6 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança
A coragem do Papa Francisco
Por
ONOFRE VARELA
No entendimento de um ateu, o Papa não faz falta alguma. Na lista das importâncias sociais, o Papa merece-me a designação de chefe de Estado, que é isso mesmo que ele é: chefe do Estado do Vaticano. Porém… o mundo não sou eu… o mundo somos todos nós!… A religião existe, e o chefe da Igreja Católica, maioritária entre nós, é o argentino Mário Bergóglio que adoptou o cognome de Francisco I para o desempenho do papel de Papa no Teatro do Vaticano (riquíssimo em cenários, adereços e guarda-roupa, com boa receita de bilheteira).
A importância dos chefes das Igrejas tem peso no mundo, porque socialmente o construímos assim. Tempos houve em que os chefes políticos das nações eram também os chefes religiosos. Os homens fazem a História… e a História modela os homens.
Se habitualmente os papas não passam de beatos autoritários, não merecendo qualquer respeito especial por parte de quem não é católico, com a escolha de Bergóglio para a cadeira de S. Pedro as coisas mudaram. Francisco I está no “top” porque teve a coragem de trocar a tradicional beatice papal pela Humanidade de cariz laico.
Um dos assuntos quentes da Igreja, de muito difícil tratamento, é a praga da pedofilia no seu seio, que inundou as páginas dos jornais e os noticiários de rádios e televisões. Velha como o tempo, a pedofilia praticada por sacerdotes sempre foi escamoteada. Os papas sabiam dela, mas encolhiam os ombros (se acaso também não a praticavam!…). Com Francisco I, mudou o paradigma.
Notícia de Dezembro de 2019 diz que Francisco I aboliu o segredo pontifício para os casos de abuso sexual por membros da Igreja, num decreto publicado pelo Vaticano no dia 17 de Dezembro. A nova lei, que entrou em vigor imediatamente, levanta o silêncio em relação às queixas, processos e decisões referentes a estes casos e promove o dever de a Igreja colaborar com a Justiça, fornecendo toda a documentação sobre processos e denúncias em curso às autoridades judiciais. O documento também agrava as regras relativas aos casos de abusos de menores, criminalizando “a aquisição, posse ou divulgação, com objectivo libidinoso, de imagens pornográficas de crianças menores de 18 anos, por um clérigo”.
Especialistas nas coisas que ao Vaticano dizem respeito, afirmam haver um lobby gay dentro da Igreja Católica que não gosta deste Papa por contrariar os seus prazeres. Junta-se a este grupo uma outra facção que faz a extrema-direita política do Vaticano e que rotula o Papa Francisco I de “comunista”. Se estes pudessem, destituíam-no já (ou matavam-no como, dizem as más línguas, fizeram a João Paulo I em 1978!), para acabarem com tal personagem desarranjador de arranjinhos!
A política internacional também está aliada ao movimento clerical clandestino contra Francisco I, incluindo Donald Trump nos conspiradores que querem ver no Vaticano uma personalidade mais de acordo com as políticas de Direita desrespeitadoras dos pobres e oprimidos que Mário Bergóglio pretende ver dignificados.
Tudo em nome de Deus!
(Texto de Onofre Varela a sair na Gazeta de Paços de Ferreira, na edição de 6 de Fevereiro de 2020)