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Carlos Esperança

21 de Fevereiro, 2016 Carlos Esperança

O estertor de um presidente pio

Na última quinta-feira, dia 18 de fevereiro do Ano da Graça de 2016, estava o pio Aníbal Cavaco Silva, bem confessado, comungado e penitenciado dos seus pecados quando lhe surgiu o mimoso cachaço de Sousa Lara, convocado para a venera que purgava as mãos de quem a concedia e o passado de quem a recebeu.

O Infante D. Henrique só deu o nome à medalha para cuja imposição o homenageante tinha o alvará a 19 dias do trespasse. Foi assim que do professor catedrático António Costa de Albuquerque de Sousa Lara, um sólido pilar da civilização cristã e ocidental e especialista em árvores genealógicas, que os menos eruditos hão de julgar um ramo da Botânica, fez Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Decerto, amigos do peito e da hóstia, Cavaco Silva e Sousa Lara, têm em comum o ódio de estimação por José Saramago, o Nobel do nosso contentamento, que os precedeu na defunção. O primeiro não tinha ainda, publicamente, agradecido ao segundo o pio ato de censura a “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, e minguava-lhe o tempo para o fazer.

Estando praticamente todos os agentes da Pide em adiantado estado de defunção, para poder ainda distinguir mais alguns “por serviços excecionais e relevantes”, restava-lhe o bem-aventurado ex-docente da extinta Universidade Moderna, para a honraria que o ex-presidente da Comissão de Honra para a Canonização de Nun´Álvares Pereira devia ao beato censor de Saramago.

No dia seguinte, cabia ao devoto Aníbal, maldita seja a Constituição, que foi obrigado a jurar para ter direito ao alvará das condecorações, a promulgação das leis da adoção gay e do aborto, no último dia do prazo constitucional.
O Deus do Professor Aníbal, na sua infinita misericórdia, há de absolvê-lo do pecado da promulgação de tão desvairadas leis e premiá-lo com a bem-aventurança eterna. Há de ter em conta o martírio do devoto até ao próximo dia 9 de março, a partir do qual poderá entrar em perpétuo retiro espiritual antes de o chamar à sua divina presença.

Como foi breve o Carnaval e é tão longa a Quaresma! Não merecia tão rude provação o temente a Deus.

19 de Fevereiro, 2016 Carlos Esperança

A condecoração de Sousa Lara

Foi ontem condecorado o devoto Sousa Lara, o censor do livro “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, do «inveterado ateu» José Saramago, que concorria a um prémio literário europeu.

Disse o pio, que Deus abandonaria nas trapalhadas da Universidade Moderna, que «A obra atacou princípios que têm a ver com o património religioso dos portugueses. Longe de os unir, dividiu-os» e, com tão clemente argumentação, vetou o livro, em nome do Governo presidido pelo devoto que ora lhe concedeu a venera.

LARA

18 de Fevereiro, 2016 Carlos Esperança

O negócio dos milagres e o Opus Dei

Uma recuperação surpreendente

Em 14 de julho de 2014, meu terceiro filho quase amputou a mão trabalhando com um moedor. A quantidade de sangue que perdia era enorme. Outro dos meus filhos, que estava em casa, chamou a ambulância e enquanto isso, eu comecei a pedir a Isidoro que meu filho não morresse, mesmo sabendo que teriam pouco tempo para assisti-lo.

17 de Fevereiro, 2016 Carlos Esperança

João Paulo II (JP2) – a canonização adiada

A morte de JP2 relembrou a dor e sofrimento manifestados na URSS quando o pai da Pátria, José Estaline, exalou o último suspiro, e o histerismo demente que rodeou a morte do aiatola Khomeini em todo o mundo islâmico, particularmente no Irão. Em comparação, as mortes de Franco, Salazar e Pinochet foram choradas de forma contida.

O absolutismo papal que restaurou com o apoio entusiástico do Opus Dei, Libertação e Comunhão, Legionários de Cristo e outros movimentos integristas, tornou JP2 o Papa da Contrarreforma, antimodernista, infalível, intolerante, substituindo os arcaicos autos de fé pela propaganda e pela diplomacia.

O Papa da Paz, como os devotos o designam, apoiou a Eslovénia e a Croácia (católicas) e a Bósnia e o Kosovo (muçulmanos) contra a Sérvia cuja obediência à Igreja Ortodoxa constitui um entrave ao proselitismo papal que tem nos ortodoxos a principal barreira ao avanço do catolicismo para leste. Já assim foi na II Grande Guerra.

A proteção aos padres que participaram ativamente no genocídio no Ruanda é mais um desmentido ao boato sobre o alegado espírito de paz que o animava.

