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Carlos Esperança

13 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

A FRASE e a PULSÃO CENSÓRIA

A frase:

«Se no passado os valentes cartoonistas mortos em França puseram Hollande com o seu ‘coiso’ de fora, o presidente português também podia ser desenhado de calças na mão e com as letras BPN tatuadas na nádega direita».
(Rui Cardoso Martins, in Pública – Revista 2)

A pulsão censória:

Existem nas sociedades europeias e noutras sociedades do mundo conquistas que são irrecusáveis e que têm que ver com os direitos humanos, onde está o direito à vida, à liberdade e à responsabilidade de expressão e o direito a ser considerado naquilo que são as convicções e na expressão das ideias».
( Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa)

Fonte: DN, 12-01-2015, pág. 14.

13 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

A prudência e a coragem

A dia de ontem deu emprego a imensos comentadores que repetiram até à náusea que os terroristas nada têm a ver com o Islamismo. Pareciam papagaios amestrados a negar as evidências. Basta ver os chacais que hoje se pronunciaram a favor da legitimidade do ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo, aceitando a crueldade e o assassínio.

Devemos, no entanto, compreender a legião de mentirosos, que procuram honestamente defender de retaliações os muçulmanos. Quem os molestar deve ser punido com o rigor que os crimes sectários merecem mas não se pode absolver uma religião anacrónica que não foi capaz de fazer a Reforma, de aceitar a laicidade ou de abdicar da propriedade masculina das mulheres.
O islamismo é perverso e intoxica os crentes. É um sistema totalitário controlado por boçais, posto ao serviço das frustrações e do atraso de quem não aceita a modernidade.

Defender os muçulmanos, tal como os cristãos, hindus, budistas ou judeus é a obrigação dos democratas. Combater a superstição, o preconceito e a barbárie é um dever, quer se trate dos cristãos evangélicos que impõem o estudo do mito criacionista nas escolas dos EUA, assassinam médicos e enfermeiros em clínicas onde se pratica o aborto legal ou inspiram o Tea Party; quer sejam islamitas que raptam meninas cristãs na Nigéria e as reduzem à escravatura; quer sejam católicos devotos de João Paulo II que, seguindo a teologia do latex, deixaram morrer centenas de milhares de negros a quem privaram do uso do preservativo; quer sejam hindus nacionalistas, budistas do Tibete ou os judeus de trancinhas à Dama das Camélias, que na pausa de cabeçadas ao Muro das Lamentações, inspiraram os massacres de Sabra e Chatila e promovem o sionismo.

Dizer que o Islão é pacífico, tal como outras religiões, antes da repressão política sobre o respetivo clero, é uma mentira que, de acordo com o mito do Pinóquio, não deixaria o nariz de qualquer crente, que o afirme, caber no maior dos templos.

É preciso defender os crentes e combater as crenças. O Renascimento, o Iluminismo e a herança republicana da Revolução Francesa são irrenunciáveis.

12 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Paradoxos

Nem todos fomos Charlie, a começar pelo gang Le Pen, que tentou integrar a onda de comoção coletiva, e a acabar nos inimigos do humor corrosivo e da blasfémia. Uns fizeram-no por convicção, outros por cobardia. Há quem honestamente pense que não de devem ferir sentimentos alheios e quem não aceite apenas que se ofendam os seus.

Os fascistas franceses da FN já renegaram a solidariedade a quem os zurzia, a quem fez da ofensa e da provocação uma bandeira que deu cobertura às formas mais benignas de crítica. Ninguém tenha ilusões, se não houver quem arrisque mais do que nós, quem se exponha até aos limites, seremos nós os alvos da intolerância.

Eu defendo o direito à ofensa, apenas não admito que repliquem às ofensas pela palavra e pelo desenho com armas diferentes. Não se responde ao insulto a tiro, não se limpa a nódoa da desonra com a lixívia do duelo. Sempre que um papa abençoa os portugueses, ofende-me, mas não ultrapasso um protesto ou uma maldição, sabendo que a bênção e a maldição não passam de placebos, à semelhança dos maus olhados. Valem o que valem.

Passado o pico da emoção, que condicionou os bem pensantes e os cobardes, já vozeiam por aí os que pensam que o respeitinho é muito bonito, que as vítimas se puseram a jeito e que o Charlie Hebdo era imoral. São herdeiros de Krus Abecasis a impedir a exibição de Je Vous Salue Marie, de Jean Luc-Godard, em 1985, quando presidia à Câmara CDS de Lisboa; são filhos de censores d’As Horas de Maria (1979), de António de Macedo e dos escribas que desencadearam campanhas contra a exibição desses filmes e da Última Tentação de Cristo (1988), de Martin Scorcese.”.

