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Carlos Esperança

27 de Dezembro, 2014 Carlos Esperança

A Cúria romana não vale tanto

«A Cúria tem feito mais ateus e provocado mais abandonos da Igreja do que Marx, Nietzsche, Freud e outros ateus juntos».

(Anselmo Borges, padre católico e catedrático de Filosofia em Coimbra, in D. N., hoje)

27 de Dezembro, 2014 Carlos Esperança

Honre as crianças do Paquistão

ASSINE A PETIÇÃO

 Para o primeiro-ministro do Paquistão, principais países doadores e líderes mundiais:

Para honrar as mais de 100 crianças assassinadas em Peshawar, nós – jovens, professores, pais e cidadãos de todo o mundo – exortamos nossos governos a cumprirem a promessa, feita na Organização das Nações Unidas em 2000, de assegurar a todas as crianças que ainda não estão estudando o direito à educação antes do fim de 2015. Estamos unidos para acabar com as barreiras que impedem que meninos e meninas frequentem a escola, dentre as quais estão o trabalho e casamento forçados, conflitos e ataques contra escolas, exploração e discriminação. Todas as crianças merecem a oportunidade de estudar e alcançar seu potencial. Somos

Há dois dias, um bando entrou em uma escola e massacrou mais de 100 crianças no Paquistão. CEM CRIANÇAS! Que tipo de pessoa faz uma coisa dessas?Pessoas que veem escolas como uma das formas mais eficazes de evitar que jovens sejam recrutados para uma vida de violência. Além de ser o melhor antídoto contra a pobreza, a educação é uma das melhores táticas antiterroristas: ajuda crianças a sair do desespero e a aproveitar oportunidades. Vamos responder a esta tragédia com um pedido global, em massa, para colocarmos todas as crianças na escola.

Nossos governos prometeram matricular todas as crianças, do mundo inteiro, até o fim de 2015. Vamos tornar isso realidade agora mesmo, no Paquistão e em outros países: participe da campanha para honrar a memória das crianças de Peshawar. Nossa petição será entregue por Gordon Brown, enviado especial para educação da ONU, ao primeiro ministro do Paquistão e aos líderes que podem realizar esse plano. Assine agora.

26 de Dezembro, 2014 Carlos Esperança

A demência do Estado Islâmico

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Um jornalista passou dez dias com o Estado Islâmico, às abertas. Conseguiu autorização para visitar a Mossul ocupada. Sobreviveu e diz que é muito pior do que se julga.

Os assassínios, as execuções, as decapitações são as imagens mais chocantes de uma propaganda cada vez mais sofisticada. É a Jihad, que recruta guerrilheiros no ocidente para matar e morrer na Síria.

(in Expresso)

25 de Dezembro, 2014 Carlos Esperança

Natal

Em meados do século XX o Natal era oportunidade para reunir as famílias. Os ausentes voltavam todos os anos à aldeia de origem, nas carruagens de 3.ª classe de comboios apinhados de pessoas e cabazes, com odores a que se resignavam as pituitárias de então.

Através do vidro partido, ou da janela avariada, o ar gélido entrava nas carruagens e nos corpos. Os passageiros partilhavam a vida e as merendas nas penosas e longas viagens de pára-arranca. Os Senhores Passageiros precisavam de embarcar, ou de desembarcar, e a máquina a vapor, de abastecer de carvão a fornalha e de água a caldeira.

Às vezes o comboio parava nas subidas para que a caldeira ganhasse pressão e pudesse rebocar o peso acrescido que deslocava. Entre Lisboa e a Guarda era normal um atraso de duas ou três horas, pela Beira Alta, e mais ainda pela Beira Baixa.

Nas estações e apeadeiros esperavam bestas e pessoas, impacientes e enregeladas. À chegada do comboio havia abraços, ternos e demorados, e lágrimas de alegria. Do comboio acenavam mãos e ouviam-se votos de Feliz Natal quando o apito anunciava o retomar da marcha. Aos que se apeavam, só o caminho lamacento os separava, então, da casa da aldeia onde aguardavam os parentes que ficaram em ansiosa espera.

Quando eram pequenas as casas e numerosas as famílias, sobrava sempre lugar para os que chegavam. A ceia de Natal era o momento mágico que matava fomes ancestrais e a saudade das ausências.

Na lareira fumegavam panelas cheias, cujos odores, fundidos com os que vinham da sala, traziam à memória os sabores da infância.

