Loading

André Esteves

12 de Outubro, 2004 André Esteves

Em memória: Christopher Reeve 1952-2004

Morreu Christopher Reeve. Era ateu.

No decorrer de uma vida cheia de sucessos profissionais, sofreu um acidente de cavalo que o deixou quadriplégico. Ao invés de desistir da vida, preferiu lutar pela esperança da cura.

Lenta e determinadamente conseguiu restabelecer a sensibilidade das suas mãos e pés. No entanto, o seu estado era tão grave que não conseguia respirar sem a ajuda de uma máquina.

No meio do seu combate, viu a sua esperança renovada ao entrar no conhecimento público as novas descobertas das células estaminais. Perante a oposição do Vaticano e do seu lobby anti-aborto ao forçar uma decisão presidencial americana sobre o assunto, interveio publicamente a favor da continuação da investigação na área, lembrando aos políticos da maioria dos católicos que não se revêem na posição do Vaticano e que apoiam a investigação das células estaminais.

Mesmo assim, a decisão do Presidente Bush de só apoiar as linhas de células desenvolvidas até aquele momento, atrasou e continua a impedir o avanço mais rápido do conhecimento humano. Hoje sabe-se que as células estaminais, além de poderem ser cultivadas para se transformarem em qualquer tipo de tecido, detêm a capacidade de produzir químicos sinalizadores que incentivam a cura dos tecidos circundantes.

A cura, essa, nunca chegará a Christopher Reeve e a tantos outros que continuam a sofrer.

O poder, esse, continua na mão dos que invocam sofrimentos abstractos e mantêm os homens na guerra e na ignorância.

Christopher te saudamos!! Humano como nós.

Declarações públicas de Reeves sobre o seu ateísmo pessoal.[Inglês]

Fundação Christopher Reeve para o combate à paralisia [Inglês]

Reeve na CNN, antes da decisão do Presidente Bush [Inglês]

8 de Outubro, 2004 André Esteves

Pânico ecuménico

Durante um recente encontro ecuménico, o contínuo entra na sala de reuniões, em pânico, a gritar: «Fogo! O prédio está a arder!»

Os Metodistas juntaram-se todos num canto e desataram a orar.

Os Baptistas gritavam e gesticulavam uns com os outros: «Onde está a água?! Onde está?»

Os Quackers agradeceram calmamente a deus pelas bençãos que o fogo traz.

Os Luteranos pregaram um aviso na porta declarando que o fogo era maligno.

Os Católicos Romanos organizaram imediatamente uma colecta para cobrir os danos do incêndio.

Os Judeus pintaram símbolos em todas as portas, na esperança que o fogo não entrasse.

Os Fundamentalistas entraram em frenesi, saltando, enquanto gritavam: «É A VINGANÇA DE DEUS!»

Os Episcopelianos formaram uma procissão e saíram.

Os Cientistas Cristãos concluiram que devia existir fogo.

Os Presbiterianos designaram logo um responsável para constituir um comité para investigar o assunto e apresentar um relatório sobre o fogo.

E os Unitários gritaram: «É cada um por si!»

Mas o incêndio nunca chegou, porque um ateu que passava na rua chamara os bombeiros. Na declaração final do encontro ecuménico, todos concordaram: tinha sido intervenção divina.

3 de Outubro, 2004 André Esteves

Planeta dos cristãos

Às vezes tenho pesadelos que este seja o futuro que nos espera.

30 de Setembro, 2004 André Esteves

Humorista polaco perseguido

A partir do site do Sindicato dos Jornalistas chega-nos a notícia que na Polónia, Jerzy Urban, editor de um jornal humorístico polaco está a ser processado pelo estado polaco, por ter escrito um artigo sarcástico, aquando da última visita do papa à sua terra natal.

O humor sarcástico e ofensivo está protegido pela liberdade de expressão, pelo que em qualquer estado civilizado, a lei não deve permitir que o estado intervenha e processe os autores.

A haver qualquer acção nos tribunais, ela remete-se aos visados, que podem pôr ou não, conforme a sua vontade um processo civil, para averiguar se houve mentiras e logo difamação da figura visada. Nem o estado, nem os tribunais devem decidir, o que é sarcasmo ou mau-gosto. No máximo, os tribunais devem julgar casos entre as partes.

Na Europa, vários casos no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos estabeleceram precedentes, decidindo que a liberdade de expressão não se aplica só a informação ou ideias que «são favoravelmente recebidas ou consideradas inofensivas ou com uma atitude de indiferença, mas também aquelas que ofendem, chocam ou perturbam o estado ou qualquer sector da sociedade.»

