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Carlos Esperança

22 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

Direitos da mulher

Quando se verifica uma regressão política e ideológica na civilização, que concluiu que não há direitos humanos fora da igualdade entre os sexos; quando a mulher continua a ser a maior vítima da violência doméstica e a mais sacrificada nas tarefas; quando, salvo um módico de esperança na Igreja católica do Papa Francisco, as religiões são o instrumento de domínio do homem sobre a mulher, é urgente a denúncia da iniquidade e a batalha contra ela onde quer que exista.


Não há islamofobia, que é doença do foro psiquiátrico, há medo de uma religião anacrónica onde à mulher está reservado o quinhão maior de sofrimento e a sua posse assume as raias da demência de que só o fascismo islâmico é capaz.

Só a igualdade nos torna livres a tod@s, seja onde for.

20 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

O 17.º aniversário da canonização de Santo Escrivá

Não sei como pude esquecer o 17.º aniversário da canonização do bem-aventurado servo de Deus, monsenhor Escrivá de Balaguer, que, depois de percorrer os degraus de Venerável e Beato, chegou a Santo em 6 de Outubro de 2002, graças a dois milagres aprovados – o primeiro no campo da oncologia e o segundo do foro da dermatologia. Com 13 dias de atraso, aqui fica a reparação devida ao taumaturgo.

O apoio ao ditador Franco e a obsessão por dinheiro, poder e honrarias podem ter arredado o clérigo da bem-aventurança eterna mas não lhe tolheram a canonização.

O virtuoso bispo do Funchal, D. Teodoro de Faria e o impoluto ministro de Estado e da Defesa, Dr. Paulo Portas, destacaram-se então entre os portugueses bem formados, convidados a deslocar-se a Roma para a cerimónia. Não terão deixado de rezar para que se esquecessem as ligações da Prelatura ao mundo da alta finança e os inúmeros escândalos financeiros em que se viu envolvida no passado ( Rumasa, Matesa, Banco Ambrosiano, etc.) já que não iriam rezar pelos escândalos vindouros.

A tentativa de criar o governo teocrático universal sonhado por Paulo, a sua aliança com a Mafia internacional e a pseudo maçonaria financeira, ou o abuso indiscriminado do negócio milagreiro, documentados por Juan G. Atienza (Los Pecados de La Iglesia), são acusações esquecidas.

Os aspetos negativos da personalidade de Escrivá, referidos pela colaboradora e secretária de muitos anos, Maria del Carmen Tapia, no livro “Uma vida na Opus Dei”, e as denúncias de Robert Hutchison em “O Mundo Secreto do Opus Dei” desvanecem-se com o tempo.

Regozijemo-nos, pois, por ter sido Monsenhor Escrivá “o justo entre os justos mais rapidamente elevado aos altares em toda a história da Igreja”, 17 anos exatos após a sua morte ( Ob. citada de J. Atienza, Pág. 342).

Já então 1750 sacerdotes e 80 mil fiéis – um exército de prosélitos sob a omnímoda autoridade de um prelado que dispunha de amplos recursos financeiros e sólidos apoios políticos em todo o mundo – não deixaram de proclamar a santidade do “Pai”.

Dez anos e 13 dias depois da canonização, quem não puder beneficiar da graça divina por intercessão do poderoso santo, evite desafiar a ira da Prelatura. Os recursos financeiros e o poder político não deixaram de se multiplicar e globalizar.

19 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

O catolicismo, o poder e a política no início deste milénio

As religiões não toleram a perda de influência. Depois de criarem um deus verdadeiro, de o promoverem e enfrentarem a concorrência, vieram o iluminismo, a laicidade e a democracia a estorvar o proselitismo.

A pedagogia ativa com que combatiam heresias e converteram réprobos já não pode ser aplicada porque a tortura é proibida e as fogueiras tornaram-se obsoletas, para desespero dos padres e eterna perdição das almas.

Quando os jesuítas anunciaram na China a boa-nova de que o filho de deus tinha vindo ao mundo, espantaram-se os chineses como, durante tanto tempo, ninguém os avisou. E, talvez por isso, preferiram ao deus, que se deixou pregar na cruz, um homem que sorriu quando lhe disseram que era eterno – Buda.

Apesar dos reveses, os deuses dos monoteísmos gozam de sólida reputação. Os humores e idiossincrasias não os destroem mas sabe-se que, quando a repressão abranda, germina o ateísmo e, sempre que o poder do clero se debilita, a confiança esmorece.

