portuguesa (AAP)

Comunicado

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) tomou conhecimento da deslocação de Sua Excelência o Presidente da República ao Panamá para, durante três dias, participar nas XXXIV Jornadas Mundiais da Juventude, assistir a uma missa papal e estar presente na bênção da restauração de um edifício religioso.

O anúncio, na página oficial da Presidência da República, convenceu esta associação de que é de carácter oficial a viagem, atitude que, a ser assim, merece o seu maior repúdio por ser em representação do País.

A título particular e a expensas próprias, caberia a esta Associação respeitar e ignorar tamanha devoção. Participar em jornadas da Juventude, onde manifestamente a idade não o recomenda, ir à missa e assistir à benzedura de um templo católico, é um assunto que a AAP ignoraria se o enviado fosse um membro da Conferência Episcopal, mas que considera um grave atentado à neutralidade religiosa do Estado laico, quando perpetrado pelo Presidente da República.

A Associação Ateísta Portuguesa não se revê nas frequentes manifestações de fé que o PR explicita publicamente e lamenta a reincidência de Sua Excelência em manifestações pias, que ofendem gravemente a laicidade do Estado comprometem a neutralidade religiosa a que Constituição obriga.

Sem perda do respeito que é devido ao PR, a AAP sente-se profundamente ofendida quando vê o PR de joelhos ou curvado perante o clero de qualquer religião. O País não é um bando de beatos e não merece tal ofensa.

Odivelas, 27 de janeiro de 2019   

27 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

O PR e o Panamá

Quando li que o PR estava no Panamá, pensei que o dom da ubiquidade, atributo de um frade português que a mitologia católica colocou em Pádua e em Lisboa, à mesma hora, no mesmo dia, se repetia agora com Marcelo.

Dado que fujo dos telejornais, para preservar alguma sanidade mental, resolvi consultar o sítio da PR onde, de facto, estava anunciada a deslocação do PR ao Panamá para as XXXIV Jornadas Mundiais da Juventude.

A deslocação a festivais da juventude, de onde o julgava arredado pela idade, levou-me a indagar o que iria fazer ali o PR e a surpresa tornou-se azedume e a deslocação motivo de censura. Não foi procurar os papéis do Panamá que, noutros países, levaram pessoas à prisão, foi participar numa Via Sacra com os jovens, numa missa e assistir à bênção das obras de restauro de um edifício pio.

Se foi a expensas próprias, em merecidas férias, só me cabe respeitar a devota intenção, mas se foi em viagem de Estado fico com a vaga sensação de que desprezou o País laico que representa, num atentado à ética republicana e à neutralidade do Estado em questões religiosas.

Portugal elegeu um PR, não colocou em Belém, apesar do nome do palácio, uma figura do presépio, o sacristão que voa para as missas em vários continentes, um devoto, ruído pela fé, com um tropismo especial para beijar o anel do seu homólogo do Vaticano.

O encontro com jovens peregrinos portugueses não legitima a despesa e abre um grave precedente para encontros com jovens amantes do remo, do berlinde, da Música Pop, da vela, do andebol, do Rock ou da bisca lambida, sem necessidade de se ajoelhar na missa que o Papa Francisco vai dizer no exercício da sua profissão.

É natural que do encontro com o PR do Panamá, Juan Carlos Varela, resultem grandes vantagens para Portugal, mas podia aproveitar quando ele não estivesse ocupado com a receção ao chefe de Estado do Vaticano.

Marcelo, nesta fé que o devora, fere a laicidade e reduz-se a presidente dos portugueses amigos da hóstia e da missa. Parece o enviado da Conferência Episcopal Portuguesa.

26 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

Há 4 anos

A insustentável leveza do ecumenismo

Na mesquita de Lisboa – disse a comunicação social –, juntaram-se, em oração, cristãos, judeus e muçulmanos, numa comovedora e fraterna devoção ao Deus abraâmico que os empurra para intermináveis guerras numa orgia de sangue que começou com um gracejo divino a dizer a Abraão para lhe sacrificar o filho, o que o troglodita faria se não tivesse sido uma brincadeira de Deus para pôr à prova a sua fé. O Deus de Abraão não confiava nos homens mas estes teimam em confiar nele.