Do Portugal de Cavaco e Sousa Lara, censores d’O Evangelho segundo Jesus Cristo, de Saramago, Passos Coelho voa para Paris, num ato de solidariedade cuja honestidade se aceita por, certamente, não frequentar livros e revistas satíricas antifascistas.

É abominável responsabilizar as vítimas e atenuar a violência dos algozes. O jornalista Ferreira Fernandes lembrou bem, no DN, a analogia com um acórdão do STJ, que não pode ser designado ignóbil por ser crime, acórdão em que os conselheiros consideraram atenuante ao crime de violação, de duas jovens estrangeiras, o facto de trazerem roupa demasiado leve «em plena coutada do macho ibérico», no Algarve.

Os facínoras incendiaram hoje um jornal alemão que publicou caricaturas de Maomé.

Se todos soubessem quantas vítimas custou a liberdade de que ainda usufruímos…

11 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

O proselitismo e a violência

O pior que algumas religiões encerram é o seu proselitismo. Não lhes bastam os crentes próprios, exigem a conversão dos alheios ou a sua eliminação. A evangelização cristã é hoje, felizmente, uma tara acalmada com a repressão política sobre o clero. Abandonou há muito os métodos cruéis de evangelização que usou em vários continentes e, de forma particularmente violenta, na América do Sul.

Na Europa , a paz de Vestefália, pôs fim à sangrenta Guerra dos 30 Anos e a Igreja católica só aceitou a liberdade religiosa na década de 60 do século passado, no concílio Vaticano II. O azedume de João Paulo II e de Bento XVI apenas fez mal aos próprios e foi irrelevante para a liberdade religiosa europeia onde o secularização dos países tornou impensável qualquer perseguição.

O Islão, pelo contrário, na cópia grosseira do cristianismo introduziu a guerra como um instrumento de contágio e submissão, agravado pela decadência da civilização árabe e o ressentimento dos crimes de que foi alvo por países saqueadores de matérias primas, em especial o petróleo.

É incontestável que os crentes não são piores nem melhores do que os não crentes mas ninguém faz o mal com tanto entusiasmo e satisfação como os que são movidos pela fé.

Não é inocentando os crimes sectários das religiões que se estabelece um modus vivendi num mundo onde as diferenças deviam ser fatores de enriquecimento e não motivos de conflito.

Quando os crentes se convencerem de que as suas religiões refletem as formas de pensar da época em que surgiram e não palavras ditas por um ser ilusório, sem aparelho fónico, podem cumprir os preceitos que se habituaram a observar, desde crianças, e deixar no templo a obsessão de submeter os outros às suas próprias convicções.

Ao proselitismo não se podem tolerar outras armas para além da palavra e do exemplo e as armas devem ser banidas da evangelização. As democracias, por mais que sangrem, não podem ultrapassar os limites do Estado de Direito contra o terrorismo, sob pena de perdermos o Estado e o direito e ficarmos apenas reféns do terrorismo recíproco.

10 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

VERSÍCULOS CORÂNICOS

Por

João Pedro Moura

II- 8 a 10: “Entre os homens há os que dizem: “ Cremos em Deus e no Último Dia”, mas não são crentes.

Esses querem enganar a Deus e aos que crêem, mas só se enganam a si mesmos, embora não o saibam.

Em seus corações existe uma enfermidade, que se agravará, terão um castigo doloroso por terem mentido.”

II-24: “Se não o fizerdes, e não o fazeis, temei então o fogo que tem por alimento os ídolos, e que foi preparado para os incrédulos.”

II-39: “Os que forem infiéis e recusarem a verdade contida nos nossos versículos irão para o Inferno, onde viverão eternamente.”

II-193: “Matai-os até que a perseguição não exista e esteja no seu lugar a religião de Deus. Se eles se converterem, não haverá mais hostilidade; esta não cessará senão para os injustos.”

V-33: “A recompensa dos que combatem Deus e o seu Enviado e se esforçam em espalhar pela Terra a corrupção, consistirá em serem mortos ou crucificados, ou no corte de sua mão e pé oposto, ou na expulsão da terra em que habitam. Isto será a sua recompensa neste mundo. Na outra terão um tormento enorme.”

