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Carlos Esperança

7 de Maio, 2015 Carlos Esperança

Os transplantes, a ressurreição da carne, a vida eterna e o ámen

Há 60 anos (dezembro/1954) o cirurgião americano Joseph Murrey realizou o primeiro transplante humano, um rim doado por um irmão gémeo a outro que estava a morrer de doença renal. A generosidade fraternal foi compensada com mais de 8 anos de vida do irmão transplantado que constituiu família e havia de gerar duas filhas.

Os crentes mais devotos de então consideraram tratar-se de uma profanação do corpo e que os médicos se imiscuíram numa prerrogativa de Deus. Nesse dia os homens deram mais um passo na sua emancipação e Deus um enorme trambolhão.

O êxito da operação foi uma vitória sobre a omnipotência e a omnisciência divinas cuja credibilidade sofreu um rude golpe. A partir daí, milhares de vidas foram prolongadas graças à ciência.

Para os que acreditam na vida eterna e na ressurreição da carne, deve dar-lhes volta à cabeça, no caso de a terem, o que acontecerá no vale de Josafat (entre Jerusalém e o Monte das Oliveiras), no dia bíblico do Juízo Final.

O Deus deles, cruel e medonho, lá estará a julgar vivos e mortos, perante uma enorme confusão em que à gravidade dos problemas logísticos se junta a berraria de quem pede a devolução do fígado, os que reclamam os rins próprios, aqueles que exigem de volta o coração ou procuram o esqueleto dividido por centenas de próteses de acidentados.

Deus começa a ter problemas complicados. O melhor é desistir dessa ideia maluca da ressurreição e manter-se na clandestinidade a que se remeteu após o género humano ter decidido pensar.

6 de Maio, 2015 Carlos Esperança

Terrorismo católico_2

O obscurantismo religioso, a insensibilidade e o aborto

Criança de 10 anos, violada, grávida de 5 meses

No Paraguai, uma menina, com 34 quilos e 139 centímetros de altura, aguenta o peso de uma insuportável violência e a baixeza do sectarismo ideológico do juiz que prolonga o sofrimento de mais uma criança que o padrasto violou.

A religião não é um código sagrado que condene ao sofrimento e à morte, que suporte a lei ignóbil que vigora no Paraguai onde a IVG só é legítima em caso de risco de vida da mãe e os preconceitos parecem menosprezar o risco, onde a alegada vontade divina se sobrepõe aos direitos da mulher e à tragédia de uma criança.

O risco de vida da mãe é de tal modo desprezado que apenas se aplicou uma única vez, depois de grande pressão internacional, … numa gravidez ectópica. Saberão os padres o que é uma gravidez ectópica, o risco que implica e as sequelas que deixa em qualquer mulher que tenha a fatalidade de uma gravidez extrauterina? Mas não nos afastemos deste caso apesar de as estatísticas hospitalares registarem quase 700 casos de meninas entre os 10 e os 14 anos que deram à luz em 2014.

O ministro da Saúde, que antes de entrar na política foi médico pessoal do presidente conservador Horacio Cartes, opôs-se terminantemente ao aborto. O juiz que custodia a menor diz que «a nossa Constituição protege a vida desde a conceção».

Há casos em que me dilacera a dúvida. Neste, tenho a certeza de que o médico ministro e o juiz carrasco estão ao nível do padrasto que violou a criança, na falta de sentimentos e no desprezo pelas mulheres, no sectarismo pio e na insensibilidade perante as crianças do sexo feminino.

Raios os partam.

Fonte: El País

6 de Maio, 2015 Carlos Esperança

Terrorismo católico

Paraguay impide el aborto de una niña violada de 10 años y 34 kilos
El ministro de Salud lo rechaza y la juez señala que la ley es muy clara
Solo hay aborto si hay riesgo para la vida de la madre

Una protesta en México para exigir la despenalización del aborto en América Latina. / EFE

Tiene 10 años, pesa apenas 34 kilos y mide 1,39, pero está embarazada de cinco meses y va a ser madre. Una niña violada por su padrastro en Luque, una localidad vecina de Asunción, la capital de Paraguay, será forzada a dar a luz si la presión internacional no lo impide. En Paraguay no hay aborto salvo que peligre la vida de la madre, algo que solo se aplicó una vez en 2009 por un embarazo ectópico y después de mucha presión. Diversas organizaciones humanitarias tratan de convencer al Gobierno paraguayo de que la vida de la niña corre peligro, pero de momento el Ejecutivo rechaza tajantemente el aborto y pretende obligar a la niña, separada ahora de su familia, a tener el hijo.

