A ICAR e a sexualidade(1): a negação da liberdade
O primeiro ponto a compreender sobre a relação católica com a sexualidade é a negação da liberdade. Como diz Paulo 6º (na célebre Humanae Vitae), «o amor conjugal exprime a sua verdadeira natureza e nobreza, quando se considera na sua fonte suprema, Deus que é Amor (…) O matrimônio não é, portanto, fruto do acaso, ou produto de forças naturais inconscientes: é uma instituição sapiente do Criador» (parágrafo 8). Portanto, o acasalamento de dois seres da espécie homo sapiens é parte do plano divino; o acasalamento de dois chimpanzés já não é parte desse plano. Houve um momento, algures na evolução da nossa espécie, em que o amor deixou de ser um instinto animal e passou a ser uma «instituição» do «Criador». Não nos dizem quando (o que seria a única coisa verdadeiramente interessante).
Mas Paulo 6º diz-nos mais: «Na missão de transmitir a vida, [os cônjuges] não são, portanto, livres para procederem a seu próprio bel-prazer, como se pudessem determinar, de maneira absolutamente autônoma, as vias honestas a seguir, mas devem, sim, conformar o seu agir com a intenção criadora de Deus, expressa na própria natureza do matrimônio e dos seus atos e manifestada pelo ensino constante da Igreja» (parágrafo 10). Ou seja, os católicos não têm liberdade para decidir como gerem a sua vida sexual. Devem seguir a «intenção» de «Deus» e o «ensino» da ICAR. Aliás, na Gaudium et Spes já se fora mais longe: «a vida humana e a missão de a transmitir não se limitam a este mundo, nem podem ser medidas ou compreendidas ùnicamente em função dele, mas que estão sempre relacionadas com o eterno destino do homem». Portanto, a sexualidade leva-nos para fora deste mundo. E só pode ser compreendida em relação com a «imortalidade da alma» (seja lá isso o que for).