As religiões, não podendo destituir, em nome da fé, os mandatários do povo, sufragados por eleições, pedem, por amor de deus, que sejam eleitos governantes tementes a deus e generosos com os seus devotos servidores.

Em Chipre, em 2001, os padres rezaram muito para que o partido comunista perdesse as eleições e interromperam as orações a vê-lo ganhar. Os resultados eleitorais provaram que deus não estava na ilha e que as orações eram placebo.

Nessa altura, em Itália, andou o Vaticano numa azáfama a pedir orações por Berlusconi, um cristão que pouco deve à santidade. Ganhou as eleições mas houve quem pensasse que influíram mais a comunicação social e o dinheiro do que o deus do Vaticano.

Em Espanha a Conferência Episcopal jogou tudo na luta contra o PSOE que, entre outras maldades, legalizou as uniões homossexuais, permitiu-lhes a adoção de crianças e tornou facultativa a aula de religião católica nas escolas públicas. As eleições foram entre Zapatero e a Conferência Episcopal e o primeiro ganhou-as.

Penso que, um dia, em qualquer país, ganhará as eleições quem tiver a animosidade do clero. Deus perdeu influência. Até para obrigar as crianças a comer a sopa.

Em Roma está, de facto, em perda. Infelizmente, de Jerusalém, Meca e Medina, onde os monoteísmos germinaram, há um surto epidémico de consequências imprevisíveis.

18 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

O Islão e a liberdade religiosa

Ao contrário do que as religiões desejariam, a liberdade religiosa é o direito às crenças, descrenças e anti-crenças, e a única obrigação do Estado democrático, necessariamente laico, é garantir esse direito a todos os cidadãos.

A Igreja católica, a mais popular em Portugal, só aceitou a liberdade religiosa, durante o Concílio Vaticano II, 1960 anos depois de ter sido criada.

Cem anos antes, ainda Pio IX excomungava o panteísmo, o naturalismo, o racionalismo, o indiferentismo, o socialismo, o comunismo, a maçonaria, o judaísmo, as outras igrejas cristãs, enfim, o livre-pensamento e todos os livres-pensadores.

Ler a encíclica Quanta Cura, acompanhada pelo famoso Syllabus errorum, é conhecer o pensamento de um talibã romano. Não foi por acaso que João Paulo II beatificou o autor.

As Igrejas tendem a tornar-se partidos políticos totalitários e se a Igreja católica acabou liberta, provavelmente obrigada, está hoje, com um papa humanista, em desvantagem perante as outras Igrejas.

O Partido Republicano dos EUA é hoje uma perigosa seita evangélica capaz de impedir a docência a um professor que ensine o evolucionismo em detrimento do cristianismo. O termo ‘fundamentalismo’ foi cunhado no início do século XX, para designar o protestantismo evangélico americano.

Todavia, o mais implacável dos monoteísmos, é o Islão, um partido político de vocação fascista, à escala global, a seduzir jovens que a violência e o fanatismo atraem.

Já foram identificados portugueses que se radicalizaram no jihadismo islâmico em Portugal. Não surpreende quem conhece o manual terrorista que o Arcanjo Gabriel ditou a Maomé e a devoção com que é recitado.

O que surpreende é a liberdade dos formadores e dos formandos em cursos com ou sem subsídios da UE. Portugal não pode consentir escolas de terrorismo, sob a capa de uma ‘religião revelada’, nem permitir o proselitismo agressivo de mesquitas e madraças.

Um padre católico que faça propaganda eleitoral através do púlpito pode ir preso, apesar da cobardia dos governos em atuar. E, depois de revelado que há formação jihadista em Portugal, não se entregam à justiça os incitadores do ódio e fabricantes de monstros?

Há uma guerra religiosa em curso na Europa e a laicidade permanece descurada. Parece que a vocação suicida nos conduz para o abismo, sem respeito pela civilização herdada do Iluminismo e da Revolução Francesa. Ou estamos à espera de que as Igrejas cristãs se radicalizem de novo para fazerem frente à ameaça e voltarem ao combate dos infiéis?

Os muçulmanos podem duplicar as rezas, aumentar jejuns e recitar mais versículos, mas acabem com a lapidação, a pedofilia, a poligamia, a excisão do clitóris, a decapitação de infiéis, o terrorismo e todas as malfeitorias de que são capazes em nome do Deus que outros inventaram e eles tornaram mais sádico.