6 de Maio, 2015 Carlos Esperança

Parece gabarolice…

Estado Islâmico reivindica tiroteio no Texas

Grupo jihadista usou sua emissora de rádio para reivindicar atentado.
Dois homens atacaram prédio durante concurso de caricaturas sobre Maomé.

O grupo jihadista Estado Islámico (EI) reivindicou, nesta terça-feira (5), através de sua emissora de rádio, o ataque realizado domingo (3) contra um concurso de caricaturas sobre Maomé, organizada por centro cultural no Texas, sul dos Estados Unidos, informam a agência internacional de notícias France Presse (AFP) e a a BBC.

4 de Maio, 2015 Carlos Esperança

O sufixo «logos»

Logos, “razão”/”pensamento”, é o sufixo que designa cientistas enquanto logia significa “amor ao estudo, à instrução”, designando as respetivas ciências: fisiologia, cosmologia, biologia, etc., caracterizadas pelo método e objeto. Excetuam-se a astrologia e a teologia,  apropriadas por charlatães.

Os cientistas que estudam os astros tiveram de criar a «astronomia», apropriada que estava por pantomineiros a “astrologia”.

Quanto à teologia, “ciência” que estuda os seres imaginários que povoam a fantasia dos clérigos e o medo dos crentes, não se lhe conhece método ou objeto, sem prejuízo de os reivindicarem os que fazem do exoterismo uma profissão e da sua divulgação a fonte de proventos.

Os astrólogos, clérigos, quiromantes, bruxos, cartomantes e oficiais de outros ofícios correlativos conhecem sucesso em épocas de crise.

Vêm aí tempos em que o livre-pensamento dará lugar a fenómenos exacerbados de fé.

4 de Maio, 2015 Carlos Esperança

A FRASE

«Nada mais irritante, no plano religioso, do que a invocação de Deus para justificar situações, acontecimentos trágicos, doenças, injustiças e misérias».

(Frei Bento Domingos, teólogo dominicano)

E dar «Graças a Deus» pelo sobrevivente descoberto entre destroços do terramoto que matou milhares de pessoas, pelo náufrago resgatado entre centenas de cadáveres ou pelo ferido que escapou de um acidente, entre meia dúzia de mortos?

3 de Maio, 2015 Carlos Esperança

Hipocrisia e ridículo na morte da Ir. Lúcia

A morte de alguém merece-me respeito, mesmo – como foi o caso –, quando se tratou da última cúmplice de um embuste montado pela Igreja Católica na luta contra o comunismo e no ódio cego à República e à separação da Igreja e do Estado.

O cancelamento da campanha eleitoral pelo PSD e pelo CDS e as tergiversações do PS só encontraram paralelo no ridículo de um primeiro-ministro que pretendeu que fosse declarado luto nacional pela morte da freira enclausurada há décadas e que foi bandeira da campanha do fundamentalismo católico contra o progresso e a liberdade.

Desde a luta contra a minissaia e o divórcio (mesmo para casamentos civis), que eram objeto das cartas para Marcelo Caetano, até à convicção que lhe fora transmitida pela Senhora de Fátima de que Salazar fora enviado pela Providência para salvar Portugal, confidência da virgem Maria que acabou por ser transmitida a Salazar pelo cardeal Gonçalves Cerejeira, a vida de Lúcia foi a de uma pobre pastora de quem a ICAR se apropriou para um dos maiores embustes do século passado.

Foi esquecido o terceiro segredo de Fátima que excitou durante décadas a superstição popular, acalentou medos e generalizou o pânico nas populações analfabetas do mundo rural, embrutecidas por um clero saído do concílio de Trento para a cumplicidade com o Estado Novo. Já ninguém se recorda de que o Papa JP2 mandou um padre a Portugal com a sua batina para a Irmã Lúcia confirmar que fora aquela com que foi baleado por um enigmático turco, a que ela viu, em visão, quando o próprio pano não tinha ainda sido tecido. Claro que a vidente confirmou.

Foi com milagres destes e a exploração grosseira da superstição que o negócio de Fátima nasceu e prosperou. Foi com a falta de pudor e o descaramento pela credulidade de gente simples que se urdiu a teia de mentiras e idolatria que transformou uma zona rural paupérrima num promissor centro urbano do sector terciário.

Que aos embustes da ICAR se juntasse o oportunismo dos partidos que suspenderam a campanha eleitoral em sinal de luto por uma vetusta freira que morreu naturalmente, foi um ato digno dos mullahs islâmicos, um gesto terceiro-mundista, uma vergonha que cobriu de opróbrio um país europeu onde os ventos e as marés ainda se deslocam ao sabor da vontade da Senhora de Fátima.