V-36, 37, 38: ”Se os que não crêem tivessem tudo o que está na Terra e incluso outro tanto para com ele se resgatarem do tormento no Dia da Ressurreição, não se lho aceitaria: terão um castigo doloroso.

Quererão sair do fogo, mas não sairão. Terão um tormento permanente.

Cortai as mãos do ladrão (quer seja homem ou mulher) como castigo e aviso de Deus. Deus é poderoso, sábio.”

VIII-7: “…enquanto Deus queria que se tornasse patente a verdade das Suas palavras e exterminar até ao último dos incrédulos.”

VIII-12,13, 14, 15: “…Lançarei o pânico no coração dos que não crêem! Batei-lhes acima do pescoço! Batei-lhes nas pontas dos dedos!

Isto porque eles estão afastados de Deus e do seu Enviado, e os que se afastam de Deus e do seu Enviado são castigados, pois Deus é terrível no castigo.

Isso é vosso: saboreai-o e sabei que os incrédulos terão o castigo do fogo.

Ó vós que credes! Quando encontrardes os que descreem a avançar, não lhes volteis as costas.”

VIII-17: “Crentes! Não os matastes: Deus matou-os. Não atiras quando atiras: Deus é quem atira a fim de experimentar os crentes, pela sua parte, com uma bela prova.”

VIII-50: “Se pudésseis ver o momento em que os anjos chamam os que não crêem! Batem-lhes na face e nas costas, dizendo: “Saboreai o tormento do fogo!””

X-4: “…Os que não crêem terão uma bebida de água a ferver e um tormento doloroso, porque terão sido ímpios.”

XVIII-29: “…Preparamos um fogo para os injustos: as suas labaredas os rodearão. Se pedirem auxílio, serão socorridos com uma água semelhante a ácido, que queimará os rostos. Que péssimo refrigério! Que mau apoio!”

XXII-19 a 22: “Esses – os crentes e os descrentes – são dois inimigos que combatem acerca do seu Senhor. Aos incrédulos preparar-se-lhes-á uma vestimenta de fogo; do cimo da sua cabeça verter-se-lhes-á água a ferver.

Com ela se derreterá o que há em seu ventre e na sua pele.

Serão açoitados com barras de ferro.

Cada vez que, angustiados, quiserem sair do fogo, dir-se-lhes-á: “Provai o tormento do fogo!””

XLVII-4: “Quando encontrardes os que não crêem, golpeai-os no pescoço até os deixardes inertes; depois, concluí os pactos. Depois concedei-lhes favor ou libertai-os quando a guerra haja deposto as suas cargas. Assim agireis. Se Deus quisesse, vencê-los-ia sem combater, mas põe-vos à prova uns com os outros. As obras dos que sejam mortos na senda de Deus não se perderão.”

LIX-4: “Será assim, porque eles se afastaram de Deus e do seu Enviado. Quem se afasta de Deus sofre um castigo. Deus é duro no castigo.”

LXVI-9: “Ó Profeta! Combate os incrédulos e os hipócritas! Sé duro para com eles! O seu refúgio é o Inferno. Que péssimo destino!”

ultima imagem

Último cartoon do Charb, publicada no próprio dia 7, em que o assassinaram.

9 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Carlos Brito, um grande cartunista francês, emigrante português

Droits de l'homme

 

Por acasos da vida conheci Dino Monteiro, um quadro do Partido Socialista Francês e um dos fundadores do PS português. Fugiu à fome e à ditadura, ilustrou-se e tornou-se um quadro de uma grande empresa a cujo serviço o conheci e de quem me tornei amigo.

Foi ele que me pôs em contacto com Carlos Brito, um amigo seu, e que me autorizou a usar os seus desenhos no Diário de uns Ateus.

Ouvi-o há pouco, numa entrevista da SIC-N, emocionado com a morte dos 3 colegas e amigos íntimos de 4 cartunistas do Charlie Hebdo que o fascismo islâmico assassinou.

Deixo aos meus leitores um desenho de Brito, «politicamente ateu e filosoficamente agnóstico», dos vários que me enviou e conservo numa pasta com o seu nome.

9 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

A miopia de alguma esquerda e um manual terrorista

A confusão entre os pacíficos seguidores de um credo anacrónico, nocivo e perigoso – o Islão –, com os produtos tóxicos desse mesmo credo – os terroristas –, tem conduzido a extrema-direita a aproveitar o pântano da confusão e a tirar dividendos políticos.

