30 de Março, 2005 André Esteves
Tratando da vidinha
Na sequência do post do Carlos Esperança, chegam-nos notícias dos EUA do outro lado da moeda…
Ao decidirem um caso de estupro (rapto, violação e morte) um júri norte-americano decidiu a favor da pena de morte do arguido, tudo porque teve acesso à bíblia durante as deliberações do júri.
A decisão foi impugnada pelo juiz do tribunal, pois o júri deve deliberar em função da lei norte-americana e não sob quaisquer leis de há 3000 anos atrás.
O Juiz afirmou ainda, no seu parecer, que sabia pelo menos de um caso de um elemento do júri que teria votado pela pena perpétua, senão lhe tivesse sido apresentadas as passagens bíblicas que definem a lei do talião: Olho por olho, dente por dente, vida por vida.
Quem é que o poderia censurar? Não se trata do livro sagrado do cristianismo?
A visão de que um livro supostamente revelado, contém verdades morais incontornáveis é uma treta. Como a notícia demonstra, basta lermos uma página com um grupo de pessoas diferente, para tudo se alterar. É por isso que cada vez mais se vão reduzindo o tamanho dos evangelhos oferecidos por Sociedades Bíblicas e as versões modernizadas do novo testamento, escritas para os pobres de espírito, na língua corrente, só contêm poucas páginas. No poupar está o ganho!
Poderia ainda discorrer sobre o carácter moral de um deus que deixa tais confusões se elevarem, ainda por cima quando é a vida das pessoas que está em questão. O problema do mal é incontornável e a única solução para ele é a irracionalidade, como o Abominável Doutor César das Neves tão obedientemente advoga.
Quanto aos bispos americanos e à posição da ICAR perante a pena de morte…
Não era um bispo argentino que desejou publicamente a morte por queda livre de um ministro argentino? E quem já se esqueceu de que a pena de morte nos estados papais manteve-se em pleno, até à sua independência pelo movimento liberal de Garibaldi? Quando se tratava de pôr na ordem a populaça e colocar no lugar os judeus dos Estados papais, utilizava-se da força bruta e do nó corrediço. A defesa da vida pela ICAR americana só apareceu porque esta estava com dificuldade em se diferenciar da concorrência e porque da pena de morte já não tinha necessidade…
Não houve nenhuma cadeia de tradição na sagrada hierarquia da ICAR que transportasse o valor da vida, se é que alguma vez o houve (Mateus 10:34), de Cristo aos tempos modernos. Foram os tempos modernos que obrigaram a Apostólica Católica Igreja Romana a tratar da vida.