Jerzy Urban escreveu no semanário humorístico, um artigo sobre o papa, chamado de «Sado-Masoquismo Andante» depois de observar a viagem do papa à Polónia. Apesar do estado polaco cumprir algumas das normas internacionais da liberdade de expressão,a lei polaca reserva o direito do estado intervir no caso de uma comunicação ofensiva para um chefe de estado.

Segundo o raciocínio do Ministério Público Polaco, o Papa é uma figura do estado do Vaticano, pelo que pode acusar Jerzy Urban.

Na realidade, a «vírgula» na lei já permitiu condenar dois jornalistas no inicio deste ano que tinham feito acusações sérias sobre figuras do estado polaco. Trata-se do país que Karol Józef Wojtyla «libertou» do comunismo, mas com o qual se volta a assemelhar… e por sua causa.

30 de Setembro, 2004 André Esteves

Concordata no Parlamento

Hoje, uma das maiores vergonhas do Portugal democrático vai-se desenrolar no parlamento. Agendado a partir do nada no último mês, a concordata com o Vaticano irá ser posta a ratificação no parlamento.

Todo o processo que envolve a concordata têm se demonstrado anti-democrático. Primeiro foi o início das negociações, sem qualquer conhecimento público, por parte do governo socialista de Guterres. Depois, as circunstâncias que envolveram a sua assinatura-relâmpago no Vaticano, com o primeiro ministro de então, Durão Barroso.

Hoje, com um governo de legalidade democrática discutível a concordata vai a ratificação no parlamento. Os deputados irão ratificar um acordo com um discutível estado, em que nem a negociação das partes do acordo relacionadas com o estatuto dos capelães do exército, nem o relacionamento fiscal da Santa Sé e da ICAR com o estado português estão concluídas.

Na realidade, o parlamento passará um contrato em branco, de uma forma completamente irresponsável, para que o governo e a Santa Sé se divirtam a preenchê-lo com o que lhes der na veneta.

É um dos pontos mais baixos do parlamento português e a mais completa afirmação de hipocrisia do seu presidente, demonstrando que a suas fidelidades espirituais são mais fortes que o seu contrato com o povo, pelo qual afirmou no início do seu mandato, querer restaurar o prestígio da instituição. Se o afirmou com honestidade, teria pelo menos impedido a agendação desta moção, nestas condições.

É com vergonha que também observo os crentes de outras denominações, que levados pela armadilha do multi-culturalismo de segunda da «Lei da liberdade religiosa», se colocam de lado, julgando que ganharam alguma coisa, mas que irremediavelmente diminuiram parte dos seus direitos e dos outros cidadãos. A isso, chamo eu egoísmo e vistas curtas.

Sinto mais vergonha, ainda, como ateu, ter votado num Presidente da Républica com quem julgava partilhar alguma da visão e percurso de vida, que outros ateus compartilham. O conhecimento de que as religiões são o ovo de onde nasce uma visão dogmática do mundo e logo fonte de ditaduras, manipulações e fascismos.

Onde esteve, Sr. presidente? Com vergonha de ser chamado ateu, quando devia ter protegido os direitos de TODOS os portugueses?

Depois do dia de hoje, qualquer português não católico será um cidadão de segunda classe e os católicos portugueses estarão menos próximos do seu deus.

Lembremo-nos de Mateus 22:21

Responderam: De César. Então lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus

Na ICAR a tradição é mais importante que a palavra de Deus. E agora, contra a nossa vontade e pela cupidez de alguns, passou a ser também a nossa tradição, até ao final dos tempos…

Notícia no Público

Agenda do Parlamento

30 de Setembro, 2004 André Esteves

Próximas produções em Fátima



Se o espírito ecuménico continua em Fátima, esta será a próxima versão do filme dos pastorinhos…

30 de Setembro, 2004 André Esteves

Fait Divers dos Últimos dias

Deus hindu das máquinas «impede» acidentes de comboio desde Junho.

Talvez o ministério da educação português deva se converter ao hinduísmo…

A notícia [inglês]

Fatwa egípcia proibe prática do Yoga aos muçulmanos

Têm muita razão, os imãs egípcios…

A prática de ginástica no Islão deve estar restrita às horas de oração…

A notícia [inglês]

Sadhu indiano rebola pelo chão até ao Paquistão pela paz no mundo

Os sadhus indianos devem viver obsecados com o concurso da Miss Mundo.

Uns enterram-se, outros rebolam, outros andam sempre de braço levantado ou não cortam as unhas. Tudo pela paz mundial!

Imagem…

A notícia [inglês]

Mulher vestia-se de freira para escapar ao serviço de estrangeiros israelita

Israel tornou-se numa nação que cultua os uniformes.

Em que outro país, isso se tornou num muuuito mau sinal?

A notícia [inglês]

Porrada em templo sikh por causa de um jovem sacerdote que corta o cabelo

Os sikhs acreditam no cabelo. Mas a crença deles é um bocado confusa.