A má consciência dos cruzados que invadiram o Iraque e que a força das armas impediu que fossem sujeitos ao julgamento do TPI, conduziu à benevolência com que o terror da concorrência é tratado e ao pretexto que conduziu à desforra. Em 8 de janeiro de 2004, há 11 anos, quatrocentos técnicos da equipa norte-americana especializada em busca de armas de destruição maciça abandonaram o Iraque, sem que alguma arma proibida tenha sido descoberta. Não é o remorso que leva à condescendência para com a Arábia Saudita que fomenta e subsidia o terrorismo, mas os interesses do petróleo.

Teimosamente, há quem prefira conformar-se com a espiral de ódio xenófobo a tratar as religiões como associações privadas, sujeitas às mesmas normas. O incitamento ao ódio é crime, quer seja promovido pelo cardeal Rouco Varela na catedral de Madrid, por um rabino-chefe da grande sinagoga de Jerusalém ou por um xeque, mulá ou aiatola de uma qualquer mesquita onde destile veneno ou por uma associação ateísta.

A fé não pode ser ópio que promova o terror. Mais importante do que a fé individual é o livre-pensamento universal. A herança de Voltaire é mais generosa do que a de Abraão.

O Estado democrático deve defender o direito à crença e à descrença, sem tolerar que os incitamentos ao ódio fiquem impunes. A liberdade é um bem universal, a crença é um aconchego individual. Não cabe ao Estado pronunciar-se sobre a fé, mas a caça ao voto leva os partidos a postergarem a laicidade e a concederem privilégios que exoneram as sotainas das exigências legais.

A tragédia de ontem, em França, só admite o cumprimento da laicidade consagrada na lei e não a tergiversação face aos incitamento ao ódio destilado nas madraças, mesquitas e através da Internet ou pelo catolicismo da menina Le Pen.

8 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Carta de Frei Bento, com pedido de publicação

Caríssimo irmão em Cristo, com a minha bênção e os desejos de Bom Ano, aqui lhe envio mais uma cartinha, com o pedido de publicação.

Amém.

O Jornal de Notícias, diário de inspiração católica e, portanto, insuspeito, refere, na sua edição de 5 de Janeiro deste ano, que o cancro pode seroriginado pela má sorte. Ou seja, os cientistas não passam de uma data de ateus! Eu explico.

Aqui mesmo, neste portal, um ilustrérrimo irmão, que eu considero o mais crente dos ateus, ou o mais ateu dos crentes, vá-se lá saber,  tem defendido que para haver algo criado, tem de haver um criador. E eu assino por baixo, como nem podia deixar de ser, de contrário o Abade de Priscos f… lixava-me. Mas não sou só eu, também há um relojoeiro que afina pelo mesmo diapasão. Aliás, até há uma figurinha muito querida, de um menino a fazer ondinhas, que deve ser o mesmo que… Bom mas isso já foi dito. Ora, o que interessa é essa cambada de cientistas ateus continua a defender a cena patética do mero acaso, e agora até o filh… o raio do cancro acontece “por sorte”!

Como se Deus Nosso Senhor não tivesse uma Palavra a dizer ou, até, como se não existisse. Isso não se diz, e muito menos se escreve! Queria deixar aqui a minha indignação, se o irmão Esperança não se importasse… Pode ser? É que é preciso que essa gente se convença de que nada acontece sem a Vontade de Deus.

Saúde e merda, que Deus não pode dar tudo.

a) Frei Bento

 

7 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Associação Ateísta Portuguesa (AAP)

Comunicado

  À Comunicação Social

 A Associação Ateísta Portuguesa (AAP), profundamente consternada com o crime hoje perpetrado contra a revista francesa Charlie Hebdo, repudia a violência e lavra o seu mais veemente protesto contra o crime sectário cometido contra a liberdade de expressão.

Manifestando à França e aos franceses, em especial aos mártires tombados na defesa da liberdade de expressão, a sua solidariedade, a AAP repudia a intolerância do fascismo islâmico que os assassinou.

Esperando que a laicidade, tão cara ao povo francês, continue o paradigma capaz de opor-se ao fanatismo religioso,

Solidariza-se com as famílias das vítimas, a França e os franceses.

Odivelas, 7 de janeiro de 2015

  1. A Direção da AAP