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Carlos Esperança

18 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Opinião

Por

Paulo Franco

“Ninguém inteligente pode associar os actos dos radicais islãmicos ao Islão”.

Para desculpabilizar a religião podemos então dizer que: As mulheres apedrejadas até à morte em países muçulmanos não são vitimas
do conteúdo do Alcorão; a subjugação das mulheres no mundo Árabe nada tem a ver com o Islão; a condenação dos hereses e
apostatas à fogeira, no tempo da Inquisição, nada tem a ver com o conteúdo bíblico; a condenação à morte dos homossexuais,
em países teocráticos, nada tem a ver com a bíblia ou o alcorão; e por aí fora…

Este discurso esquizofrénico alienado da realidade só pode ser compreendido na medida em que constatamos que estamos
sentados em cima de um barril de pólvora e como tal temos de ser politicamente corretos dizendo que as motivações destes
criminosos têm uma origem politica-económica-social-cultural mas nenhuma ligação às suas convicções religiosas.

Isto não podia ser mais falso. Esta é a pior homenagem que se pode prestar aos heróicos cartonistas do Charlie Hebdo.

Paulo Franco.

18 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

O respeitinho é muito bonito

Ao correr da tecla – o respeitinho é muito bonito

“Temos a obrigação de falar abertamente, de ter esta liberdade, mas sem ofender. É verdade que não se pode reagir violentamente, mas se Gasbarri, grande amigo, diz uma palavra feia sobre minha mãe, pode esperar um murro. É normal!” (Papa Francisco)

Quando um ignaro ministro da economia é capaz de redigir um caderno de encargos de uma privatização em que atropela a lei e se vinga dos trabalhadores que não concordam com ele, tenho obrigação de o ofender, de lhe insultar a mãe (em pensamento, que é o meu registo) e de percorrer Gil Vicente para o adjetivar.

Se Paulo Portas diz que o CDS salvou o País, com uma dívida maior do que a herdada, a balança de transações correntes mais desequilibrada e o desemprego acrescido, tenho de lamentar que o aborto não possa ser retroativo.

Quando um líder religioso exige respeito por uma religião, só posso exigir-lhe respeito por quem a despreza. Se uma quiromante, um bruxo, um cartomante ou um profissional de um ofício correlativo exigem respeito pela sua profissão, só posso pedir-lhes que me convençam da sua verdade, utilidade ou interesse. E não deixarei de me rir!

Quando a religião manda matar infiéis, apedrejar mulheres ou decapitar apóstatas, deixa de ser uma associação respeitável e passa a ser um bando de criminosos. Quando apenas pretende persuadir as pessoas da bondade do incenso, da eficácia da água benta ou de que o batismo é um detergente para os pecados, apenas provoca o riso de quem não crê.

Quando um padre diz que um tsunami é castigo de Deus pelos pecados dos homens não é um ministro do culto, é um terrorista da palavra, um explorador do medo, um aldrabão que merece o nariz do tamanho da mentira e as orelhas na razão inversa da honestidade.

O respeito é uma forma subtil de censura. Porque há de um crente respeitar o ateísmo? Só não tem o direito de esmurrar os ateus. De resto, pode ofendê-los pela estupidez que lhes atribui, a insensibilidade que lhes imputa ou a maldade de que os julga capazes.

Ai de nós se esperarmos que nas madraças, sacristias, mesquitas e sinagogas vai nascer o respeito pela liberdade e imaginar que o cristianismo e o Islão desistem de converter os outros à fé que lhes ensinaram desde pequenos. A indulgência não é uma virtude evangélica, é uma conquista civilizacional adquirida com a laicidade e o secularismo.

Riam-se de mim que eu também me rio deles.

17 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Francisco deixou cair a tiara

Por mais que se encoste à férula, não retomará o equilíbrio que parecia distingui-lo dos dois últimos antecessores. A nódoa das declarações sobre a liberdade são o corolário da tradição romana, a síntese entre a Inquisição e a liberdade religiosa, o Index Librorum Prohibitorum e a liberdade de expressão, o concílio de Trento e o Vaticano II.

O Papa saiu da Argentina do ditador Videla mas essa Argentina não saiu de dentro de si. Francisco tem o direito de pensar o que pensa, mas os livres-pensadores têm o direito de pensar de forma diferente. Ai de nós, se tivéssemos de nos comportar de acordo com o regedor de um bairro de 44 hectares, sem maternidade, constituição ou democracia. O líder da única teocracia europeia, nascida dos acordos de Latrão, entre Mussolini e o Papa de turno, não faz a lei dos países democráticos.

