Superstição
Segundo o Catecismo:
– A superstição existe, sempre que se atribui uma importância de algum modo mágica, a certas práticas.
Pergunto se essas práticas e a sua natureza supersticiosa muda, pelo simples facto de se imputarem ou não a poderes “mágicos” ou “divinos”. Para um estudioso da fenomenologia existe comportamento supersticioso em qualquer dos casos. As práticas comportamentais de tipo “irracional”, psiquicamente patológicas, referenciam instâncias fetichistas de carácter religioso. Sucede com o que se convencionou chamar de, milagres – que segundo a Igreja só os seus são autênticos, dignos de fé e veneração. Assim, não passa de pura superstição a maior parte da prática católica, ou seja: todo o conjunto de missas, orações, relíquias, imagens milagrosas, peregrinações, aparições, etc. Não existe uma fronteira precisa entre Religião e Superstição, porque ambas têm a mesma origem, prática e objectivo, que é a busca de instâncias protectoras contra os riscos e a insegurança do dia-a-dia, e cujo horizonte se manifesta num “terror mortis” omnipresente. É nesta fantasia da mente, que assentam todas as religiões enquanto vínculos imaginários com seres inexistentes. Neste contexto não surpreende a generalizada expressão da fé religiosa mediante “formas supersticiosas de comportamento”.
A superstição com o seu vastíssimo reportório, é uma conduta essencialmente “religiosa” que associa irracionalmente, afectos desejados a causas imaginárias. Isto sucede com todo o tipo de superstições seja dentro ou fora das Igrejas. Mesmo que no ritual supersticioso o resultado alcançado entre a soma dos êxitos e fracassos, os fracassos predominem, a “conduta supersticiosa” continuará a dominar a vida das pessoas que encontram nesta prática “um estado anímico subjectivamente gratificante”. O comportamento supersticioso repetir-se-á uma e outra vez qualquer que seja o resultado do “acto”. É impressionante que neste século voltem a florescer as condutas supersticiosas, enquanto as chamadas “confissões positivas de fé” tendem a perder aderentes. A base da superstição é a ignorância, a compulsão psíquica e a alienação. São sintomas patológicos de uma sociedade insegura que vive numa atmosfera de “medo e angústia”.