Não penso que as orações pela paz sejam ouvidas, onde ou por quem quer que seja, mas é comovedor saber os três monoteísmos unidos por um intenso e unânime desejo de paz.

Foi lindo ver a notícia mas gostaria que o ato litúrgico tivesse ocorrido simultaneamente numa sinagoga de Jerusalém e numa mesquita da Palestina, que na Arábia Saudita e no Iémene, uns de joelhos, outros de cócoras e todos de rastos, anunciassem não mais matar.

Assim, em Lisboa, numa cidade cosmopolita, pode encenar-se uma cerimónia pacífica, mas onde a correlação das crenças não é mediada pela laicidade do Estado e pela força da democracia, há a sharia, bem mais de difícil de satirizar do que crenças anacrónicas.

Quem detesta decapitações, lapidações, amputações, vergastadas e outros castigos que fazem babar de gozo os funcionários de Deus e as multidões intoxicadas pela fé, não se conforma com espetáculos pios encenados.

22 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

Espírito missionário

Por

ONOFRE VARELA

Cumpri o serviço militar em Angola (de Dezembro de 1965 a Fevereiro de 1968) em condições que não me permitiram tirar do facto as melhores lições e aproveitá-las para meu engrandecimento.

Primeiro, porque estava nas fileiras do Exército a prestar um serviço obrigatório que repudiava (conto a experiência no livro 191 – Memórias de um Soldado Em Angola. Editora Verso da História / Book Cover. 2016). E depois, porque os meus 20 anos de idade não me davam a madurêza de que necessitava para ter, naquela fase da vida, outro interesse que não fosse o de chegar vivo ao fim do dia. Só muitos anos depois de regressar me dei conta de ter perdido oportunidades únicas,desperdiçadas por desconhecimento. Estive em terra africana, no berço da Humanidade, e não vi, nem senti, do modo como deveria ter visto e sentido, o que me rodeava. Não só a paisagem, mas principalmente aquela gente graciosa com chocolate na pele; os seus usos e costumes e o entendimento que tinham das coisas e da própria vida. Um manancial de estudos antropológicos que desperdicei por ser um estúpido moço de 20 anos mal vividos!

Recordo que numa outra zona onde não estive, havia militares aquartelados na “Missão”. Seria um lugar de sanzalas que rodeavam um edifício que serviu de moradia a missionários protestantes. Após 1961, com o evoluir da guerra e os violentos ataques traiçoeiros dos guerrilheiros aos colonos, deixando rastos de cinza e morte, os missionários acabaram por abandonar a “Missão” que o Exército tomou como quartel.

Dos missionários e do espírito de missão, tenho a maior admiração. Provavelmente terei uma visão romântica do que é ser missionário (como tinha dos jornalistas antes de entrar nas redacções dos jornais). Vi filmes e li histórias que me mostraram o sacrifício e a heroicidade daquela gente cujo interesse seria ajudar a aguentar a vida diária de quem nada tinha, desde comida à saúde, acalentando-lhes a necessária confiança no futuro para lhes permitir a continuação da vida. Bem sei que toda essa dádiva tinha a intenção de conquistar almas para o culto religioso representado por quem prestava ajuda social, com a organização de uma Igreja na rectaguarda, levando os pobres africanos a abraçar o Cristianismo. Aquilo era só a sementeira; a colheita haveria de ser feita anos depois.

Agora decidi procurar informação sobre a atitude missionária, e constatei haver uma indústria!… Encontrei uma lista de 23 “empresas missionárias” procurando jovens com espírito de missão evangélica! Empresas que ostentam nomes como: Missionários do Preciosíssimo Sangue; da Consolata; do Coração de Maria; de São João Baptista… E li a declaração de interesses: “Missionário é ser chamado, escolhido, separado e preparado por Deus, para levar a mensagem do Evangelho (…) com o intuito de converter alguém à sua fé”.

Esta constatação dissipou o romantismo do entendimento que tinha da atitude missionária, mas ficou-me a certeza reforçada do espírito fraterno e desapegado dos nossos jovens generosos que prestam missões humanitárias e que, por isso, merecem todo o meu respeito e admiração.