O Papa tem o direito de pensar que «Não podemos provocar, não podemos insultar a fé dos outros, não podemos ridicularizá-la» (…) e que «É legítimo usar esta liberdade, mas sem ofender». Eu é que reclamo, dentro das leis do meu país, o direito de rir das roupas femininas com que se veste, de gozar com o fenómeno alquímico dos sinais cabalísticos que transformam a água da rede em benta e a rodela de pão ázimo em carne e sangue de um profeta com dois milénios de defunção.

O passado das Igrejas só não é motivo de riso porque o horror e as lágrimas o impedem. Pensar que o Sol parou em Fátima e que durante séculos fez o movimento de translação à volta da Terra é tão cómico como a cura do olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus por D. Nuno Álvares Pereira, quando a cozinheira de Ourém o queimou com salpicos de óleo fervente de fritar peixe porque tinha uma pagela do herói medieval que logo beijou.

Haverá ato de humor mais apropriado do que desenhar um preservativo no nariz de um Papa cuja teologia do látex se tornou responsável pela infeção de centenas de milhares de pessoas a quem dissuadiu do seu uso?

O Aiatolá Khomeini, na sua piedosa loucura, emitiu uma fatwa contra Salman Rushdie e o Papa, o arcebispo de Cantuária e o grande rabino de Jerusalém foram unânimes no silêncio cúmplice. Deviam ser respeitados? O falecido bispo de Coimbra, João Alves, escreveu no Diário de Coimbra que compreendia a fatwa contra o escritor porque este tinha ofendido o profeta que, para os muçulmanos, era sagrado.

Sagrada é a liberdade de rir e criticar. O que os papas disseram dos ateus era um direito, não o que lhes fizeram.

16 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Contra a violência islâmica

Petição da Amnistia Internacional aqui:

“Arábia Saudita: Libertem o blogger Raif Badawi!”

16 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Os três monoteísmos

Paris 11.01.2015Os três irmãos desavindos, filhos do Antigo Testamento e de pai incógnito.

16 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Sim, mas… ou a cobardia e a dissimulação

Perdoo menos aos que me são próximos do que aos de que me distancio. Compreendo as reservas do patriarca de Lisboa, do Papa ou mesmo do intelectual Boaventura Sousa Santos. Aceito a convicção do primeiro a defender o direito à vida, mas… a considerar irrecusável «a liberdade e a responsabilidade de expressão e o direito a ser considerado naquilo que são as convicções e na expressão das ideias», numa forma dissimulada de limitar a liberdade de expressão, quando ninguém o obriga a ler um jornal satírico ou a assistir a um filme iconoclasta. Lembro-lhe que Pio IX excomungou comunistas, ateus, livres-pensadores, democratas e liberais. Pensará a ICAR levantar-lhes a excomunhão?

A liberdade não nasceu nas sacristias mas contra elas. O direito à blasfémia custou vidas e provocou tormentos inauditos. O medo do Inferno embruteceu gerações e as religiões, incluindo o cristianismo, crucificaram a liberdade. Em democracia não se provocam os crentes nos seus espaços, mas nenhuma religião tem o direito de banir a negação, crítica ou sátira do seu deus, através da imagem ou da palavra, fora do adro dos seus templos.

O papa, que hesita entre a modernidade que os dois antecessores recusaram e a tradição que mantém o negócio, acaba por dar razão aos terroristas, talvez lembrado da tradição da sua Igreja, ao afirmar que «Não se pode insultar a fé dos outros». E o ateísmo, pode?

Em Boaventura Sousa Santos, com a inteligência que se lhe reconhece, é bem patente aquela esquerda que saiu das madraças católicas onde se ensinava a catequese da nossa infância, minha e dele. Tem uma visão social progressista e uma leitura inquisitorial do livre-pensamento.

A quem não perdoo é à eurodeputada do PS, Ana Gomes, cuja estima, ganha em Timor, se esvaziou na náusea, pela pusilanimidade das suas posições em relação à liberdade de expressão. A cobardia atinge o asco quando pergunta: «Porquê insistir na representação do profeta, que se sabe ofender os muçulmanos? Não estou de acordo». Prefere que os sevandijas matem mais cartunistas?

É desta cobardia, denominada bom senso, que se fazem as vitórias dos que nos querem de joelhos, mãos postas e prostrados perante um ser imaginário. E sempre, e só, o deles.