Exigir respeito pelos princípios cívicos e democráticos da civilização europeia não é um ataque a uma religião, é a defesa do direito à prática ou não prática de todas e de cada uma.

16 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

Texto escrito em 2013 contra JP2.

A indústria da santidade e a inflação de beatos por quem não se arrepende

Para vergonha da Igreja católica, descontados os crimes de épocas recuadas, que podem sempre ser atribuídos aos costumes bárbaros da época, mas comprometem a inspiração divina de que se reclama, bastava a cumplicidade e o silêncio perante um dos maiores genocidas da Humanidade – Francisco Franco –, para exigir o pedido de perdão sincero de quem herdou o ferrete da ignomínia.

Todos sabemos que a violência atingiu na Guerra Civil espanhola limites inauditos de crueldade dos dois lados da barricada. Não houve bons e maus, apenas maus. Não podemos esquecer a violência cruel do anticlericalismo dos anarquistas e liberais e, em menor medida, dos marxistas, cujo ódio à Igreja, implicada com a pior direita, rivalizou com o empenhamento do clero nos crimes mais perversos.

Há, no entanto, duas diferenças capitais entre os que se bateram de um e outro lado da barricada. Do lado da República, o facto de ter resultado de eleições livres sufragadas pelo povo, e, do lado dos sediciosos, a intenção derrubar o Governo legal e instalar a ditadura. A segunda diferença, assaz sinistra, resulta do facto de, vencida a guerra, insistirem nas execuções sumárias, perseguições cruéis, assassinatos programados e nas valas comuns, cujos vestígios querem apagar, para onde atiraram as vítimas, fuziladas por divertimento sádico e violência sectária.

As crianças roubadas a mulheres, que assassinavam após o parto, foram distribuídas por casais inférteis de sequazes do fascismo espanhol. Não houve ignomínia, crueldade ou sadismo que os franquistas não cometessem, depois da guerra onde Hitler experimentou o armamento com os aviões da Legião Condor, Mussolini colaborou com submarinos e avões, a Igreja católica concedeu o estatuto de Cruzada aos revoltosos e Salazar apoiou a retaguarda, permitindo o recrutamento dos Viriatos, o abastecimento aos franquistas e impedindo o refúgio das tropas leais ao Governo.

Franco teve o apoio entusiasta do Opus Dei, que nunca lhe faltou com bênçãos, missas e ministros para o Governo. Balaguer, além de ter colaborado na guerra, ainda o felicitava entusiasticamente, quase duas décadas depois, em carta de 25 de maio de 1958, carta que a filha do ditador conservou extasiada com a veneração do futuro santo ao déspota.

Depois da dolorosa memória que dilacera Espanha, depois de mais de 400 mil mortos e centenas de milhares de exilados, impede-se a exumação das vítimas do franquismo e exonera-se um juiz corajoso, Baltasar Garzón, que quis identificá-las e reparar a sua humilhação e esquecimento, exumando as valas comuns. Para trás fica o horror galego onde o franquismo instaurou, depois da guerra, o método dos “passeios” –, ir às casas das pessoas buscá-las para as “passear”, isto é, fuzilá-las à noite e deixá-las nas valetas.

Através dos sinistros “passeios”, dos conselhos de guerra contra civis, dos fuzilamentos maciços de prisioneiros e de confrontos armados com a guerrilha, morreram, só na Galiza, 197.000 galegos (fonte “La Guerra Civil en Galicia” edic. La Voz) durante o regime franquista, continuando a grande maioria em valas comuns. Nesse período, cerca de 200 mil galegos exilaram-se noutros países, sorte que não tiveram os que escolheram Portugal e foram entregues para fuzilamento pelas polícia de Salazar.

João Paulo II beatificou 233 vítimas religiosas da repressão republicana, ignorando o sofrimento coletivo dos espanhóis e Bento XVI reincidiria com nova beatificação de outras 498 vítimas, a maior beatificação da história da Igreja Católica.

A decisão destes dois papas, profundamente reacionários e comprometidos com o Opus Dei não surpreendeu, apenas indignou os familiares das vítimas republicanas e todos os que ansiavam pelo esquecimento do ódio que dilacerou Espanha.

Com mais de duas mil valas comuns por abrir, surpreende que o Papa atual, de quem se esperava que não deitasse mais ácido nas feridas por sarar, cerca de cinco centenas de beatos serão elevados ao altar do franquismo numa manifestação de demência episcopal da Espanha que não perdoa e não se deixa julgar.

