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Pastorinhos no meio de 2200

O cardeal José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, revelou que existem abertos na Santa Sé 2.200 processos de beatificação ou canonização de católicos, entre os quais estão os dos Pastorinhos e da Irmã Lúcia.

Destas 2.200 causas de santificação, 33 são portuguesas, revelou o cardeal que admitiu a dificuldade em confirmar o segundo milagre que sustenta o processo de canonização dos Pastorinhos Jacinta e Francisco Marto.

O alegado milagre, envolvendo uma eventual cura de diabetes, não está devidamente fundamentado para ser considerado como existindo intervenção divina.

«O processo não está parado mas a cura considerada miraculosa» , segundo o «parecer dos médicos da Congregação para a Causa dos Santos, não pode ser considerada um milagre».

O processo de canonização foi aberto devido a um segundo milagre, alegadamente verificado durante a cerimónia de beatificação dos Pastorinhos, em Maio de 2000, e que envolvia uma criança doente com diabetes.

Na ocasião, a mãe, emigrante portuguesa na Suíça, segurou o filho enquanto assistia, pela televisão, às cerimónias de beatificação, presididas por João Paulo II.

No entanto, existem dois tipos de diabetes – só um é considerado incurável — e com a documentação médica recolhida pelos especialistas do Vaticano «não parece claro qual o tipo de doença», explicou D. Saraiva Martins.

A Congregação conta com 60 médicos especialistas que dão pareceres sobre as alegadas curas, indicando se existe «alguma explicação científica» para esses casos.

«Para ser considerado inexplicável, a cura tem de ser instantânea, completa e duradoura» , explicou D. José Saraiva Martins, que comentou ainda os processos referentes à Irmã Lúcia e ao Beato Nuno, o Condestável.

No caso da irmã Lúcia, o processo foi aberto em Fevereiro deste ano — dispensando os prazos canónicos que impunham um mínimo de cinco anos após a morte para o início dos procedimentos — mas o caso continua na Diocese de Coimbra onde a última vidente de Fátima faleceu.

Já no processo de canonização do Beato Nuno, D. Saraiva Martins revelou que os médicos estão a ultimar a análise do alegado milagre, uma cura aparentemente miraculosa de cegueira em Ourém, encaminhando o processo para os teólogos.

A abertura de um processo de beatificação não garante o sucesso desta reivindicação dos crentes, até porque existem muitos casos de figuras da história da Igreja que nunca conseguiram provar a sua santidade perante a Congregação para a Causa dos Santos.

Em muitos destes casos, os promotores têm de fundamentar a continuação dos trabalhos, pedindo autorização para tal à Congregação, explicou o cardeal.

Após a declaração de abertura do processo por parte da Diocese onde a pessoa faleceu, será necessário uma declaração de venerabilidade, reconhecendo as suas virtudes heróicas, refere a legislação canónica.

Depois, terá de haver uma certificação do milagre que justifica a beatificação por uma comissão médica, constituindo-se em seguida um tribunal eclesiástico na Dioceses, que recolhe testemunhos e compõe um dossier sobre a sua vida.

Posteriormente, o processo será enviado para a Congregação para a Causa dos Santos, que pede novos relatórios e depois remete o caso para o Colégio dos Teólogos, com cerca de 30 cardeais ou bispos.

Só no final, caso todos os passos sejam cumpridos com sucesso, o processo será enviado ao Papa, que terá a responsabilidade de promulgar a beatificação.

D. Saraiva Martins rejeitou também a ideia que o actual Papa viesse a diminuir os casos de beatificação ou canonização, considerando que, nesta matéria, «não há nenhuma diferença entre João Paulo II e Bento XVI».

«Isso que se dizia que iriam diminuir as canonizações e beatificações é uma pura fantasia» até porque «os factos estão a demonstrar o contrário: tudo continua igual e as cerimónias de beatificação aumentaram» porque a nova legislação canónica estabelece que o Papa não preside a essas celebrações.

Essas cerimónias devem ser presididas pelo Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, uma alteração canónica que transformou D. Saraiva Martins num ‘globetrotter’, percorrendo dioceses de todo o mundo para presidir a várias cerimónias religiosas.

Sobre a sua presença no santuário mariano português, o cardeal mostrou-se sensibilizado com o convite para presidir às celebrações de Maio apelando aos peregrinos para que «aprofundem a mensagem» católica da Cova da Iria.

«A mensagem transmite-se não só com a boca e as palavras mas com a vida» e o «testemunho», acrescentou o cardeal.

Fonte: Sol, 11 de Maio de 2008.

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