Ontem todos eram Charlie, hoje são mais as deserções do que as adesões sem «mas».

ICAR = Igreja Católica Apostólica Romana.

15 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Imprensa

Austríaco escapa de acidente, vai à igreja agradecer e morre esmagado por altar

Caso ocorreu em Viena, segundo a imprensa britânica.
Gunther Link, de 45 anos, morreu imediatamente.

Do G1, em São Paulo

O austríaco Gunther Link, um católico devoto de 45 anos, escapou da morte quando ficou preso em um elevador. Em seguida, foi a uma igreja agradecer a Deus, mas o altar de pedra caiu sobre ele e o matou, segundo o jornal britânico “Telegraph”.

O caso ocorreu na Igreja Weinhaus, em Viena, capital austríaca. Link teve morte instantânea, segundo o jornal.

“Ele era um homem muito religioso, ficou assustado quando ficou preso no elevador e rezou para se livrar”, disse Roman Hahslinger, porta-voz da polícia.

“Pouco depois, ele saiu do elevador e foi direto à igreja para agradecer”, disse o policial. “Ele aparentemente abraçou um pilar de pedra em que o altar estava apoiado, e o altar caiu sobre ele, matando-o na hora.”

O corpo de Link foi encontrado por paroquianos que chegaram à igreja no dia seguinte para assistir a uma missa.

As impressões digitais da vítima foram encontradas no altar. O caso vai ser investigado.

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15 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

A censura religiosa

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Jornal judeu apaga mulheres da marcha dos líderes em Paris

Ultraortodoxo HaMvaser segue a regra dos judeus Haredi, que proíbe a publicação de fotos de mulheres. Angela Merkel e Frederica Mogherini ‘desapareceram’ da foto da marcha.

15 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

O homem era um santo (crónica)

A mulher, que chegava do trabalho antes dele, chegou ao ponto de lhe dizer que não era sua criada, que um dia acabava o hábito de ser ela a única a cozinhar, a lavar e a passar a ferro a roupa, a fazer a cama e a limpar a casa.

O homem, um santo, aguentava a desfaçatez, suportava a sopa, a que faltava ou sobrava sal, sem um queixume, a salada que estava mal temperada, o peixe mal grelhado e ainda a ouvia resmungar enquanto lia o jornal e ela arrumava a mesa e lavava a louça.

Casados há mais de vinte anos, a mulher queria agora gozar dos mesmos direitos, exigir iguais deveres para ambos, depois de ter criado dois filhos sem que o marido soubesse o que era mudar uma fralda ou onde era a creche ou a escola.

Suportou ao longo dos anos que a mulher tivesse um vencimento maior que o seu, sem mostrar a irritação que isso lhe causava, ouvia-a cantar quando queria silêncio e sentia-a emudecida na altura em que queria conversar. Começou a arremessar para a roupa suja as camisas onde via uma ruga, o homem era um santo mas não podia aguentar mais.

Um dia, estava ela na lide da casa, depois de um dia de trabalho de que viera exausta, o homem não podia adivinhar, fez-lhe uma pergunta e não obteve resposta. Nesse dia, depois de anos a aguentar aquela mulher, agarrou na faca da cozinha e deixou-a a esvair em sangue, enquanto se foi entregar à polícia.

No tribunal, presidiu ao coletivo de juízes uma mulher, sem capacidade de compreensão para a bondade do homem que, naquele dia, se excedeu. As testemunhas eram unânimes a denunciar os maus tratos de que o santo homem fora vítima, mas poderia uma mulher compreender o tormento de um homem!? Na sua beca, imaculadamente passada a ferro, a juíza acusou-o de crueldade, violência gratuita e amoralidade, enfim, um exagero que as mulheres cometem, sem se esquecer de o acusar de ter repetido as facadas 12 vezes.

Quando a morta devia ter sido condenada foi o pobre do viúvo que ouviu um longo e penoso acórdão que o condenou a 18 anos de prisão. Já não há justiça. Essa defunta foi uma das 40 de que os companheiros, fartos de tanto sofrimento, acabaram por matar no ano que há pouco findou.

Não sei porquê, lembrei-me da perseguição dos polícias franceses aos que piedosamente executaram os desenhadores do Cahrlie Hebdo. Mataram os santos homens que rezavam cinco orações diárias e só queriam uma assoalhada no Paraíso recheada de 72 virgens.

Já não há justiça!