(Texto de Onofre Varela, a publicar no jornal Gazeta de Paços de Ferreira na edição de 24 de Janeiro de 2019)

17 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

Há 3 anos

Francisco deixou cair a tiara

Por mais que se encoste à férula, não retomará o equilíbrio que parecia distingui-lo dos dois últimos antecessores. A nódoa das declarações sobre a liberdade são o corolário da tradição romana, a síntese entre a Inquisição e a liberdade religiosa, o Index Librorum Prohibitorum e a liberdade de expressão, o concílio de Trento e o Vaticano II.

O Papa saiu da Argentina do ditador Videla mas essa Argentina não saiu de dentro de si. Francisco tem o direito de pensar o que pensa, mas os livres-pensadores têm o direito de pensar de forma diferente. Ai de nós, se tivéssemos de nos comportar de acordo com o regedor de um bairro de 44 hectares, sem maternidade, constituição ou democracia. O líder da única teocracia europeia, nascida dos acordos de Latrão, entre Mussolini e o Papa de turno, não faz a lei dos países democráticos.

O Papa tem o direito de pensar que «Não podemos provocar, não podemos insultar a fé dos outros, não podemos ridicularizá-la» (…) e que «É legítimo usar esta liberdade, mas sem ofender». Eu é que reclamo, dentro das leis do meu país, o direito de rir das roupas femininas com que se veste, de gozar com o fenómeno alquímico dos sinais cabalísticos que transformam a água da rede em benta e a rodela de pão ázimo em carne e sangue de um profeta com dois milénios de defunção.

O passado das Igrejas só não é motivo de riso porque o horror e as lágrimas o impedem. Pensar que o Sol parou em Fátima e que durante séculos fez o movimento de translação à volta da Terra é tão cómico como a cura do olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus por D. Nuno Álvares Pereira, quando a cozinheira de Ourém o queimou com salpicos de óleo fervente de fritar peixe porque tinha uma pagela do herói medieval que logo beijou.

Haverá ato de humor mais apropriado do que desenhar um preservativo no nariz de um Papa cuja teologia do látex se tornou responsável pela infeção de centenas de milhares de pessoas a quem dissuadiu do seu uso?

O Aiatolá Khomeini, na sua piedosa loucura, emitiu uma fatwa contra Salman Rushdie, e o Papa, o arcebispo de Cantuária e o grande rabino de Jerusalém foram unânimes no silêncio cúmplice. Deviam ser respeitados? O falecido bispo de Coimbra, João Alves, escreveu no Diário de Coimbra que compreendia a fatwa contra o escritor porque este tinha ofendido o profeta que, para os muçulmanos, era sagrado.

Sagrada é a liberdade de rir e criticar. O que os papas disseram dos ateus era um direito, não o que lhes fizeram.

15 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

Há 5 anos

Desventuras de S. Victor e da Freguesia que tem o seu nome (Crónica)

Durante muitos anos S. Victor ouviu as preces dos devotos e atendia-as na medida das suas disponibilidades, de acordo com a modéstia dos mendicantes. Afeiçoaram-se os créus ao taumaturgo e este aos paroquianos que o fizeram patrono da maior paróquia da Arquidiocese de Braga.

Há uma década foi retirado do “Martirológio”, o rol da Igreja Católica que regista todos os santos e beatos reconhecidos ao longo de vinte séculos, desde que a Igreja católica se estabeleceu. O argumento foi pouco convincente e deveras injusto. Não se exonera do catálogo um santo por ser apenas uma lenda. Que o tenham feito a S. Guinefort, cão e mártir, morto injustamente pelo dono, aceita-se, porque a santidade não se estende aos animais domésticos. Duas mulas, que rudimentares conhecimentos dos padres da língua grega confundiram com duas piedosas mulheres, compreende-se que fossem apeadas dos altares, interditos a solípedes.

Mas um santo com provas dadas, clientela segura, devoção fiel, foi a maldade que não se fazia aos pios fregueses, tementes a Deus e cumpridores dos Mandamentos. O padre Sérgio Torres afirmou ao «Correio do Minho», em janeiro de 2005, que os paroquianos «reagiram com desagrado e muita surpresa». Não lhe permitiu o múnus e a urbanidade dizer que foi uma santa patifaria do Vaticano. O séc. IV, em que o jovem Victor foi condenado à morte por se recusar a participar numa cerimónia pagã, segundo a tradição agora desmentida, foi há tanto tempo! Que importa uma pequena mentira numa Religião que vive das grandes?

