Considerações sobre religiões (2)
O Império Romano foi cimentado pelo cristianismo, mas a Europa moderna – e essa é uma singularidade sua – foi construída pelas suas elites políticas e intelectuais, através da separação da Igreja e do Estado, em contínuo confronto com o catolicismo romano, avesso à modernidade.
Os países dominados pelo cristianismo ortodoxo, onde o direito tem natureza política, não conseguiram a laicidade do Estado e essa é a principal razão para que nenhum país ortodoxo tenha conseguido um Estado moderno.
Mas, talvez a mais dramática das sequelas da moral religiosa tenha sido a obsessão pela repressão sexual que causou a infelicidade, o medo e o trauma do pecado em relação a uma fonte de prazer e de realização humana. E, o pior de tudo, o carácter misógino que impediu a emancipação da mulher, o direito à sua determinação social, profissional e cívica, reprimida pelos mais boçais e cruéis preconceitos patriarcais.
Neste ano do Centenário da República Portuguesa, precisamos de um sobressalto cívico, laico e republicano, que ecoe pelo Planeta e ponha termo às guerras religiosas que a fé faz detonar e ao terrorismo de quem julga cumprir a vontade de um deus cruel, violento e vingativo, uma criação obscena do desvario dos seus crentes.
O diálogo de religiões é uma impossibilidade teórica e prática. Pode – e deve – haver um diálogo de culturas. Aliás, as culturas contaminam-se, no sentido sociológico, e acabam por ser a síntese de várias, o produto da convivência entre comunidades diversas, o resultado da assimilação mútua e recíproca dos usos e costumes de todas e de cada uma.
O diálogo das religiões é diferente, é uma utopia, na melhor das hipóteses e, na pior, uma operação de marketing para facilitar o proselitismo e disfarçar a aversão recíproca. A religião, qualquer que ela seja, considera-se a única que interpreta a vontade divina e exige que todos se submetam à vontade do seu Deus.
Os homens podem entender-se mas os deuses exigem o confronto. O boato de que os livros sagrados são a expressão da vontade divina, ditados por anjos ou intermediados por profetas transforma as palavras em dogmas e os recados de Deus em sentenças de obediência obrigatória.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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