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Carlos Esperança

12 de Junho, 2016 Carlos Esperança

O arcebispo de Braga e a democracia

O Dr. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas, antigo Cónego Capitular da Sé de Braga e ex-presidente da Comissão Episcopal da Doutrina da Fé, herdeira do Santo Ofício, há de ter estudado rudimentos de democracia com o Cónego Melo a quem a prudência vaticana negou o anelão e o báculo, mas conseguiu uma estátua.

O que o Dr. Jorge Ortiga não aprendeu, trocando o cuidado das almas pela volúpia da caixa de esmolas estatais, foi o significado da palavra ‘totalitarismo’, apesar da tradição da Igreja católica e da licenciatura na Faculdade de História Eclesiástica da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.

Não sei onde viu o total controle sobre os direitos das pessoas em proveito da razão de Estado, onde viu ameaçada a liberdade religiosa, que a Igreja católica só reconheceu no início da década de 60 do século passado, com azedume, no concílio Vaticano II, e onde viu limites à liberdade de expressão pia nos jornais paroquiais, colégios ou homilias!

O que o Sr. Dr. Jorge Ortiga, fiel à tradição caceteira da diocese de Braga, não suporta é a independência do poder político que a separação do Estado e das Igrejas impõe e, mãe de todos os totalitarismos, que o Estado se limite às isenções de impostos, ao pagamento dos professores de EMRC, cujo programa e docência pertencem ao poder discricionário dos bispos, ao pagamento de capelães militares, prisionais e hospitalares, e a privilégios intoleráveis num Estado laico.

É verdade que a Igreja portuguesa, onde só o honrado bispo do Porto, António Ferreira Gomes, foi a única voz dissonante do episcopado, em 48 anos de ditadura, não tem pela democracia o amor que nutre pelos negócios e, nem que seja preciso recorrer à calúnia, não abdica da chantagem para encontrar no Estado um mealheiro pio.

Jorge Ortiga, ao defender o dossiê dos contratos de associação com as escolas privadas, que comparou ao “totalitarismo de Estado”, mostrou a chantagem de que a sua Igreja é capaz para combater a laicidade e fazer ajoelhar o Estado.

Sob o ponto de vista ético não ultrapassou a estatura física do seu antecessor de há três séculos, Rodrigo de Moura Teles. À falta de paramentos amarelos, resta-lhe usar a cor na roupa interior.

cuecas episcopais

11 de Junho, 2016 Carlos Esperança

Os trogloditas são assim

Ataque atingiu tesouro arqueológico e cultural em Nimrod, no Iraque.
ONU confirmou ‘danos extensos’ mostrados por imagens de satélite.
Membros do Estado Islâmico divulgaram um vídeo mostrando a explosão de um templo de 3 mil anos em Nimrod, cidade assíria do norte no Iraque, seu ataque mais recente a um dos maiores tesouros arqueológicos e culturais do mundo.

A Organização das Nações Unidas (ONU) confirmou, em um comunicado emitido na noite de quarta-feira, que imagens de satélite mostraram “danos extensos na entrada principal” do templo de Nabu, o deus da sabedoria babilônio.

Cmbinação de fotos de satélite de 12 de janeiro (esquerda) e 3 de junho (direita) mostram o antes e depois da destruição do Templo de Nabu, no Iraque (Foto: UNITAR / AFP)Combinação de fotos de satélite de 12 de janeiro (esquerda) e 3 de junho (direita) mostram o antes e depois da destruição do Templo de Nabu, no Iraque (Foto: UNITAR / AFP)
10 de Junho, 2016 Carlos Esperança

O totalitarismo eclesiástico e a política

«Arrcebispo de Braga critica “totalitarismo do Estado” nos contratos de associação

O arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, defendeu que o dossiê dos contratos de associação com as escolas privadas, que comparou ao “totalitarismo de Estado”, é uma “campanha” e “uma questão ideológica”.

O arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, defendeu hoje que o dossiê dos contratos de associação com as escolas privadas, que comparou ao “totalitarismo de Estado”, é uma “campanha” e “uma questão ideológica”.

“Para mim é uma questão ideológica este totalitarismo do Estado. O Estado tem uma função supletiva e não de alguém que assume tudo, nem tem capacidade para isso, nem o deve fazer”, comentou, em declarações aos jornalistas.»

