Mais um antro-incômodo teológico…
Chega-nos a notícia da descoberta de um novo elemento da família homo. Foi baptizado de Homo Florinensis, com a alcunha de Hobbit. A criatura foi descoberta numa ilha das Flores do arquipélago Indonésio (é uma das ilhas na vizinhança de Timor Leste). Os esqueletos encontrados por arqueólogos australianos e indonésios, são em quase tudo idênticos aos humanos excepto num pequeno pormenor: medem cerca de um metro de altura.
Com eles foram descobertos ferramentas de pedra. A datação destes vestígios dá-lhes uma idade de 18.000 anos, ou seja 13.000 anos antes dos tempos históricos, o que em tempo geológico quase se pode dizer ser o presente. O tamanho que apresentam não é surpreendente em termos evolucionários. É conhecido o efeito de miniturização que se dá a muitas espécies que ficam retidas em ilhas. Nas ilhas da Indonésia por exemplo existiram elefantes miniatura. E a criação de raças miniatura de cavalos, porcos e cães por seleção de cruzamentos é um fenómeno conhecido.
As questões que esta descoberta levanta são brutais. Afinal, necessitamos de um cérebro grande para sermos inteligentes (há animais chamados de irracionais que têm um cérebro maior que o florinensis e o cérebro do chimpanzé têm o mesmo tamanho). Será que somos os únicos sobreviventes do ramo homo?? Haverá uma raiz comum entre o homo florinensis e as histórias quase universais de Fadas e Duendes? A linhagem humana terá realmente começado a evoluir a partir de África, ou antes por populações dispersas com troca de genes?
E para as religiões? Quais as consequências? É mais uma machadada na mundivivência que coloca os humanos como seres únicos e especiais criados e dependentes de uma entidade divina.
Ainda mais surpreendente é o folclore local. Segundo a história oral das tribos da ilha, os «Hobbits» estiveram em contacto com humanos até ao século passado…
Se calhar ainda sobrevivem nas selvas tropicais da parte leste da ilha!
Perante estes factos, somos obrigados a rever o peso das nossas hipóteses e da nossa concepção do mundo. Mas é isso o que diferencia uma vida baseada na ciência e não na religião.
Nós vivemos da mudança das concepções do nosso mundo.
Os outros não mudam, no máximo mudam as aparências…
BBC [Inglês]
The Guardian [Inglês]
Nature [Inglês]