Eu diria até.. cabeluda!

A notícia [inglês]

29 de Setembro, 2004 André Esteves

Abençoado Café



Confesso-vos que sou um apreciador de café. Apesar de ter uma digestão nervosa desde miúdo, não dispenso a minha bica, café ou cimbalino ao meio-dia. Quando procuro mais um reforço, peço um pingo directo (ou garoto escuro, ou café pingado… Infelizmente em Portugal ninguém concorda com o nome a dar a uma solução de café com leite.), nada como o sabor de leite gordo aquecido com vapor, misturado com um café torrado q.b. . É delicioso e faz-nos sentir mais vivos. (E com o leite cai melhor no estômago).

O italiano é me demasiado forte para os meus gostos, e não me satisfaz… É um concentrado ácido que não têm quantidade suficiente para se espalhar prazenteiramente por toda a língua. Já me deliciei com café brasileiro, em simples efusão. E em forma de gelado.. hummm… com uma bola de banana a acompanhar é um par de sabores que repito tantas vezes, como o limão e chocolate.

Outra lembrança que tenho é de comer um bolo de café, enfeitado com grãos autênticos de café de Timor e deixá-los deslizar na minha boca, ao longo da língua, como se fossem dropes. Para acabar por tríncá-los e com o seu sabor amargo, contrastar o sabor doce do bolo.

Aliás, passei a apreciar o café sem açúcar… Torna-se um gosto adquirido e sentimos mais claramente, a mudança da nossa percepção, conforme vamos dando os nossos goles e a nossa mente se torna mais acordada e excitável.

Encontramos a revista Le Monde des Religions de Setembro-Outubro, dedicado ao sabores do sagrado. Uma leitura fascinante para quem explora a gastronomia e gosta de cozinhar (eu cozinho todos os dias). Podemos ler sobre as raízes católicas do pecado da gula. Da desmistificação do conservadorismo protestante na cozinha. Da criatividade yiddish, ao conseguir satisfazer os sentidos, seguindo as regras de pureza kosher, Da exploração budista Zen da percepção, através da culinária e do ritual, etc. No entanto, não encontramos nenhuma referência ao café…

O Le Monde des religions trata sempre o ateísmo de uma forma preconcebida, mas a ausência de uma referência ao café como factor de mudança na sociedade europeia, deixou-me bastante surpreendido. O café foi o alimento que em certa medida provocou a passagem da Europa do renascimento para a época das luzes e para a modernidade.

Com o inicio da época das luzes, apareceram as primeiras casas de café da Europa. Londres, Paris, Itália, Viena, foi aí que surgiu o hábito de tomar café como hoje o conhecemos. E o mais interessante é que coincidiu com o burburinho revolucionário, científico e social que caracterizou aqueles anos. Os burgueses individualistas faziam a sua vida à volta dos cafés. Ao se consumir café, ficava-se mais acordado e a conversa e as actividades intelectuais prolongavam-se pela noite fora…

Havia cafés para os negócios (o mercado de seguros Loyd’s de Londres, apareceu originalmente num café com o mesmo nome, onde se reuniam os donos de barcos.), para a discussão política, para co-estudo (chegava a haver cafés para a matemática e ciências e outros para línguas clássicas). Por toda a Europa, conforme se espalhava o hábito de beber café, crescia o debate, a discussão, a iniciativa e a descrença cada vez mais sistemática…

Por isso, quando bebo a minha bica, bebo-a com uma certa mistura de ironia e alegria.

É o meu sacramento ateu…

29 de Setembro, 2004 André Esteves

Ayaan Hirsi Ali

Ayaan Hirsi Ali é uma deputada holandesa pelo Partido Liberal Holandês. Recentemente, promoveu a criação de um filme de 10 minutos, sobre a condição feminina no Islão, chamado de Submissão. (poderá ver excertos num documentário holandês, aqui).

O filme mostra mulheres com hijab’s transparentes, bem como versos do Corão escritos no corpo das actrizes. O filme descreve vários assuntos tabu no mundo islâmico, como o habitual abuso sexual de mulheres por membros masculinos da família, o espancamento sistemático das esposas, a excisão genital feminina, os casamentos forçados, a impossibilidade sistemática de uma mulher ter uma vida própria e independente, etc. O filme foi considerado um escândalo e uma afronta por parte da comunidade islâmica holandesa. Ayann retorquiu que o simbolismo da nudez não se destina aos homens, mas sim às mulheres muçulmanas na Arábia Saudita, Somália, Quénia e outros países onde impera a sharia (não há restrições de nudez entre elementos do mesmo sexo no Islão, onde aliás, se preservou o hábito cultural romano dos banhos públicos).