9 de Junho, 2016 Carlos Esperança

Pena máxima é a perda do alvará

PADRE ACUSADO DE CRIME SEXUAL CONTRA MENORES SERÁ JULGADO PELO VATICANO

Paróquia de São João da Chapa.

O padre acusado de crimes sexuais cometido contra menores na Comunidade de São João da Chapa, Distrito de Diamantina, será julgado pelo Vaticano e poderá ser expulso da igreja, caso seja comprovada a prática de abuso sexual contra menores.

O padre está afastado de suas atividades na comunidade desde fevereiro, por decisão judicial. Ele comandava e residia no Centro Comunitário Infantil Padre Romano Merten.

A instituição é voltada para crianças e adolescentes carentes do Distrito de São João da Chapa, e cuida de aproximadamente 100 crianças e adolescentes.

 

8 de Junho, 2016 Carlos Esperança

A misoginia dos 3 monoteísmos

A tara judaico-cristã, comum aos três monoteísmos, foi sendo atenuada pela civilização, mas permanece na matriz genética das religiões do livro e no espírito dos hierarcas que as divulgam, e delas vivem, bem como dos crentes que as seguem.

Paulo de Tarso, autor da primeira cisão conseguida do judaísmo, preservou o horror à mulher, em perfeita consonância com a lei moisaica de que, aliás, só divergiu quando se convenceu de que o Messias anunciado era Jesus Cristo, um judeu que morreria sem se aperceber que originara uma nova seita, que o imperador Constantino, por necessidade de cimento para o Império Romano, havia de converter em religião, dando-lhe a liberdade de culto. O Édito de Milão, em 313, seria fundamental para a futura conversão total do império. Teodósio, algumas décadas depois, em 380, tornaria o cristianismo obrigatório (Édito de Tessalónica).

Todavia, o apogeu da demência misógina seria atingido com Maomé na cópia grosseira dos monoteísmos anteriores. E não vale a pena dizer que é a versão errada do islamismo que dá origem à violência. É isso que o Corão, manual terrorista elevado à categoria de livro sagrado, ensina. Foi assim que o «Profeta Maomé, o Misericordioso», alcunha do beduíno analfabeto e amoral, pensou.

O horror causado pela discriminação da mulher leva os crentes a desculpar as religiões o que, independentemente da crença ou descrença, não permite alhear-nos da influência no sofrimento secular imposto a metade da Humanidade, por discriminação sexual.

É verdade que o cristianismo se civilizou, graças à repressão política sobre o clero, e o judaísmo se reduz a menos de 20 milhões, a maior parte secularizados, o que não deixa de ter influência nefasta na violência sionista, mas existe a possibilidade de retrocesso.

Só o islamismo, no ocaso da fracassada civilização árabe, permanece virulento e não foi surpresa, para quem acompanha a sua deriva política, cunhada como fascismo islâmico, que o Estado Islâmico, à semelhança do que acontecera com os talibãs no Afeganistão, tenha ordenado às mulheres severas restrições à liberdade depois de, em junho de 2014, ter tomado Mossul. Foi assim que o uso do véu integral e a mutilação genital feminina [não sendo esta uma imposição de todo o Islão] foram exigidos, bem como a cobertura dos pés e mãos, sob pena de «castigos severos».

É difícil perceber que, sob o álibi do respeito pelas religiões, não se combatam no plano ideológico, à semelhança das doutrinas políticas consideradas perversas.

Sobre a opinião dos ‘santos doutores’ do cristianismo, cuja censura me levaria à fogueira se não tivesse havido o Renascimento, o Iluminismo e a Revolução Francesa, deixei ontem aqui um texto de que não sou autor.

