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André Esteves

3 de Junho, 2005 André Esteves

Amai-vos hormonalmente uns aos outros !!!

Ontem surgiu a notícia de um estudo científico, publicado na Nature, que revelou os efeitos sociais de uma hormona até agora pouco famosa, a Oxitocina.

Dispondo de uma forma sintética da oxitocina, Michael Kosfeld da Universidade de Zurique, realizou uma experiência em que comparou as decisões sobre o efeito da hormona (administrada sobre a forma de um spray nasal) e de um placebo. Além disso variou a interacção dos sujeitos da experiência com os experimentadores ao vivo ou através de um computador. A prova a que os experimentados foram sujeitos é uma clássica medida de confiança, a do investidor desconhecido. É dado um capital inicial a cada sujeito e um experimentador é apresentado como um investidor que se propõe multiplicar o dinheiro, sob a condição de que não será imputável no caso de quaisquer perdas. O sujeito terá de decidir se confia no investidor. As decisões de cada situação e grupo são contabilizadas e analisadas estatísticamente.

Os resultados são concludentes. Os indivíduos sujeitos ao spray nasal de oxitocina davam com maior facilidade todo o seu dinheiro (13 pessoas em 29 no grupo da oxitocina, em comparação com 6 em 29 do grupo do placebo). Além disso, quando os sujeitos que tinham inalado oxitocina interagiam com um «investidor» através de um computador o efeito desaparecia completamente, mostrando a base interpessoal do fenómeno.

A oxitocina é produzida naturalmente no cérebro humano em muitas situações, depois do orgasmo (cimentando as relações de confiança entre os parceiros), durante a aleitação (favorecendo a ligação da mãe à criança) e em todo o género de interacções sociais.

Numa perspectiva evolucionária, a oxitocina faz muito sentido. O sistema hormonal é um precursor químico do sistema nervoso que partilhamos com os seres multicelulares. O sexo é a base e a necessidade da socialização e deverá ser evolucionariamente o fulcro sobre o qual se acumulam as «inovações» evolucionárias das sociedades dos seres vivos.

Quais as consequências desta descoberta? Imensas!!

Por exemplo, permite ver o pecado original numa nova luz.
Se interpretarmos o sentimento do homem em relação à mulher, por esta o ter enganado e o ter feito ingerir o fruto do conhecimento, como um sentimento de traição: a serpente confunde-se com a mulher. E com razão… A capacidade de fingir um orgasmo nas mulheres, bem como de disfarçar o ciclo reprodutivo, em contraste com a evidente dificuldade de um homem de o fazer e à sua permanente disponibilidade, permite às mulheres colher confianças sem compromissos bioquímico da sua parte, daí a suspeita comum a todos os homens de que as mulheres os «traem» e claro, a confiança inata num relacionamento homosexual masculino, onde o compromisso bioquímico é óbvio para ambas as partes (muitos lençóis manchados).

A mulher humana assim está preparada para fazer o jogo das seduções e compromissos, que é importante se considerarmos os riscos e investimento que são necessários numa criança.

A isto está também ligado a evolução histórica do poder na sociedade humana de matriarcal a patriarcal, à qual as religiões que conhecemos estão intrinsecamente ligadas. (A base biológica da sexualidade humana não é no entanto patriarcal ou matriarcal. Somos monógamos promíscuos, com ciclos de compromisso de três anos (uma estatística invariante em todas as sociedades humanas é o das separações e divórcios em ciclos de três anos na história das pessoas. O que corresponde a uma verdade biológica: três anos é o tempo necessária para uma criança estar completamente formada e se integrar na sua família expandida, libertando os parceiros das suas obrigações mútuas), que também reflecte outros sistemas bioquímicos do cérebro: o dopamínico e o neo-opiáceo).

Se olharmos para isto, sob a óptica do problema do mal, as coisas complicam-se para Deus… Onde está o livre arbítrio? Não deu ele à mulher uma capacidade superior de enganar? Não foi ele na realidade que armou tudo? E não podemos atirar tudo, como fazem os fundamentalistas evangélicos modernos, para cima da teologia da queda (ao pecar, Adão e Eva teriam provocado uma transformação biológica em toda a natureza, fazendo com que esta morresse e envelhecesse), porque a base bioquímica da traição é o próprio amor. E Cristo é amor…

E esquecendo as lutas do esperma e do coração, vejamos o próprio acto de proselitismo, venda e conversão (como sugere António Damásio no seu comentário à Nature). Já somos manipulados bioquimicamente hoje pela publicidade e pelo marketing. A oxitocina é produzida no cérebro por meios indirectos, através de imagens e evocações: sexo, paisagens relaxantes, situações ideais entre amigos. Assim se constrói a carga de oxitocina que irá investir a confiança em marcas, figuras identitárias e produtos.

