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Ética jornalística

jihad

Veja aqui uma compilação de vários momentos da jihad de O’Reilly contra Tiller.

O assassínio de George R. Tiller por um terrorista está a suscitar uma série de debates muito interessantes nos Estados Unidos. Um dos artigos que mais gostei de ler foi escrito por Susan Brooks Thistlethwaite, ex-presidente do Chicago Theological Seminary, que expõe as inconsistências éticas e morais dos chamados pró-vida – que na realidade não passam de anti-escolha por razões da zona pélvica.

Não acredito que seja possível que estas inconsistências se tornem aparentes para a maioria dos fundamentalistas que importunavam os transeuntes e ululavam em frente a uma Planned Parenthood em San Diego. A minha primeira impressão era que se tratava de loucos violentos que tinham escapado da ala psiquiátrica do hospital onde ia tentar explicar que a minha reacção positiva à tuberculina se devia a ter sido vacinada (repetidamente) contra a tuberculose.

Mas estas manifestações de loucura violenta ocorreram durante a administração Clinton quando, como nos recorda Cristina Page, a retórica de ódio da direita religiosa, nomeadamente nos media, acirrava e instigava os mais desequilibrados. Durante a administração de G.W. Bush, o grande cruzado em defesa da vida que os iraquianos, entre outros, conhecem e «admiram», o incitamento ao ódio contra os «assassinos abortistas» por parte dos media conservadores/religiosas foi mais suave, o que se repercutiu numa diminuição da actividade terrorista: não houve assassinatos de ginecologistas e apenas um ataque bombista a uma clínica.

Com a eleição de Obama, os fanáticos religiosos andam num frenesim de ódio nunca visto, manifesto, por exemplo, no que aconteceu com a presença do presidente na abertura do ano académico numa universidade católica. Como Page nos explica,

«Eleanor Bader, co-author of Targets of Hatred: Anti-Abortion Terrorism, in an article in March for RHRealityCheck.org about clinics bracing for an uptick in violence after the election of Obama wrote, “immediately after Obama’s election, Douglas Johnson, Legislative Director of the National Right to Life Committee, called him a “hardcore pro-abortion president.”

The American Life League dubbed him “one of the most radical pro-abortion politicians ever,” and Father Frank Pavone of Priests for Life warned that Obama will “force Americans to pay for the killing of innocents.” Americans United for Life, the Family Research Council and Operation Save America quickly joined the chorus.»

Os media conservadores/religiosos devotaram-se a ecoar e a amplificar o incitamente ao ódio por parte dos muitos religious nuts que infestam os Estados Unidos:

«In 2009, the right-wing definition of what constitutes the “murder” of babies goes far beyond the actual abortion of a fetus to encompass a vast range of political views, situations and people. It has become commonplace on the right, for example, to talk about defrosting frozen embryos as an act of “murder.” Many on the right talk about the so-called “morning after pill” and the RU486 “abortion pill” as “murder.” Many on the right even talk about birth control as “murder.”

Murder, murder, murder–the drumbeat is hypnotic.»

Assim, não de espantar que esta campanha de ódio (ou movimento fascista, como lhe chama outro médico) tenha culminado no assassínio de Tiller. Assim como não é de espantar que tenha sido não apenas um toque a rebate para a necessidade de reforçar a protecção de clínicas e pessoal que nelas trabalham como principalmente para um necessário debate sobre ética jornalística.

Hoje, quer os principais jornais quer os blogs mais influentes discutem as responsabilidades jornalísticas daqueles que durante tanto tempo matraquearam os seus espectadores/ouvintes/leitores com mentiras abjectas, com retóricas de ódio… e sem qualquer responsabilização. Em particular é discutida a jihad que Bill O’Reilly, uma coisa inenarrável da Fox (ou Faux) News que faz a Manuela Moura Guedes parecer uma inocente menina de coro, lançou contra Tiller. Curiosamente, foi nos comentários a um artigo, no New York Times «Doctor Was Target of O’Reilly’s Rhetoric», que vi escrito algo que mais deviam questionar:

«Perhaps it isn’t the “baby killer” rhetoric but the obvious lies about Dr. Tiller from a popular news commentator that is the problem. Dr. Tiller did very few late abortion procedures, always following the legal process laid down by the courts, including the Supreme Court. He was investigated again and again by hostile politicians and found innocent of any wrongdoing. Because of the narrowness of rulings on abortion in late stages, he handled only horrendous cases of fetal malformation and maternal illness.

Yet none of this mattered to Mr. O’Reilly. He lied about the process of obtaining a legal abortion, he lied about the number of abortions done, he lied about the motives of the man, and he lied about the patients motives. He slandered him repeatedly, and got away with it because it is impossible to sue anyone in the media from saying any “opinion”, even if it totally misrepresents everything you do and everything you are.

So the question to consider is not whether those specific words made a difference, but whether people in the media should be immune from making false claims or misrepresentations about another person as entertainment. »

Mas para além de responsabilizar os jornalistas pelas mentiras instigadoras de ódio que debitam, urge acima de tudo pôr cobro às práticas dos grupos auto-denominados pró-vida, na realidade todos eles pró-terrorismo! Afinal, se até Bush debitou o Respect for America’s Fallen Heroes Act para proteger os familiares dos militares mortos no Iraque dos aberrantes membros da Westboro Baptist Church, porque não proteger toda uma sociedade do terrorismo de outras aberrações?

em stereo na jugular

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