7 de Junho, 2016 Carlos Esperança

Ler os outros

Eis algumas pérolas do pensamento ultra-machista dos Padres e outros santos varões da Igreja:
“No que se refere à natureza do indivíduo, a mulher é defeituosa e mal nascida, porque o poder activo da semente masculina tende à produção de um perfeito parecido no sexo masculino, enquanto que a produção de uma mulher provem de uma falta do poder activo.” (Tomás de Aquino, Summa Theologica)
“Nada rebaixa tanto a mente varonil de sua altura como acariciar mulheres e esses contactos corporais que pertencem ao estado do matrimónio.” (Santo Agostinho, “De Trinitate”)
“E tu não sabes que és uma Eva? A sentença de Deus sobre este teu sexo vive nesta era: a culpa deve necessariamente viver também. Tu és a porta do demónio; és a que quebrou o selo daquela árvore proibida; és a primeira desertora da lei divina; és a que convenceu aquele a quem o diabo não foi suficientemente valente para atacar. Assim facilmente destruíste a imagem de Deus, o homem. Devido à tua deserção, incluso o Filho de Deus teve que morrer.” (Tertuliano, Padre da Igreja, “De Culta Feminarum”, 1.1)
“É Eva, a tentadora, de quem nos devemos cuidar em toda a mulher… Não consigo entender que utilidade pode ter a mulher para o homem, se se exclui a função de conceber crianças.” (Santo Agostinho de Hipona, Padre da Igreja)
“As mulheres não devem ser iluminadas nem educadas de forma alguma. De facto, deveriam ser segregadas, já que são causa de insidiosas e involuntárias erecções nos santos varões.” (Santo Agostinho de Hipona, Padre da Igreja)
Não se compreende muito bem como continuam a existir mulheres cristãs. Uma estranha síndrome de “Belém”?
Cá por mim ainda bem que existe a mulher. Se ela não existisse, como é que iria funcionar a mola?

publicado às 19:13

6 de Junho, 2016 Carlos Esperança

A indústria das canonizações está em alta

«Papa canoniza um padre polaco e uma enfermeira sueca

O Papa Francisco canonizou este domingo, numa cerimónia religiosa na praça de São Pedro na Cidade do Vaticano, a enfermeira sueca Marie Elisabeth Hesselblad e o padre polaco Jan Papczynski.

Marie Elisabeth Hesselblad, que restaurou a Congregação das Brigitinas, partiu muito jovem para trabalhar nos Estados Unidos com o objetivo de ajudar a sustentar a sua família, acabando por trabalhar como enfermeira.

Estanislau de Jesus e Maria foi o padre católico que fundou a congregação dos Marianos da Imaculada Conceição, a primeira ordem religiosa masculina polaca, muito associada ao misticismo oriental católico. É considerado uma das grandes referências da igreja católica polaca, tendo influenciado o percurso de João Paulo II.»

5 de Junho, 2016 Carlos Esperança

Ramalho Eanes e o Opus Dei

Eanes e o Opus Dei – Texto de fim de semana

Só o facto de o General Ramalho Eanes não pertencer, nem ter pertencido, nunca, ao Opus Dei – como alega – o podem ter conduzido ao panegírico que fez de Josemaria Escrivá de Balaguer em artigo do Expresso de 5 de janeiro [2002].

Carece o general da leitura urgente, entre outros, de dois livros – “O Mundo Secreto do Opus Dei”, de Robert Hutchison e “Uma Vida na Opus Dei”, vivida “do lado de dentro” pela autora, Maria del Carmen Tapia, que trabalhou diretamente com Escrivá.

O artigo referido não tranquiliza quem quer que seja relativamente à “associação secreta” que atua “ocultamente, com um máximo de opacidade nos seus assuntos”, como reconheceu o Tribunal Federal Suíço, com sede em Lausanne.

Escrivá foi elevado a beato graças à cura miraculosa de cancro da freira Concepcion Boullón Rubio, prima de um ministro de Franco ligado ao Opus Dei, e cuja doença era desconhecida (!) da madre superiora do convento. O processo de canonização foi aprovado em 20 de dezembro de 2001 graças à intercessão num milagre na área da dermatologia. A cura do médico Mário Nevado Rey, que sofria de radiodermite, confirmou a preferência que Monsenhor Escrivá, já em vida, nutria pelas classes mais favorecidas.

O Senhor General não refere, seguramente por desconhecimento, o número de ministros do Opus Dei que serviram o ditador Franco, nem de que lado se colocou o taumaturgo na guerra civil que dilacerou Espanha, antecedentes pouco compatíveis com a “democracia de Escrivá, mais atual que nunca”, que lhe atribui. E talvez nunca tenha ouvido falar dos escândalos financeiros Rumasa, Matesa e Banco Ambrosiano.

A interferência em acontecimentos da Sérvia, Bósnia e Eslovénia, alguns recentes, bem como as ligações à CIA, o papel desempenhado na Polónia e, muito provavelmente, na eleição de João Paulo II, não são de molde a tranquilizar-nos. Mesmo alegando-se que o Papa João Paulo I terá morrido de morte natural, a existência da seita ultraconservadora Opus Dei é deveras inquietante.

(Carta publicada no Expresso – janeiro de 2002)
In Pedras Soltas (2006) – Ortografia atualizada