Este Papa, depois da lixivia gasta a limpar as nódoas do Vaticano, maculou as vestes e deixou recordar as boas relações que manteve com Videla.

15 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

Religiões e democracia

Todas as religiões se consideram as únicas verdadeiras, tal como o seu deus. Cada uma considera falsas todas as outras e o deus de cada uma delas e, provavelmente, todas têm razão. Os ateus só consideram falsa mais uma religião e um deus mais. Em certa medida todos somos ateus.

E somo-lo, não apenas na aceção grega, em que um ateu era o que acreditava nos deuses de uma cidade diferente, mas também na aceção atual, na descrença num ente superior imaginário, e, ainda, em relação a Zeus, a Shiva, ao Boi Ápis e à multidão que aguarda, nas páginas da mitologia, os deuses atuais.

No soneto «Divina Comédia», de Antero de Quental, os homens perguntam, com voz triste, «deuses, porque é que nos criastes»? E os deuses respondem, com voz ainda mais triste, «homens, porque é que nos criastes»?

A crença, em si, não é apenas legítima, é um direito que cabe ao Estado laico assegurar. O que assusta é o proselitismo dos que não lhes basta a sua crença e a procuram impor a outros, a violência que usam para agradar ao deus que lhes ensinaram desde a infância ou àquele que os seduziu numa qualquer fase da vida.

Infiéis são os fiéis da concorrência e os descrentes de qualquer fé, e que devem gozar de igual proteção, quer pertençam a uma seita ou religião poderosa. A seita é a religião de minorias e a religião é a seita globalizante. Todas têm direitos e deveres e não se aceita que sejam exoneradas do respeito pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.

O pluralismo é uma exigência democrática a que nenhum deus devia poder esquivar-se. Há para com os crimes praticados em nome das religiões uma condescendência que não existe para outras associações ou ideologias profanas. Porquê?

O nazismo é reprimido mas o totalitarismo religioso é tolerado. A democracia não deve consentir quem a combata, não pode conformar-se com os vírus que a ameaçam. Não se compreende que uma religião que não aceita as outras nos países onde é dominante e escraviza os que aí vivem, possa gozar de igualdade de direitos nos países que ameaça.

Com que legitimidade se permitem mesquitas aos crentes de uma religião que não aceita igrejas, pagodes, sinagogas ou templos às outras religiões? A Europa, onde se recrutam soldados de um deus cruel e vingativo, continuará a aceitar a divulgação de manuais que apelam à guerra santa e a deixar circular os pregadores que destilam ódio nos sermões e aliciam terroristas para a guerra santa?

O pluralismo, conquistado com a sangrenta Guerra dos Trinta Anos, em Vestefália, não pode ser posto em causa por ideologias que pretendem a exclusividade do mercado da fé e a eliminação da concorrência. Basta de cobardia para com as crenças. Urge resguardar os crentes dos fenómenos racistas detonados pelo medo à sua fé. E o medo existe.

A democracia é incompatível com o totalitarismo pio e belicista que assola o mundo.

14 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

A consagração do Mundo ao Sagrado Coração de Maria

Fez ontem 6 anos que o papa Francisco consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Maria, numa cerimónia realizada na praça de S. Pedro, no Vaticano, perante a imagem de «Nossa» Senhora de Fátima, da Cova da Iria. Se a cerimónia fosse destinada apenas a crentes merecia respeito, dado que não viria daí grande mal ao mundo.

A um ateu não perturba semelhante consagração cujo temor não ultrapassa o da praga que a cigana roga a quem lhe nega a leitura da sina. É, aliás, alheio a que consagração seja ao coração, ao fígado, aos rins ou a outro qualquer órgão, mas há perplexidades que assaltam um livre-pensador, a saber:

1 – Com que legitimidade é que o Papa católico que, na melhor das hipóteses, dispõe de 20% da população que acredita no seu deus, se permite consagrar o mundo a um ídolo privativo da sua religião e que até outros cristãos desprezam?

2 – Tendo sido já realizado esse número por antecessores seus, nomeadamente durante a monarquia, era justo que, tal como nos outros bens de consumo, fosse divulgado o prazo de validade de uma consagração.

3 – Para estabelecer um módico de racionalidade nos gestos exotéricos, seria lícito dar a explicação plausível para a deslocação da imagem da Cova da Iria até ao Vaticano, para evitar o risco que um acidente aéreo fez correr ao ícone imprescindível. Sabendo-se que um papa é facilmente substituído seria mais sensato deslocar o Papa do que a imagem.