A candeia de azeite iluminava os trajetos domésticos enquanto o candeeiro a petróleo projetava as sombras dos familiares reunidos em conciliábulo.

Estranhava-se o milagre que permitira tantas postas de bacalhau, já que os repolhos e as batatas os dava a horta e os frutos eram secos no tempo devido. Rabanadas, arroz doce, sonhos, filhós e toda aquela variedade de guloseimas eram fruto dos ingredientes próprios e de segredos herdados, a que o lume brando da lareira requintava o sabor.
Não deixava de ser estranho que tanto desse, quem tão pouco tinha, e negasse, avaro, quem muito podia. Eram esses os tempos, ainda são assim as pessoas que restam.

Ceavam primeiro as crianças, por questão de espaço e de impaciência; passavam, depois, à sopa, os mais velhos, antes de se saciarem no bacalhau, repolho e batatas, regados com azeite. Só depois de esgotado o vinho no garrafão e de se ver o fundo à panela se entrava nas sobremesas, nas aguardentes e na jeropiga.

As crianças impacientavam-se com a demora do menino Jesus que raramente trazia os presentes que ansiavam, mas conformavam-se com os que lhes coubessem. Os adultos sugeriam-lhes a cama enquanto os sapatos rodeavam a lareira à distância conveniente do lume que ainda crepitava. O sono acabava por vencê-las, adormecendo primeiro as mais pequenas, que as mães e a avó iam depositando em camas improvisadas.

No pouco espaço disponível havia ainda lugar para o presépio, uma ingénua encenação do mito cristão, que o pinheiro, oriundo de outras culturas, havia de substituir num prenúncio da globalização, para acabar feito de plástico, coberto de bolas coloridas.
De manhã, à medida que acordavam, os miúdos corriam para a chaminé, ansiosos por encontrar as prendas e exultavam com os presentes.

O Menino Jesus que, então, descia pelas chaminés, foi trocado pelo Pai Natal, a viajar de trenó, puxado por renas, em terras onde só a neve fazia jus à nova fábula que roubou o encanto dos musgos, da serradura, do algodão em rama e dos animais que rodeavam o menino de barro, deitado em berço de palha.

Nos sapatinhos, onde então cabiam os chocolates e os carrinhos de corda, que faziam as delícias das crianças, o terço para a tia beata ou a onça de tabaco para o avô, não cabem hoje os jogos de computador, esperados sem ansiedade, nem os presentes embrulhados em papel reluzente.

Alguns pais ainda voltam aos sítios de origem para mostrar, aos avós, os netos, com o mesmo ar de enfado com que os levam ao Jardim Zoológico, a verem a girafa e o elefante, ou os metem nos Centros Comerciais. Mas o mais frequente é tirar os velhos da toca e pô-los a fazer o percurso inverso, com 50% de desconto no preço do bilhete, num exílio que começa na véspera da consoada e termina, no início do Ano Novo, com a devolução ao habitat.

Mudaram-se os tempos. Do Natal que havia, resta a recordação das crianças que foram.

O cronista, serve-se do texto que há anos publicou no Jornal do Fundão para, à guisa de boas-festas, o dedicar aos leitores do Diário de uns Ateus.

22 de Dezembro, 2014 Carlos Esperança

Turquia ao encontro dos Irmãos Muçulmanos

Há vários anos, enquanto Bush armava o maior exército da NATO e chamava moderado a Erdogan, comecei a afirmar que não há Islão moderado nem religiões moderadas. Há crentes bondosos, solidários e pacíficos mas nenhum credo tem essas virtudes.

Erdogan, há anos que defende os assassinos de juízes protetores da laicidade e, quando a correlação de forças lho permitiu, começou a sanear os militares laicos. O Islão, na sua decadência, impõe-se pelo terror que cultiva, pela guerra santa que o Profeta preconiza e pela demência dos que as madraças e as mesquitas intoxicam.

O artigo do El País é elucidativo. Aqui ficam as primeiras frases traduzidas:

[“O pior é o medo. Toda a gente tem medo na Turquia”, lamentava-se há pouco numa entrevista o prémio Nobel de Literatura Orhan Pamuk. “A liberdade de expressão caiu para o seu nível mais baixo”, denunciava o autor de O museu da inocência, para descrever o clima de ameaça às liberdades civis que reina no seu país perante a perseguição à oposição e aos meios de comunicação críticos, plasmado em perseguições policiais e ordens judiciais de detenção. Perante as queixas da União Europeia pela deriva autoritária do Governo do islamita Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, nas suas siglas em turco), o presidente Recep Tayyip Erdogan replicou: “É o mesmo que nos aceitem ou não. Não nos preocupa o que pensem na UE. Que se ocupem dos seus próprios assuntos. Não têm nenhum direito a dar-nos lições de democracia”].

