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O maior drama (2)

Tal como o pasteleiro se queixa da falta de clientes que lhe deixam os bolos a azedar na montra e a saber a mofo, também o Sr. José Policarpo, patriarca de Lisboa, investe contra os ateus que deixam as hóstias a apanhar bolor no cálice e a encher-se de verdete a patena nos sacrários onde a chave se tornou inútil.

Diz o Sr. José, por dever de ofício e hábito profissional, que Deus existe e nos ama, sem provar a primeira afirmação e sendo irrelevante a segunda que, aliás, nunca passaria de um vulgar amor não correspondido.

Julga o prelado que é obrigação dos homens livres (homens e mulheres, naturalmente) viajar de joelhos e viver de rastos para que se alegre o Deus com que ganha a vida e ele, cardeal, possa rir-se das orelhas até à mitra.

Refere-se ao Natal como a data do nascimento do seu deus, aquele a que inventaram os pecados dos homens para darem uma finalidade ao martírio. O dia 25 de Dezembro era já a festa do nascimento de Mitra, data que o cristianismo falsificou para o nascimento do seu deus, cujas comemorações parasitou. O dia 25 era o da festa das Saturnais que a nova seita tornou mais aborrecida e sorumbática.

Nós sabemos que a descrença sobre a mentira milenar leva ao desespero os parasitas de Deus como, em tempos, o fim dos teares mecânicos levou o pânico aos operários têxteis. É o progresso.

Há hoje mais encanto na descoberta do ADN do que houve em qualquer altura na transformação do pão ázimo em corpo e sangue do fundador da seita por obra e graça dos gestos cabalísticos do oficiante diplomado.

Pode o Sr. José, patriarca de mitra, báculo e anelão, resmungar o azedume que o devora. O ateísmo é a expressão da liberdade de quem quer viver de pé e prefere a debilidade da razão à força da superstição que ateia fogos, cria suicidas e se torna alfobre de guerras e violência.

O cardeal diz que «o maior drama é a negação de Deus». Talvez seja para o tal Deus e para quem vive à sua custa, mas para o Homem o maior drama é acreditar em qualquer Deus, o que o leva à violência, à guerra e ao assassínio, numa sanha demencial de quem quer impor a impostura da fé à liberdade dos homens.

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

- Sócio da Associação 25 de Abril

- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;

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- Colaborador do Jornal do Fundão;

- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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