4 – Quanto à arrogância de «consagrar» os que não querem, não difere do proselitismo islâmico ansioso de fazer ajoelhar o mundo virado para Meca.

Apostila: A última decisão de um tribunal islâmico foi a proibição aos não muçulmanos de utilizarem a palavra «Alá». Os três monoteísmos são implacáveis ainda que o papa seja uma pessoa de bem, tal como um rabino ou um aiatola podem sê-lo. Já da religião de cada um deles, tenho dúvidas.

12 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

O ateísmo e a intolerância – Reflexão

As pessoas são boas ou más, independentemente das crenças ou descrenças. Há exemplos de genocidas entre crentes e ateus, mas penso que ninguém é capaz de fazer tanto mal, ou de ser tão generoso e abnegado, se não estiver imbuído de uma crença profunda.

Há crentes que acusam os ateus de intolerância. Se consideram intolerância a denúncia da hipocrisia, a defesa dos direitos humanos, o combate ao pensamento único e a defesa da liberdade, têm razão.

Se, pelo contrário, acham que somos capazes de defender o racismo, a xenofobia, a misoginia ou qualquer ditadura, assim como restrições ao direito de associação, onde cabem as religiões, não nos conhecem. Não conhecem pelo menos a Associação Ateísta Portuguesa (AAP).

Se um regime despótico privar os crentes, de qualquer religião, do acesso aos seus templos, do culto das suas crenças, do direito de reunião e da livre expressão escrita e oral, contará com a oposição determinada e a luta, sem tréguas, dos ateus.

As religiões combatem o que julgam serem os nossos erros, nós combatemos o que pensamos serem as suas mentiras. Onde está, da nossa parte, a intolerância? Porventura propomos a punição de quem vive da exploração da fé? Queremos queimar os quatro evangelhos que Constantino coligiu dos oitenta que foram considerados para o Novo Testamento? Alvitramos coimas para quem se sacramenta, jejua, reza ou exulta com procissões e peregrinações?

Podemos considerar burla o negócio dos milagres, a venda de indulgências, a purificação por borrifos do hissope e condenar a atmosfera terrorista que as Igrejas criam com o temor do Inferno. Desmascaramos os negócios pios dos transportes do Purgatório para o Paraíso, com veículos movidos a missas e oferendas, ou com óbolos que esportulados aos crentes para adquirir um estacionamento no Paraíso, mas não consentimos perseguições aos devotos nem restrições aos seus locais de culto.

O cristianismo plagiou crenças antigas. Cristo não foi o primeiro a nascer de uma virgem, a ressuscitar ao terceiro dia ou a dedicar-se ao lucrativo ramo dos milagres. Crer no poder dos santos, nos dons do Espírito Santo ou na omnipotência divina, não prejudica o mundo.

O perigo reside na violência crescente das religiões, na infiltração que fazem nos aparelhos de Estado e nas perseguições crescentes a quem não crê ou crê em mentiras alternativas.

O continente americano está infestado de cristão evangélicos que condicionam as liberdades e contribuem para o retrocesso civilizacional e o próprio catolicismo atinge formas jurássicas.

Em África, na zona do Sahel trava-se um combate mortal entre o protestantismo evangélico e o Estado Islâmico que dispõe aí de um dos grupos terroristas mais perigosos do mundo, o Boko Haram.

Na Birmânia os budistas negam a cidadania e a sobrevivência às tribos islâmicas cujo genocídio completo está em curso.

Na Índia o hinduísmo nacionalista entrou numa fase de chacina aos muçulmanos. E, por todo o mundo, o desvario islâmico wahhabita tem a civilização refém dos facínoras de um deus idiota, vingativo e troglodita.

Não somos nós, ateus, que somos intolerantes. Somos solidários com os direitos dos crentes, mas não nos peçam que renunciemos a desmascarar quem os engana, explora e fanatiza e, sobretudo, que quer destruir os alicerces da nossa civilização, herdeira do Iluminismo.

11 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

Leiam a Bíblia

Não se esqueçam de que o Antigo Testamento é a palavra de Deus e, embora nem todas as religiões do livro ofereçam na bem-aventurança eterna 72 virgens e rios de mel doce, é no cumprimento da vontade de Deus que o Paraíso de todas se alcança.

Publico hoje um importante versículo para advertir os homens que não queira manetas as suas mulheres para não brigarem com outros homens porque a solidariedade conjugal pode custar uma amputação. Depende da forma que a solidariedade assume.