Esclarecimento de André Breton
Por André Breton, Lê Libertaire, 21 de março de 1952
«Caro camarada,
Vários jornais (Combat, Paris-Presse etc.) reproduziram na semana passada o texto de um telegrama endereçado ao Papa e assim formulado:
“Solicitamos suprema intervenção junto ao Chefe de Estado espanhol para impedir a execução dos sindicalistas de Barcelona condenados à morte”.
Peço-vos que me deixem dizer aos nossos amigos de Lê Libertaire que, ainda que a tenham feito figurar em baixo desse telegrama, nunca expus a minha assinatura em tal redacção e que desaprovo formalmente essa iniciativa, que parte dos escritórios de Franc-Tireur.
Visto tratar-se de salvar cinco sindicalistas espanhóis, teria-me abstido de protestar publicamente se, conforme me asseguraram no dia seguinte por telefone, havia pensado utilizar sem seu consentimento, nomes de todos aqueles que no encontro de Wagram tinham tomado a defesa dos condenados. Entre esses, os nomes de Georges Altman, Jean-Paul Sartre e Ignacio Silone foram omitidos, enquanto faziam preceder os outros do nome de um padre que até aquele momento não se havia manifestado (e não havia, segundo parece, conseguido outro apoio junto ao seu superior hierárquico!) considero que abusaram do meu nome.
É desnecessário dizer que eu nunca teria pensado nem consentido em endereçar uma súplica ao Papa, personagem a quem nego toda a autoridade espiritual e que, em minha vida nunca vi usar os poderes que ele detém para realizar o mínimo acto de justiça ou “caridade”.
A execução, sexta-feira última, dos nossos cinco camaradas de Barcelona mostra uma vez mais que o recurso em questão era totalmente ridículo e ressalta, para aqueles que ainda duvidavam disso, a cumplicidade criminosa do Vaticano e de Franco.
Fraternalmente,
André Breton»
Excerto de “Surrealismo e Anarquismo”; Joyeux, Ferrua, Péret, Doumayrou, Breton, Schuster, Kyrou, Legrand; Editora Imaginário; Selecção e tradução de Plínio Coêlho
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