Angelina Vidal: «Conclusão Scientifica»
Se consulto os fenómenos geológicos,
Se contemplo no céu as nebulosas,
Se interrogo os segredos histológicos,
E os restos das esferas luminosas;
Vejo sempre matéria em traços lógicos,
No espaço, nas entranhas tenebrosas,
Com átomos subtis, embriológicos,
Tecendo maravilhas assombrosas
Transformação constante – a causa eterna
Eis a lei que preside e que governa,
O facto que destrói a escura fé.
É debalde que os crentes se consomem,
Se Deus veio primeiro do que o homem,
Deve ser, quando muito, um chimpanzé.
Este soneto claramente ateísta foi publicado, em 5/6/1910, no Jornal de Abrantes, pela republicana, feminista e socialista Angelina Vidal. Repare-se no deslumbramento perante um universo cujos mistérios só se resolvem pela ciência, e na coragem da blasfémia final.