Fernanda Câncio, in DN
«O Tribunal Constitucional já declarou por duas vezes a inconstitucionalidade do carácter obrigatório da disciplina de Religião e Moral católica nas escolas públicas. Fê-lo em 1987 e de novo em 2014, a propósito de um diploma do Governo Regional da Madeira que, como o do Governo da República de 1983, assumia o silêncio dos encarregados de educação como aquiescência em relação às aulas daquela disciplina – era a chamada obrigatoriedade “por defeito”.»
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(Enviado por Casa do Oleiro)
Quando o ceticismo se torna mais ameaçador para a religião, é frequente serem evocadas medidas fortes de prevenção. Uma das mais eficazes é também uma das mais transparentes: a velha mentira diabólica. O termo fala da propensão putativa do «Pai da mentira» para aparecer como o seu próprio oposto. É, quase literalmente, um jogo de espelhos e, como muitos bons truques de magia, é tão simples que se torna difícil acreditar que alguma vez pudesse resultar.
Ei-la: “Se alguém, alguma vez, levantar questões ou objeções sobre a vossa religião a que não possais responder, essa pessoa é, quase com certeza, Satanás. De facto, quanto mais razoável a pessoa for, quanto mais tentar envolver-vos numa discussão aberta e simpática, tanta maior certeza podereis ter de que estais a falar com Satanás sob um qualquer disfarce! Afastai-vos! Não a escuteis! É uma armadilha!”
Se eu decidisse planear uma religião falsa, incluiria com toda a certeza uma versão desta pequena pérola – mas teria dificuldade de dizê-la com um ar sério.
O que é particularmente engraçado neste truque é o facto de ser uma surpresa perfeita, tão carente de conteúdo que qualquer seita, credo ou conspiração pode usá-la eficazmente.
Texto retirado do livro de Daniel C. Dennett “Quebrar o feitiço”.
Discutir um problema, que exige reflexão e levanta dúvidas, com certezas derivadas de preconceitos e a intolerância herdada do maniqueísmo judaico-cristão, é mau caminho.
Há quem defenda a pena de morte e, simultaneamente, seja contra a eutanásia e, no lado oposto, quem seja contra a pena de morte e defenda a eutanásia, sem quaisquer reservas.
A melhor maneira de centrar a discussão sobre o tabu, mais ideológico do que racional, é conhecer a legislação dos países que a aplicam, as circunstâncias em que é permitida e a experiência adquirida.
Conhecidas posições antagónicas entre juristas, crentes, ateus e políticos da mesma cor, é fácil concluir que as posições irredutíveis são pouco racionais, incluindo as católicas, coerentes, mas destinadas a ganhar as primeiras batalhas e a perder a guerra.
A inviolabilidade da vida humana não é sinónimo de imposição nem incompatível com a decisão individual de a findar ou de a solicitar sem que a piedade seja criminalizada.
Entendo que os direitos individuais não devem ser referendáveis e que há situações em que a elementar humanidade não pode impor a perpetuação do sofrimento, em nome de uma crença, quando é irreversível a agonia e intolerável o sofrimento.
Penso mesmo ser arrogância querer impor a quem não acredita ou a quem, acreditando, não suporta o ónus de continuar a existir, as posições ditadas por uma crença do foro privado.
É obrigação do Estado defender os cidadãos de atos criminosos e da eventual má fé de quem, na incapacidade, os represente, mas é inimaginável que a Segurança Social, os médicos, herdeiros, e companhias de seguros se conluiem para lhes abreviar a morte.
É urgente divulgar a legislação dos países que nos precederam para reflexão pública.
O Governo austríaco decidiu proibir o véu integral nos espaços públicos e limitar o uso de símbolos religiosos aos funcionários públicos, para garantir a neutralidade do Estado e impedir certas campanhas de proselitismo salafista.
O preâmbulo da decisão legal, justifica as medidas governamentais tomadas em Viena.
“Acreditamos numa sociedade aberta que também se baseia na comunicação aberta: os véus integrais nos espaços públicos opõem-se a isso e, portanto, serão proibidos”.
A medida faz parte de um pacto entre social-democratas e conservadores e abrange um amplo leque de reformas, com medidas económicas, educativas e de segurança para favorecer a integração. Esta foi a resposta à extrema-direita que pretendia a proibição do Corão.
Vem a propósito recordar que, em 19 de maio de 2016, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos indeferiu o recurso de Zoubida Barik Edidi, advogada muçulmana a quem a Audiência Nacional impediu de sentar-se no Tribunal com o lenço islâmico (hijab) que se recusou a tirar durante um julgamento por terrorismo islamista, em outubro de 2009.
O desafio prosélito à laicidade do Estado é uma provocação antidemocrática recorrente, tão inaceitável como a proliferação de senhoras de Fátima nas enfermarias do Hospital de Coimbra.
A tibieza dos Estados e o contubérnio com religiões assumidas como maioritárias levam ao abuso de outras religiões, mais danosas e violentas, e criam o húmus onde florescem os extremismos políticos num mimetismo a que urge pôr cobro.
Fonte: El País de 31de janeiro.
Em entrevista à edição de hoje do jornal ‘L’Osservatore Romano’, o secretário da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada (Santa Sé) frisou que, apesar de uma parte dos religiosos abandonar os hábitos “para casar”, a primeira causa para o abandono é “a perda da fé”, são as “questões espirituais”.
“Entre 2015 e 2016 tivemos cerca de 2300 abandonos, incluindo 271 decretos de demissão de institutos, 518 despensas do celibato concedidas pela Congregação para o Clero, de 141 sacerdotes religiosos incardinados em diferentes dioceses e 332 dispensas de votos de religiosas contemplativas”, explicou D. José Rodríguez Carballo.
Membros da Opus Dei em Madrid, em 2014, antes da beatificação de Álvaro Portillo AFP/GERARD JULIEN
Em pleno século XXI, só faltava mais esta !!!
Vale a pena recordar.
Vale a pena recordar alguns factos históricos revelados pelo padre redentorista Antonio Hortelano que foi espião do Vaticano e da Mossad, reproduzidos pelo padre Anselmo Borges, no Diário de Notícias de 15 de agosto de 2009.
«O Muro de Berlim caiu graças a João Paulo II, aliado com Reagan.” Mas censura Wojtyla pela troca de informações diárias com Reagan: “Todas as manhãs, Reagan mandava as suas informações ao Papa e este enviava-lhe a informação mais quente que recebia de todas as nunciaturas.” “Foi um grande erro.” Pior, porém, foi o escândalo do IOR, o Banco do Vaticano, e ter confiado as finanças da Igreja a monsenhor Marcinkus. “Foi o arcebispo de Baltimore que lho recomendou, mas já nos Estados Unidos Marcinkus estava relacionado com a Máfia. Por isso, quando se deu a queda do Banco Ambrosiano, que deixou um buraco no IOR de mais de mil milhões de dólares, Marcinkus quis tapá-lo negociando a dívida com a Máfia. No fim, depois de vários mortos, o Vaticano pediu aos religiosos que se encarregassem da dívida. Aceitaram, mas com a condição de ficarem com a gestão das finanças vaticanas. O Papa não quis e então apareceu o Opus Dei, que, através de Rumasa, tapou o buraco de Roma em troca da prelatura pessoal e da canonização do fundador da Obra.»
Dessa vez o Vaticano preferiu o Opus Dei à Máfia. Ou optou por outra. Ou escolheu um intermediário. É impensável desvendar todos os segredos pios.
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