A Bíblia (II)
Muitas vezes dou comigo a pensar até que ponto o Antigo Testamento pode ser considerado um livro “inspirado” por Deus. Se assim for, esse será um livro que ninguém jamais conseguirá igualar pois deverá conter a perfeição filosófica e moral, estar totalmente de acordo com cada facto ocorrido na natureza e dar-nos a conhecer o mais ínfimo pormenor da vida e do universo. As suas normas de conduta deverão ser justas, sábias e perfeitas. Jamais ambíguas. Deverá estar repleto de inteligência, justiça e principalmente de liberdade.
Deverá opor-se à guerra, à escravatura, à cobiça, ignorância e superstição. Numa palavra: deverá ser Verdadeiro.
Haverá no Antigo Testamento, na história que lá se descreve, na teoria, na lei, na moral e na ciência, algo de transcendente ou sobrenatural que não corresponda aos costumes, preconceitos, crenças e ideias dos povos daquela época?
Os antigos hebreus acreditavam que a Terra era o centro do Universo, que o sol, a lua e as estrelas eram manchas no céu. A Bíblia assim o afirma. Os antigos hebreus pensavam que a Terra era plana, com quatro cantos; que o céu, o firmamento, era sólido, sendo essa a morada de Deus. A Bíblia ensina precisamente o mesmo.
Também imaginavam que o sol viajava ao redor da Terra e que, parando-se o sol, o dia poderia ser prolongado. A Bíblia também o diz. Acreditavam que Adão e Eva foram os primeiros seres humanos; que haviam sido criados poucos anos antes deles – os hebreus –, e que eles próprios eram os seus directos descendentes. Também a Bíblia ensina isso.
Ora, admitindo que Deus é o autor da bíblia, esta não deveria conter erros tão flagrantes em astronomia, geologia ou quaisquer outros assuntos.
Lendo a bíblia ficamos a saber que os seus autores estavam enganados acerca da criação do homem, da Astronomia, da Geologia, sobre as causas dos fenómenos, a origem do mal e as causas da morte. Ficamos a saber que Deus não domina as ciências e erra com demasiada frequência para um Deus Omnisciente.
É óbvio que a bíblia foi escrita por seres ignorantes e equivocados. No entanto durante séculos, a Igreja insistiu que a bíblia era verdadeira, e não podia conter erros porque ela era a Palavra de Deus, que os relatos nela descritos sobre a astronomia e geologia estavam rigorosamente certos, que a história da criação era verdadeira, e que os que dela discordavam eram infiéis e Ateus, sendo por isso condenados às penas do Inferno e à fogueira.
Hoje as coisas são diferentes. Foram necessários muitos séculos para forçar os teólogos a admitirem as mentiras bíblicas.
Com relutância, cheios de malícia e ódio, os padres tomaram outra posição. Admitem que os autores da bíblia não estariam assim tão “inspirados” para as coisas das ciências. Que Deus não tinha como objectivo instruir o mundo sobre astronomia ou geologia. Que os homens que escreveram a bíblia desconheciam qualquer ciência, e que escreveram sobre a Terra as estrelas, o sol, a lua e o universo de acordo com a ignorância da época. Que Jeová queria que os seus filhos tomassem apenas conhecimento do seu amor infinito e da sua vontade. Que Jeová quis apenas corrigir o seu povo depravado, ignorante e corrompido, tornando-o espiritualmente sábio, moralmente justo e compassivo.