Ainda hoje, nove anos volvidos, a Junta de Freguesia de São Victor, sita na Rua de São Victor, n.º 11, afirma com orgulho, no sítio da Internet, que, «segundo reza a lenda» o seu patrono foi “martirizado pelos romanos, através do fogo e da degolação, por afirmar as suas convicções”. E acrescenta, em jeito de propaganda eleitoral: “Ainda hoje, este exemplo serve de mote ao executivo desta freguesia”.

E agora? Que fazer? Arrancam-se os azulejos que documentam a mentira? Transfere-se a devoção para os santos fabricados por João Paulo II, alguns tão pouco recomendáveis e tão detestáveis, quase todos espanhóis, e apenas com a sorte de terem dois milagres no currículo?

Era presidente da Junta de Freguesia na altura da despromoção, Firmino Marques, que embora revelando “algum desconforto”, justificou a retirada do orago do calendário litúrgico «somente pelos critérios científicos usados atualmente para a proclamação dos santos e beatos da Igreja Católica». Esse autarca era um admirador confesso da ciência.

O atual, Ricardo Silva, de sua graça, prefere apelar para o exemplo glorioso de um santo falsificado a procurar um novo taumaturgo cujo nome não acertaria com o da Freguesia e de que não obteria garantias mínimas de ser mais santo e de ganhar tão dilatada fama.

O bom senso e pragmatismo do autarca Ricardo valeram-lhe decerto a eleição.

13 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

A saudita Rahaf e o direito à apostasia

Rahaf Al-Qunun é uma corajosa saudita de 18 anos que se barricou num quarto de hotel no aeroporto de Banguecoque, Tailândia, na zona de trânsito do aeroporto, para impedir os agentes da imigração tailandesa de a enviarem num avião para o Kuwait, onde estava a sua família, de que fugiu, e fosse obrigada a regressar à Arábia Saudita.

Rahaf recusa o hijab e um casamento imposto. Queria pedir asilo na Austrália, país para onde tinha um visto de 3 meses, mas foi impedida de sair da Tailândia, e só saiu do seu quarto sob proteção da ACNUR, agência da ONU para os refugiados, que irá “avaliar o caso à luz dos estatutos” e dar uma resposta. Se a ACNUR salvar esta jovem já justifica a sua existência.

A jovem gritou o seu desespero através do Twitter e implorou a solidariedade através da mensagem: “Peço a todas as pessoas que se encontram em trânsito em Banguecoque que se manifestem contra a minha expulsão”, barricada no seu quarto de hotel, receosa de um regresso que lhe podia custar a vida, já que a liberdade era maior na clausura de um quarto de hotel do que na vastidão do país onde teve a infelicidade de nascer.

Esta notícia veio, há dias, na imprensa mundial. Refere a situação da jovem que fugiu de um país onde não pode ser mulher, de um país que tem relações comerciais com estados civilizados e onde a mulher é um mero objeto que os homens podem colecionar.

As autoridades tailandesas anunciaram já que não vão proceder à deportação. Rahaf é certamente de uma família rica, que pode viajar e hospedar-se num hotel, mas não passa de um objeto transacionável num país medieval, com uma religião anacrónica e violento espírito misógino que contamina as famílias embrutecidas pela fé e pelos interesses.

O grito de liberdade pode ter ecoado nos países civilizados, mas as mulheres dos países muçulmanos são o paradigma da escravatura do mais inflexível dos monoteísmos.

Em nome de uma crença execrável é vedada à mulher a liberdade de amar, o direito de escolher quem quer, como vestir-se ou com quem andar. O grito de socorro de Rahaf é o ato de extrema coragem e um exemplo que a repressão religiosa não deixará que ecoe.

Cabe a todos os homens e mulheres dos países livres exigirem o boicote aos países onde a mulher está condenada à escravidão. Maldito multiculturalismo que serve de desculpa aos países laicos para permitirem a opressão da mulher enquanto fazem negócios com a canalha que execra o porco e o cão e não passa sem a crença, cinco orações diárias, um mês de jejum anual, esmolas e, se possível, uma excursão a Meca, cinco pilares em que se baseia a violência de um profeta analfabeto e de uma religião hedionda.

Não há deus que valha um só artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos e a apostasia não é um crime, é um direito inalienável.