E não é o que fazem os pregadores e missionários? Constroem a confiança, através de uma imagem exterior de calma, tornam-se sex-symbols ao se investirem de todos os aspectos exteriores de um macho ou fêmea alfa: um aspecto impecável, roupa conservadora mas cuidada, a evocação de um desejo com a promessa da confiança (vejam por exemplo imagens do fundador da Opus Dei, apesar do capelo, as mangas abotoadas com punhos de ouro, o cabelo deliberadamente desalinhado, um sorriso sedutor, está tudo ali…).

Nunca me esquecerei daqueles dias de igreja em que «sentíamos» o espírito santo presente. O ambiente calmo, mas especialmente quente pela proximidade dos outros. O pastor levava-nos em ondas de actividade/passividade através do culto, até que no final do culto, olhavamos uns para os outros como verdadeiros irmãos. A produção de oxitocina era condicionada e manipulada pela figura dominante. As relações do grupo naquelas circunstâncias eram cimentadas e amplificadas.

Um domingo, resolvi não me deixar influenciar.

Quão diferentes ficaram a parecer as pessoas!
Eram as mesmas pessoas que eu encontrava durante a semana longe da igreja.
Humanas. Carne, sangue e osso.

O espírito santo estava na oxitocina dos outros.

2 de Junho, 2005 André Esteves

Jesus Cristo faz a barba

Uma brincadeira linguística que se torna subversiva e cómica quando associada a uma imagem óbvia. Ainda mais cómica quando nos lembramos de quantos conservadores exigem aos outros, cortes de cabelo curtos e barba bem cortada…

Alguém quer tentar sugerir uma brincadeiro do género em português? Só precisamos de um verbo que soe ao mesmo que «salva», por exemplo:

«Jesus Cristo salva» —> «Jesus Cristo baba».

Escrevam nos comentários as vossas ideias. E claro.. Não deixem de ver as outras t-shirts.

1 de Junho, 2005 André Esteves

Jesus Christ SuperCop??!!

E se Jesus fosse um polícia à americana?
Hilariante!!! E feito com um orçamento baixo… De meter inveja ao Jesus Christ Superstar.

30 de Maio, 2005 André Esteves

Vocações, cerveja e uma garrafa de rum!!

Pela BBC, chega-nos a notícia de que o cardeal Cormac Murphy-O’Connor preocupado com a crise das vocações na Inglaterra, irá propor em carta apostólica, a colocação de publicidade às vocações nos panos que cobrem as mesas dos pubs.

Sua Apostólica Excelência demonstra assim uma enorme perspicácia na dinâmica das vocações. Quem é que quer vestir o capelo e agitar o hissope quando encontra uma maior satisfação espiritual numa borcada de ambrósia escura e enlevada, como uma Guiness?!

No entanto na minha perspectiva, os perigos são maiores que os benefícios nesta cruzada espiritual. Os leais frequentadores de pubs e crentes nas virtudes medicinais da fermentada cevada celta poderão se encontrar a si próprios, depois de uma noite bem regada, a ressacar num qualquer seminário, pois terão sentido o chamamento divino entre o vigésimo copo de cerveja e a ida á casa de banho. Resumindo: uma ressaca dos diabos!!

Um facto curioso são as semelhanças entre esta proposta de «Marketing» e as estratégias de recrutamento que os antigos bucaneiros ingleses, irlandeses e americanos usavam. Um recrutador com um estômago do caraças embebedava uma sala inteira enquanto embelezava as maravilhas de um emprego em alto-mar a bordo do navio do empregador. Quando os convivas já tinham alcançado o coma alcóolico, levavam-se os então «recrutados» para bordo…

Mas longe de mim comparar os seminários a barcos de piratas, o que me preocupa é se os abençoados com a vocação não perderão o seu quinhão de rum! É que era a única maneira de manter os marinheiros a bordo desses navios e parece-me que o mesmo se arrisca a acontecer nos seminários…