Mas os problemas de Ayaan começaram antes deste filme. Num debate televisivo com elementos da comunidade islâmica, declarou que já não praticava nem se considerava muçulmana. Passou a ser ameaçada de morte a partir desse momento, porque no Corão, deixar a fé, é ser-se automaticamente condenado com a pena de morte. Assim neste momento, Ayann vive em casas seguras e protegida pela polícia.

Ayaan nasceu na Somália. Filha de um dissidente político somali, viveu no Quénia, Etiópia, Arábia Saudita durante os seus primeiros 20 anos de vida. Viveu profundamente a realidade diária de uma muçulmana, tendo inclusive sido excisada aos 5 anos. O seu pai, aos 15 anos, arranjou-lhe um casamento com um muçulmano canadiano, que queria que ela tivesse 6 filhos.

Foi assim que com 20 anos, Ayann se encontrou num aeroporto alemão, prestes a encontrar a sua «cara-metade», quando algo se moveu dentro de si. Fugiu, apanhando um comboio para a Holanda, onde pediu o estatuto de refugiada.

Durante os anos seguintes, Ayann subiu a pulso na vida. Trabalhando como empregada de limpeza, aprendeu o holandês, e fez a educação obrigatória holandesa em pouco tempo. Conseguiu entrar na universidade de Leiden, onde realizou estudos superiores em Ciências Políticas. Durante estes anos, Ayann conheceu o submundo holandês dos abrigos de mulheres, onde mulheres abusadas de origem muçulmana se refugiam e tentam reconstruir a sua vida.

Acabado o curso, Ayaan dedicou-se à política. Ideologicamente próxima da esquerda, Ayaan juntou-se ao Partido dos Trabalhadores Holandês (o equivalente ao nosso PS), onde lhe foi pedido que estudasse, porque é que tantos jovens muçulmanos nascidos na Holanda, estão em guerra com a sociedade que os viu nascer. A conclusão de Ayann foi brutal para o establishment holandês. O culpado, segundo o seu estudo, não era nada mais que o próprio multi-culturalismo holandês.

Na ânsia de agradar e cultivar a «tolerância», o estado holandês financiou centenas de clubes islâmicos, onde imâns radicais, aproveitando-se do dinheiro do estado holandês, construíram uma cultura à parte, pregando uma mensagem fundamentalista.

Ayann acabou por deixar o Partido dos Trabalhadores, porque este se aliou, cinicamente, com os conservadores muçulmanos fundamentalistas para alcançarem o poder. Revoltada, com tal exercício de hipocrisia política, Ayann foi encontrar no Partido Liberal Holandês uma nova casa.

O que, para Ayaan Hirsi Ali diferencia a Europa e em certa medida o mundo ocidental, do resto do mundo?

Nas suas próprias palavras:

« Eu queria compreender porque é que os países ocidentais estavam a desenvolver-se tão bem, quando o resto do mundo parecia estar em colapso. Eu estudei a história do pensamento político europeu, desde os gregos e os romanos até à Segunda grande Guerra.

Descobri que as pessoas no Ocidente valorizam o individuo autónomo. Elas compreendem a importância da ciência e do conhecimento. São capazes de se criticar a elas próprias e existe uma capacidade de registar a história, para evitar repetir os erros do passado. É exactamente, o oposto da Somália onde não há instituições que procedam a um registro histórico e as memórias da minha avó das guerras dos clãs irão morrer com ela.»

Entrevista na BBC [Inglês]

28 de Setembro, 2004 André Esteves

Amor cristão enterrado no Santo Sepulcro

Da terra santa chega-nos a notícia de que a igreja do Santo Sepulcro, onde 6 das «tradições» cristãs dividem o lugar de culto, foi cenário de uma enorme cena de pancadaria.

Não é a primeira vez, em anos recentes, que este género de situação tem aparecido. Há dois anos atrás, os coptas egípcios desataram à pancada com os ortodoxos etíopes por não concordaram com a posição de uma cadeira no tecto da basílica…

Os fiéis ortodoxos gregos que estavam a realizar uma procissão, ficaram possessos por uma porta da capela ter sido deixada aberta por uns irmãos franciscanos. As acusações e pancadaria começaram aí, necessitando, a partir de certo ponto, de ser chamada a polícia israelita, que acabou por parar o tumulto, sem deixar de também ser agredida. Foram presos quatro fiéis ortodoxos.

Segundo o testemunho de um guia turístico, Aviad Sar Shalom – « havia muita gente a levar porrada… A polícia levou porrada, os monges levaram porrada… Havia pessoas com as faces ensanguentadas »

Uma autêntica bebedeira de espírito santo.

Moral da história: continua a não se vislumbrar nenhuma diferença entre os fiéis cristãos no Santo Sepulcro e um bando de chimpanzés num lugar apertado.

A notícia [Inglês]