A tragédia vem a caminho da Europa, ou melhor, esta tem ido ao seu encontro.

22 de Dezembro, 2014 Carlos Esperança

Antes mal acompanhado do que Sony

Quando o frio e alienado assassino, aiatola Khomeini, emitiu uma fatwa contra Salman Rushdie e a horda de intoxicados pelo Corão perseguiu e matou editores e livreiros que ousaram publicar e vender o livro «Versículos Satânicos», perduraram na história como devotos criminosos, os primeiros, e os últimos, como mártires da liberdade.

Quando as caricaturas de Maomé, o profeta muito amado e pouco recomendável, foram divulgadas, os dementes do costume quiseram assassinar o autor e assaltaram os jornais que, em nome da liberdade, não se deixaram chantagear.

Quando se cancela a exibição de uma comédia satírica sobre um complô para assassinar o líder norte-coreano, a figura grotesca cujo penteado é suficiente para levar um cidadão incauto do riso à incontinência urinária; quando basta um grupo de hackers e a ameaça de provocar um novo 11 de setembro em cada sala de cinema que exiba o filme, para que a Sony Pictures se acobarde, assiste-se a uma vergonhosa humilhação perante Kim Jong-il. Ceder à chantagem de Pyongyang ou de quaisquer crápulas, é a liberdade de expressão que se cancela.

A exibição do filme suspenso, «The Interview», ‘Uma entrevista de Loucos’ sobre dois jornalistas (Rogen e James Franco) contratados pela CIA para matar o líder norte-coreano, é uma exigência de quem se bate contra os totalitarismos e não abdica de uma das mais duras conquistas civilizacionais, o direito à livre expressão.

Se insistirmos em defender o respeito por idiossincrasias e preconceitos, preterindo o direito à liberdade, deixamos de ser dignos da civilização e dos direitos conquistados.

É preferível morrer pela liberdade do que morrer de medo… e de vergonha.

21 de Dezembro, 2014 Carlos Esperança

Malefícios da fé

Talibã no Paquistão: Ataque em escola em Peshawar deixa 141 mortos (BBC)
http://www.bbc.com/news/world-asia-30491435

Paquistão: 5.5 milhões de crianças fora das escolas  Relatório da UNESCO (Tribune)
http://tribune.com.pk/story/666285/5-5-million-children-out-of-school-in-pakistan-unesco-report/

Orçamento para educação diminuiu apesar de promessas (Dawn.com)
http://www.dawn.com/news/1110706

Governo anuncia orçamento de 700 bilhões para Defesa (Tribune)
http://tribune.com.pk/story/716913/budget-2014-defence-budget-increasing-at-diminishing-rate/

Paquistão marca “Dia de Malala” com bolsa educação (AlJazeera)
http://www.aljazeera.com/news/asia/2012/11/20121110535489628.html

Ataque do Taleban deixa 145 mortos, incluindo 132 crianças (Folha de São Paulo)
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/12/1562980-mais-de-80-criancas-morrem-em-ataque-do-taleban-no-paquistao.shtml

Paquistão tem sete milhões de crianças fora da escola (O Globo)
http://oglobo.globo.com/mundo/paquistao-tem-sete-milhoes-de-criancas-fora-da-escola-14853555

Paquistão: Dia da Malala homenageia a jovem baleada pelo Talibã (Terra)
http://noticias.terra.com.br/mundo/asia/paquistao-dia-da-malala-homenageia-a-jovem-baleada-pelo-taliba,87384cfb7e45b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html

21 de Dezembro, 2014 Carlos Esperança

Por que motivo não me comovo?

Estado Islâmico executou 100 jihadistas estrangeiros

O grupo jihadista Estado Islâmico executou 100 dos seus combatentes estrangeiros, que tentavam fugir da cidade de Raqqa, no norte da Síria, avançou, esta sábado, o jornal britânico “Financial Times”.

A informação foi dada, sob anonimato, por um ativista opositor ao regime sírio e ao EI, que o jornal diz “conhecer bem”. O homem afirma ter “comprovado as 100 execuções” de jihadistas estrangeiros que tentavam fugir dos combates.