A intervenção de JP2 a favor da libertação de Pinochet, quando foi detido em Londres, é coerente com a beatificação de Pio IX, do cardeal Schuster, apoiante de Mussolini e do arcebispo pró-nazi Stepinac. O apogeu da afronta foi a canonização veloz do admirador de Franco e fundador do Opus Dei, Josemaria Escrivá de Balaguer.

JP2, ele próprio profundamente supersticioso e obscurantista, chegou a ser obsceno na forma como engendrou milagres para 448 santos e 1338 beatos cujos emolumentos contribuíram para o equilíbrio financeiro da Santa Sé e para o delírio beato dos fiéis.

Desde a prática do exorcismo à exploração de indulgências, da recuperação dos anjos à aceitação dos estigmas como sinal divino (canonizou o padre Pio), tudo lhe serviu para alimentar a fé de sabor medieval e o desvario místico.

O horror que nutria pela contraceção, o aborto, a homossexualidade e o divórcio são do domínio da psicanálise. O planeamento familiar era para o papa medieval um crime. Considerava a SIDA um castigo do seu Deus e, por isso, combateu o preservativo, tendo o Vaticano recorrido à mentira, afirmando que era poroso ao vírus (2003). A misoginia, a conceção do carácter impuro da mulher e o horror à emancipação feminina foram compensados pelo culto insalubre da Virgem, recuperado da tradição tridentina.

Como propagandista da fé, pressionou Estados, intrometeu-se na política de numerosos países, ingeriu-se nos assuntos relativos ao aborto, à eutanásia ou ao divórcio e instigou populações contra governos democraticamente eleitos. Apoiou os comandos antiaborto, estimulou a desobediência cívica, em nome da fé, pressionou a redação da prevista Constituição Europeia e chegou ao disparate de pedir aos advogados católicos que alegassem objeção de consciência e se negassem a patrocinar divórcios.

O Papa da Paz que condenou a atribuição do Nobel da Literatura a José Saramago; que envidou todos os esforços para obter o da Paz para si próprio, que justamente lhe foi negado; que excomungou o teólogo do Sri Lanka, Tyssa Balasuriya por ter duvidado da virgindade de Maria e defendido a ordenação de mulheres; que perseguiu e reduziu ao silêncio Bernard Häring, Hans Küng, Leonardo Boff, Alessandro Zanotelli ou Jacques Gaillot; que marginalizou Hélder da Câmara e abandonou Oscar Romero; que combateu o comunismo e ficou em silêncio perante as ditaduras fascistas; João Paulo II morreu uns dias depois de o Vaticano ter proibido a leitura ou a compra do «Código Da Vinci», do escritor Dan Brown, sem nunca ter criticado a fatwa que condenou à morte o escritor Salmon Rushdie.

O Papa que morreu, segundo a versão oficial, no dia 02-04-2005 (soma=13), às 21h37 (soma=13), curiosidades «assinaladas» pelo bispo de Leiria/Fátima, foi o beato algoz da liberdade, autocrata medieval e fanático supersticioso. A sua morte consternou chefes de Estado e de Governo, alimentou noticiários das televisões de todo o mundo, rendeu biliões de ave-marias e padre-nossos, e pôs milhões de pessoas a rezar o terço, vestígio do Rosário da Contrarreforma, a que adicionou um novo mistério.

JP2 era certamente uma pessoa de bem que escondeu essa faceta para ser celebrado por dignitários políticos, religiosos e outros hipócritas. É desse Papa que conheci, que deixo um esboço, quando as cartas particulares, acabadas de revelar, o humanizam e mostram que não era alheio à influência das hormonas.

A canonização de JP 2 era capaz de deslustrar a imagem do papa Francisco, o papa que tanto pode prorrogar o prazo de validade da sua Igreja como tornar-se para o Vaticano o que Gorbatchov foi para a URSS.

As cartas que revelam “uma relação intensa” com Anna-Teresa Tymieniecka podem custar a João Paulo II a privação do alvará para obrar mais milagres e, depois de ter curado uma freira com doença de Parkinson, da qual ele próprio sofreu em vida, e lhe permitiu a beatificação, pode falhar o milagre que lhe falta para a canonização.

16 de Fevereiro, 2016 Carlos Esperança

A pobreza, o Islão e a justiça

Esta cronologia é também ela uma ferramenta de auxílio para compreender melhor o que aqui se passou:

https://www.publico.pt/sociedade/noticia/liliana-e-os-seus-filhos-a-cronologia-de-um-filme-com-nove-anos-1723431

Liliana e os filhos: a cronologia de um filme com nove anos
Faz em Maio quatro anos que teve início a guerra nos tribunais. Na altura foi decidido que sete dos dez filhos de Liliana Melo, uma cabo-verdiana que reside em Portugal há mais de 20 anos, deveriam ser entregues para adopção.
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