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Reflexões filosóficas de Schrödinger

Schrödinger deu um contributo gigantesco à Física por, entre outras coisas, ter sido o autor da equação homónima, a qual é fundamental para a mecânica quântica.

Mas a sua obra não se limitou à Física. Acabei agora de ler dois livros que vivamente aconselho: «A Natureza e os Gregos» e «Ciência e Humanismo». Fazem parte da colecção Perfil – História das Ideias e do Pensamento, que pertence às edições 70. O primeiro livro é sobre a relação entre o pensamento filosófico e científico dos Gregos, o segundo é sobre as consequências epistemológicas da mecânica quântica, sobre o impacto da Ciência na Filosofia, sobre o impacto mútuo que as ideias de um campo têm no outro.

A última das questões que aborda é, em concreto, sobre se o indeterminismo consequente da mecânica quântica vem (ou não) salvar o livre arbítrio, o qual não existiria num Universo determinista.

A questão em si é extremamente interessante e profunda e, além central no debate filosófico, também o é num debate religioso sério. Schrödinger, aliás, não foi alheio a essa questão, e também se pronunciou sobre a «crise da causalidade» que S. Agostinho, anterior à mecânica quântica, teve de enfrentar:

«Tal como se sabe, a grande dificuldade de S. Agostinho foi precisamente esta: sendo Deus Omnisciente e Todo-Poderoso, não posso fazer nada sem que Ele o saiba e o deseje – não só que o consinta, mas que o determine. Como é que, então, posso ser responsável pelo que faço? Suponho que a atitude religiosa para com esta forma da questão terá de ser a seguinte: nesta situação estamos perante um mistério profundo no qual não podemos penetrar, mas certamente não devemos tentar resolver através da negação da responsabilidade. Acho que não devemos tentar, ou será melhor que não tentemos, porque senão falharemos deploravelmente. O sentimento de responsabilidade é congénito, ninguém o pode pôr de lado.»

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